Vai depender do critério utilizado, mas tenho certeza que em 4 em cada 5 listas de maiores artistas da nossa música brasileira Sebastião Rodrigues Maia estará lá. Em muitos aspectos, Tim Maia sempre se destaca, foi um músico nato, não era muito além do que música pura, se a música não existisse em seu tempo seria ele, Tim Maia, o seu inventor.
Pode ser lembrado por muitas coisas nesta presente postagem vou lembrar a sua memória por suas músicas "nordestinas".
Pois bem, pouco antes do início do anos 70 a música nordestina estava desenvolvida, com os cantores e compositores do norte (terminologia da época) gravando em estúdios da Guanabara (Rio de Janeiro) e fora aqueles de circulação interna, essa onda de cantores nordestinos de forró (e alguns de coco) dos anos 60-70 a exemplo de Jackson do Pandeiro, Marinês, Jacinto Silva, Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Zito da Borborema, Ary Lobo e etc é diferente da "segunda onda" como os monumentos da nossa música como Alceu Valença, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Amelinha e Xangai. Ainda vou fazer uma postagem da história do forró, esperem por tal.
Bem, vale ressaltar que nem todo cantor/artista nordestino tem um apelo nordestino ou porque não tocam ritmos associados com a cultura nordestina ou não tem essa pretensão, isso acontece bastante com artistas baianos, que tem aos montes na nossa música, já nessa época de anos 60, João Gilberto, os doces bárbaros (Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Betania), continuando na tropicália tem o Tom Zé, valendo citar Dorival Caymmi e o soteropolitano Raul Seixas que vinha a estourar nos anos 70. O exemplo mais clarevidente é Belchior, que fez sucesso ao mesmo tempo a onda da segunda onda de artistas nordestinos, mas não é colocado no mesmo balaio, nem merece estar. Ou seja, não porque um músico nasceu no nordeste que a sua música necessariamente é nordestina de fato, assim como músicos de fora do nordeste podem contribuir bastante ou até de fato fazer música nordestina, é o caso do Tim Maia, que parece ter uma profunda admiração por nossa música.
Resumo: Nem todo músico nordestino faz música nordestina.
Dito isso, Tim maia deixa BASTANTE claro na sua primeira música, do seu primeiro álbum, o famoso Tim Maia 1970, com Coroné Antônio Bento, composta por João do Vale e Luiz Wanderley, Tim Maia conheceu essa música após ver ser tocada em um show dos Os Diagonais (banda de Cassiano e Hyldon), contudo, a primeira gravação foi registrada no nome de Matuto Transviado, existindo todo um segundo verso ocultado na versão soul, confere o músicão aí
#1 Coroné Antônio Bento
Aliás, das 12 músicas do seu álbum de estreia, termos 2 músicas nordestinas, a outra fora composta pelo próprio Tim Maia junto ao Cassiano que é um grande poema heroico ao nosso Padre Cicero (ou padin ciço). Eu particularmente adoro essa música, que aliás foi adaptada para a trilha da novela Irmãos Coragem a pedido da Globo.
#2 Padre Cícero
Partido para o seu segundo álbum, de novo na primeira música termos uma canção sobre um evento folclórico que talvez não seja tão nordestino, mas costuma acontecer aqui também, a Folia de Reis, na música A Festa de Santos Reis
#3 A Festa de Santos Reis
Tim Maia estoura bastante com seus dois primeiros álbuns a carreira descola, apesar daquele álbum da desgraça que ele lançou em 72, vai amadurecendo seu estilo e esse traço nordestino se espairece entre os discos. Dizem que Jackson do Pandeiro influenciou Tim Maia, aliás eu conheci Jackson num documentário sobre o síndico, mas não tenho a fonte primária dessa informação.
Ah, tem aquela "O Nordeste É Lindo" do álbum Voltou A Clarear de 94, que não é a melhor versão, Tim Maia já em fim de carreira, porque iria vir a morrer 4 anos depois. Escrita pelo próprio Tim
#4 O Nordeste É Lindo
E também O Que Vem da Bahia do mesmo álbum
#5 O Que Vem da Bahia
Pra fechar a lista, elenco um álbum póstumo de gravações deixadas em estúdio que foram transformadas em forró! Lançado em 2003, durante a onda do forró eletrônico e aquelas grandes bandas que fazem sucesso até hoje (Aviões do Forró, Solteirões do Forró, Calcinha Preta, Garota Safada, Matruz com Leite, as composições da Rita de Cássia) o álbum vai num estilo mais "forró universitário", que se assemelha ao grupo Falamansa e Rastapé, apesar que eu adoraria ouvir Tim Maia versão Aviões, pagaria caro pra ver isso.
O álbum conta com algumas regravações e talvez tenha alguma inédita no meio, me comprometo a fazer uma resenha desse BANGER da música nacional.
Agora que ganhei a sua atenção, essa postagem NÃO VAI SER sobre a banda baiana de axé. Muito menos a famosa revista de quadrinhos do Angeli e aquela turma boa, se bem que o Angeli merece uma postagem nesse blog. Gostaria?
Cara-caramba-do-que-estou falando afinal? Da música composta por outro grande baiano desse país, Gordurinha (e Almira Castilho), sendo interpretada, e talvez o seu maior sucesso, pelo Jackson do Pandeiro, lançada em 1959, aqui teremos uma análise da música "Chiclete com Banana" que tem muito a revelar da nossa terra brasilis.
Devagar. Primeiro é bom ressaltar uma coisa, a primeira versão é de Odete Amaral, 1958 é uma versão amigável, mas muito corporativa. Sobre a música em si, foi lançada em 59, como disse, naquele LP que lançou o Jackson para o resto do país (passou da Bahia é resto), dizem os rumores que os compositores da música são Gordurinha e o Rei do Ritmo, mas Jackson do Pandeiro pediu para que a sua esposa fosse creditada no seu lugar, um cavalheiro? Talvez só questões contratuais mesmo.
Da Paraíba para o Brasil inteiro, eternamente na história da música
Deixando claro que o homónimo de 59 não é o seu álbum de estreia, apenas seu primeiro trabalho aportes nacionais, por ter sido gravado no Rio de Janeiro chegou mais longe do que seus outros trabalhos, que já eram apreciados em solo nordestino.
Chega de enrolação, vamos para a análise da letra
Vou postar ela inteira e ir referenciando ao decorrer do texto. Trata-se de um samba coco, gênero bastante comum na música "nortista" (palavra utilizada para artistas do norte e do nordeste na época) que são essas 'emboladas', algumas improvisadas e muitas com esse caráter mais cômico, não sendo essa uma exceção regra. É bem verdade que em algum momento da fonografia brasileira o samba coco se fundiu com ritmos do forró (baião e xote) ficando um pouco difícil de diferenciar, podemos atestar que é um samba pelo compasso binário 2/4 e os instrumentos característicos do samba coco.
Também vou postar a música em seguida
Chiclete com Banana - Jackson do Pandeiro, versão 1959
(Gordurinha e Almira Castilho)
Só boto bebop no meu samba
Quando o Tio Sam tocar um tamborim
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba
Quando ele aprender que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana
E meu samba vai ficar assim
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Eu quero ver a confusão!
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
É um samba-rock meu irmão!
É mas em compensão
Eu quero ver o boogie-woogie de pandeiro e violão
Quero ver o Tio Sam de frigideira
Numa batucada brasileira
(Solo instrumental com metais e acordeon)
(Refrão e a música repete)
Logo no primeiro verso termos noção do que se trata, o eu-lírico está cogitando adicionar o ritmo estadunidense chamado bebop, que é o Jazz dos anos 50 (Charlie Parker e Dizzy Gillespie) no samba brasileiro. Lendo essa frase você pode considerar que Gordurinha estava falando da bossa nova, só que não é verdade, porque a bossa nova é lançada em 59 com Chega de Saudades do João Gilberto antes disso, nenhum artista estava lançando* coisas que fundiam elementos do jazz com elementos do samba, já que a música é de 58, esse tom é praticamente profético. Não é mesmo?
