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Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

O dia que Israel declarou guerra ao Hulk. O Incrível Hulk #256 (1981) - Bill Mantlo e Sal Buscema


"Hulk não sabe onde ele está! Hulk não liga"

Vou começar pelos agradecimentos: dedico a uma grande amiga minha que mandou um painel sem contexto desse quadrinho, e perguntou se conhecia, não conhecia de fato, mas fui atrás e aqui estamos.
 Falo de antemão que todas as imagens aqui estarão em inglês porque essa edição talvez não tenha saído no Brasil, ou ninguém pensou em scannear pra tropa.



A fase Bill Mantlo e Sal Buscema é uma das favoritas dos fãs do pepino agressivo,  eles foram responsáveis pelo Hulk na Encruzilhada, grande clássico da Marvel lançado lá em 86 eu acho. Sal Buscema já vinha desenhando o Hulk desde da metade dos anos 70, Bill Mantlo, nessa edição, tinha acabado de chegar, começou a escrever o Hulk na edição 246.

Em uma opinião pessoal, gosto bastante dessa interpretação do Hulk, por aspectos que vou delimitar lá na frente, e pela arte do Sal Buscema, porque faz um Hulk bem parecido com o Lou Ferrigno:
adoro esse Hulk

Qualé a história? Antes termos um pequeno prólogo sobre a desativação da base gama, onde Hulk, Dr Samson e o Líder foram criados (preocupante essa exposição aos raios gama), e a demonstração do verdão como uma ameaça ao Estados Unidos e por tabela ao planeta terra, principalmente depois de quase derrubar um viaduto cheio de civis na briga que teve contra o Thor na edição anterior. 

*efeito de soco do Chaves *

Ué? Mas o Hulk não é um vingador? Ele não é tipo um herói? Porque está brigando com o Thor? - pergunta o leitor confuso, então, essa fase do Hulk (a série dele ajudou a criar isso) ele não é mais um herói, não é mais a dinâmica do médico e o monstro, Bruce Banner perdeu totalmente o controle de suas ações e consciência, significa que ele virou o Hulk de vez? Não, mas é a maior parte do tempo, o que deixa situação mais dramática, melancólica, Bruce virou algo parecido com um viciado em crack, não tem ideia onde está, não tem controle do que está fazendo e vive vagando pelo mundo em busca da paz que não encontra em si mesmo. 
A sua raiva não vem mais do mundo exterior, vem da sua própria condição, se transformar vira uma espécie de válvula de escape, o que gera um ciclo vicioso, ele precisa se transformar em Hulk para dissipar a angústia da mente, mas toda vez que se transforma a sua condição só piora.

Nessa edição do Thor o próprio Hulk fala "Bruce Banner odeia o Hulk e Hulk odeia o Bruce banner" então é uma dinâmica de um viciado, um dependente químico, do que dupla personalidade, já que a personalidade do Médico se espaireceu totalmente, até pela distância que ele está do Rick Jones (seu melhor amigo) e de Betty (sua esposa), ele está distante, perdido, se transformando e Hulk e acordando em lugares aleatórios, totalmente sem rumo da própria vida. E assim, é que ele acorda em Israel, após os eventos da HQ anterior.

ressaca é foda

A mera presunção de que está sendo capturado é suficiente para entar em agonia. Falo agonia porque nesssas duas histórias o Hulk mal é movido pela "raiva", o desequilíbrio que Bruce vive é tão grande que qualquer pertubação mínima é suficiente para virar o Hulk. e a porrada come seca, no porto de Tel Aviv Hulk desmembra por completo as forças de segurança de Israel, que são meio burrinhas. 

Pensa, você está lidando com uma criatura que se alimenta de raiva, ele é capaz de quebrar a porra toda, qual a solução? ATIRA VELHO, claro, o comandante até mete um "FORÇA BRUTA!!"


Quem assiste a tudo isso é a nossa heroína da vez, a capitã Israel, digo Sabra, uma mutante que trabalha como policial e quando está de collant trabalha para o governo Israelense. Não é a sua primeira aparição, ela é mencionada pela primeira vez no Incrível Hulk #250, mas apenas mencionada em tela, mal sabemos seu nome aqui;

(Caso não tenha percebido, é ela no círculo vermelho.)

Sabra voa, tem superforça e lança um tipo de "espinhos" com as mãos que deixam as pessoas desacordadas, o que faz total sentido, já que Sabra é o mesmo nome de uma fruta-cacto típica da região ali de Israel, também é o mesmo se dá (ou dava talvez nos anos 80) aos habitantes de Israel, nativos. É uma mutante meio esquecida por motivos bleh, quem vai interessar por uma Homelander Israelense?

A sua apresentação aqui não dura muito tempo, porque quando estava se arrumando pra sair como Sabra recebe uma porrada de um saco de batatas na cabeça, durante o frenesi do Hulk. Logo após que acorda, termos a sua devida apresentação, Sabra!



Traduções livres: "Mas com sabra Super heroína do Estado de Israel" "Elaé determinada a preserva sua  terramãe da fúria de Hulk" 

Que logo passa quando a poeira baixa, daí Bruce Banner anda na feira de Tel Aviv, lá protege um pequeno gatuno que está roubando frutas da freira, o Sahad, um menino que é mostrado na história como "árabe", bem, sabemos que árabes no meio de Israel só podem ser palestinos não é mesmo? Mas ainda que não seja, os outros países árabes da região também se encaixam no que a história trás. Depois da perseguição (por uma mera melancia), lá trocam uma ideia franca, e Sahad conta das dificuldades de ser 'árabe' em Israel:


"As vezes é muito díficil ser árabe em Israel. Ambos, meu povo e os Israelis dizem que a terra é deles. Eles poderiam dividir, mas dois livros muito velhos dizem que devem se matar entre si. Eu? Não leio livros" (tradução livre)

Depois desse hot take uma conversa mais profunda, a HQ faz questão de lembrar que é uma história ocidental escrevendo o oriente, então termos TERRORISTA, BOMBAS, TIROS DE AK 47


Então, com o barulho da explosão, Sabra encontra o Hulk, que se revoltou ao ver o pobre garoto Sahad morrer, e Sabra ao ver a cena, pensa que Hulk estava colaborando com os terrorista, com isso, precisa PROTEGER a sua terra mãe:

Hulk foge com o corpo de Sahad, para enterra-lo dignamente, ao ser encontrado por Sabra que o acusa de matar o garoto, Hulk se revolta e chega a CHORAR, ao explicar que Sahad foi morto pelo conflito. Pesado. Eu nunca esperaria ver-lo chorar desse jeito, ainda mais com a expressividade do Sal Buscema.

Sabra, se comove com o acontecido, e toda passagem dá uma certa humanização a personagem, que, de subtexto, parece estar envolvida com ataques a comunidade palestina...

Tradução livre: Ela é, depois de tudo, uma Israeli, uma super-agente... Uma soldada... Uma máquina de guerra. Mas, ela é tamvém uma mulher, capaz de sentir e de se importar. Foi preciso o Hulk para ela ver que o garoto árabe é um ser humano. Foi preciso um monstro para acordar seu senso de humanidade. 

Sim, Sarab estava lutando contra o Hulk não pelas vidas que ele supostamente tirou, mas, primeiro por estar apararentemente colaborando com os terroristas, segundo por estar pertubando as ordem de sua terra mãe, a grande Israel (com ironias), ou seja, uma preocupação chauvinista barata, pela punição a aqueles que pertubam a sua terra. Imagine levar uma lição de moral de uma criatura verde que mal sabe onde está direito. Vendo a verdadeira face da guerra, que não é desejada por ninguém, a morte de civis, inocentes, que mal acreditam nas coisas os quais estão SUPOSTAMENTE sendo "protegidos", o garoto nunca leu os livros, e morreu em nome deles. 

Talvez você não ache a posição correta reduzir a questão palestina em um conflito, primeiramente, já que alguns grupos consideram um genocídio e regime de apartheid, e depois em uma questão meramente religosa, ok, não é o ideal, mas surpreende uma obra dos EUA não ter uma escrachada propaganda Israelense, comprando o discurso de fazendo mera propaganda, era 1980, ter esse tipo de obra que questiona brevemente a posição de Israel é bacana, relativamente.

