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Os Surpreendentes X-Men fase Joss Whedon e John Cassaday (#1-24)

 

Muitos sites ninchados de quadrinhos atribuem a essa fase dos X-Men como a melhor da história 'recente' (quase vinte anos atrás né). Será que é fato?
Pois bem, a li, deixo minha humilde opinião sobre

Resumidamente

Nome original: Astonishing X-Men
Edições: #1 até a #24 e a Giant Size
Criadores: Joss Whedon e John Cassaday 
Editora: Marvel
Ano: 2004
Acha fácil? Sim. 
!Não é recomendada para iniciantes!

Em meados dos anos 2000 os mutantes passaram por uma reforma completa, diria até quase uma revolução, após andar em más águas (coisa bastante comum pra Marvel, convenhamos) os mutantes se perderam, praticamente os X-Men se tornou um grupo paramilitar mutante, uma milícia, isso em tempos dos anos 90, mais cedo ou mais tarde iria vir uma HQs que chacoalhasse o marasmo, e ela veio, com os Novos X-Men (#114 até #156) do carequinha escocês favorito da galera, Grant Morrison, e Frank Quitely (inicialmente).
Confira minha resenha do Novos X-Men

E daí? Daí que essa fase pós-Morisson ficou conhecida como ReLoad, uma reciclagem dos X-Men, numa perspectiva mais 'heroica' novamente, para retomar tempos mais simples. -Saiu muita bomba nessa época, minha nossa - É importante ter essa informação em mente ao ler, para saber a proposta do autor. O que o autor se propôs? Nesse caso, um mero gibi de herói. 

AVISO: A resenha pode conter spoilers da obra, não vou ficar contando pedaço por pedaço, mas preciso falar de alguns momentos chaves, fique avisade  


Essa 'saga' não é recomendada para pessoas que nunca leram NADA dos mutantes, você pode até entender os texto e fazer interpretação, é uma obra fácil, mas ela não foi escrita para você. Apesar que nenhum sentinela nerd vai te bater caso você pegue pra ler como primeira HQ dos mutantes, eu acho. 

Pois bem, pois bem, vamos começando do começo: A obra é dividida em quatro arcos "Superdotados", "Perigoso", "Destroçados" e "Incontrolável", de ritmo relativamente rápido, levando em consideração a quantidade de enredo que é apresentada, mas diria que dá pra acabar em dois ou três dias, depende da forma que você lê. A história não é densa, mas é cumprida, então é bom ler com vontade.
 
Antes de chegar no sumo, vamos falando da parte que muitos consideram superficial, visual. Eu não conhecia o trabalho do Cassaday, mas depois de terminar esse quadrinho virei fã completamente. Um traço com uma pegada mais """realista""" mantendo o que os Novos X-Men trouxeram. Quando eu falo realista é a utilização de elementos mais figurativos, coisas que você reconhece facilmente e são existentes na nossa realidade, objetos reconhecíveis e o mínimo de respeito a anatomia humana e proporções, apesar que sim, ainda tem um bicho azul peludo de óculos, e não precisa ser "realista", porque realismo não é uma qualidade, é uma forma optativa de se desenhar ou questão de traço. Para ilustrar o que quero dizer, tenham uma pessoa em mente quando cito "realismo", Neal Adams

Não é realismo, TEM UM LOBISEM E UM CARA VESTIDO DE MORCEGO

Então deve ter algum nome melhor para expressar o que quero dizer, mas acredito que com o Neal Adams possa ter ficado claro. 

Só a efeito comparativos, um bom parâmetro é o nível de sexualização de personagens femininas, algo que geralmente passa do ponto. Utilizando de exemplo a Emma Frost

Art Adams (pior cenário pqp) vs John Cassaday

Então, só de não ter feito a Emma Frost como uma personagem de contos eróticos, mas ainda sim respeitando a sensualidade esperada da personagem, ganhou bastante ponto comigo. Aliás ela ainda parece uma patricinha dos anos 2000 siliconada, mas não é algo feito para... Fins escusos. 


Ainda sobre o visual, o apelo mais heroico os trajes voltaram no famosão azul/preto e amarelo, cores vivas, mas não saturadas, tem um quê de... Wallpaper do Windows XP, saca? Todas as cores se destacam, mas nenhuma de sobrepõe a outra, exceto nos momentos que se faz necessário, algo vivido.
O quadrinho não apresenta nenhum grande plano com aqueles cenários gigantescos, que não decepcionam quando precisam aparecer, distribuição de layouts grandes, com personagens bastante grandes em tela, Cassaday tem esse dom de ostentar personagens enormes no quadros, porque eles costumam ser bastante expressivos. Layouts bem maiores nas cenas de combate físico e tem muita lutinha nisso aqui. 
lindo lindo lindo lindo lindo lindo