Mas nem tanto assim, a música em um geral é um atestamento do softpower pesado que os Estados Unidos jogou em cima da américa latina pós segunda guerra mundial, especialmente o Brasil que entrou no conflito por causa de uma siderúrgica. Softpower trata-se da propagação dos ideais de um certo país através de produção cultura, ou seja, é como os países penetram os outros países sem partir para artimanhas bélicas, o Brasil sempre comprou bastante o softpower gringo, mas no contexto do pós-guerra as aproximações ficaram indecentes, e não ficou só na cultura...
Nada representa isso melhor do que o Otávio Mangabeira beijando a mão do General Eisenhower. O resultado dessa subordinação aproximação, resultou no treinamento das nossas forças militares (o que inclui policiais) pela CIA. Se quiser mais sobre como foi esse contato, dá uma lida nesse artigo aqui
Em termos musicais, o Jazz ficou relativamente popular entre a juventude, fora outros artistas de rock que culminou no iê-iê-iê da Jovem Guarda, a bossa nova "infectando" o samba e eu diria até aquela leve influência hippie no tropicalismo. E a música segue dizendo que a relação não pode ser só de cabeça baixa, uma troca autêntica entre culturas: Quando o Tio Sam tocar um tamborim/Quando ele pegar no pandeiro e no zambumba /Quando ele aprender que o samba não é rumba.
Tio Sam obviamente representa o Estados Unidos que precisa conhecer o tamborim, que é uns dos principais instrumentos do samba, seja de roda ou de passarela, assim como o pandeiro. Já a zabumba é aquela tamborzão mais grave que marca os compassos do forró!
Neste caso, como segue o eu-lírico, Miami com Copacabana, misturando o que dá nome a música. Mora duas curiosidades aqui, a música fala da relação EUA-Brasil, mas o chiclete sendo bastante criterioso não é de origem americana, sendo um costume Azteca, tão pouco a banana é uma fruta brasileira. Se bem que Big Mac com jabuticaba não tem uma sonoridade legal. E chegamos no refrão, a melhor parte.
A música, ironicamente, utiliza o scat para o seu refrão (descubra o que é scat) que mescla frases do jazz/blues com a batida característica do samba, diria até que é um pandeiro, e tenho certeza que foi o próprio Jackson que compôs essa frase melódica. É a cara dele. E fica de curiosidade, nessa gravação termos o primeiro registro histórico da palavra SAMBA-ROCK ao dizer É um samba-rock meu irmão! Jackson, (a primeira versão não tem isso) acaba por alcunhar um ritmo brasileiro bastante popular nos anos 70.
O samba rock é bem díficil de definir, daria uma excelente postagem sobre, mas para afins didáticos cito o grupo Trio Mocotó e a música Nego Dito, do Branca di Neve, que é o melhor samba rock já feito.
Gosta de samba rock? Agradeça a esse paraibano
No terceiro verso, lá pro lado do interlúdio, fala-se em compensação, como uma certa negociação, o eu-lírico aceita colocar, ele se propõe como positivo a mistura, mas com a condição, de como já foi dito aqui o Tio Sam saber das coisas e conhecer a NOSSA cultura, nisso mora a diferença entre troca de culturas e dominação mesmo.
Não podemos confundir "globalismo" e "mundo sem fronteiras" com um país mandando e desmandando no planeta por conter mais de 800 bases militares mundo a fora. Se não há um trânsito orgânico entre culturas e povos, é só "influência" mesmo (leia-se tem um grande porrete na nossa cabeça) e é isso, mesmo que não intencional, que a música nos alerta.
Em muitas interpretações é colocado como uma crítica a elementos do jazz no samba, como se fosse algo negativo, mas na verdade o problema não é misturar, aliás a confusão é o que queremos ver, o mundo sem diferenças e barreiras entre si, mas será que essa troca é de mão dupla? Ou estamos se matando de estudar o boogie-woogie enquanto os gringos pensa que falamos espanhol?
Para um mundo mais confuso, não pode haver culturas superiores ou inferiores, sendo cada canto trazendo o que se tem de melhor de fato, não enfiado goela abaixo como melhor.
Pra mim, era isso que Gordurinha e Almira estavam querendo nos alertar, em 1958, com o advento das mídias sociais (apesar disso ser em um blog) a sua mensagem e legado se fazem mais importante ainda.
*Johnny Alf já estava todo jazzístico nessa época, mas seu álbum foi lançado apenas em 61, vamos considerar que nem Jackson, nem Gordurinha conheciam Johnny Alf.
"Fascistas, racistas, anti-imigrantes. SIGAM SEU LÍDER"
Primeiro, uma rápida explicação: Estou meio doente desde do começo da semana, por isso não estava postando no blog, ainda estou com bastante dor de cabeça, apenas movimentando essa joça aqui.
Essa postagem é complementar da postagem sobre o professor Xavier vs Magneto que fiz lá no começo do blog. Então recomendo ler. (leia por favor)
Contém spoilers, mas a história é mais um spinoff do que outra coisa
Lançanda em 1982 X-Men #161 pelo de nome de "Corrida pelo ouro" (Golden Rush) é a primeira edição da saga ninhada, uma importante saga para o mundo dos mutunas. Ela conta a origem do Magneto e do Professor Xavier, como é comumente mostrado, eles já trabalharam juntos em uma fase da vida. É um verdadeiro naziexploitation, o que não é problema, sempre bom ver esses sacanas da "Hydra" levando um couro. (Talvez não seja canônico, quadrinhos é uma bagunça né.)
O professor X está em estado catatônico em um leito de hospital, com isso se lembra de memórias do passado, voltando 20 anos antes para Israel, na cidade de Haifa, onde ajuda Daniel Shormon, psiquiatra que trabalha ajudando vítimas do holocausto na cidade Israelense, lá, também trabalha como voluntário um humilde senhorzinho chamado Magnus... Vocês-sabem-quem
primeiro encontro entre Charles e Magneto
Charles é chamado para ajudar uma pobre moça sobrevivente do holocausto que vive em uma espécime de estado pós traumático, também em estado catatônico (eu acho que o Chris Claremont só conhecia essa condição mental), ao adentrar em sua mente, termos uma das sequências mais sombrias dos quadrinhos, inferindo que Gabrielle possa ter sido vítima de violência sexual ao invés de ir para a câmara de gás
quadrinhos sobre o holocausto são muito bem produzidos.
Já adianto que no decorrer da história Gabrielle é meio utilizada daquele velho recurso "princesa indefesa" para a história andar, mas ok. Se tratando de uma pessoa civil, é razoável (tendo em mente o que a Bárbara Gordon sofreu em Piada Mortal e a Alexandra Dewitt em Laterna Verde #54 (1994) a famosa famosa "Mulher na Geladeira") e bem assim acontece. Bam! Gabrielle é capturada pela Hydra, uma desmembrada célula da SS. Aliás durante o ataque já mostramos a verdadeira diferença entre Charles e Magnus, com atraso, Magneto consegue explodir as aeronaves e recebe esse tipo de pergunta do Professor Xavier
O efetivo do Magneto não é suficiente para impedir a captura de Gabrielle nos tentáculos da Hydra a levando para o Quênia, onde descobrimos que está guardado a riqueza em barras de ouro do Furher, essa grana é planejada pelo Baron Strucker para reerguer um novo reich, o quarto reich! Consolidando os objetivos da Hydra. Frustrados graças a astúcia da dupla protagonista aqui, que se infiltram na caverna utilizando o uniforme da Hydra e derrotam os nazistas sem suar muito, diria até que o Baron é derrotado de forma humilhante. Toda edição tem um desavisado chegando com coisa de metal pra cima do Magneto, e ele faz questão de mostrar que é o mestre do magnetismo
Fez purêzinho da mão
Aliás, toda essa cena é o manifesto de criação do Magneto, numa fala marcante de "tudo é possível, nazista, (o triunfo da Hydra) ódio é mais popular que o amor, medo prevalece mais que a confiança. Se a humanidade deseja seguir você em sua danação, que seja. Eu não me importo com você ou com eles. E quando não existir mais homo sapiens, os homo superior vão clamar seu lugar de direito... Como os donos da terra!"
