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O dia que Israel declarou guerra ao Hulk. O Incrível Hulk #256 (1981) - Bill Mantlo e Sal Buscema


"Hulk não sabe onde ele está! Hulk não liga"

Vou começar pelos agradecimentos: dedico a uma grande amiga minha que mandou um painel sem contexto desse quadrinho, e perguntou se conhecia, não conhecia de fato, mas fui atrás e aqui estamos.
 Falo de antemão que todas as imagens aqui estarão em inglês porque essa edição talvez não tenha saído no Brasil, ou ninguém pensou em scannear pra tropa.



A fase Bill Mantlo e Sal Buscema é uma das favoritas dos fãs do pepino agressivo,  eles foram responsáveis pelo Hulk na Encruzilhada, grande clássico da Marvel lançado lá em 86 eu acho. Sal Buscema já vinha desenhando o Hulk desde da metade dos anos 70, Bill Mantlo, nessa edição, tinha acabado de chegar, começou a escrever o Hulk na edição 246.

Em uma opinião pessoal, gosto bastante dessa interpretação do Hulk, por aspectos que vou delimitar lá na frente, e pela arte do Sal Buscema, porque faz um Hulk bem parecido com o Lou Ferrigno:
adoro esse Hulk

Qualé a história? Antes termos um pequeno prólogo sobre a desativação da base gama, onde Hulk, Dr Samson e o Líder foram criados (preocupante essa exposição aos raios gama), e a demonstração do verdão como uma ameaça ao Estados Unidos e por tabela ao planeta terra, principalmente depois de quase derrubar um viaduto cheio de civis na briga que teve contra o Thor na edição anterior. 

*efeito de soco do Chaves *

Ué? Mas o Hulk não é um vingador? Ele não é tipo um herói? Porque está brigando com o Thor? - pergunta o leitor confuso, então, essa fase do Hulk (a série dele ajudou a criar isso) ele não é mais um herói, não é mais a dinâmica do médico e o monstro, Bruce Banner perdeu totalmente o controle de suas ações e consciência, significa que ele virou o Hulk de vez? Não, mas é a maior parte do tempo, o que deixa situação mais dramática, melancólica, Bruce virou algo parecido com um viciado em crack, não tem ideia onde está, não tem controle do que está fazendo e vive vagando pelo mundo em busca da paz que não encontra em si mesmo. 
A sua raiva não vem mais do mundo exterior, vem da sua própria condição, se transformar vira uma espécie de válvula de escape, o que gera um ciclo vicioso, ele precisa se transformar em Hulk para dissipar a angústia da mente, mas toda vez que se transforma a sua condição só piora.

Nessa edição do Thor o próprio Hulk fala "Bruce Banner odeia o Hulk e Hulk odeia o Bruce banner" então é uma dinâmica de um viciado, um dependente químico, do que dupla personalidade, já que a personalidade do Médico se espaireceu totalmente, até pela distância que ele está do Rick Jones (seu melhor amigo) e de Betty (sua esposa), ele está distante, perdido, se transformando e Hulk e acordando em lugares aleatórios, totalmente sem rumo da própria vida. E assim, é que ele acorda em Israel, após os eventos da HQ anterior.

ressaca é foda

A mera presunção de que está sendo capturado é suficiente para entar em agonia. Falo agonia porque nesssas duas histórias o Hulk mal é movido pela "raiva", o desequilíbrio que Bruce vive é tão grande que qualquer pertubação mínima é suficiente para virar o Hulk. e a porrada come seca, no porto de Tel Aviv Hulk desmembra por completo as forças de segurança de Israel, que são meio burrinhas. 

Pensa, você está lidando com uma criatura que se alimenta de raiva, ele é capaz de quebrar a porra toda, qual a solução? ATIRA VELHO, claro, o comandante até mete um "FORÇA BRUTA!!"


Quem assiste a tudo isso é a nossa heroína da vez, a capitã Israel, digo Sabra, uma mutante que trabalha como policial e quando está de collant trabalha para o governo Israelense. Não é a sua primeira aparição, ela é mencionada pela primeira vez no Incrível Hulk #250, mas apenas mencionada em tela, mal sabemos seu nome aqui;

(Caso não tenha percebido, é ela no círculo vermelho.)

Sabra voa, tem superforça e lança um tipo de "espinhos" com as mãos que deixam as pessoas desacordadas, o que faz total sentido, já que Sabra é o mesmo nome de uma fruta-cacto típica da região ali de Israel, também é o mesmo se dá (ou dava talvez nos anos 80) aos habitantes de Israel, nativos. É uma mutante meio esquecida por motivos bleh, quem vai interessar por uma Homelander Israelense?

