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As vezes o vilão tem razão: Homem Animal #4

 

A calvície também chega pros superheróis 

Essa postagem não é uma resenha do Homem Animal, (Grant Morrison 1988) por motivos de: fazer resenha de obras clássicas é meio maçante quando não se trás interpretações novas, todo mundo já leu/viu então não tem pra que analisar mais, minha opinião também não é extraordinária ao ponto de escrever sobre algo já tão conhecido.

O Homem Animal do Grant Morrison é uma obra-prima em todos os sentidos, com bazilhões de interpretações, aqui queria trazer rapidamente a construção do herói e do vilão no começo da série.

Resumidamente: Buddy Baker, o Homem Animal (com o poder de mimetizar a habilidade de um animal que esteja próximo a ele) é um herói aposentado que decide voltar a ativa, uau, que lore original, é exatamente a mesma ideia de Watchmen e Batman O Cavaleiro das Trevas, os escritores dos anos 80 deveriam ser patrocinados pelo INSS. O motivo de sua volta é simples, ele quer ser famoso, quer grana mesmo, por motivos de ego, sem mais nem menos, isso é colocado muito explicitamente. Doutro lado termos uma figura obscura, que está atacando um centro de pesquisa, que utiliza pobre macaquinhos para seus experimentos, o vilão da vez é o Fera B'Wana, o deus branco do Kilimanjaro, em defesa dos animais que sofrem na mão desses experimentos.

É interessante essa construção de um herói que vai a luta pensando em si mesmo e um vilão que está pensando em proteger algo, ao invés de destruir. Geralmente lidamos nas grandes mídias com vilões egocêntricos, sedentos por poder, algo que faz ser a sua principal fraqueza, a falta de humildade, é o caso do Jafar em Aladdin, ou qualquer vilão Disney, pelo menos de quando a Disney fazia filme com vilões. Essa é uma camada de interpretação, o herói está disposto a se sacrificar pelo mundo, e o vilão está disposto em sacrificar o mundo por si.

Outra camada, mais comum nas histórias de herói é que o vilão é um atentado a ordem, as instituições (exatamente o Fera B'Wana) e o herói está parece proteger as instituições, o governo, por exemplo, a cidade, ou no caso do Homem Animal, o laboratório de pesquisa, que pratica crueldade animal. Isso fica muito claro quando paramos para catalogar a quantidade de heróis que são policiais. Tipo o Caçador de Marte, o Flash que é cientista forense, Batman tendo um comissário de polícia como principal aliado e porra, a Sociedade da Justiça da AMÉRICA foi fundada pelo Roosevelt, o presidente dos EUA*.

Primeira edição de SJA

*É óbvio que o Franklin Roosevelt não fundou literalmente o grupo de super-heróis dos quadrinhos, é um fato fictício canônico no universo da DC.

O que será que faz do herói alguém correto? Será que um herói pode ser chamado de herói mesmo lutando ao lado das pessoas erradas? É claro que o Grant Morrison não ia deixar essa contradição passar, nos levando para o final lindíssimo da edição 4, com um discurso do Fera B'Wana


Grande anarco-primitivista (ironia)


O Homem Animal luta contra a sua vontade, derrota o Fera, e percebe que ele tem razão, cura seus ferimentos o deixando livre para lutar, agora do seu lado (na trincheira ideológica, eles não viram parceiros), o Fera B'Wana é só um sujeito com poderes que está DESESPERADO com a situação de crueldade animal. Agora convencido, o homem animal decide ser um herói de verdade

não mentiu


E termina o debate com uma boa muqueta no queixo, e essa nem é a melhor parte do final, não vou dar spoiler
"WHOKK" é uma bela onomatopeia


Nas próximas edições o Homem Animal abandona essa mesquinhez, aderindo até ao ativismo da causa animal, virando vegano e tudo, algo que já deveria ser presumido, já que ele é sensitivo as animais...

E aí? Quais são os outros vilões dos quadrinhos que também tem razão? Só não me citem o Ozymandias por favor.  

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