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Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

DC encontra Looney Tunes vol1, Vários Artistas - 2018

 

Batman o homem molcego

Depois me chamam de marvete, eu comprei esse quadrinho tá?
Rápida alínea: essa resenha não terá imagens porque eu li na versão físcia.

Diferente de muitos canais de gibitubers por aí o título dessa HQ não tem clickbait, são personagens clássicos da DC dividindo página com os personagens clássicos do Looney Tunes, tem várias histórias dessas espalhadas por aí, sem nenhum problema com copyright não é mesmo? Já que a Warner Bros. papa ambos os universos, bendito seja o monópolio de mídia (ironia) 

Nesse quadrinho editado pela panini reúne as seguintes histórias:
Superboy impostor (Legião dos superheróis e Pernalonga) de Sam Humphries, Tom Grumett, Scott Hanna, Steve Buccellato
Melhores Intenções (Caçador de marte e Marvin o Marciano) de Steve Orlando e Frank J. Barbiere no roteiro, Aaron Lopresti, Jerome Moore, Hi-Fi.
Melhor Um Diabo Conhecido (Mulher Marvilha e Taz Mania) de Toney Bedard, Barry Kiston, John Floyd, Lovern Kinozierski.
Velozes e Impiedosos (Lobo, Coyote e Papa Léguas) de Bill Morrison, Kelly Jones, Michelle Madsen.
Chegan'o e Atiran'o (Jonah Hex e Eufrazino, com participação do Frangolino) Jimmy Palmiotti, Mark Texeira, Paul Mounts 
Leze por mim (sic) (Batman e Hortelino Troca Letras) de Tom King, Lee Weeks, Lovern Kindezierski. 
Tendo o Joey Cavalieri sendo creditado em todas as histórias, meio meme.

Todas as histórias no modo "DC" (quadrinho que já estamos acostumades) é acompanhada com uma história mais cartunizada de cinco ou seis páginas no máximo, só que nenhuma realmente funciona, é mais os artistas brincando com o traço looney tunes do que algo mais tátil. Sei que díficil traduzir o espiríto do Looney Tunes nos quadrinhos, o uso de onomatopeias poderia ter ajudado, algo na pegada do cartum brasileiro, ou então um traço mais solto, brincadeira entre os quadrinhos em si e os espaços, fora isso então vou sumariamente ignorar todos, porque nenhuma é boa de fato. Exceto pelo Lobo e Coiote, mas falarei deles mais tarde. 

Tem spoilers, moderadamente

Aproveitando a toada de coisas que não funcionaram tanto, vou comentar duas histórias juntas, porque se aplica a ambas, a do Pernalonga e do Taz não funcionaram, faltou uma "liga", não que esteja exigindo uma puta história cabeça, mas pelo menos o estabelecimento de algo razoavel crível para a existência da Mulher Maravilha e o Taz Mania, ou o Pernalonga no século 30, a costura ficou meio mal feita, principalmente na da mulher maravilha, que tem uma tonelada de texto, mas nenhum é tão interessante o suficiente. O que é uma pena, acredito que o Pernalonga funcionaria bem nos quadrinhos, essa figura do trickster como tirar uma marreta da bunda, ou uma bigorna kkkkkkkk o conceito é fraco, a aplicação é ruim, as histórias não valem tanto a pena. Fora que achei meio mal desenhadas, o design do Taz tá horrível, poxa vida, o Taz é baseado em um bicho que já existiu, poderia ter rolado um esforço maior.