Tem como odiar o Magneto do Claremont?
Dando cabo não só ao Baron Strucker como a toda fracção daquela Hydra. Podemos deduzir que com a riqueza escondida do Furher, Magneto constrói seu aparato para a consolidação de seus planos futuros, incluindo, eu acho, a compra daquele belo uniforme, que não deve ter sido barato.
Consagrando assim a rivalidade mais famosa dos quadrinhos, que perdura na cultura pop até hoje.
Uma história simples, marcante e importante para compreender as diferenças entre Charles vs Magneto, não pode ficar fora da sua lista! E o melhor, nazista tomando uma coça.
Não esqueça de conferir outras histórias sobre os mutunas aqui no blog.
Bem, podemos dizer que Vinland Saga está em alta, chegando em todo tipo de público, ainda mais com a popularização dos memes, eu fui uns desses cooptados, mesmo torcendo o nariz em relação a animes*, me interessei nesse em específico.
* pequena alínea, eu acho o gênero de animes pouco atrativo , em qualquer aspecto, e mangás sou MUITO ignorante mesmo, não tenho vergonha de falar sobre. Então cheguei em Vinland totalmente puro, sem nunca ter sido contato com animes, muito pelo contrário, detestando alguns. Eu nunca vi nem Dragon Ball, então talvez cometa algum erro de analise por não estar habituado com o gênero.
Essa postagem não é uma resenha completa de Vinland Saga, tem análise a rodo sobre o anime/mangá na internet, não tenho muita capacidade de colocar mais uma completa
Esse anime me pegou de um jeito, de um jeito que fiquei bastante interessado em ler o mangá, segundo os sites devidamente especializados em animês, Vinland Saga, da Netflix, cobre o primeiro arco, capítulo 1 até o 54, o início da história de Thorfin junto com a milícia de Askeladd, que é o verdadeiro protagonista do arco, pelo menos na minha interpretação, Askeladd que faz a história andar, apesar de não ser sobre ele.
Vinland Saga é externamente pretensioso, eu diria até presunçoso em alguns momentos. O que seria uma obra pretenciosa? A pretensão, a proposição do que se dispõe a fazer, Vinland Saga se dispõe já nos três primeiros capítulos a ser toda uma jornada com pontos que são uma filosofia no sentido mais purista do termo, não figurativo, é um anime filosófico e isso não é a segunda camada de interpretação.
A obra é presunçosa quando debate sobre "o que é o amor", o anime/mangá está lotado dessas ontologias, dentro delas, o que é ser um guerreiro, e a estupidez da guerra.
Os animês adoram uma porradaria, alguns com poderzinho outros com lutinha (ou os dois mesmo), quando se falamos desse gênero "shonen", que é o mais popular aqui no ocidente. Um protagonista masculino jovem em busca de ser algo grandioso, tipo um mestre hokage, aparentam ser animes leves sempre quase sempre no mundo masculinista da coisa, com direito aliás de personagem femininas que quebram qualquer convenção sobre igualdade gênero, um suco de misoginia em alguns casos, enfim, não que as produções ocidentais fossem diferentes. Olhando Vinland Saga de fora, parece só uma dessas obras "shonen", um anime genérico, só que ambientado no universo nórdico, esse julgar o livro pela capa me afastou por muito tempo, ainda mais saindo pela Netflix, aos meus olhos, de alguém de fora do gênero, não me atraía em nada. Caí no papo do Brizola de "Se algo tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré, como é que não é jacaré." tanto por ser um shonenzinho, tanto por ser um anime da Netflix.
A violência em Vinland Saga é um tédio.
As cenas de guerra são tediosas* e esse recurso narrativo é interessante para demonstrar o ponto, as cenas de combate não tem um apelo heroico, com grande trilhas sonoras, câmera lenta, close de coxas malhadas e todo desejo aflorado de um mundo másculo, APESAR DO GORE elas são protocolares, acontecem as vezes até como uma plano de fundo, bem tanto faz, é só mais uma ação para história continuar. Vinland Saga faz que as cenas de ação pareçam uma mera ponte para uma cena de dialogo acontecer, o perfeito contrário da tônica da maioria das produções com enforque na guerra. Uma antítese do anime seria o filme 300, do Snyder... Que é um filme justamente sobre um conto heroico espartano.
tanquinhos definidos e muitas lanças pro alto
Você já deve ter assistido 300, o epítome da performance masculina guerreando bravamente contra uma figura relativamente "afeminada" (com muita aspas) que é o Xerxes. Porque a guerra é essa beleza, beleza no sentido de contemplação, ao ver o quão belo são os atores em seus corpos esculturais, ao ponto de lutarem de sunguinha e capa vermelha, enquanto que em Vinland Saga (sem sunguinha devido ao frio) guerrear é quase uma comédia, é algo que ao decorrer do anime vira alívio cômico, materializado no personagem do Thorkell, o alto. Thorkell é um típico personagem apaixonado pela guerra e pela honra, servindo de contraponto para a vibe do anime. Comédia no sentido mais clássico, algo utilizado para a subversão de valores através do riso, ou da comicidade, neste caso em especial através de uma certa "galhofa", com certeza ver o tanto de gente sendo aberta no meio, não é feito para levar a sério. Sabe as cenas de ação em bollywood? É esse tipo de comicidade que me refiro.
Ainda falando em 300, é meio sobre como você é forte por andar com os mais fortes e os melhores, os mais honrados, os de valores, ou seja, se você quiser ser forte, precisa se aliar com quem também é forte, destemido, alto nível, e um (vou utilizar palavra de coachs porque eles adoram esse filme) mindset vencedor, águia anda com águia. Eu citei vários termos de internet porque é bastante popular nas redes e filmes como 300 fazem um mal danado pra cabeça de uma galera, só ver a quantidade de sites, empresas que tem esse apelo greco-romano, o filme é bem responsável por popularizar os espartanos.
A união dos mais fortes, batalhando para proteger aquilo que é seu... Humm... tipo uns gravetinhos juntos, que unidos não podem ser quebrados...
tá facho de entender agora?
Por mais que o fascismo tenha um apelo ao um dito "coletivismo" em nada pensa no verdadeiro coletivo, é apenas um 'império de mim' ou seja, eu apoio tal líder/organização porque EU julgo ser o melhor, o mais valoroso e etc, através de valores que EU considero importantes, para o mantimento da MINHA existência - que não está sendo ameaçada, é importante salientar que uns dos principais fatores do fascismo é o revanchismo, mais ou menos uma lógica que a sociedade te deve algo, retirou algo de você ou existe um bem a ser protegido (como a masculinidade, e os tempos de uma sociedade raíz). A frase mais fascista que rondeia a internet é aquela "homens fortes criam tempos mais fáceis bla bla bla". Ah, conta outra.
Isso não está só presente em 300, a grande maioria das produções de guerra é mais ou menos nessa toada, a união dos mais forte para superar alguma coisa. Ou no caso do First Blood, Rambo no Brasil, que no primeiro filme ainda fala um pouco dos traumas dos veteranos, e já no segundo filme e no terceiro tem o Stallone, sem camisa, dizimando malditos comunistas! Sejam vietcongs, sejam soviéticos. Ou seja, quando os filmes de guerra não estão falando um ode a masculinidade, a violência e o fascismo, estão fazendo pura propaganda estadunidense, ou os dois ao mesmo tempo. É um gênero muito contaminado, apesar de gostar do gênero de filmes de guerra do Vietnã.