Um ponto que achei interessante é o garoto ser morto pelo seu próprio povo. Vai muito na linha que considero mais acertiva de que o terrorismo não trabalha em favor da Palestina, esses ataques esporáticos, como o que gerou a volta a mídia da questão Palestina, não possuem apelo popular, só fode mais ainda os próprios Palestinos. O Hamas NÃO É "o que tem pra hoje"; Em linhas gerais, não é uma história tão bem escrita, mas tem uma posição bacana (considerando de onde veio e de quando), toca em um assunto caro aos dias atuais e é relativamente comica de ver uma capitã Israel. 

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Parece uma estupidez...

 

Só queria deixar registrado nos anais da internet que uns dos meus álbuns favoritos (Pharoah de 77) agora está disponível no Spotify, essa versão era tão rara que eu tinha baixado em FLAC no meu cartão SD com músicas... Agora posso ouvir e registar em meu last.fm (fishjak, meu last), então... estou feliz :)))

É algo simples, mas devemos se alegrar com as poucas coisas que a vida tem a oferecer de bom. 

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Edy Star - Sweet Edy (1974)

Informações legais:

31 de agosto de 1974
12 músicas, 33 minutos
Rock, MPB, Glam Rock, música guei (piada)
℗ 1974 Som Livre

Nossa, quanto tempo que não trago um álbum pra vocês.

Eu recomendo fortemente a leitura prévia da história do Edy Star, o primeiro artista a se declarar assumidamente homossexual nesse país, terra adorada, lá conhecemos o artista, agora teremos acesso a obra. Leia a postagem aqui.

Nos início dos anos 70 a sensação era que a MPB tinha "morrido", ditadura militar, grande parte dos artistas responsáveis pelo frenesi dos anos 60 estavam em exílio, ou só trocaram de país (como a turma da Bossa Nova), tirando aqueles que estavam sendo continuamente presos, censura correndo solta e ainda o fim abrupto dos festivais de música popular brasileira, que revelou grandes, mas enormes artista para o Brasil. Uma injustiça das grandes com os novos compositores/artista que ainda estavam por vir, essa sensação de "estagnação" da música Brasileira acabou dificuldando o início de carreira de novos artistas, nesse "limbo" da indústria fonográfica fez que alguns ficassem esquecidos no tempo, todavia, teve o saldo positivo de testarem mais gente, oferecer mais oportunidades, numa dessas que Elis Regina fez carreira do Tim Maia (cantando junto a ela These Are The Songs), Ivan Lins (Madalena) e o Belchior, o que falar o quão importante Elis foi importante para o Belchior. Tomando só a Elis Regina de exemplo, assim aconteceu com outras gravadoras.

Esse disco foi um convite da Som Livre para o Edy Star, que tinha acabado de sair da CBS depois de gravar Sessão das 10, o álbum foi totalmente entregue nas mãos dele, a parte criativa e artística, incluindo a foto da capa. Nas palavras do mesmo: "Acho um disco muito simpático. É a minha cara. Transgressor, debochado, escroto… Sou eu. Eu continuo sendo Sweet. Continuo sendo terrível (risos)." (entrevista cedida ao site disconversa). 

A capa nos entrega ele mesmo, em uma cadeira antiga, meio relaxado de olhar misterioso, estola de plumas em volta ao pescoço, body rendado, salto alto (a lá Frank N Furter), também exprime uma certa androginia, não se "vestindo como mulher" mas claramente fora dos padrões masculinos da época (infelizmente os homens não se vestiam assim) muito glitter e letras enormes e setentistas, entregando a estética de cabarés*, local onde firmou sua fama.

*eu sei que no nordeste cabaré tem sentido de puteiro, mas não é só isso, são os cabarets uma espécie de balada, casa de festa, as vezes ligado a prostituição, as vezes não. Tem toda aquela estética noturna, boêmia, muito própria da cultura QUEER também, já que é comum (ou era não sei se existe ainda) a apresentação de drag queens nesses locais. Aliás toda estética clássica das drags, estão ligadas ao cabaré

Só que vem uma coisa interessante, o uso do preto e cores escuras no geral, o juazerense opta por esse tom mais dark, o que confere a pegada rock do disco. Ou seja, esse álbum é puro Edy Star, cabaré e rock'n'roll, é o que a capa nos entrega. E quando apertamos o play?

Chegamos com a boa voz do Edy Star, tem um timbre muito bonito, com uma baianidade no sotaque, a música é Claustrofobia da dupla Erasmo e Roberto Carlos, numa pegadinha bem rock, naquela guitarrinha mascadinha que a tropicália trouxe, um baixo estalando, e assim segue nesse estilo na maioria das músicas. Apesar de ser gravado em estúdio, tem um cheirinho de gravação ao vivo, como por exemplo gritos meio avulsos, improvisações e a qualidade do som, a voz é o instrumento principal, nenhum instrumento se sobressai, a performance mora na voz, que não é um puta vozeirão, mas se ganha e conquista pela movimento, boa utilização e amplitude, movimento. 

Todos os elementos que citei ficam mais claros na próxima música, Edith Cooper, composição de Gil feita exclusivamente para esse álbum, dedicado ao próprio Edy, amigos de juventude. Partindo de um doce bárbaro para outro, Caetano Veloso saudando alguns nomes da MPB, Novos Baianos, Jorge Ben e Jorge Mautner, uma música que eu consigo escutar o Caetano Cantando, é o meu tipo de composição dele favorita, que não tem tanto sentido figurativo, partindo para abstrações (ex: Eu Sou Neguinha e Dar Maior Importância).

Partimos para o rock pesado, em uma batida mais forte contando os sonhos de uma jovem estrela que sonha em ser artista, em voz mais rasgada, mais livre, narra em refrão "superestrela eu vou ser!" (muito cara de música de novela da Globo), que toma tons meio tristes, já que a carreira do Edy, infelizmente, não decolou. Os sonhos também conta com as noções de sucesso capitalismo, tal qual aquele episódio de Pica Pau:


Exceto pela parte das mulheres, claro

Num rol de grandes compositores, não poderiam faltar Lupenicío Rodrigues, com Esses Moços, Edy Star mostra sua versatilidade e apresenta uma música típica de cabaré, samba-canção, essa melancolia, conselhos de um velho detonado por uma decepção amorosa muito forte, que não acredita mais no amor. Essa música também contribui para a mistura de gêneros (ficou boa essa frase não é?), Glam Rock, com samba-canção e o mambo de Olhos de Raposa que opta por uma pegada de mambo cubano, apesar de falar "ARRIBA!!" no meio do som, apesar que, o que raposas tem a ver com cuba? Assim como Lupenicio Rodrigues não tem nada a ver com Jorge Mautner, enfim, viva a bagunça do brasileiro.

Por falar em bagunça, nada melhor do que mencionar os Novos Baianos, Edy Star respeita bastante os compositores em suas interpretações, no sentido de não desconfigurar o estilo de cada um deles, e ainda conseguindo impor seu próprio estilo, e que estilo, todo cabareístico. A maioria das músicas são gravações originais, porém, assim como na canção do Caetano, é perceptível o estilo do Morais Moreira aqui, mais uma vez, o sotaque baiano deve ajudar nessa impressão minha. Essa música ferve os novos baianos, pelo refrão repetitivo "Se meu sangue é A se meu sangue é O", a letra divertida. Emanence a essência de cada um dos compositores, até em Lupenício Rodrigues, mesmo sendo uma música gravada inúmeras vezes.

Para fechar com chave de ouro, a parte provocadora, Bem Entendido começa com um blues fortíssimo, um cantar debochado, uma música que não faço ideia como passou pela ditadura militar, mas palavras do mesmo "Mas no meu ambiente, por baixo, na “segunda categoria”, éramos mais quietinhos. Estávamos mais a fim de transar do que de mandar mensagem." por estar na segunda prateleira da MPB, passou por baixo dos olhos do regime, que na verdade nunca foi reconhecido pela excelência. A música é uma evidente refêrencia a homossexualidade, mas não uma homossexualidade evidente 

"Para um bom entendido meia cantada basta" e continua com "De só andar encalhado, encolhido, encubado, escondido, enrolado", citando um quase relacionamento talvez, talvez um amor que não se concretizou, em um grande tom de deboche, pra mim, a melhor música de todo álbum.

Em um apanho geral, é um álbum que tenta de tudo e um pouco, excelente peça para entender a figura do Edy Star em sua pura essência, apesar de estar presente aqui como um monolito (o álbum não possui feats, comum em cantores menos conhecidos) ainda consegue expremer a essência de seus respectivos compositores, o álbum é de estúdio, mas possui uma experiência de um ao vivo, pela presença, alma e vontade com a qual o juazerense Edy Star tem a nos oferecer, é uma excelente obra, que infelizmente foi esquecida pelo tempo.