Para terminar a parte visual da coisa, os trajes são convencionais, tirando pelo Fera, que apostou num modelito um pouco ousado, o design do Fera em si tá perfeito, um autentico gatinho mau humorado 

 Se fosse eleger o melhor traje: Wolverine

Wolverine sofre nas HQs, mas aqui tá fino

Enredo
Joss Whedon é um mago do entretenimento, não foi escolhido pela Marvel para ser o diretor de Vingadores e assim cravar o MCU em nossas vidas (infelizmente?) para sempre, ou talvez até a próxima década mesmo. Séries, quadrinhos e o escambau, o homem fez de tudo, menos comercial da Old Spice. Assim como Cassaday é sóbrio e dosado nos traços, por outro lado Whedon dosa no fã service e na inovação. Por uma obra com apelo ao heroísmo a HQ está recheadas de referências a era Chris Claremont (segunda gênese), algumas indiretas e outras bastante diretas como memórias das personagens, a citar o 'redesenho' da Luta do Scott com a Ororo. A sequência de abertura da Kitty Pryde (agora uma mulher adulta) também

Do que se trata a final? Bem, extermínios dos mutantes (porra de novoo nãaao), mas dessa vez, Whedon fez bem ao tratar desse assunto como algo SECUNDÁRIO, não principal. É quase impossível fazer uma história dos X-Men sem mencionar isso, mas sempre trazer isso como enredo principal fica meio maçante. 
Os mutantes decidem voltar a cena, mas dessa vez como heróis (isso é dito ipsi litteris) ao mesmo tempo que uma geneticista famosa descobre a cura do gene X, ao mesmo que um Alien chamado Ord está fazendo um sequestro em algum prédio importante. Tudo isso é contado ao mesmo tempo apenas no primeiro e segundo issue, o roteiro é leve, tem quebra gelo, o Ord, que sempre é derrotado da forma mais galhofa, mas de um nível Dicky Vigarista mesmo, corrida maluca das ideias, se mostrando, de fato, essa pegada de história de herói. 

Mesmo os X-Men se apresentando como heróis, tem momento que eles agem como mutantes apenas, sendo hostilizados pela SHIELD, então fica aquela: será que os heróis são apenas os amigos do governo?

Ord quer acabar com os mutantes porque um deles irá destruir o seu planeta, (aliás esse é o fio principal que guia toda saga) nesse ponto as três histórias paralelas que citei se conectam numa maestria sensacional, seja trabalhando com eventos previsíveis ou totalmente inesperado Whedon conduz muito bem toda a trama contando três ou quatro histórias ao mesmo tempo que vão se conectar, é quase página sim e página não dos eventos narrados. A conexão é boa até naquilo que é relativamente previsível (como Ord e a doutora) e até nas coisas totalmente inesperadas, COMO O SCOTT SUMMERS SACANDO UMA PISTOLA E ATIRANDO NO CLUBE DO INFERNO


"Minha intenção é ruim, esvazia o lugar/Eu tô em cima, eu tô afim um. dois, pra atirar"

Tudo isso em um ritmo frenético, numa história recheada de lutinhas, lutas entre os próprios X-Men inclusive. As sequências de ação não são gratuitas, apesar da HQ ser feita para isso. Como o Wolverine e Cyclops, Wolverine e Fera, Wolverine, Wolverine e Wolverine, que luta, apanha e bate bastante nessa série.

Todo arco da sala de perigo é só luta também, acabei esquecendo de mencionar

Com os dois primeiros issues você entende muito bem a proposta da HQ, é coisa de heroizinho, bom, desempenha de forma incrível esse papel, colocando o sarrafo mais pra baixo, você passa a esperar menos da obra, só que é surpreendido com a imersão da teia de relacionamentos dos X-Men, como as suas angustias, culpa e principalmente medos. E isso não é subtexto ou interpretação, mesmo de forma tímida, a obra se dedicada as esses sentimentos, tudo que Whedon quer dizer nessa obra ele diz de forma legível e clara. A exemplo do Fera questionando a possibilidade perder os poderes ao ir atrás da cura, o dilema moral envolvendo a destruição do Grimamundo e até uma passagem rápida de um mutante que tirou a própria vida depois de perder os poderes, bad.