Vai, alguns são bons.
"AAHHG O QUE É UM KILOMETROO???!!!"
Dado todo esse contexto do que produções de guerra. O que acontece em Vinland Saga? Como já mencionei toda essa 'macheza' que a guerra nos proporciona fica a encargo da comédia, sendo o Thorkell responsável pelo alívio cômico da obra. Ao invés de buscar força nos melhores, um verdadeiro guerreiro deve olhar para dentro e não se deixar seduzir por uma cultura tão porca de controle por meio da violência, afinal, ninguém tem inimigos, não há ninguém no mundo que mereça ser machucado. O campo de batalha te leva aos piores sentimentos, porque você age completamente sem consciência dos próprios atos, embrigado por sensações fúteis como o prazer, a honra, a ganância e no caso do Thorfin, a vingança. A vingança leva o Thorfin a perder praticamente 10 anos de sua vida, ele não tinha outra coisa em mente se não a duelar, em nome de sua honra, com Askeladd, alguém claramente muito superior em qualquer aspecto. Eu diria até que Askeladd acabou virando uma figura paterna na vida do Thorfin, justificável, o cara é foda mesmo.
A postagem não é sobre isso, seguindo.
Talvez a guerra lhe traga uma eterna frustação, especialmente no contexto da cultura nórdica onde há uma clara contradição, quanto mais batalhas você ganha, mais longe está de chegar no paraíso. Morrer em batalha não é algo "ruim", mesmo que quanto mais batalhas se vença, melhor guerreiro você é, ao mesmo tempo que a cada batalha vencida, foi uma oportunidade perdida de morrer e entrar no Valhalla. Então o guerreiro bem sucedido é alguém frustrado que talvez seja rezando para perder uma batalha ou pelo menos se divertir no que está fazendo, que é exatamente a ideia do Thorkell.
Em um mundo tão sanguinário, aquele que consegue respeito sem sujar a sua espada de sangue é o mais forte dos guerreiros, estou falando de Thors, pai de Thorfin, uma figura messiânica que paira sobre toda primeira temporada. Vou voltar para os quadros comparativos
Thors vs John Rambo
First Blood, o primeiro filme do Rambo, quando os produtores respeitaram minimamente o livro que serve de adaptação, assim como em outros filmes de guerra, fala dos traumas causados pela guerra do Vietnã, como a guerra traumatiza seus "nobres" combatentes. Rambo é um ex-boina verde que sofre estresse pós traumático depois da polícia ser os porcos que são e o torturar na cadeia, um homem traumatizado pela guerra, uma guerra sem sentido diga-se de passagem. Já Thors, o troll de Jom, pelas informações que termos na primeira temporada, é um excelentíssimo guerreiro, o maior de todos dos jomsvikings que tem uma espécie de realização filosófica de quais valores precisam ser cobrados de um verdadeiro guerreiro, ou seja, de quão mal ele pode fazer aos outros, não de como os outros o traumatizaram, mas sim de todo sofrimento que as suas ações causam nas pessoas, em um geral. No lugar de só discutir os efeitos da guerra, Vinland Saga dá um passo a atrás e questiona a sua ontologia, por que a guerra? O que é a guerra? O que é ser um guerreiro? A conclusão que termos é que a guerra é uma estupidez, nela não havendo nenhuma glória. Tanto narrativamente em tela, tanto em sua mensagem a guerra não é um processo de sofrimento que os grandes homens passam, mas sim uma burrice, um derreamento de sangue que nunca leva a lugar nenhum.
Se a guerra é mostrada de uma forma menos ruim da, a política por consequência também é. A política em Vinland Saga é uns dos pontos altos e mais ou menos a primeira temporada é sobre isso, os arranjos da invasão a Inglaterra pelos Danos. Isso se dá porque a "guerra é a continuação da política por outros meios", a guerra acontece para a remoção de obstáculos, servindo para concretizar os objetivos políticos dela. Pode portanto dizer-se que a política é guerra sem derramamento de sangue, e a guerra, política sangrenta. Guerra é um, e não devem ser glorificadas, sejam as justas ou injustas, a guerra é um mero instrumento da política, sendo necessária até quando lutamos politicamente pela paz e libertação dos povos, por consequentemente pela abolição de todas as guerras. É muito perigoso alguém elogiar um confronto ignorando o xadrez envolvido ali, devemos sempre está atentos a isso.
Já-me-falaram que algumas pessoas reclamam da falta de combate na segunda temporada, isso foi o suficiente para me motivar a continuar assistindo. Pelo o que parece, com o amadurecimento de Thorfin, o anime vai de shonen para seinen. O que diabos é um seinen? Preciso continuar a obra pra saber, depois saberemos.
Quem sabe não pinta outra postagem aqui? Fiquem ligades no marginália 3!
*Há exceções, que confirmam a regra (ep. 7). Ainda é uma anime, ainda é um shonen, então algumas cenas "mais comuns" precisam acontecer para cooptar o público médio. Audiência ainda é um quesito importante, porque se ninguém assiste, é cancelada e vai de vala. (uma triste ironia citar vala numa postagem sobre Vinland Saga, quem viu sabe o que estou falando)
É importante trazer o seu legado e importância na história da MPB, aliás foi no apartamento 303 no Bloco Louvre em Copacabana, casa dos pais de Nara Leão que nasceu a bossa nova, só que a história da cantora capixaba não foi restrita a bossa nova. Infelizmente a sua figura é reduzida a uma mera "musa", algo bastante problemático que vou expor na postagem abaixo.
Em dois pontos 1. Reduzir mulheres a condição de musas é um tipo de objetificação.
2. Nara Leão tem mais história fora da bossa nova do que nela.
1. Por favor, parem de chamar mulheres de musas
A questão é sobre o tratamento midiático sexista que a maioria das mulheres recebem, na sua maioria em ambientes majoritariamente masculinos (quase todos), é um triste efeito comum nos meios esportivos, política e cultura em no geral.
No ano de 2006, Manuela foi eleita Deputada Federal e, logo após o término do
período de eleições, a mídia atribuiu a sua imagem o título de “musa do Congresso”. A partir desse momento, jornais, revistas e noticiários passaram a referir-se à Deputada por esse título, que evidenciava, exclusivamente, a sua aparência física.
Nota-se claramente que a mídia nacional, ao intitular a Deputada como “musa”,
ignorou completamente toda a sua trajetória estudantil e política, além de todas as suas propostas de ações políticas, enfatizando somente os seus atributos estéticos, dando à Deputada, apenas, a função de enfeitar o Congresso com a sua beleza feminina, levando em conta tratar-se de um ambiente predominantemente masculino. Além disso, a mídia ao tratar da relação entre Manuela e seus eleitores, desprestigiou a sua eleição, que foi atribuída, mais uma vez, a sua beleza física.
Não restam dúvidas quanto à presença de padrões machistas na abordagem feita pela
mídia que reforçou nitidamente o estereótipo da beleza, dado às mulheres, e suprimiu todo o tipo de intelecto, bom desempenho profissional e capacidade de argumentação, que pudessem ser associados à figura feminina. A título de exemplo, em uma matéria intitulada “Manu, a sedutora”, publicada em 19/03/2008, no endereço eletrônico da Revista IstoÉ, é possível notar que, além de haver um destaque para a aparência física de Manuela, o título da matéria atribui uma imagem sexualizada à Deputada, pois sugere a ideia de que ela estaria no Congresso, apenas, para o fim de seduzir. Durante a leitura do conteúdo da matéria, é possível perceber que, embora sejam trazidas algumas questões políticas, são sempre retomados os assuntos fúteis, como a beleza e o então relacionamento amoroso da Deputada com o secretário-geral da Executiva Nacional do PT, José Eduardo Cardozo (PT-SP).