Antes do David Bowie comprar seu primeiro kit da Avon, antes do Glam rock se consolidar como um todo, Edy estava lá primeiro! Nesse álbum que vale mais do que a pena.

Informações chatas:
A1 Claustrofobia 2:50
Composição – Erasmo Carlos e Roberto Carlos

A2 Edith Cooper 3:17
Composição  – Gilberto Gil

A3 Conteúdo 4:32
Composição – Caetano Veloso

A4 Superestrela 2:20
Composição – Leno
Composição [sem créditos] – Raul Seixas

A5 Esses Moços 3:25
Composição – Lupicínio Rodrigues

A6 Boogie-Woogie Do Rato 1:20
Composição – Augusto Duarte Ribeiro

B1 Sweet Edy 2:47
Composição – Piau, Sergio Natureza

B2 Briguei Com Ela 2:43
Composição – Edy Star

B3 Olhos de Raposa 2:42
Composição – Jorge Mautner

B4 Coração Embalsamado 2:37
Composição – Getúlio Côrtes

B5 Pro Que Der Na Telha 3:23
Composição – Luis Galvão e Moraes Moreira

B6 Bem Entendido 2:46
Composição – Piau, Sergio Natureza

B7 Eu Sou Edy Star 0:38
Composição – Edy Star

Capa – Edy Star

Engenheiro de mixagem – Orlando Costa

Engenheiro de gravação – Deraldo, Emiliano, Luis Carlos, Norival

Produtor executivo – João Araujo

Fotografia da capa – Antonio Guerreiro

Produtor, arranjos – Guto Graça Mello



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50 anos atrás surgia o primeiro artista gay do Brasil: Edy Star, o astro esquecido

esta bicha é tão velha que a palavra gay nem existia ainda

Sim, é óbvio que existiam artistas gays antes do Edy Star, porém, Edy foi o primeiro a se declarar gay assumidamente! Em 1973, em plena ditadura militar e seus pânicos morais a solta. Vamos com calma, vem conhecer a história dessa estrela.

Antes de adentrar no tema, precisando do ponto principal:

Quem é Edy Star?

É exatamente aquele tipo de pessoa pública que não é reconhecida quando pega um ônibus, e olha só, ele deve pegar ônibus, pois nunca conseguiu ser milionário com a música, mas admite ter dinheiro suficiente para viajar e viver bem, em suas próprias palavras: 
"Mas quem ganha dinheiro são autores de músicas. Artistas ganham pelo show. Faço uma média de um ou dois show por mês. Tem meses que eu faço sete shows e em outros nenhum. Tem vezes que me pagar a passagem, hospedagem e ajuda de custo e também vou fazer o show. Gosto de viajar" (Entrevista para a revista Quem. Junho/2020)

A sua discografia é menor que sua importância na música

Isso se dá por ser um músico satélite, ou de segunda prateleira, ou seja, não é pequeno o suficiente ao ponto de ser independente ou regionalizado, ao mesmo tempo que nunca recebeu holofortes o suficiente da mídia, apesar de ter gravado em gravadoras grandes, e ser próximo de artistas famosos, como Caetano e Gilberto Gil, amigos da juventude e Raul Seixas, amigo de infância com quem gravou Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, junto ao Sérgio Sampaio e Miriam Batucada. Além de Sweet Edy que já ouvi e vai sair resenha essa semana ainda! E um disco de 2017 idealizado por Zeca Baleiro cunhado de Cabaré Star. 

Edy Star não é de uma família de artistas, muito pelo contrário, quando decidiu largar seu emprego para ir embora de sua cidade com o circo da cidade causou o maior bafafá, o pai revoltado disse "minha família nunca teve artista!" e o jovem Edy respondeu "estava na hora de ter um então", vamos admitir que a largada era compreensível, ele trabalhava em plena petrobrás, apesar de estar ganhando bem, decidiu largar tudo, aos 20 anos para virar artista. Edy Star nunca gostou de trabalhar na petrobrás, pela homofobia do local de trabalho, tanto que nunca teve vocação nenhuma:
“Odiava aquilo tudo. Eram 1.500 homens no campo e uns quatro ou cinco gays, todos enrustidos. A gente soltava a franga, mas chegava alguém e a gente tinha que mudar a voz, falar de mulher. Sempre escutava umas piadinhas e, ainda por cima, ficava todo sujo de petróleo. Um horror.” (Entrevista a Revista Trip maio/2010)

Depois de seguir a vida se apresentando em circos, trabalhou em algumas emissoras de rádio, mas o episódio mais marcante foi na TV Itapoan, quando cobrou os 3 meses de salário atrasados ao vivo! E foi expulso da emissora em seguida, sendo jogado no estacionamento pelo próprio dono da emissora.

"E ele nunca vinha pra televisão. Sabe, nesse dia o filho da puta estava na televisão, aí eu estou no palco e "Alô seu Paulo! Eu tenho um problema chamado estômago!". Quem gosta desse caso é Jerônimo, Jerônimo adora. "Olha eu tenho um problema chamado estômago, o supermercado não quer aceitar aplausos, só quer aceitar dinheiro, como é que é? Vai me pagar quando?"."(Entreivsta ao programa Espelho com Lazáro Ramos agosto/2019)

Logo após ser demitido, encontra Raulzito (Raul Seixas) em um bar, tomando um choppe, por acaso do destino Raul Seixas estava procurando justamente Edy, para gravar o disco sessão das 10 pela CBS, qual Raul era produtor. Tem uma história sensancional sobre esse disco, mas irei comentar quando fazer uma resenha pro blog.

Raul Seixas, Miriam Batucada, Sergio Sampaio e Edy (que não era star ainda)

4 quatro anos depois dos eventos da CBS (que culminharam na saída), grava a convite da som livre o clássico Sweet Edy, que terá resenha nesse blog ainda nessa semana, não percam.

Seguiu se apresentando em cabarés do Rio e de São Paulo, até o modelo de boates assim irem se esgotando aos poucos, Edy Star não se adaptou bem a nova modalidade de apresentação noturnas, o playback, ao invés das bandinhas da noite que estava acostumado, o que acarretou em sua saída do Brasil, na verdade um exílio para a Espanha, após ter sido ameaçado pelo regime militar

"Porque não tinha mais como trabalhar, as boates não tinham mais conjuntos acabaram com os conjuntos na boate, toda boate tinha um conjunto: piano, baixo, bateria, um trompete ali. Então a gente cantava, tinham os cantores da noite, né? Emílio (Santiago) era cantor da noite, Everardo, tinham vários cantores... A Auréa Martins, Djavan, (Maria) Alcina todos eram cantores da noite, acabaram com isso.
Eu só sabia cantar, e fazer meus numerozinhos de publicidade e não tinha mais onde trabalhar. Daí eu tive que viver cantando com playbacks, as pessoas me davam Alcione me dava, Emílio Santiago me dava, a Beth Carvalho, as gravações, o fundo musical, das gravações deles, só que isso você tem que se adaptar a respiração, as paradas, os timmings dessas pessoas que não é o seu timming, muita das vezes você quer inventar e não pode. Aí, eu fiquei muito chateado com isso, não dá mais" (Entrevista ao programa Espelho com Lazáro Ramos agosto/2019) 
 
A gota d'água foi uma censura que sofreu somado a ameaça de que "vão sumir comigo" como o próprio Edy diz. Pelos anos seguintes se aventurou pelas artes plásticas, e só voltou aos estúdios praticamente 40 anos depois, com uma idealização do Zeca Baleiro para gravar seu segundo disco, Cabaré Star, que conta com vários artistas convidados.

Além da música, Edy Star também trabalhou em algumas peças, dirigiu alguns puteiros em Madrid, e até se aventurou nas artes plásticas, muito além de cantor, era um artista completo. Inclusive, participou da primeira versão nacional do musical Rock Horror Picture Show  em 1974/75, substituindo o Eduardo Conde, sinceramente, Edy é o Frank N Furter em pessoa! A peça também contava com Zé Rodrix, que já tem resenha de álbum aqui.

uma pena da peça ter sido picotada pela censura
Se era quem eu precisava apresentar, está entregue, Edy Star por ele mesmo.

