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Zé Rodrix E A Agência De Mágicos - Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber (1974)


capa do álbum

Informações rápidas 3 de março de 1974
MBP, "Rock rural",notas psicodélicas (a capa que o diga) 12 músicas, 38 minutos
℗ 1974 EMI Records Brasil Ltda Tem nos (na maioria) serviços de streamings: sim!

"É uma orquestra de metais com eletricidade/E é uma banda de rock com facilidade"

Com um azulzinho claro e um amarelo definitivamente foi uma capa pintada a mão, e esse ar de "artesanal" que ela trás é bastante chamativa, na linha do "tom amador" um desenho do Zé parecendo uma divindade hindu, eu apostaria no Ganesha, mas acredito que não há divindade hindu especifica para música, ou melhor, o rock rural, apresentando seis braços tocando diversos instrumentos, ostentando um belo black com uma áurea laranja em volta, uma sunguinha e uma cara, mas uma cara de chapado a capa não é presunçosa, não é a capa mais bela da música nacional, mas com toda certeza está longe de ser esquecível, memorável sem ser clássica nas artes gráficas. 

Ganhesa, divindade de alguma coisa no Hindu 

Vamos combinar, a mitologia hindu, pelo menos em sua parte gráfica é psicodelia pura, amontoado de cores, braços e figuras coloridas deve ter deixado os hipongas da época fascinados, por isso não surpreende a escolha dessa estética para a capa e é bastante harmoniosa com a proposta do álbum.
Fato que me lembra as citações do Grant Morrison em Os Invisíveis (HQ de 1994) da banda Kula Shaker, banda de britpop que tem várias referências a esses misticismos hindu.


Mais o que é um rock rural ora bolas? - disse o leitor
Assim como tudo nessa vida, tudo fora do eixo Rio-São Paulo é regional, com o rock não é diferente, o rock rural pode ser definido como bandas de rock mineiras dos anos 70, a alcunha ficou de fato depois da música Casa no Campo (Eu quero uma casa no campo/Onde eu possa compor muitos rocks rurais/E tenha somente a certeza/Dos amigos do peito e nada mais) de Tavito com o próprio Zé Rodrix.
Em termos musicais, a distribuição dos elementos utilizados é diferente dos demais, não é nem a bagunça proposital tropicalista, nem um rock americanizado da turma do iê iê iê, um ritmo único, mas não com propensão de brasileiro, é apenas um mero rock rural, e nada mais do que isso. São basicamente as músicas de Tavito, Zé Rodrix e Sá & Guarabyra a santíssima trindade (com quatro pessoas) do Rock Rural.
E esse álbum é essencial para entender o gênero.
yep, as palavras chaves como vocês podem ver é psicodelia, rock, mas não é um rock gringo hiponga (nada contra, eu curto algumas bandas) é um rock rural.

Falando do álbum finalmente:

A obra começa com um delicioso riff de guitarra da primeira música que dá nome ao álbum, junto a uma bela mistura de instrumentos, elemento que nos fora dada pela tropicália, a 'orquestração' na música popular foi uns dos maiores presentes que o tropicalismo nos deu, nesse álbum não é diferente, junto ao riffzinho já chegam os metais e bem assim segue a tônica até a última música. Em um álbum, a coisa mais importante é o feeling, neste caso o feeling é daquilo que o rock rural nos trás, algo sutilmente provocativo, jovial e a valorização de alguns elementos do campo, um rompimento com a vida corporativa e cinza que as grandes metrópoles tem daí vem a fonte da psicodelia, essa provocação, essa instigação de "por que você é tão cinza?"  

Talvez por falta de conhecimento meu, mas em relação as músicas variam entre rocks "clássicos" com sutis notas de psicodélico (tipo um órgão e piano) ou baladas (músicas de ritmo indefinido), algumas possuem um belo storytelling que se fosse na gringa, seria chamado de música folk, como a título de exemplo "A Volta do Filho Pródigo"; "Roupa Prateada", "a Roupa Nova do Rei", "Muro da Vergonha".

Em relação a provocação é bem nos limites do que a MBP podia fazer na época, toda tensão política causada pela Ditadura Militar, que caramba, não deveria ser um país muito agradável. Muitas músicas tem um tom profético de "vocês vão ver", "vai acontecer", "algo mais mudar" ou transcrevendo Muro da Vergonha Só vai ter mais um planeta girando envolta do Sol/E a gente dentro dele, isso claro em suingue que só a música brasileira pode produzir.

Zé Rodrix abusa do recurso do refrão repetindo no final da música, algo que implica uma mensagem talvez. As músicas falam de sujeitos não nominados, tipo "você"; "todo mundo";"a gente vai"; "nós" é algo interessante porque é algo perfeito contrário daquelas obras intimistas onde conhecemos os sentimentos melhores escondidos do artista, ou pelo menos, a fabricação desses sentimentos. Esse álbum fala para a geral, expressa sentimento gerais, é um coração aberto e compartilhado que todes estavam sentindo na época, seja de fato a população geral ou esse extrato jovem específico do rock rural, aqui Zé Rodrix consegue fazer a identificação do indivíduo a partir do todo, e não do todo a partir do indivíduo como é o álbum Alucinação (1976) de vocês-sabem-quem, aquele rapaz latino americano sem dinheiro no banco e com uma canção do rádio onde um compositor baiano lhe dizia vocês-sabem-o-que

Esse senso de coletividade que gera identificação (ou deve ter gerado) fica bem explícito em "Noite de Sábado"; "Rock Para Futuras Gerações" E que se a guerra tá batendo lá fora/E a velha bomba vai pintar qualquer hora/A gente ainda tem um refúgio seguro no rock and roll.