Como diz um padre do tiktok "é muito é paia", reduzir toda uma carreira (de qualquer que seja) de uma pessoa apenas em um atributo físico, como se ela fosse a porra de uma planta decorando o salão, não tem o menor cabimento. Fora que sabemos muito bem quem é o tipo de mulher que é tratada como "beldade" e o tipo de mulher que, ou é feia, ou é alvo de fetiche, a mulher branca é musa, uma ninfa, a mulher negra é da cor do pecado, fogosa, e todos esses elogios maravilhosos que a cultura brasileira tem (com doses de ironia).
Só a título de endossamento do ponto, vou deixar um artigo escrito por Jaqueline Backendorf Regert - UFSM, que fala sobre as mulheres no esporte. É um fenômeno parecido.
Para-além-do status de musa, muitas entrevistas geralmente são sobre temas considerados "femininos" como criação de filhos, o marido, cuidar da casa e etc, essas entrevistas mais "intimistas" enquanto homens não passam por esse tipo de situação, exceto por listas em sites de fofocas que mostram as esposas dos famosos, tal qual estivessem mostrando um carro, um relógio e esses tipo de propriedade.
Com Nara Leão a situação não foi diferente, até hoje alguma veículos atribuem essa coroa de "musa da bossa nova", termo batizado nos anos 60 em uma crônica de Sérgio Cabral. Enquanto cantorEs recebem manchetes como genialidade; talento; maestria, todos atributos relativos ao seu talento/obra. Algo razoável se tratando de um artista.
Fazendo justiça, a Globoplay lançou um belo documentário sobre a sua biografia, recomendo.
2. Nara Leão e bossa nova
E vamos de fatos
Foram em reuniões como essas, no Edifício Palácio Champs Élysées, bloco Louvre, em Copacabana que a bossa nova foi criada, especialmente quando João Gilberto decifrou o enigma que os jovens músicos estavam procurando, como decantar o samba para o violão? O taborim. O taborim foi reduzido a batida do violão, que a famosa batida da bossa nova. O apartamento eram dos pais da Nara, que sempre esteve por lá, acompanhando tudo e aprendendo a tocar violão, ela estava na faixa dos 14 quando os encontros começaram, por volta de 1956.
Nara, assim como todes do rolezinho seguiu carreira musical pela bossa nova, sendo João Gilberto, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli (chegou a ser noivo de Nara), Carlos Lyra, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Entre outros que vira e mexem entravam de gaiato também.
A bossa nova durou muito pouco tempo, isso merece uma postagem pra si só, no caso de Nara Leão, ela se afastou desse grupelho por volta de 1961, depois que seu noivo a traiu com a cantora Maysa, um verdadeiro golpe pelas costas, não só esse fator como também uma certa "radicalização" a esquerda (com muitas aspas) dela e do Carlos Lyra, indo cada um pro seu canto, um canto foi pro Carnegie Hall levar a bossa nova pra Nova Iorque, outro se fundiu com a MPB, não atoa, Nara Leão é a voz de A Banda, música ganhadora do festival de música popular brasileira da Record de 1966. Só por esses fatos, seria muito injusto atribuir a cantora capixaba o título de musa de um movimento que ela nem parte fez. Para além do machismo embutido, é bem desrespeitoso com a sua carreira
Quem a vê toda tímida cantando em cima dos palcos não imagina o quão afrontosa era, sempre dando opiniões consideradas polêmicas para a época (como ser a favor do divórcio, e direito básico das mulheres num geral) e o certeza top 10 momentos da nossa cultura: Nara Leão declarando que o "esse exército não vale nada" algo que rendeu um incrível poema do Carlos Drummond de Andrade. Atrelado a isso tem o famoso show opinião, que contava com Zé Kéti, João do Vale (dois grandes compositores desses país) e Nara Leão, que quando saiu foi substituída por Maria Bethânia, em começo de carreira. Ativamente protestando contra o regime, precisou se exilar na França logo após o AI-5.
Mas não antes, claro, deixar a sua voz na tropicália em 68 no homônimo álbum, na música Lindonéia, uma pintura do Rubens Gerchman que foi adaptada. Nara Leão é também tropicalista!
Por fim, também está associada a todo esse movimento de "trazida" do samba de morro para fora do morro, título de exemplo o quanto Zé Keti aparece nos seus 3 primeiros álbuns, somado a esse movimento de valorização do Cartola no começo da década de 70 e o resto, é o resto, não há quem não goste do Cartola.
Resumidamente, Nara Leão nunca esteve associada a bossa nova, tendo apenas uma rápida participação no começo da carreira, mas logo em seu primeiro álbum, já não era do movimento. A não ser pelos seus álbuns de fim de carreira (influencia do Menescal), sendo uma autêntica e pioneira artista de MPB desde do seu primeiro disco em 64. Sendo muito mais do que um rostinho bonito que decora a nossa cultura, o cargo de musa a ela não é cabível.
Por favor, nem de brincadeira, deixem que prenda Nara Leão Carlos Drummond de Andrade
Scat é uma prática muito comum no meio jazzístico, a emitologia da palavra é meio turva, provavelmente uma palavra usada para espantar bichos como gato, famoso xispa, ou szzz GATO! Naquele tom de bronca.
Scat ou scatting consiste em utilizar sílabas aleatórias em uma improvisação ou em melodias 'prontas', essa técnica foi inventada, ou pelo menos popularizada na música pelo Louis Armstrong, famoso satchamo, lá por volta dos anos 20. Não tenho certeza se Hot Than That foi o primeiro registro de um scat, mas é uma gravação bem antiga (1927), confira:
Se falamos de Louis Armstrong, falamos dela, Ella Fitzgerald que também tem gravações impressionantes, algo surreais no scat, a mais conhecida é a sua interpretação de Samba de Uma Nota Só, jazz é coisa pra poucos. Toda vez que te perguntarem, "o que é jazz?" mostre esse vídeo
Então você está me dizendo que só falar "skapbilublutap PEI PEI" é uma técnica de canto? Sim, é simples, música não precisa ser difícil para ser excelente, scat pega bem o sentimento e a sensação do jazz.
Para as gerações mais novas o scat ficou popularizado pelo cantor mais fofo da história da música, o homem sem haters, Scatman John, percursor do eurobeat, teve uma gagueira severa a vida inteira e transformou o seu "defeito" (com bastante aspas) na sua maior qualidade, nas palavras dele "Scat foi a minha primeira forma de linguagem". Começou a sua carreira na faixa dos 50 anos, já em 95, infelizmente veio a falecer em decorrência de um câncer de pulmão apenas 4 anos depois, deixando o mundo com três álbuns lançados, dois hits e absolutamente zero haters. Todo mundo ama o Scatman
OBS: Não confundam com outra técnica chamada vocalese que também é comum no jazz, mas é um rolê totalmente diferente.
Essa postagem não é uma resenha do Homem Animal, (Grant Morrison 1988) por motivos de: fazer resenha de obras clássicas é meio maçante quando não se trás interpretações novas, todo mundo já leu/viu então não tem pra que analisar mais, minha opinião também não é extraordinária ao ponto de escrever sobre algo já tão conhecido.
O Homem Animal do Grant Morrison é uma obra-prima em todos os sentidos, com bazilhões de interpretações, aqui queria trazer rapidamente a construção do herói e do vilão no começo da série.