Conheça mais sobre ele em, fontes que utilizei:
https://lucassville.blogspot.com/2011/04/rocky-horror-show-montagem-nacional-de.html
https://www.youtube.com/watch?v=ndHFItxJ4ss
https://www.youtube.com/watch?v=9QbYSLkyuLQ
https://revistatrip.uol.com.br/trip/o-primeiro-gay-a-gente-nunca-esquece
https://revistaquem.globo.com/Entrevista/noticia/2020/07/edy-star-sobre-ser-o-primeiro-artista-se-assumir-gay-no-brasil-sai-quem-pode-e-quem-quer.html
https://disconversa.com/disco-da-semana/disco-da-semana-edy-star-e-sua-naturalidade-transgressora/

• A saída do armário, quer dizer, no armário nunca esteve.

O fato aconteceu em 1973 para a revista Fatos & Fotos, eu não achei a porra da fonte original, mas o fato é conhecido consolidado e público. Foi nessa mesma época que começou a adotar o sobrenome artístico de Star, quando foi "adotado" pela mídia como o Pasquim, que ditava a opinão pública da época.
Apesar da declaração pública, duvido bastante que alguém ainda estivesse dúvidas, pois Edy sempre foi do vale, desde de sua adolescência, de quando andava com gilete embaixo da língua e descia a porrada naqueles que o chamava de "viado", teu apelido de praça era Bofélia, assim como todas as outras tinham seus nomes, isso em pleno anos 50. Deve ter causado bastante confusões. 

Qual a importância de termos artistas gays e outras letrinhas do meio LGBTQIA+?

De duas figuras públicas gays antigas que me veem na mente penso em dois, João do Rio, o criador (praticamente) do modelo de "crônica carioca", inovador lá pros anos 20, porém a sua homossexualidade nunca fui assumida de fato, também me vem a mente Johnny Alf, que nos anos 50 foi o primeiro músico a se pensar bossa nova, ou modelo que viria a ser bossa nova, já que tocava em salões algo que viria a ser inovador, pórem a história do Johnny Alf* é tão triste, tão vazia de informações, que enfim. Nem vou falar de tristeza que não combina com a simpatia do Edy Star, curiosamente, todos os citados além de gays, são negros.
*Posso falar de Alf em outro momento.

O próprio Edy conta que até conhecer a turma gay/travesti lá da Bahia se sentia "a única bicha do mundo", sofrendo com a "maldição" (muita homofobia interna), após o conhecido de uma comunidade reconheceu a si mesmo se enxergando nos pares, porque a normativa da sociedade reprime qualquer comportamento minimante fora da linha, como homens chorarem! SIM, chorar (uma emoção humana) é proibida aos homens, por demonstrar fraqueza, como os homens mais emotivos podem se reconhecer como homens emotivos se a norma manda ele parar de ser daquele jeito? É praticamente impossível ter uma autoaceitação.

Mais importante pelo direito de escolher (no sentido de escolher viver) a sua sexualidade e viver em paz, é importante a peversão daquilo que reprime, da subversão da norma que foi imposta de forma violenta em nossa sociedade, assim como aconteceu nos anos 70, com o próprio Edy Star, o grupo Dzi Croquettes, Ney Matogrosso,  Maria Alcina, Rogéria em menor medida Gilberto Gil e Caetano Veloso, e mundo a fora com o surgimento do Glam Rock. 

Por falar em Gil e Caetano, sabemos que não tem um fodido hétero nesse meio da MPB, porém nem todos quebravam a cisheteronormatividade de forma tão escancarada, porém, isso não é de forma nenhuma demérito desses artistas, a luta deve ser tanto para quem quebra com tudo, tanto para quem não se expressa de forma tão 'colorida', digamos. Dialectamente a isso, a possibilidade não-pressão em figuras públicas que não falam tão abertamente sobre sua sexualidade só é possível porque termos aqueles que afrouxam a corda de nossos pescoços com a provocação e subversão.

A ideologia dominante prevalece, por isso que todo processo de aceitação levam uma vida inteira.
 O próprio Edy fala sobre:
“Antes de mim, durante e até hoje tem muito artista que ainda está no armário. Muitos artistas que nós sabemos que são bichíssimas, mas que estão no armário, casadas, que são pais… Assim como lésbicas também. Todos sabem, mas isso é uma coisa de cada um. Alguns anos atrás, existia uma militância para fazer os artistas saírem do armário. Não concordo com isso. Ninguém é obrigado a nada! Sai quem pode e quem quer. Tem gente que tem receio e eu entendo. Porque o mundo não é gay! Ele é feito de uma convivência de homossexuais com heterossexuais. O mundo nunca foi gay.”  (Edy Star para a revista Quem. Junho/2020)

O mundo nunca foi gay, também, nunca foi hetero, essa dominação nada mais passa de uma ideologia, assim como todas as outras, imposta de forma violenta, ela deve ser combatida, para inclusive até aqueles que não aptidão ao combate, possam conviver bem, então se queremos um cenário onde a sua sexualidade não seja motivo de debate, precisamos de mais debate sobre sexualidade e comportamento humano, parece contraditório, mas assim que é bom.

Aliado a outras grandes figuras da música, e a arte um geral, Edy Star faz parte, sendo pioneiro, na subversão, no combate e embate nessa ideologia caquéctica, que irá de perecer, junto com a velha ordem.

Por mais que ele seja modesto em relação a isso, a sua memória deve ser preservada e viva, segue vivão e simpático como sempre, vida longa a Edy Star! 


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Lista: Músicas sobre gatos! :33

 

tuts tuts tuts
A internet foi feita para gatos, todo mundo na internet ama gatinhos, até quem se diz "não gostar" se diverte horrores com essas criaturas peludinhas fazendo alguma estupidez pela casa, como cair, dobrar no meio e outras coisas que atentam as leis físicas.

Sejam em fotos fofas, nas esquisitas também em todo lugar está povoado de gatos, nesse blog não vai ser diferente.

Antes de mais nada, a primeira música que veio a sua mente é Atirei o Pau no Gato que é curiosamente creditada a Robert Cat Miau, que é pura piada (ou miada), ninguém teria um nome LEGAL DESSES, a música é uma cantiga popular, com muita possibilidade de ter origem portuguesa, assim como as demais. O Brasil demorou um tempinho pra perceber que essa música não tem nada de infantil, porque a música dá pra entender que o pobre do gatinho QUASE MORREU, com toda certeza deve ter perdido umas 4 vidas nessa brincadeira, a Dona Chica se impressionou com razão.

Portugal é tão cruel assim? Não, a cultura 'infantil' do século 18 era assim mesmo porque nem se existia uma noção de infância ainda.
A infância é um conceito muito recente na civilização ocidental, não vou me alongar no assunto, mas vocês podem dar uma lida sobre nesse artigo.

Vai tacar pau na PQP meu amigo

Mencionado o inominável, vamos para a lista verdadeira agora 

Diferente de outras listas, nessa vou colocar fotinhas de gatos e o link embaixo delas

#1 Fora da lei - Ed Motta 
"Cidade nua/Noite neon/Gata de rua faz ronron ao luar"
Na minha humilde opinião, a melhor música do Ed Motta, a letra, o swing, a vibe

Fora da Lei

#2 Dono do Pedaço - Gilberto Gil 
"Sou um gato esperto/Não sou tatu, não/Não sou nem do mato, iê, iê"
De um álbum que estou devendo uma resenha nesse blog, excelente álbum.

Dono do Pedaço

#3 Negro Gato - Luiz Melodia (versão Zé da Onça)
"Eu sou um negro gato/Sete vidas tenho, para viver/Sete chances tenho, para vencer/Mas se não comer, acabo num buraco"
Um clássico da MPB, na voz do Roberto Carlos, de que negro não tem nada (gato já teve seu tempo também...) que assim como na pegada de Dono do Pedaço, exalta essa malandragem gatuníssima, existe várias gravações, escolhi Zé da Onça por pura conveniência ao tema, ora

Negro Gato


#4 História de um gata - Nara Leão no musical Saltimbancos
"Nós, gatos, já nascemos pobres/Porém, já nascemos livres/Senhor, senhora ou senhorio/Felino, não reconhecerás"
Saltimbancos é aquele famoso musical dos bichinhos, precisamente um galo, um burro, um cachorro e uma gata, a depender da versão (e existem infinitas versões) o gênero das personagens varia. A peça musical é originalmente italiana, e foi trazido pelo Brasil nas mãos do Chico Buarque. Ambas são baseadas no livro Os Músicos de Bremen, dos irmãos Grimm, tenho medo de qual obscura deve ser a história original...