Melhores intenções me pegou desprevenido, a premissa é absurda, J'onn J'onzz, o caçador de marte, vive numa profunda solidão por ser o único marciano no planeta terra, sente falta do planeta natal e de pares como ele. (J'onn não é como o superman, apesar de ser um tipo de refugiado de guerra, pois o Kal-El foi criado como um ser humano por toda vida, não atoa é o Super Homem e o nosso querido amigo marciano viveu toda uma vida em outro planeta, que foi destruído.) Pensando nisso, responde uma mensagem subliminar da televisão escrita em Marciano, através de um portal chama para terra Marvin, que nessa história foi adaptado para M'arvin M'ars ou algo parecido, ainda um pequenino marciano que quer DESTRUIR O PLANETA TERRA. E essa destruição irá acontecer por culpa exclusiva de J'onn, que trouxe essa criatura para terra. De todas histórias essa é mais profunda, por mais que pareça algo meio besta, não tem nenhuma piada aqui, é um alien envenenado por uma misantropia contra um alien filantropo, que ama o planeta terra. Aliás não foi por isso que marte foi destruída? A guerra entre si, destruindo pares. Marvin julga os humanos como seres burros e inferiores, mas o que faria dele ser diferente ao tentar destruir todos? Esses são debates que acontecem ao longo dos quadrinhos.  Tão como o quão vale a pena salvar os humanos, já que na primeira oportunidade vão apontar o dedo para o marciano, pois ele é o alien, é sempre a ameaça.

A representação do J'onn está surreal, todas suas falas começam por uma inocência, muito bem destacado nos traços de Aaron Lopestri, depois um sentimento de culpa muito grande apresentado por ter feito tudo que acontece na história, até um remorso por precisar derrotar Marvin utilizando um poder proibido na comunidade marciana, J'onn é um legítimo herói, mesmo lutando contra criatura tão cruéis como o MARVIN, ele mesmo. Essa história não tinha nenhuma obrigação de ser densa como é. Acho que entrega muito mais do que pretende, coisa boa.

Caso não reconheça pelo nome, esse é o Marvin

Velozes e impediedosos tem uma premissa mais simples, pulando a parte de criação do Wile E. Coiote que é um lore até engraçado de se pensar, aliás serve para todos os outros animais do Looney Tunes, um grande projetinho semi legalizado do governo que envolve aliens, sendo todos os animais meio-aliens, com capacidade de consiciência própria, algo meio batido. Mas de fato, no mundo dos quadrinhos tudo já foi feito.

Só para fins de arquivo, não é a primeira vez que o Coiote aparece nas histórias da DC, Grant Morrison já tinha trazido ele no Evengelho do Coiote, Homem Animal, confira minha resenha sobre.

Tanto o Coiote, tanto o papaléguas, teem esses poderes especiais e vivem se perseguindo por mais de 70 anos pelo deserto de Nevada, até o dia que o Coiote contrata Lobo para matar o papa légua, o resultado disso é hi lá ri o. De todas as histórias, esse é a mais engraçada, e casa muito bem porque o Lobo tem fator de cura, ou seja, ele pode se explodir, cortar ao meio, cair de um penhasco sem morrer, igual ao Coiote. Então se tem a mesma dinâmica, só que com um personagem DC, enquanto o Coiote é encarregado de matar uns dos alvos do Lobo, ao jeito dele. Diferente das outras edições, essa é autoconsciente (assim como o desenho era) que é uma HQ, ou seja, mais livre, mais leve, e se levando muito pouco a sério, um alivío cômico que casa muito bem, até na edição Looney Tunes, onde se tem o Lobo mais parecido com o traço dele em Liga da Justiça do Bruce Timm, aquela mesmo que passava na SBT. A versão mais "cartunizada" funciona tão bem porque ficou na mão do Bill Morrison, que desenhava quadrinhos do Simpsons, meio que tem experiência no ramo.

Uma excelente ideia, uma boa execução, não é fácil adaptar o Papa Légua pros quadrinhos.

Quem foi o putardo que teve a ideia de colocar Lobo num desenho infantil?

A coisa mais engraçada em todas as histórias é que o Coiote pode falar, mas nunca tinha feito porque... Nunca pensou nisso antes. Sim. Esse é a justificativa dada pela HQ.