Resumidamente: Buddy Baker, o Homem Animal (com o poder de mimetizar a habilidade de um animal que esteja próximo a ele) é um herói aposentado que decide voltar a ativa, uau, que lore original, é exatamente a mesma ideia de Watchmen e Batman O Cavaleiro das Trevas, os escritores dos anos 80 deveriam ser patrocinados pelo INSS. O motivo de sua volta é simples, ele quer ser famoso, quer grana mesmo, por motivos de ego, sem mais nem menos, isso é colocado muito explicitamente. Doutro lado termos uma figura obscura, que está atacando um centro de pesquisa, que utiliza pobre macaquinhos para seus experimentos, o vilão da vez é o Fera B'Wana, o deus branco do Kilimanjaro, em defesa dos animais que sofrem na mão desses experimentos.
É interessante essa construção de um herói que vai a luta pensando em si mesmo e um vilão que está pensando em proteger algo, ao invés de destruir. Geralmente lidamos nas grandes mídias com vilões egocêntricos, sedentos por poder, algo que faz ser a sua principal fraqueza, a falta de humildade, é o caso do Jafar em Aladdin, ou qualquer vilão Disney, pelo menos de quando a Disney fazia filme com vilões. Essa é uma camada de interpretação, o herói está disposto a se sacrificar pelo mundo, e o vilão está disposto em sacrificar o mundo por si.
Outra camada, mais comum nas histórias de herói é que o vilão é um atentado a ordem, as instituições (exatamente o Fera B'Wana) e o herói está parece proteger as instituições, o governo, por exemplo, a cidade, ou no caso do Homem Animal, o laboratório de pesquisa, que pratica crueldade animal. Isso fica muito claro quando paramos para catalogar a quantidade de heróis que são policiais. Tipo o Caçador de Marte, o Flash que é cientista forense, Batman tendo um comissário de polícia como principal aliado e porra, a Sociedade da Justiça da AMÉRICA foi fundada pelo Roosevelt, o presidente dos EUA*.
Primeira edição de SJA
*É óbvio que o Franklin Roosevelt não fundou literalmente o grupo de super-heróis dos quadrinhos, é um fato fictício canônico no universo da DC.
O que será que faz do herói alguém correto? Será que um herói pode ser chamado de herói mesmo lutando ao lado das pessoas erradas? É claro que o Grant Morrison não ia deixar essa contradição passar, nos levando para o final lindíssimo da edição 4, com um discurso do Fera B'Wana
Grande anarco-primitivista (ironia)
O Homem Animal luta contra a sua vontade, derrota o Fera, e percebe que ele tem razão, cura seus ferimentos o deixando livre para lutar, agora do seu lado (na trincheira ideológica, eles não viram parceiros), o Fera B'Wana é só um sujeito com poderes que está DESESPERADO com a situação de crueldade animal. Agora convencido, o homem animal decide ser um herói de verdade
não mentiu
E termina o debate com uma boa muqueta no queixo, e essa nem é a melhor parte do final, não vou dar spoiler
"WHOKK" é uma bela onomatopeia
Nas próximas edições o Homem Animal abandona essa mesquinhez, aderindo até ao ativismo da causa animal, virando vegano e tudo, algo que já deveria ser presumido, já que ele é sensitivo as animais...
E aí? Quais são os outros vilões dos quadrinhos que também tem razão? Só não me citem o Ozymandias por favor.
Se você é um usuário médio da internet já deve ter visto um papinho de que "Stan Lee em 1963 criou o Professor Xavier e Magneto como se fossem uma analogia do Martin Luther King Jr. e Malcolm X" essa afirmação está errada em tantos níveis que podemos considerar uma fake news do nível cloroquina pra covid, só que em proporções menores e nos mundo dos quadrinhos, diria que menos letal também.
Seja-lá-quem inventou essa lorota deve ser conhecer muito pouco de Malcolm X e MLK e menos ainda dos X-Men! Como negro e fã do x-men preciso fazer desvendar tudo isso. Essa postagem talvez seja longa, então pegue um copinho d'água, sente-se de uma forma confortável e simbora meu povo.
A suposta rivalidade entre Martin Luther King e Malcolm X
Entre os dois, há mais semelhanças do que diferenças, a maior diferença é que um seguia a Maomé e o outro a Cristo.
O pacifismo do Martin Luther King é um verdadeiro GASLIGHT (manipulação) histórico, uma tentativa de apagamento do seu legado e simplesmente não é condizente com a realidade dos fatos. Ora, da forma que é narrada, Martin Luther King era só um pastor bonzinho, boa pinta, uma figura quase messiânica sonhadora que veio a essa terra para lutar bravamente contra o racismo atráves da paz entre os brancos e negros, como disse em seu discurso mais famoso "I Have a Dream" de 63, MAS Dr. King viveu bastante depois daquele discurso e o mesmo disse que "O sonho que eu tive naquele dia, em vários pontos, se tornou um pesadelo", admitindo na mesma entrevista que foi um discurso 'simplista' e otimista e que agora passa por uma fase mais de "realismo", essa fase, é a dedução que a revolução é a única arma de fato que os oprimidos tem contra os opressores, ou nas palavras do próprio doutor: "Em uma análise final, a REVOLTA (aqui ele usa riot no original) é a linguagem dos não ouvidos" [In the final analysis, a riot is the language of the unheard.]
Em uma perspectiva, a revolução/luta armada, só aconteceu, mesmo de forma breve e meio tímida porque figuras como o Martin Luther King, Malcolm X e os líderes dos direitos civis não foram ouvidas, ou então seja uma questão de classes, onde o capitalismo é aliado a supremacia branca, e o racismo sendo um componente do caráter inconciliável de classes, mas não vamos entrar nessa seara.
nas palavras do próprio:
"Os militantes então com um espírito revolucionário, e preocupados em revolucionar, certos valores que tem existidos na nossa sociedade precisam ser revolucionados, E eu acho a outra coisa que precisamos ver é o que o Presidente Kennedy disse: 'aqueles que fazem a revolução pacífica impossível, fazem a revolução violenta inevitável.' "
Óbvio que: Não quero pintar o Martin Luther King como comunista só porque puxei um apanhado de frases/fatos históricos solto, contudo essa imagem de "pacifista" ou pior de REPUBLICANO a qual é atribuída do Martin Luther King é uma mancha em sua história e uma grande despolitização de sua figura, nós, enquanto negros, não podemos isso acontecer. Fato também que o Dr.King aos poucos foi se afastando de um discurso "utópico" e cada vez mais reconhecendo o poder e o papel da ideologia revolucionária nos movimentos civis, afinal, não há, até hoje, uma outra alternativa para conquista de direitos dentro do sistema atual fora uma luta verdadeiramente radical. King deduziu isso, não atoa, foi executado.
Óbvio que Martin Luther King nunca tacou tijolo na polícia, queimou camburão e botou a mão no rifle, mas essa posição é devida ao momento histórico da luta pelos direitos civis e as contradições de sua realidade, achar que a ação negativa (o não-fazer) pode ser interpretado como contrário a é uma posição bastante desonesta em certa medida.
Em suma: Martin Luther King NÃO ERA pacifista, contra-revolucionário, ou alguém que fora confortável no establishment, todo fofinho com o governo, muito pelo contrário, foi preso mais de 20 vezes.
Abril de 1963
Doutro lado, há uma figura vilanificada ou igualmente estereotipada como "violento", um quase bárbaro Malik el-Shabazz, o Malcolm X, posto em uma falsa dictomia entre ele o MLK, o caminho violento e o não violento, ora, a luta de classes abrange vários meios e formas de atuação, não sendo necessariamente uma coisa ou outra, a realidade material é dialética, comportando diversas contradições. Malcolm é pintado como um separatista negro, alguém que fomentava a guerra racial e coisas parecidas. Palavras de discursos do Malcolm X
"Nós somos não-violentos com aqueles que são nãoviolento conosco" [“We are nonviolent with people who are nonviolent with us.”]
É exatamente como a Nina Simone fala em Revolution pt. 1 "Eu sei que eles vão dizer que estou pregando o ódio"
Ainda vou tirar uma postagem parar falar como Nina Simone canta Beatles melhor do que eles mesmos .