História de uma Gata


#5 Gata todo dia - Marina Lima 
"Pega logo no meu pêlo/Seu carinho me arrepia/Não quero água/Tomo banho é de lambida/Tiro o gosto desse corpo"
Essa é a mais furry community da lista um pouco mais literal em se parecer uma gata. Essa música tem uma vibe de sapatão, não por acaso é de composição da própria Marina, então... Minha intuição acertou em cheio. Aliás a quantidade e cantoras lésbicas da MPB é algo que merece uma postagem.
 Outro banger, me fez sentir gostosa também

Gata Todo Dia


Menções honrosas
Eu coloco Jackson do Pandeira em toda lista, então O Gato e Gato do Romeu
E as que fogem ao tema: 
Tigresa do Caetano Veloso e Gatas Extraórdinárias da Cássia Eller, só porque estou numa fase bem Cássia ultimamente

Até a próxima lista! :3




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Arma-X, Barry Windsor-Smith (1991)


Só a ponto de curiosidade, Barry Windsor-Smith fez essa sozinho, uns dos maiores clássicos da Marvel.

Se você é do ramo, já deve ter ouvido falar dessa HQ, a Arma X, será que é um clássico pela sua qualidade ou por sua fama? Veremos 

Sem spoilers, na verdade, é bem díficil de dar qualquer spoiler nessa aqui

o cartunista britânico fez fama desenhando HQs de Conan O Bábaro, e outras histórias mais fantasiosas-medievais, lá na rabetinha dos anos 80 desenhou algumas edições do X-Men, pórem, ficou na história dos quadrinhos com essa história lançada em 1991 em 3 edições, mas antes de falar do roteiro, vamos para a arte.

Traços grossos, posições mirabolantes e cores bastante saturadas, garantindo uma espécie de psicodelia ao quadrinho, como se fosse um delírio, um sonho, que na verdade é mais um pesadelo...
O estilo de coloração me lembra muito o Jack Kirby, tem um arzinho de retrô, algo dos anos 60 e 90, talvez isso seja pela qualidade do Scan que tive acesso

Belíssimo
Só que, claro, sem aquela regrinha de "quadrinhos americano" que é o famoso 2 por 6, ou seja, doze quadrinhos por página, o Layout ainda respeita o formato de quadrados, porém em sua maioria são bastante estreitos, o que dá uma dinâmica a história e cria uma sensação de confusão mental, algo com utilidade narrativa presente. Em algumas páginas você se perderia, se o texto não estivesse bem posicionado. Portanto a disposição dos quadros e a narrativa estão muito bem casadinhas.

Outro ponto interessante, e é marca registrada do Windor-Smith é desenhar corpos em variadas posições, trazendo uma ideia muito presente de movimento, com a dobragem das roupas, posição de queda e etc 


Apesar do método não-ortodoxo de layout, algo bem quadrinístico é o uso de Splash pages essas páginas grandes que tomam todo espaço. Faz bom uso, o ritmo é frénetico, você lê 130 páginas como se fossem 13, tal como o roteiro ajuda.

E sobre o que é essa história? A premissa é simples, a origem do Wolverine, Logan é capturado nos cafundós do Canadá e subemetido a inúmeros testes e pesquisas, da maneira mais dolorosa possível, porém, surpreendendo os cientistas, Logan é um homo-superior (mutante) que pode ter atrapalhado o funcionamento das coisas...  

Tudo isso narrado em uma história bem quirky, quanto americanismo meu, mas não sei se peculiar serve bem, mas farei um comparativo. É como os filmes do Shyamalan, roteiros fechadinhos, excução diferente, e baseado em um grande plot twist apostando na confusão narrativa do leitor, mas nada que impeça o enterterimento, isso é o ponto mais forte da HQ, ela é divertida de ler, apesar dos temas abordados serem escabrosos. 

Outro ponto bom, mais esquecido nas outras HQs do Wolverine, a dor que é ser ele mesmo:

que dor, que dor!

Ser o Wolverine é praticamente uma punição da mitologia grega, teu corpo possue fator de cura, é praticamente imortal, as garras rasgam a sua pele toda vez que saem do antebraço, mas ele se recupera.
Não é porque ele consegue se recuperar rápido que não foi um processo dolorido, toda santa vez.

Wolverine não é muito bem um herói, ele só está junto aos X-Men por ser perigoso o suficiente se estivesse do lado de lá.

Por fim, essa história tem um ritmo bastante cinematográfico, não sei porque nunca foi adaptada antes, poucos personagem (só quatro), em um ambiente fechado e roteiro amarradinho que vai confundir a sua cabeça, mas fique tranquilo, não tem o que entender. 

A experiência de ler vale mais do que a história em si díficil falar sobre, um verdadeiro clássico que não pode ficar de fora de sua lista; 



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Reinventando a roda: Cangaço Novo (2023)


Ubaldo, O homem que vai salvar o cinema nacional?

Informações legais:
Ação/Faroeste/Drama
Ano: 2023
Direção: Fábio Mendonça e Aly Muritiba 
Roteiro: Eduardo Melo e Mariana Bardan 
Produzida pelo O2 filmes
Série original da Amazon Prime Vídeo Brasil

NÃO CONTÉM SPOILERS 
(nenhum grave pelo menos)

Acabei de terminar a primeira temporada, Cangaço Novo não tem nada de especial, não tem nada de inovador, não tem nada que o faça um grande marco na história do audiovisual brasileiro, mas possui grande qualidade, e está nas graças do público, com muito méritos, muito méritos mesmo. 

Infelizmente de algum tempo pra cá se ganhou uma cultura muito tóxica que toda obra tem que ser densa, que ter conteúdo, tudo é conteúdo, tudo tem que ser motivo de debate. O sarrafo de produção mainstream não é mais aquela bobajada dos anos 90/00 o público hoje quer pensar, nessa pegada sai filmes como Bacurau (2019) ou O Poço (2019). Isso prejudica a vontade de consumir obras mais ""simples"", como filmes de ação, que é o caso de Cangaço Novo, por ser cliché, por ser batido e coisa e tals. Seria isso um elitismo cultural? 

Vamos com calma, vamos devagar.

Nós, nordestinos, vivemos um imenso traumas de atores paulistas/cariocas, atuando de forma jocosa, representarem o nordeste, isso é culpa da globo (leia-se mídia mainstream no geral). a Globo inventou que o baiano fala meu rei, a globo inventou que todo nordestino no sul é a porra de um zelador ou empregada doméstica, a Globo que inventou a Juliette ou que tudo que é relacionado ao nordeste tem que ser comédia, as produções atuais do nordeste são comédias em 90% dos casos, cheio de caricaturas e esteriotipos que enchem o saco. E não estou desvalorizando a comédia, também são de qualidade.
 Por isso que quando brota uma produção que diz ser "do nordeste" os próprios nordestinos ficam bastante receosos, não cria um interesse nato, foi o meu caso quando vi Cangaço Novo em anúncios, o primeiro pensamento foi "ah, isso deve ser só uma produção no meio do sertão com um jegue, um cabaré e um barzinho, ninguém aguenta mais" mas muito pelo contrário, Cangaço Novo investe num segmento pouco utilização no Brasil: a ação.

Não tem nada pra abrir os dentes nessa série, é uma produção de ação, um drama de fato, em pleno nordeste. Coisa rara levar nossa terra a sério.

Cangaço Novo não é feito "pro nordestino" ela é feita DO nordestino, da gente pra gente.

E do que a série se trata? De Ubaldo Vaqueiro (Allan Souza Lima), um ex-cearense que vive na zona sul de São Paulo, começamos o episódio piloto com ele sendo demitido do banco, enquanto seu Ernesto (Rodrigo Blat), seu pai está internado em condições graves de saúde. Ubaldo descobre mexendo nos documentos de seu pai que ele possui uma herança em seu nome, lá no interior do Ceará, sua terra natal - que mais tarde descobrimos que é Cratará - onde a população vive a eterna lembrança do pai biológico de Ubaldo, Amaro Vaqueiro, uma figura quase beatificada, que deixou alguns bens. Ao chegar em Cratará, conheça suas irmãs, Dinorá (Alice Carvalho) que tá em uns corres de assalto a banco com sua quadrilha, justamente na modalidade do novo cangaço - daí que vem o nome da série - esses assaltos rápidos e bastantes violentos. Também Edilvânia (Thainá Duarte). Ubaldo é capturado pela quadrilha do novo cangaço durante um assalto a banco e para poupar a própria vida, faz a promessa que irá garantir assaltos melhores. E assim termos o enredo, num roteiro bem fechadinho inicialmente e bem conectado.