O Rock and Roll, não só nesse álbum, mas muito presente na música brasileira dos anos 70 é realmente mostrado como esse lugar de refúgio, esse tal de roque enrow como diz a saudosa Rita Lee já foi um campo melhor utilizado, um lugar de refúgio não pelo seu conforto, mas pela capacidade de provocar, de causar e de chacoalhar os ossos e a mente. Por um rock mais corruptivo e menos confortável. 

Pequena nota de rodapé, mais um artista que possivelmente batendo na bossa nova E é nessas horas que eu canto/Um velho samba-canção/Estragado por pessoas que o ouviram da maneira errada o nome da música é Cadeira Vazia nº2, sendo Cadeira Vazia uma música do Lupicínio Rodrigues, uns dos maiores nomes do samba canção, se não, o maior! A bossa nova também tinha essa mania de readaptar os sambas canções (especificamente o João Gilberto que ficava ressuscitando música dos anos 40).


Outra nota de rodapé é que a penúltima música se chama "Não Perca o Final", e, de fato a última música é a melhor do álbum, mas aí eu não vou comentar ela porque quero que você escute

Para terminar, em questões instrumentais não há nenhuma performance individual que saia dessa levada do álbum, nenhum grande solo ou algum instrumento que se destaquem, a banda faz o seu papel e o faz muito bem, tudo bem encaixadinho e orquestrado com maestria (literalmente), padrão de qualidade dos anos 70, os metais me soam muito parecido com os do Gerson King Combo em seu autointitulado de 1977.

Em aspectos gerais, o álbum é divertido, provocativo, agitado mas sem aquela rebeldia-irritação punk que quer destruir 'as coisa', soa muito bem em um final de semana, uma música leve, pra se ouvir em caixa de som ou fones de ouvidos (eu o ouvi duas vezes, preferi na caixinha mesmo)

E talvez aí more o maior ponto alto dessa obra, a sua última música, tal qual um grande música, seu final é epopeico, sintetizando muitíssimo bem o feeling geral, A Roupa Nova do Rei é algo que para a alegria e leveza do álbum para te fazer pensar um pouco. Um álbum alegre, porém tenso, jovial, porém maduro ao tratar de temas políticos, no limiar do que poderia ser passado pelos censores.  
Promete pouco, entrega mais do que parecia dar, clássico do ROCK RURAL, álbum essencial para entender esse rock mineiro e o rock nacional dos anos 70 como um todo.
Músicas puláveis: Muito Triste, Circuito Universitário.

Melhores músicas: A Roupa Nova do Rei, Muro da Vergonha, A volta Do Filho Pródigo, Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber, Roupa Prateada 

Recomendo para quem gosta de: MPB, Rock psicodélico, Rock dos anos 70, Clube da Esquina.

  • Informações Chatas:
    Lista de faixas

  • Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber 2:43
  • Muito Triste 3:44
  • Compota De Cereja 1:55
  • Roupa Prateada 3:24
  • A Volta Do Filho Pródigo 3:07
  • Muro Da Vergonha 3:10
  • Circuito Universitário 3:59
  • Noite De Sábado 3:07
  • Um Rock P'ras Futuras Gerações 2:12
  • Cadeira Vazia Nº2 3:21
  • Os Bons Velhos Tempos (Estão De Volta Outra Vez) 3:33
  • Não Perca O Final 2:45
  • A Roupa Nova Do Rei 0:48

  • Ficha técnica
    Arranjo por
     – Zé Rodrix (faixas: A, B1 to B5, B6b)
  • Arranjo – Waldyr Arouca De Barros (faixas: B6a)
  • Backing Vocals – FrancinetteLizzie BravoMalu BalonaMárcio LottRoberto Corrêa (2)Ronaldo Corrêa*
  • Baixo – José Rosallis
  • Maestro – Waldyr Arouca De Barros
  • Dirigido por (Musical) – Maestro Gaya
  • Bateria – Gustavo Schroeter
  • Flauta, Sax Tenor – Aurélio Marcos
  • Guitarra – Paulinho De Castro
  • Orgão, Mandolin – Elias Mizrahi
  • Diretor De Produção – Milton Miranda
  • Remix – Nivaldo Duarte
  • Sax Tenor, Sax Baritone – José Albino Pestana
  • Sax Tenor , Flauta – Nivaldo OrnellasUratha
  • Trompete – Nilton R. Da SilvaWaldyr Arouca De Barros
  • Compositores – Maxine (11) (faixas: B1), Sá & Guarabyra (faixas: B4), Tavito (faixas: A5, B2), Zé Rodrix.

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