A sua apresentação aqui não dura muito tempo, porque quando estava se arrumando pra sair como Sabra recebe uma porrada de um saco de batatas na cabeça, durante o frenesi do Hulk. Logo após que acorda, termos a sua devida apresentação, Sabra!



Traduções livres: "Mas com sabra Super heroína do Estado de Israel" "Elaé determinada a preserva sua  terramãe da fúria de Hulk" 

Que logo passa quando a poeira baixa, daí Bruce Banner anda na feira de Tel Aviv, lá protege um pequeno gatuno que está roubando frutas da freira, o Sahad, um menino que é mostrado na história como "árabe", bem, sabemos que árabes no meio de Israel só podem ser palestinos não é mesmo? Mas ainda que não seja, os outros países árabes da região também se encaixam no que a história trás. Depois da perseguição (por uma mera melancia), lá trocam uma ideia franca, e Sahad conta das dificuldades de ser 'árabe' em Israel:


"As vezes é muito díficil ser árabe em Israel. Ambos, meu povo e os Israelis dizem que a terra é deles. Eles poderiam dividir, mas dois livros muito velhos dizem que devem se matar entre si. Eu? Não leio livros" (tradução livre)

Depois desse hot take uma conversa mais profunda, a HQ faz questão de lembrar que é uma história ocidental escrevendo o oriente, então termos TERRORISTA, BOMBAS, TIROS DE AK 47


Então, com o barulho da explosão, Sabra encontra o Hulk, que se revoltou ao ver o pobre garoto Sahad morrer, e Sabra ao ver a cena, pensa que Hulk estava colaborando com os terrorista, com isso, precisa PROTEGER a sua terra mãe:

Hulk foge com o corpo de Sahad, para enterra-lo dignamente, ao ser encontrado por Sabra que o acusa de matar o garoto, Hulk se revolta e chega a CHORAR, ao explicar que Sahad foi morto pelo conflito. Pesado. Eu nunca esperaria ver-lo chorar desse jeito, ainda mais com a expressividade do Sal Buscema.

Sabra, se comove com o acontecido, e toda passagem dá uma certa humanização a personagem, que, de subtexto, parece estar envolvida com ataques a comunidade palestina...

Tradução livre: Ela é, depois de tudo, uma Israeli, uma super-agente... Uma soldada... Uma máquina de guerra. Mas, ela é tamvém uma mulher, capaz de sentir e de se importar. Foi preciso o Hulk para ela ver que o garoto árabe é um ser humano. Foi preciso um monstro para acordar seu senso de humanidade. 

Sim, Sarab estava lutando contra o Hulk não pelas vidas que ele supostamente tirou, mas, primeiro por estar apararentemente colaborando com os terroristas, segundo por estar pertubando as ordem de sua terra mãe, a grande Israel (com ironias), ou seja, uma preocupação chauvinista barata, pela punição a aqueles que pertubam a sua terra. Imagine levar uma lição de moral de uma criatura verde que mal sabe onde está direito. Vendo a verdadeira face da guerra, que não é desejada por ninguém, a morte de civis, inocentes, que mal acreditam nas coisas os quais estão SUPOSTAMENTE sendo "protegidos", o garoto nunca leu os livros, e morreu em nome deles. 

Talvez você não ache a posição correta reduzir a questão palestina em um conflito, primeiramente, já que alguns grupos consideram um genocídio e regime de apartheid, e depois em uma questão meramente religosa, ok, não é o ideal, mas surpreende uma obra dos EUA não ter uma escrachada propaganda Israelense, comprando o discurso de fazendo mera propaganda, era 1980, ter esse tipo de obra que questiona brevemente a posição de Israel é bacana, relativamente.

Um ponto que achei interessante é o garoto ser morto pelo seu próprio povo. Vai muito na linha que considero mais acertiva de que o terrorismo não trabalha em favor da Palestina, esses ataques esporáticos, como o que gerou a volta a mídia da questão Palestina, não possuem apelo popular, só fode mais ainda os próprios Palestinos. O Hamas NÃO É "o que tem pra hoje"; Em linhas gerais, não é uma história tão bem escrita, mas tem uma posição bacana (considerando de onde veio e de quando), toca em um assunto caro aos dias atuais e é relativamente comica de ver uma capitã Israel. 

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