Vou começar pelo mocotó de aquiles que são as atuações que deixam a desejar nas cenas de drama, uma história audiovisual é sustentada pela direção, roteiro e atuações, se pelo menos dois elementos da obra foram bons, a obra será boa, é o caso de Cangaço Novo, atua bem quem precisa atuar bem, os periféricos deixam um pouco a desejar, mas nada que irá atrapalhar a sua experiência. O roteiro é conectado de uma forma excelente, porém ele não é fechado, já que acaba com tudo aberta, prontinho pra engatar a segunda temporada.
Outro "defeito" que posso pensar é que ela não é maratonável, explico, cada episódio tem 50 minutos, ao todo são mais de 8 horas de série, os episódios inciais são arrastados, meio sem lenço e sem documento, não está estabelecido ainda onde a série passa, porque só descobrimos o nome da cidade lá pra quase na metade. Então eu recomendo tu ver metade da série em um dia, e a outra metade em outro. Porque a partir de um ponto a série joga fora a premissa estabelecida no seu episódio piloto, vira uma série sobre outra coisa. Mas ainda é um western, e continua sendo de ação. A passagem de bastão é feita de forma suave, com a apresentação de novos personagens, como Zeza (Marcelia Cartaxo), Leinneane (Hermila Guedes). Dividir e consquistar assista desse jeito

Mas entendam, as atuações são boas, Alice Carvalho que faz Dinorá tá no papel da vida. Será lembrada por quem viu a série, o principal, Ubaldo anda sempre com aquela cara de azia, Allan Souza Lima entrega muita bem uma pessoa não tão agradável de olhar, sempre incomodado com algo. Bichinho, deve ser genética mesmo.

"aquele Yakisoba desceu mal pra caramba"


Falando do roteiro, ele se apoia um pouco na jornada do herói, mas as decisões narrativas tomadas não levam a esse caminho, se fosse uma obra genérica, Sabiá (Adélio Lima*), por exemplo, seria esse mestre que guiaria Ubaldo do mundo sem graça de São Paulo, para o fantasioso mundo do sertão Cearense. Mas a introdução é 1/4 da jornada do herói, vem o chamado, negação do chamado, depois toma seus próprios rumos. O desenvolvimento de personagem de Ubaldo é surreal, muito bem feito, pense em um caba bem lapidado durante a série.
*Ele mesmo, que fez o Gonzagão no filme Gonzaga de Pai pra Filho (2012)

A rima narrativa dele conhecendo o seu passado e o passado de seu falecido pai é sublime, porque a cada começo de episódio  termos o passado, que parece ser uns 30 anos atrás... ANOS 90, sim o passado é nos anos 90, se for vinte anos, é anos 2000, que nós vamos descobrindo o passado de Amaro, ao mesmo tempo que Ubaldo vai descobrindo seu presente, e olha só, ele repete a história do pai. Essa rima é incrível, uma série muito bem escrita e planejada. 
Interesante também observar como Ubaldo sai de alguém invisível (bancário e militar), entocado no meio dum apê bem merda em São Paulo, para uma figura esperada, aclamada, um salvador, o filho de Amaro Vaqueiro.
Ao mesmo tempo que vai de alguém que é cerne do sistema, banco e forças armadas, para um completo marginal.

E a pomba do roteiro ainda termina sem fechar o arco, Amazon Prime lance a segunda temporada logo! 

Nisso comparo com a queridinha fase Joss Wheldon do X-Men, algo "simples" porém excelente pelas escolhadas tomadas, não por sua premissa.

A ambientação é perfeita, foi o que me fez apaixonar pelo seriado, porque eu moro numa cidade como Cratará e Cratará não tem nenhum tipo de fantasia, é só a população vivendo sua vida, a série se passa ficcionalmente no Ceará, foi grava na Paraíba e tem atores pernambucanos (quase a maioria), não tinha como dar errado.
Eu diria que tem mais clima de roça do que sertão.

A perfeição não mora na excelência exacerbada, mas na dosagem dos elementos na medida certa. Algo perfeito é algo equilibrado.

"Perfeitament balanceado, como todos as coisas devem ser."


 É uma retração meio seca (sem piadas em relação a isso), mais figurativa ("realista"), não está preocupada em ser "nordestina" o suficiente, todo esse estigma é plano de fundo, eu não vi presente nenhum daqueles esteriotipos preguiçosos que existem nas outras séries, é como disse um nordeste levado a sério. Não é assim:

Veja SP jumpscare

Uma coisa que um amigo meu relatou como atrapalhar a imersão foi a formalidade do texto, realmente não tá lotado daqueles bons palavrões nordestinos, como "raio da silibrina", faz bem roteiro em não optar por eles, porque é sempre engraçado pra caralho, até quando a gente mesmo fala entre a gente. Isso se dá porque a série não está preocupada em ser nordestina o suficiente. Ela é nordestina, e pronto.

A bandidagem não é algo nem banditismo social como algumas pessoas interpretam o cangaço original, nem uma marginalidade danosa e parasita como Tropa de Elite (2007) mostra, ou seja, não rola nem uma romantização boa nem ruim, é uma apresentação da bandidagem de uma forma parecida a qual o rap mostra, essa série combina com Artigo 157 do Racionais MC's, algo que combina muito com filmes de faroeste não é? 
É  uma representação interessante para esse segmento de assalto a banco, não tem nenhum superplano mirabolante, é um bando desorganizado, que não tem um líder, não tem um objetivo fora ganhar dinheiro. 

Apesar da representação seca, é óbvio que o fenônemo de assalto a banco em cidades pequenas não funciona desse jeito, nisso há uma romantização, no sentido de ficção da palavra.

Também perpassa por uma espécie de fantasia vivida pelos assaltantes, essa sensação boa de estar no poder, não atoa eles humilham a população, mandam tirar as camisas, roubam os celulares, estão rindo o tempo inteiro, atiram para o alto comemorando e vivendo a adrenalina. Ninguém ali rouba porque precisa. É isso, ninguém vive um estado e penúria, é só o corre, o corre pelo corre, porque o sistema é ruim, mas nóis é pior. 

A pior coisa que você pode fazer para uma minoria é infantilizar ela, como se fosse inocente, nunca tivesse errada, então essa representação de dúbia, é muito bem representada.

De antemão digo que rótulos irão atrapalhar a sua experiência em Cangaço Novo, não pense nos vilões e nos mocinhos ainda, é um típico western, porque veja, um protagonista que não conhece seu passado, entrando como forasteiro numa cidade pequena, dentro de um clima de alta bandidagem e tiros, muitos tiros. A ação em Cangaço Novo é o ponto mais fortes, excelentes sequências de ação.

Dirigir cenas de ação não é fácil, muitos diretores optam por cortes infinitos, montagens confusas e explosões, o senhor Michael Bay que o diga. A direção opta por um ritmo mais acelerados nas cenas de ação e demonstrar claramente o espaço o qual a ação acontece, durante os assaltos a banco todos os participes são mostrados, até aqueles que estão esperando do lado de fora, o que cria essa tensão. As cenas de luta física, sim, tem várias, é luta de cachorro, closes de corpo inteiro, coreografia brutais, não tem nada de bonito, nem plástico, é briga pra matar mesmo. A trocação de tiro é padrão hollywoodiano mesmo.
Poucos closes, e bastante planos abertos valorizando o cenário.
A fotografia abusa da bela iluminação natural que nosso senhor joga na paraíba, planos abertos, planos de contraste com o sol, as cenas noturnas são lindas e o mais importante dá pra enxergar alguma coisa. Não existe a desgraça daquela película amarela de Breaking Bad, é a luz do lugar mesmo.

gravaram isso no terreno de vovó, não é possível


A direção opta por utilizar bastante sangue, mas nenhum gore, sem tripas voando ou decaptações exceto pelos animais, veganos não esquentem o juízo nessa série por favor.

(Apesar de eu citar Breaking Bad de novo, aquele filme do Luiz Gonzaga tem uma fotografia horrorosa, é um laranjão terrível, de doer das vistas)

Tá amarrado, que coisa feia.


Todo personagem nessa série é reconhecível, por isso o roteiro não demora tanto apresentando eles. Quem mora no nordeste conhece um Jeremias (Enio Calvacante), conhece um Sabiá, conhece uma Dinorá da vida, cada personagem é bastante crível com a nossa realidade, isso faz com muito méritos, a série foi escrita por quem sabe e vive a realidade a qual está escrevendo, Isso fica muito claro inclusive pelas roupas, e cada um se veste de uma forma própria, as personas tem BASTANTE personalidade e carisma, como você se veste diz muito sobre. 