Bem, assim como King, Malcolm X tem uma história mulfifacetda, que não pode ser resumida em seus tempos de nação islã, que defendia um certo 'nacionalismo negro' da qual se afastou por fortes divergências do seu principal líder (Elijah Muhammad). Aliás, apesar de ser pintado como "o violento", Malcolm nunca participou de grupos de lutas armada ou guerrilhas, a fase mais radical do movimento negro veio a acontecer na segunda metade da década de 60 (Panteras Negras e Black Libertation Army), depois de sua execução. Sim, sempre defendeu o discurso da luta armada da revolta popular ARMADA, pois todos os meios necessários,
"Sobre a não violência, é uma forma criminosa de ensinar o homem a não se defender a si mesmo, quando ele é vítima de constante ataques brutais" [“Concerning nonviolence, it is criminal to teach a man not to defend himself when he is the constant victim of brutal attacks."]
Mas no fim e ao cabo, assim como Martin Luther King, nunca foi associado com grupos armados/ataques, tão pouco líder de milícias negras ou coisas parecidas. Diferente de King, Malcolm X realmente chegou a se aproximar no final da sua vida de lideranças conhecidamente comunistas anticolonialistas, tendo contato com o panafricanismo, como o líder de Ghana Kwame Nkrumah quem conheceu pessoalmente durante sua visita a África, mas morreu antes de qualquer sinal mais próximo da teoria marxista de fato, apesar que radical, no sentido de luta armada, sempre foi.
Ou seja: Martin Luther King e Malcolm X foram dois líderes populares ícones do direitos civis estadunidenses, que sempre reconheceram o poder a necessidade da revolução/revolta dos oprimidos, não havendo entre eles uma rivalidade ou qualquer antagonismo, se não apenas pela forma de discurso, porém, sempre tiveram os mesmos objetivos, nas palavras do Malcolm X
"O Dr.King quer a mesma coisa que eu. Liberdade." [Dr. King wants the same thing I want. Freedom.]
eles eram mais parecidos do que a história conta
AVISO, a história do movimento negro dos Estados Unidos é repleta de contradições e elementos difusos, sendo muito mais longas do que meros parágrafos em um blog, merece um estado aprofundado de suas características, NÃO TOMEM ESSE TEXTO COMO VERDADE ABSOLUTA DOS FATOS, é uma mera síntese do pouco que sei, e estou longe de ser especialista na história dos yankees. Dos conteúdos que vi, estão linkados.
Professor Xavier e Magneto
De forma bastante resumida, quem são professor Xavier e Magneto? Charles Xavier, Professor X(ou Xavier) é um geneticista famoso mundialmente, diretor da Escola Xavier para jovens superdotados [Xavier's School for Gifted Youngsters] ou Instituto Xavier, a depender da época, só que, na verdade esse Professor secretamente um mutante telepata - e aí já a mora a maior diferença com o MLK, professor X não é um mutante abertamente, e nem um ativista dos direitos mutantes, que mantém por baixo dos panos (porra nem tanto né, a mansão Xavier é invadida toda semana) uma organização mutante chamada X-Men (que também são professores na escola em algumas histórias), dedicada ao combate de ameaças contra a humanidade, ao universo sensível como um todo também.
Já Magnus, ou Erik Magnus Lehnsherr o Magneto, o mestre do magnetismo tem o poder de controlar qualquer estrutura de metal, é um sobrevivente do holocausto, líder político pela defesa/autodefesa/full ataque as vezes dos mutantes perante a ameaça de guerra entre raças do homo sapiens contra o homo superior (como são chamados as pessoas com gene X, mutantes), liderando em alguns quadrinhos a chamada irmandade [brotherhood] grupo de supervilões liderado pelo mestre do magnetismo. A depender da história, Magneto é chamado de terrorista ou até de supremacista mutante.
Ambos, em 90% das histórias dos mutunassão meros rivais políticos, que vira e mexe entram no soco, sem perder a amizade.
Em linhas gerais, esse é o imaginário geral dos personagens, contudo vamos para suas origens, o sumo dessa postagem, teria o Stan Lee criado o X-Men espelhados no movimento pelos direitos civis da década de 60??
The Uncanny X-Men, Setembro de 1963, origem dos mutantes
Lançada a quase 60 anos atrás, X-Men (que mais tarde seria chamada de Uncanny X-Men pois saiu uma revista chamada apenas X-Men em 91) criada por Jack Kirby que é creditado* junto ao Stan Lee os X-Men são muito mais um rápida série sobre adolescentes com poderes, do que uma crítica/analogia ao racismo
* eu não colocaria que Stan Lee CRIOU o X-Men devido ao método Marvel onde basicamente o quadrinista desenhava tudo (até os balões de fala) e o Stan Lee apenas preenchia eles e leva todo crédito de criador e pai dos quadrinhos, vamos superar essa fase de achar que Stan Lee criou o Quarteto Fantástico, X-Men e o Homem Aranha né pessoal - Steve Ditko, você será lembrado. Ótimo método de trabalho, o bonzão leva toda fama e dinheiro por causa de seu marketing pessoal enquanto os artistas terminam a vida numa penúria e sem reconhecimento até hoje.
Você, nobre leitor, poderia até argumentar que a interpretação de uma obra não depende da vontade do autor, mas sim da mensagem que dali por ser extraída, é verdade, por isso, vamos analisar a história geral do primeiro issue dos X-Men:
eis a primeira aparição oficial dos mutunas.
Aí estão eles, a primeira gênese dos X-Men, Ciclopes, Anjo, Fera e o homem de gelo, que estaria mais para homem de neve, a ideia original seria fazer primeiro: heróis adolescentes e em segundo lugar heróis "esquisitos", não sendo exatamente heróis convencionais que sofrem uma grande tragédia (apesar de muitos X-Men sofrerem terríveis tragédias pessoais, Cyclops que o diga) e daí se sentem na obrigação ou dever de proteger as pessoas e salvar inocentes, mas sim um grupo TREINADO pelo professor X para serem heróis, em questão de bizarrice o homem de gelo supera todos os aspectos
A história conta desse grupo que está treinando na famosa sala de perigo, o treinamento é pausado pela chegada de uma nova "estudante", a Garota Marvel, Jean Grey. Nesse quesito a hq é extremamente datada, ou pior, é horrível, porque mais de metade do gibi é um festival de assédio contra a Jean, que minha nossa, é até meio desconfortável de ler. A julgar pela PRIMEIRA FALA relacionada a Jean
O homem de gelo não foi na onda
Jean que é representada como uma moiçola típica dos anos 60, e não poderia ser diferente, até poderia, mas seria uma surpresa enorme...
Aulas de bom comportamento com Bobby Drake
Eu nem vou me alongar nesse ponto do assédio/"cantadas" ou adolescentes vidrados numa figura feminina, mas rola até um beijinho na bochecha do Hank McCoy e quando a Garota Marvel coloca o seu uniforme, ela está sendo observada por 3... realmente heróis muito BIZARROS mesmo. é dessa forma que Jean Grey é apresentada na história.