Tudo que seria considerado DEFEITO em outros gibis de herói, vira uma qualidade na mão do Whedon, o motivo para isso é bastante simples, é bem escrito porra, quando é bem escrito, até clichê se torna algo aceitável, fã service também. Quando reclamamos desse tipo de coisa, não é a mera coisa pela coisa, mas pela escolha de tomar caminhos mais fáceis e preguiçosos para mascarar a falta de comprometimento com a obra, e é nessa tomada de decisão narrativas que vermos o quão é bem escrito, não há escolhas preguiçosas aqui.
Vou fazer um paralelo, assim como em X-Men: O Confronto Final 3 (2006) se tem o lance da cura mutante efetuada por uma empresa privada, é exatamente o mesmo lance, até na questão de um X-Men 'ir atrás da cura', mas por que X-Men 3 é uma das piores coisas que vi nessa vida e Os Surpreendentes X-Men não? É tudo questão de como é escrito, se for bem feito, é bem feito, independente dos elementos utilizados, mesmo sendo clichês, pode sim ser bom.

Se eu falar o que eu penso desse filme vou ser preso

 E como é ruim X-Men 3, até a utilização do elemento da cura mutante, naquele final TERRÍVEL, inescrupuloso, esse filme é um atentado a constituição federal e a carta de direitos humanos da ONU

"De novo não, X-Men 3 nãããão"
Vou parar de falar desse filme porque tá me dando memórias muito ruins

Voltando, 
Para-não-dizer-que-falei-das-falhas o terceiro arco envolvendo a "volta" do clube do inferno é meio meme, ainda que no final é tipo foda-se e não tem nenhuma ligação, ou pelo menos aquela boa ligação com o quatro arco, é tipo um gato, um armengue. Cassandra Nova "de volta", Shawn, alguém parecido com o mentalista e uma mina que nem aparece direito, a desculpa dada foi no rolê foi a teoria que o Ash estava sonhando o tempo inteiro, mas considerando os poderes da Emma Frost, é relativamente aceitável, mas não é na pegada de qualidade dos outros arcos. Nem posso reclamar desse terceiro arco porque é o mais divertido de todos, só porradaria e patacoadas, tem excelentes sequências de ação e seu valor.
Vou reclamar de fan service, o lockheed aparece pra nada, ele pisca na história, aparece e some. Piscou mais rápido do que o cristal da realidade na saga da fênix.     

É marcada por esses episódios de "aposta controlada", Whedon toma o risco, desenvolve rapidamente dentro do risco e volta pra zona de conforto. Para exemplificar, o Cyclops perde os poderes você SABE que ele não vai terminar o quadrinho sem eles, mas essa previsibilidade não atrapalha a imersão, e todo o arco sem os raios do Scott são bastante interessantes, é algo ousado, que vai voltar pro normal na tranquilidade.
Também ousa em aspectos mais radicais, como a não aparição da fênix (o caminho mais preguiçoso de todos, como em um filme aí já citado) e não a aparição, o renascimento ou o Deus ex-machina do Magneto, dois caminhos muito preguiçosos que não são tomados.
Aliás, o Professor Xavier também não é um dos personagens presentes, é interessante a dinâmica do instituto Xavier sem o Xavier.
Como disse, é uma HQ confortável, não vai te provocar no bom ou mal sentido, mas definitivamente, não é qualquer uma.

De personagem novos: Tem a Agente Brand, todo o rolê do Grimamundo, Perigo e Kavita (eu acho) 
A qualidade mora na coesão dos elementos apresentados, tudo é bem ligadinho, bem é redondinho, foi algo planejado o sintoma disso é Cassaday seguir até o fim, e o planejamento deu frutos.

De frutos, nem vou comentar o final porque ainda estou processando ele, a Giant Size que termina a saga é de tirar o folego. 

É uma obra para agradar quem gosta do gênero (agradar quem odeia é difícil né), no sentido de bater certinhos nos elementos que dá satisfação para um leitor gibi, especialmente Marvel, mesmo soando como algo genérico, a obra tem personalidade, tem muito valor e é um verdadeiro clássico. Os Surpreendentes X-Men é o tipo de clássico que deve ser referenciado no futuro, ou no presente mesmo. 

Os Surpreendentes X-Men fase Joss Whedon e John Cassaday, tem aquele heroísmo da era de prata, personagens da era de bronze com uma dinâmica de distribuição de roteiro da nossa era atual, o melhor dos mundos, não por qualquer ideia genial ou um epifania quadrinística, sim por sua dosagem, sobriedade e uma certa paciência em fechar seus eventos. 

Ela é perfeita, não por ser algo fora da casinha, mas por arrumar a casinha, botar uma varanda e um quintal florido, a perfeição perante o ordinário, sem nada de SURREAL, apenas surpreendente rs. Uma obra prima, um clássico, um capítulo que não dá pra ignorar na história dos X-Men, é a melhor história dos mutantes desde dos anos 2000, em todas as plataformas até agora. O que será das 40 edições que os surpreendentes X-Men ainda tem? Não sei, ainda vou ler, mas o sarrafo subiu bastante.

Em resumo: uma HQ sóbria, leve, divertida acima de tudo e inesquecível.

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