Pra mim o melhor personagem representado é o Ameaço (Rodrigo Garcia), ele é branco, gazo mesmo, e é aquele branco nordestino que eu sei apontar claramente quem é e você sabe quem são se já viu um. 

Rapaz eu estudei com esse bicho no nono ano...
Outro ponto que garante personalidade a quadrilha são seus nomes, na verdade apelidos: Facão, Moeda, Tirolesa, Duzentos, Sivirino (que deve ser nome), Delegado Pixinga (Junior Black) etc etc

Eu compararia a quadrilha com os nórdicos de Vinland Saga (leia minha resenha sobre Vinland Saga aqui), já que falei de Vinland Saga, vamos para máxima, onde tem guerra tem política e Cangaço Novo, assim como Vinland Saga, não se furta de representar a política. 

Parte política de Cangaço Novo:

O debate mais aparente aqui é o de gênero, Dinorá é também filha de Amaro Vaqueiro, inclusive anda com o revólver do pai, mas nunca teve o prestígio de Ubaldo, que acabou de chegar de São Paulo. Esse debate não é feito de forma gritante, mas está sempre presente. Se comparei a série com Vinland Saga, Dinorá é a Askeladd, a série não é bem sobre ela, mas poderia ser...
Se estamos lidando com um grupo de criminosos, tem violência sexual, mas graças a Deus acontece apenas duas vezes na série, sem nada explícito, nem uma banalização da violência de gênero, como obras que são focadas em figuras propositalmente odiosas (geralmente homens) tem. Aliás não se tem também cenas em puteiros, ou as famosas primas, vocês sabem do que falo. Essa questão de gênero é muito bem tratada, bem abordada. 

Sério, eu fiquei tão feliz que não tem um puteiro em Cratará, só por merece um 10 de 10.

Dinorá é a famosa mulher durona, pero no mucho, ao decorrer da série vermos que é alguém só muito traumatizada, e não tem opção a não ser tão bicha bruta, famoso ou dá ou desce.

Além de questões de gênero, o ponto principal de Cangaço Novo, aquele momento de passagem de bastão que disse, é a luta pela terra, latifúndios drenando a água da população, o dono? Simplesmente a mesma família que está no poder a mais de 40 anos, tanto na prefeitura com o Gastão Maleiro (Bruno Berllamino) tanto no senado. Ora ora, uma família "tradicional" da região que mantém seu poder através da política, eu nunca vi isso antes em terras nordestinas. É a realidade apresentada, o jogo sujo da política de interior, paráfraseando a própria série:
"Até quando é guerra, é política"

A seca aqui não é uma condenação de Deus, é problema político! Pois os Maleiros estão drenando a água de terrenos locais, comprando açudes que eram público também. A população não é "resistência pura" porque no povo reside o impéto da mundança, mas sim porque é ou lutar pelo o que é seu ou morre de uma vez. Isso entra aquela velha máxima que se escuta bastante nas ruas, o Brasil não é um país pobre, só mal administrado, na verdade, sua riqueza tem servido para interesses errados.

Olha um ponto bacana, o problema em si não é o político corrupto, mas como os políticos servem aos interesses dos poderosos, isso quando não são eles a própria elite, ou seja, podem destruir determinado lugar de forma completamente legal. E isso é o mais perigoso, quando as coisas funcionam como deveriam, apesar de claro, é política de cidade pequena então tem corrupção a rodo.

Acho que vale uma comparação com Bacurau (2019), é bom entender que as duas produções tem plataformas e propostas diferentes, Bacurau se propõe a ser uma fantasia, uma fábula onde a lição de moral é a mensagem polítca, é mais pretensiosa, carregada, mais cabeça. Não atoa foi queridinho do campo político da esquerda, tem toda essa pulsão, porém, pra mim, Cangaço Novo tem mais personalidade que Bacurau... Acredito também que toca em debates que Bacurau não alcança por escolhas. O certo é, as duas obras são excelentes, compartilham de alguns atores como Junior Black (rip) e talvez seja um demonstrativo de uma nova leva de obras nordestinas por aí. 

Precisamos desfazer o impacto cultural do nordeste global.

Apesar de ser uma produção de ação nos modelos blockbuster, dá pra extrair bastante coisa, mas ainda é uma produção de ação...

Por útlimo, sua soundtrack, recheada de música dos anos 70, achei um MILAGRE não ter tocado Belchior, que é cearense inclusive, tinha o que encaixar aqui. Durante os episódios você vai ouvir Fagner, Erasmo Carlos, Quinteto Violado, obviamente AVE SANGRIA e Jards Macalé. A trilha sonora original reproduz aquelas típicas notas de filmes de faroeste, mas com instrumentos daqui mesmo.

(lengo lengo tengo lengo tengo lengo tengo)

Em um apanhado geral,
Cangaço Novo não tem nada de extraórdinário, a sua qualidade está mais na execução do que na ideia. Conta com boas escolhas narrativas, um ritmo que se arrastar no começo, mas depois engata bem o resto da série, uma representação honesta do nordeste e da pilantragem, personagens dúbios e cheio de carisma.

É mais ou menos Breaking Bad se tivesse mulheres bem escritas.
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DC encontra Looney Tunes vol1, Vários Artistas - 2018

 

Batman o homem molcego

Depois me chamam de marvete, eu comprei esse quadrinho tá?
Rápida alínea: essa resenha não terá imagens porque eu li na versão físcia.

Diferente de muitos canais de gibitubers por aí o título dessa HQ não tem clickbait, são personagens clássicos da DC dividindo página com os personagens clássicos do Looney Tunes, tem várias histórias dessas espalhadas por aí, sem nenhum problema com copyright não é mesmo? Já que a Warner Bros. papa ambos os universos, bendito seja o monópolio de mídia (ironia) 

Nesse quadrinho editado pela panini reúne as seguintes histórias:
Superboy impostor (Legião dos superheróis e Pernalonga) de Sam Humphries, Tom Grumett, Scott Hanna, Steve Buccellato
Melhores Intenções (Caçador de marte e Marvin o Marciano) de Steve Orlando e Frank J. Barbiere no roteiro, Aaron Lopresti, Jerome Moore, Hi-Fi.
Melhor Um Diabo Conhecido (Mulher Marvilha e Taz Mania) de Toney Bedard, Barry Kiston, John Floyd, Lovern Kinozierski.
Velozes e Impiedosos (Lobo, Coyote e Papa Léguas) de Bill Morrison, Kelly Jones, Michelle Madsen.
Chegan'o e Atiran'o (Jonah Hex e Eufrazino, com participação do Frangolino) Jimmy Palmiotti, Mark Texeira, Paul Mounts 
Leze por mim (sic) (Batman e Hortelino Troca Letras) de Tom King, Lee Weeks, Lovern Kindezierski. 
Tendo o Joey Cavalieri sendo creditado em todas as histórias, meio meme.

Todas as histórias no modo "DC" (quadrinho que já estamos acostumades) é acompanhada com uma história mais cartunizada de cinco ou seis páginas no máximo, só que nenhuma realmente funciona, é mais os artistas brincando com o traço looney tunes do que algo mais tátil. Sei que díficil traduzir o espiríto do Looney Tunes nos quadrinhos, o uso de onomatopeias poderia ter ajudado, algo na pegada do cartum brasileiro, ou então um traço mais solto, brincadeira entre os quadrinhos em si e os espaços, fora isso então vou sumariamente ignorar todos, porque nenhuma é boa de fato. Exceto pelo Lobo e Coiote, mas falarei deles mais tarde. 

Tem spoilers, moderadamente

Aproveitando a toada de coisas que não funcionaram tanto, vou comentar duas histórias juntas, porque se aplica a ambas, a do Pernalonga e do Taz não funcionaram, faltou uma "liga", não que esteja exigindo uma puta história cabeça, mas pelo menos o estabelecimento de algo razoavel crível para a existência da Mulher Maravilha e o Taz Mania, ou o Pernalonga no século 30, a costura ficou meio mal feita, principalmente na da mulher maravilha, que tem uma tonelada de texto, mas nenhum é tão interessante o suficiente. O que é uma pena, acredito que o Pernalonga funcionaria bem nos quadrinhos, essa figura do trickster como tirar uma marreta da bunda, ou uma bigorna kkkkkkkk o conceito é fraco, a aplicação é ruim, as histórias não valem tanto a pena. Fora que achei meio mal desenhadas, o design do Taz tá horrível, poxa vida, o Taz é baseado em um bicho que já existiu, poderia ter rolado um esforço maior.