"olha como ela RECHEIA esse uniforme" e porra Bobby Drake, tinha acabado de te elogiar :(
Enfim, entre assédios e espiadas, descobrimos a "razão de ser" dos X-Men, o combate aos mutantes malignos, ou seja, colocando em linhas, se o professor Xavier foi inspirado no Martin Luther King podemos dizer que MLK existia para COMBATER outros negros? Hein? Dr. King tinha uma tramitação com outras lideranças abertamente socialistas ou radicais mesmo, comparar esse professor Xavier em específico com Martin Luther King não faz o menor sentido
cabeça de filtro de barro
E aqui cabe delimitar uma coisa para ficar bem clara, durante a era de prata (1956 até metade dos anos 70), onde surgiu a maioria dos heróis que conhecemos, estava imposto uma literal CENSURA no mercado editorial dos quadrinhos o Comics Code Authority, as HQs não podiam tratar de temas que envolvessem violência, sexo ou qualquer "crítica social foda" que eram barradas, assim, matando o seguimento mais famoso dos quadrinhos nos anos 40 e 50, que eram as histórias policiais, contos de terror e até histórias de piratas, com isso, os heróis ficaram mais 'populares' porque eram a única opção não censurada no mercado, esse é o motivo de muitas histórias terem mocinhos contra vilões muito malvados que querem destruir o planeta, o velho maniqueísmo do bem contra o mal. Então, claro que o Magneto vai ser representado como alguém que quer destruir a humanidade, estamos falando de anos 60, guerra fria, era de prata, assim todos os vilões da era de prata, ele é bastante vilanesco e caricato. Apesar da caricatura, a personalidade do Magneto combina bastante com esse arquétipo
a julgar pelos chifrinhos, eu adoro essa roupa do Magneto
Pois bem, Magneto ataca uma base militar, se achando o mestres dos magnetismos (apesar que ele é) todo dominador do mundo, até que é pego de surpresa ao ser atacado POR MUTANTES COMO ELE, e assim conhecendo os X-Men, numa clássica rivalidade que dura seus 60 anos.
Vale ressaltar que o Magneto não era originalmente um sobrevivente do holocausto, e aí vamos para o parte final dessa postagem:
Segunda gênese, a criação dos X-Men como conhecemos hoje
A fase ou segunda gênese trata-se do período do David Cockrum e (Gil Kane inicialmente) Chris Claremont. John Byrne viria depois, como desenhista.
para-quem-não-sabe, os primeiros X-Men foram um fracasso terrível, não que a Marvel fora um sucesso de vendas, mas de público e vendas, os X-Men eram horríveis, dessas obras iniciais "do Stan Lee" os mutantes foram um verdadeiro fracasso, beirando o cancelamento da revista no começo dos anos 70, eram muito ruins mesmo, não é exagero falar.
Graças a Deusa, surgindo do limbo/cinzas como um fênix depois de 5 anos sem publicar novas histórias em sua segunda gênese com o GIANT SIZE X-MEN #1 em 1975, pouco tempo depois o principal roterista dos mutantes, Chris Claremont que os escreveu por 16 anos, assume na edição #94 e só uma edição depois mata o Thunderbird (acho que o nome dele traduzido é pássaro trovejante) e crava a mudança de curso dos mutunas pra sempre, sendo essa segunda gênese a fase mais conhecida, e sendo na era de bronze, era das HQs marcadas por fortes críticas sociais que se tem analogias ao racismo/preconceito no geral.
Essa segunda gênese reciclou totalmente o que eram os X-Men, incluindo o Magneto que reaparece na edição 104
Claremont e Cockrum também são responsáveis pela retcon, a reformulação da origem do Magneto, o colocando como um sobrevivente de Auschwitz, na edição 150 dos Fabulosos X-Men, que merece uma postagem só pra ela! É minha favorita disparada. Nela descobrimos que o Magneto é um Judeu nascido na Polônia, que teve a sua filha assassina e viu a sua esposa fugir quando a viu utilizando seus poderes. Não é spoiler, a capa tem a Kitty Pryde caída nos braços da Ororo, porque Magneto em um momento de fúria contra os X-Men dispara uma onda Magnética fatal contra a nossa querida ninfa. (que não morre é claro, a personagem tinha acabado de ter sido introduzida).
Uncanny X-Men #150, a melhor.
É uma das sequências mais fortes e emocionante dos quadrinhos Marvel.
note o Magneto sem seu imponente capacete, mas ainda vestido de Magneto
Dado isso, fica a pergunta "ah então o Claremont (ou o Cockrum) admitiu ter se inspirado no Malcolm X?" não.
Em uma entrevista para a New York Magazine, nos anos 2000 Chris Claremont revelou que há alguém na realidade quem o inspirava/inspirou a escrever o Magneto, Menachem Begin, nas palavras do Claremont "é que ele é o terrorista que pode evoluir para um estadista" [is that he’s the terrorist who might someday evolve into a statesman.], Se de um lado termos Menachem Begin, doutro teríamos Charles Xavier sendo um paralelo ao David Ben-Gurion uns dos fundadores do Estado de Israel.
Antes da fundação de Israel enquanto Estado, durante a segunda guerra, os britânicos que estavam em posse das terras palestinas na época restringiram a imigração de judeus para aquela terra, mesmo no auge do holocausto de Hitler. Sendo este um cenário de luta e conquista pela terra, e não havendo um Estado ainda, haviam duas principais milicas (no sentido de exércitos sem Estado mesmo) a Hanagá liderada por Gurion, e a Irgun, liderada pelo Begin
Respectivamente: Irgun and Haganá
Em um resumo porco: Irgun era um grupo "mais extremista", comumente taxados de terroristas em alguns artigos, em relação aos britânicos os atacando diversas vezes como a explosão no King David Hotel, que matou 96 pessoas, não confiando na entrega da terra ao final da guerra, tal qual não aconteceu. Já o Haganá tinha uma postura "mais pragmática" em relação os britânicos, considerando que a posição do Irgun poderia vir a atrapalhar os tratados na criação de Israel, não eram aliados, nem eram inimigos em relação os europeus. Hmmm esse comparativo não te lembram bastante os X-Men (Haganá) e a Irmandade (Irgun)?
A diferença entre Begin e Ben Gurion era imensas, a começar pelo espectro político, Begin é o fundador histórico da direita Israelense (que hoje está no poder), já Ben Gurion está mais próximo de um "zionismo socialista", que era quem tomou o poder no começo de Israel, também adotando uma postura mais secular, notória figura do Partido Trabalhista que governava Israel até o final da década de 70. A diferença e rivalidade entre os dois não ficou apenas na conversa, os dois estavam diretamente envolvidos com o Ataque ao Altalena (completa 75 anos esse ano) quando o Irgun, liderado por Begin resistiu a integração de seu grupo ao IDF, forças armadas Israelense, que foi formada a partir do Haganá, o conflito facilmente poderia ter desencadeado numa guerra civil que acabaria com o recém fundado Estado de Israel. Tiro, porrada e bomba.
Ben-Gurion no final da década de 70 chegou ao poder, depois de sucessivas tentativas, ganhou um Nobel da Paz, e como a maioria dos ganhadores do Nobel da paz, tem algumas guerras no currículo, como a Invasão ao Líbano em 1982.
Mas vou parando de comentar a questão Israelense porque sei quase nada ou muito pouco sobre, recomendo alguns vídeos do canal Unpacked sobre o assunto, tem esse também sobre a rivalidade entre os dois.
Ao contrário de MLK e Malcolm X, Ben Gurion e Begin eram rivais políticos de fato, e estavam em campos político bem distintos, com atuações distintas, uma certa "esquerda institucional" contra uma "direita terrorista", algo bastante X-Men de fato.
Explicando as histórias dos dois, deve ter ficado claro o paralelo entre os dois, mais claro do que isso, só desenhando... Ah! Tá desenhado, vai ler a segunda gênese, meu chapa
No mais, a mesma posição foi reafirmada pelo autor em uma entrevista para a revista Empire em 2016.
Considerações finais: uma obra pode ser multifacetada, ter diversas interpretações, mas desde que sejam interpretações apesar que, ainda sendo só uma opinião, essa visão tanto do Malcolm X tanto do MLK não correspondem seu verdadeiro legado. Para mim, na medida do possível que talvez tenha consigo provar, essa opinião não faz sentido.
Sem vias de dúvidas, nas palavras de seu principal autor "X-Men sempre foi sobre achar seu lugar numa sociedade que não quer você" [“X-Men,” says Claremont, “has always been about finding your place in a society that doesn't want you.”]