Jonah Hex e Eufrazino é a escolha mais óbvia tomada aqui, são personagem do velho oeste, por optar por um caminho fácil, eles inovam na caracterização dos personagens, Eufrazino ainda é o mesmo filho da puta baixinho ranziza de sempre, mas toda uma lore por trás, que justifica a presença do Jonah Hex pelo meio. Eu não conhecia o Jonah Hex até ler essa HQ, acredito também que não seja um personagem tão conhecido no Brasil, pois quadrinhos western são mais moda no lado ao norte da américa. Essa é a história mais "adulta" de todas presentes, com abordagem mais pesada, direito a bastante sangue, tiros e meretrizes peitudas, bem climão de produções western. Com direito ao Eufrazino dando um socão na boca de uma mulher, caralho, Looney Tunes tá diferente.
Nesse processo de despersonalização termos o Frangolino, que nessa história não tem uma origem especificada, apenas uma aberração meio homem meio frango vinda da Itália, mas atualmente mora no Alabama. Por ser uma aberração, logicamente é participe de um circo, bem daqueles circos de horrores, que contavam com apresentações bem cabulosas, no caso, é um frango boxeador, aquele que ganhar dele papa 100 doletas americanas para o bolso. Essa história não tem nada de engraçado nela, nem em conceitos, nem em cenas. De todas é a mais redondinha pela quantidade de páginas, fecha muito bem e até que, pra mim, foi a melhor de ler.

Um comentário sobre a arte do Mark Texeira, me lembra uns quadrinhos dos anos 90, tem um quê de grunge nessa parada, me lembrou The Preacher da Vertigo, inclusive Texeira foi responsável por algumas HQs dos X-Men da época mesmo, minha intuição nerd apitou e estava certa.

Caso não reconheça Eufrazino pelo nome, é esse aí (o de chapéu, claro)

Por último, o carro chefe desse encontro do primeiro volume, Hortelino enfrentando o Batman! Diferente de outras histórias que tentaram justificar a existências desses personagens birutas (uma tradução de looney) o roteiro de Tom King prefere por humanizar os personagens, então termos Pernalonga, Gaguinho, Piupiu, Eufrazino motoqueiro, Frangolino e etc versão gotham. King arrisca ao não trazer nenhum vilão do Batman, apostando nas próprias pernas, trazendo apenas Silver St. Clouds emprestado do rico universo Batman, isso só mostra que quem escreve sabe e conhece o morcegão, como faz.

Aliás é sobre ela, na verdade sua morte, que roda a história. Hortelino vai até o bar do Gaguinho para matar o Pernalonga pois ele é o assassino de sua amada, a Sra. St. Clouds, sim, a amante do Bruce em algumas histórias do Batman aqui é apaixonada no HORTELINO, lá descobre que foi o Bruce que encomendou o assassinato, assim Hortelino jura vingança ao Bruce Wayne... E a história é boa até ai. A premissa é fenomenal, a conclusão é meio "Marta?! Por que você disse nome??!", nada de novo pra histórias do Batman, que geralmente são mal escritas mesmo.

Foda que tipo, o Hortelino que nunca conseguiu acertar uma bala no pernalonga consegue invadir a mansão Wayne, no meio de uma festa, e meter a azeitona nele? Qualé, eu até fiquei pensando que essa parte era um delírio, mas não é, porque foi através dela que o Batman vai atrás do Hortelino. Me parece que o "rei do preparo" não é tão bom como dizem.

Em compensação, elogiando o King, o tom cômico dessa tirinha é por ela se levar a sério demais, um conto noir narrado por letras "tlocadas", chuva, cidade suja e aquele climão que as histórias do Batman tem, especialmente pós Frank Miller. Não obstante, essa história poderia ser muito bem um spin-off de Batman Ano Um, tanto na arte espectacular Lee Weeks.

Apesar da história não ser tão boa, isso não é um requisito para uma história do Hortelino, é divertida, o texto é muito bem feito e o melhor: TEM TROCAÇÃO DO HORTELINO CONTRA O BATMAN, fora a cena de briga no bar, é pra isso que comprei essa HQ cumpre o que promete.

Editada pela Panini ainda conta com um volume 2, que fiquei bastante interessado de ler. Acho que é uma boa opção se está atrás de algo mais alternativo no meio dos quadrinhos, pode parecer algo comercial demais, mas o resultado irá de surpreender, exceto pelas aquelas que são tão ruins quanto você esperava.

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