Melhores intenções me pegou desprevenido, a premissa é absurda, J'onn J'onzz, o caçador de marte, vive numa profunda solidão por ser o único marciano no planeta terra, sente falta do planeta natal e de pares como ele. (J'onn não é como o superman, apesar de ser um tipo de refugiado de guerra, pois o Kal-El foi criado como um ser humano por toda vida, não atoa é o Super Homem e o nosso querido amigo marciano viveu toda uma vida em outro planeta, que foi destruído.) Pensando nisso, responde uma mensagem subliminar da televisão escrita em Marciano, através de um portal chama para terra Marvin, que nessa história foi adaptado para M'arvin M'ars ou algo parecido, ainda um pequenino marciano que quer DESTRUIR O PLANETA TERRA. E essa destruição irá acontecer por culpa exclusiva de J'onn, que trouxe essa criatura para terra. De todas histórias essa é mais profunda, por mais que pareça algo meio besta, não tem nenhuma piada aqui, é um alien envenenado por uma misantropia contra um alien filantropo, que ama o planeta terra. Aliás não foi por isso que marte foi destruída? A guerra entre si, destruindo pares. Marvin julga os humanos como seres burros e inferiores, mas o que faria dele ser diferente ao tentar destruir todos? Esses são debates que acontecem ao longo dos quadrinhos.  Tão como o quão vale a pena salvar os humanos, já que na primeira oportunidade vão apontar o dedo para o marciano, pois ele é o alien, é sempre a ameaça.

A representação do J'onn está surreal, todas suas falas começam por uma inocência, muito bem destacado nos traços de Aaron Lopestri, depois um sentimento de culpa muito grande apresentado por ter feito tudo que acontece na história, até um remorso por precisar derrotar Marvin utilizando um poder proibido na comunidade marciana, J'onn é um legítimo herói, mesmo lutando contra criatura tão cruéis como o MARVIN, ele mesmo. Essa história não tinha nenhuma obrigação de ser densa como é. Acho que entrega muito mais do que pretende, coisa boa.

Caso não reconheça pelo nome, esse é o Marvin

Velozes e impediedosos tem uma premissa mais simples, pulando a parte de criação do Wile E. Coiote que é um lore até engraçado de se pensar, aliás serve para todos os outros animais do Looney Tunes, um grande projetinho semi legalizado do governo que envolve aliens, sendo todos os animais meio-aliens, com capacidade de consiciência própria, algo meio batido. Mas de fato, no mundo dos quadrinhos tudo já foi feito.

Só para fins de arquivo, não é a primeira vez que o Coiote aparece nas histórias da DC, Grant Morrison já tinha trazido ele no Evengelho do Coiote, Homem Animal, confira minha resenha sobre.

Tanto o Coiote, tanto o papaléguas, teem esses poderes especiais e vivem se perseguindo por mais de 70 anos pelo deserto de Nevada, até o dia que o Coiote contrata Lobo para matar o papa légua, o resultado disso é hi lá ri o. De todas as histórias, esse é a mais engraçada, e casa muito bem porque o Lobo tem fator de cura, ou seja, ele pode se explodir, cortar ao meio, cair de um penhasco sem morrer, igual ao Coiote. Então se tem a mesma dinâmica, só que com um personagem DC, enquanto o Coiote é encarregado de matar uns dos alvos do Lobo, ao jeito dele. Diferente das outras edições, essa é autoconsciente (assim como o desenho era) que é uma HQ, ou seja, mais livre, mais leve, e se levando muito pouco a sério, um alivío cômico que casa muito bem, até na edição Looney Tunes, onde se tem o Lobo mais parecido com o traço dele em Liga da Justiça do Bruce Timm, aquela mesmo que passava na SBT. A versão mais "cartunizada" funciona tão bem porque ficou na mão do Bill Morrison, que desenhava quadrinhos do Simpsons, meio que tem experiência no ramo.

Uma excelente ideia, uma boa execução, não é fácil adaptar o Papa Légua pros quadrinhos.

Quem foi o putardo que teve a ideia de colocar Lobo num desenho infantil?

A coisa mais engraçada em todas as histórias é que o Coiote pode falar, mas nunca tinha feito porque... Nunca pensou nisso antes. Sim. Esse é a justificativa dada pela HQ.

Jonah Hex e Eufrazino é a escolha mais óbvia tomada aqui, são personagem do velho oeste, por optar por um caminho fácil, eles inovam na caracterização dos personagens, Eufrazino ainda é o mesmo filho da puta baixinho ranziza de sempre, mas toda uma lore por trás, que justifica a presença do Jonah Hex pelo meio. Eu não conhecia o Jonah Hex até ler essa HQ, acredito também que não seja um personagem tão conhecido no Brasil, pois quadrinhos western são mais moda no lado ao norte da américa. Essa é a história mais "adulta" de todas presentes, com abordagem mais pesada, direito a bastante sangue, tiros e meretrizes peitudas, bem climão de produções western. Com direito ao Eufrazino dando um socão na boca de uma mulher, caralho, Looney Tunes tá diferente.
Nesse processo de despersonalização termos o Frangolino, que nessa história não tem uma origem especificada, apenas uma aberração meio homem meio frango vinda da Itália, mas atualmente mora no Alabama. Por ser uma aberração, logicamente é participe de um circo, bem daqueles circos de horrores, que contavam com apresentações bem cabulosas, no caso, é um frango boxeador, aquele que ganhar dele papa 100 doletas americanas para o bolso. Essa história não tem nada de engraçado nela, nem em conceitos, nem em cenas. De todas é a mais redondinha pela quantidade de páginas, fecha muito bem e até que, pra mim, foi a melhor de ler.

Um comentário sobre a arte do Mark Texeira, me lembra uns quadrinhos dos anos 90, tem um quê de grunge nessa parada, me lembrou The Preacher da Vertigo, inclusive Texeira foi responsável por algumas HQs dos X-Men da época mesmo, minha intuição nerd apitou e estava certa.

Caso não reconheça Eufrazino pelo nome, é esse aí (o de chapéu, claro)

Por último, o carro chefe desse encontro do primeiro volume, Hortelino enfrentando o Batman! Diferente de outras histórias que tentaram justificar a existências desses personagens birutas (uma tradução de looney) o roteiro de Tom King prefere por humanizar os personagens, então termos Pernalonga, Gaguinho, Piupiu, Eufrazino motoqueiro, Frangolino e etc versão gotham. King arrisca ao não trazer nenhum vilão do Batman, apostando nas próprias pernas, trazendo apenas Silver St. Clouds emprestado do rico universo Batman, isso só mostra que quem escreve sabe e conhece o morcegão, como faz.

Aliás é sobre ela, na verdade sua morte, que roda a história. Hortelino vai até o bar do Gaguinho para matar o Pernalonga pois ele é o assassino de sua amada, a Sra. St. Clouds, sim, a amante do Bruce em algumas histórias do Batman aqui é apaixonada no HORTELINO, lá descobre que foi o Bruce que encomendou o assassinato, assim Hortelino jura vingança ao Bruce Wayne... E a história é boa até ai. A premissa é fenomenal, a conclusão é meio "Marta?! Por que você disse nome??!", nada de novo pra histórias do Batman, que geralmente são mal escritas mesmo.

Foda que tipo, o Hortelino que nunca conseguiu acertar uma bala no pernalonga consegue invadir a mansão Wayne, no meio de uma festa, e meter a azeitona nele? Qualé, eu até fiquei pensando que essa parte era um delírio, mas não é, porque foi através dela que o Batman vai atrás do Hortelino. Me parece que o "rei do preparo" não é tão bom como dizem.

Em compensação, elogiando o King, o tom cômico dessa tirinha é por ela se levar a sério demais, um conto noir narrado por letras "tlocadas", chuva, cidade suja e aquele climão que as histórias do Batman tem, especialmente pós Frank Miller. Não obstante, essa história poderia ser muito bem um spin-off de Batman Ano Um, tanto na arte espectacular Lee Weeks.

Apesar da história não ser tão boa, isso não é um requisito para uma história do Hortelino, é divertida, o texto é muito bem feito e o melhor: TEM TROCAÇÃO DO HORTELINO CONTRA O BATMAN, fora a cena de briga no bar, é pra isso que comprei essa HQ cumpre o que promete.

Editada pela Panini ainda conta com um volume 2, que fiquei bastante interessado de ler. Acho que é uma boa opção se está atrás de algo mais alternativo no meio dos quadrinhos, pode parecer algo comercial demais, mas o resultado irá de surpreender, exceto pelas aquelas que são tão ruins quanto você esperava.

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