Informações legais:
31 de agosto de 1974
12 músicas, 33 minutos
Rock, MPB, Glam Rock, música guei (piada)
℗ 1974 Som Livre
Nossa, quanto tempo que não trago um álbum pra vocês.
Eu recomendo fortemente a leitura prévia da história do Edy Star, o primeiro artista a se declarar assumidamente homossexual nesse país, terra adorada, lá conhecemos o artista, agora teremos acesso a obra. Leia a postagem aqui.
Nos início dos anos 70 a sensação era que a MPB tinha "morrido", ditadura militar, grande parte dos artistas responsáveis pelo frenesi dos anos 60 estavam em exílio, ou só trocaram de país (como a turma da Bossa Nova), tirando aqueles que estavam sendo continuamente presos, censura correndo solta e ainda o fim abrupto dos festivais de música popular brasileira, que revelou grandes, mas enormes artista para o Brasil. Uma injustiça das grandes com os novos compositores/artista que ainda estavam por vir, essa sensação de "estagnação" da música Brasileira acabou dificuldando o início de carreira de novos artistas, nesse "limbo" da indústria fonográfica fez que alguns ficassem esquecidos no tempo, todavia, teve o saldo positivo de testarem mais gente, oferecer mais oportunidades, numa dessas que Elis Regina fez carreira do Tim Maia (cantando junto a ela These Are The Songs), Ivan Lins (Madalena) e o Belchior, o que falar o quão importante Elis foi importante para o Belchior. Tomando só a Elis Regina de exemplo, assim aconteceu com outras gravadoras.
Esse disco foi um convite da Som Livre para o Edy Star, que tinha acabado de sair da CBS depois de gravar Sessão das 10, o álbum foi totalmente entregue nas mãos dele, a parte criativa e artística, incluindo a foto da capa. Nas palavras do mesmo: "Acho um disco muito simpático. É a minha cara. Transgressor, debochado, escroto… Sou eu. Eu continuo sendo Sweet. Continuo sendo terrível (risos)." (entrevista cedida ao site disconversa).
A capa nos entrega ele mesmo, em uma cadeira antiga, meio relaxado de olhar misterioso, estola de plumas em volta ao pescoço, body rendado, salto alto (a lá Frank N Furter), também exprime uma certa androginia, não se "vestindo como mulher" mas claramente fora dos padrões masculinos da época (infelizmente os homens não se vestiam assim) muito glitter e letras enormes e setentistas, entregando a estética de cabarés*, local onde firmou sua fama.
*eu sei que no nordeste cabaré tem sentido de puteiro, mas não é só isso, são os cabarets uma espécie de balada, casa de festa, as vezes ligado a prostituição, as vezes não. Tem toda aquela estética noturna, boêmia, muito própria da cultura QUEER também, já que é comum (ou era não sei se existe ainda) a apresentação de drag queens nesses locais. Aliás toda estética clássica das drags, estão ligadas ao cabaré
Chegamos com a boa voz do Edy Star, tem um timbre muito bonito, com uma baianidade no sotaque, a música é Claustrofobia da dupla Erasmo e Roberto Carlos, numa pegadinha bem rock, naquela guitarrinha mascadinha que a tropicália trouxe, um baixo estalando, e assim segue nesse estilo na maioria das músicas. Apesar de ser gravado em estúdio, tem um cheirinho de gravação ao vivo, como por exemplo gritos meio avulsos, improvisações e a qualidade do som, a voz é o instrumento principal, nenhum instrumento se sobressai, a performance mora na voz, que não é um puta vozeirão, mas se ganha e conquista pela movimento, boa utilização e amplitude, movimento.
Todos os elementos que citei ficam mais claros na próxima música, Edith Cooper, composição de Gil feita exclusivamente para esse álbum, dedicado ao próprio Edy, amigos de juventude. Partindo de um doce bárbaro para outro, Caetano Veloso saudando alguns nomes da MPB, Novos Baianos, Jorge Ben e Jorge Mautner, uma música que eu consigo escutar o Caetano Cantando, é o meu tipo de composição dele favorita, que não tem tanto sentido figurativo, partindo para abstrações (ex: Eu Sou Neguinha e Dar Maior Importância).
Por falar em bagunça, nada melhor do que mencionar os Novos Baianos, Edy Star respeita bastante os compositores em suas interpretações, no sentido de não desconfigurar o estilo de cada um deles, e ainda conseguindo impor seu próprio estilo, e que estilo, todo cabareístico. A maioria das músicas são gravações originais, porém, assim como na canção do Caetano, é perceptível o estilo do Morais Moreira aqui, mais uma vez, o sotaque baiano deve ajudar nessa impressão minha. Essa música ferve os novos baianos, pelo refrão repetitivo "Se meu sangue é A se meu sangue é O", a letra divertida. Emanence a essência de cada um dos compositores, até em Lupenício Rodrigues, mesmo sendo uma música gravada inúmeras vezes.
"Para um bom entendido meia cantada basta" e continua com "De só andar encalhado, encolhido, encubado, escondido, enrolado", citando um quase relacionamento talvez, talvez um amor que não se concretizou, em um grande tom de deboche, pra mim, a melhor música de todo álbum.
Em um apanho geral, é um álbum que tenta de tudo e um pouco, excelente peça para entender a figura do Edy Star em sua pura essência, apesar de estar presente aqui como um monolito (o álbum não possui feats, comum em cantores menos conhecidos) ainda consegue expremer a essência de seus respectivos compositores, o álbum é de estúdio, mas possui uma experiência de um ao vivo, pela presença, alma e vontade com a qual o juazerense Edy Star tem a nos oferecer, é uma excelente obra, que infelizmente foi esquecida pelo tempo.
Antes do David Bowie comprar seu primeiro kit da Avon, antes do Glam rock se consolidar como um todo, Edy estava lá primeiro! Nesse álbum que vale mais do que a pena.
Composição – Erasmo Carlos e Roberto Carlos
A2 Edith Cooper 3:17
Composição – Gilberto Gil
A3 Conteúdo 4:32
Composição – Caetano Veloso
A4 Superestrela 2:20
Composição – Leno
Composição [sem créditos] – Raul Seixas
A5 Esses Moços 3:25
Composição – Lupicínio Rodrigues
A6 Boogie-Woogie Do Rato 1:20
Composição – Augusto Duarte Ribeiro
B1 Sweet Edy 2:47
Composição – Piau, Sergio Natureza
B2 Briguei Com Ela 2:43
Composição – Edy Star
B3 Olhos de Raposa 2:42
Composição – Jorge Mautner
B4 Coração Embalsamado 2:37
Composição – Getúlio Côrtes
B5 Pro Que Der Na Telha 3:23
Composição – Luis Galvão e Moraes Moreira
B6 Bem Entendido 2:46
Composição – Piau, Sergio Natureza
B7 Eu Sou Edy Star 0:38
Composição – Edy Star
Capa – Edy Star
Engenheiro de mixagem – Orlando Costa
Engenheiro de gravação – Deraldo, Emiliano, Luis Carlos, Norival
Produtor executivo – João Araujo
Fotografia da capa – Antonio Guerreiro
Produtor, arranjos – Guto Graça Mello
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