click baitei |
Agora que ganhei a sua atenção, essa postagem NÃO VAI SER sobre a banda baiana de axé. Muito menos a famosa revista de quadrinhos do Angeli e aquela turma boa, se bem que o Angeli merece uma postagem nesse blog. Gostaria?
Cara-caramba-do-que-estou falando afinal? Da música composta por outro grande baiano desse país, Gordurinha (e Almira Castilho), sendo interpretada, e talvez o seu maior sucesso, pelo Jackson do Pandeiro, lançada em 1959, aqui teremos uma análise da música "Chiclete com Banana" que tem muito a revelar da nossa terra brasilis.
Devagar. Primeiro é bom ressaltar uma coisa, a primeira versão é de Odete Amaral, 1958 é uma versão amigável, mas muito corporativa. Sobre a música em si, foi lançada em 59, como disse, naquele LP que lançou o Jackson para o resto do país (passou da Bahia é resto), dizem os rumores que os compositores da música são Gordurinha e o Rei do Ritmo, mas Jackson do Pandeiro pediu para que a sua esposa fosse creditada no seu lugar, um cavalheiro? Talvez só questões contratuais mesmo.
Da Paraíba para o Brasil inteiro, eternamente na história da música |
Deixando claro que o homónimo de 59 não é o seu álbum de estreia, apenas seu primeiro trabalho aportes nacionais, por ter sido gravado no Rio de Janeiro chegou mais longe do que seus outros trabalhos, que já eram apreciados em solo nordestino.
Chega de enrolação, vamos para a análise da letra
Vou postar ela inteira e ir referenciando ao decorrer do texto. Trata-se de um samba coco, gênero bastante comum na música "nortista" (palavra utilizada para artistas do norte e do nordeste na época) que são essas 'emboladas', algumas improvisadas e muitas com esse caráter mais cômico, não sendo essa uma exceção regra. É bem verdade que em algum momento da fonografia brasileira o samba coco se fundiu com ritmos do forró (baião e xote) ficando um pouco difícil de diferenciar, podemos atestar que é um samba pelo compasso binário 2/4 e os instrumentos característicos do samba coco.
Também vou postar a música em seguida
Chiclete com Banana - Jackson do Pandeiro, versão 1959
(Gordurinha e Almira Castilho)
Só boto bebop no meu samba
Quando o Tio Sam tocar um tamborim
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba
Quando ele aprender que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana
E meu samba vai ficar assim
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Eu quero ver a confusão!
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
Tu-ru-ru-ri-rui-u-rui-iu
ba-be-bap-be-bap
É um samba-rock meu irmão!
É mas em compensão
Eu quero ver o boogie-woogie de pandeiro e violão
Quero ver o Tio Sam de frigideira
Numa batucada brasileira
(Solo instrumental com metais e acordeon)
(Refrão e a música repete)
Logo no primeiro verso termos noção do que se trata, o eu-lírico está cogitando adicionar o ritmo estadunidense chamado bebop, que é o Jazz dos anos 50 (Charlie Parker e Dizzy Gillespie) no samba brasileiro. Lendo essa frase você pode considerar que Gordurinha estava falando da bossa nova, só que não é verdade, porque a bossa nova é lançada em 59 com Chega de Saudades do João Gilberto antes disso, nenhum artista estava lançando* coisas que fundiam elementos do jazz com elementos do samba, já que a música é de 58, esse tom é praticamente profético. Não é mesmo?
Mas nem tanto assim, a música em um geral é um atestamento do softpower pesado que os Estados Unidos jogou em cima da américa latina pós segunda guerra mundial, especialmente o Brasil que entrou no conflito por causa de uma siderúrgica. Softpower trata-se da propagação dos ideais de um certo país através de produção cultura, ou seja, é como os países penetram os outros países sem partir para artimanhas bélicas, o Brasil sempre comprou bastante o softpower gringo, mas no contexto do pós-guerra as aproximações ficaram indecentes, e não ficou só na cultura...
Gosta de samba rock? Agradeça a esse paraibano |
Não podemos confundir "globalismo" e "mundo sem fronteiras" com um país mandando e desmandando no planeta por conter mais de 800 bases militares mundo a fora. Se não há um trânsito orgânico entre culturas e povos, é só "influência" mesmo (leia-se tem um grande porrete na nossa cabeça) e é isso, mesmo que não intencional, que a música nos alerta.
Para um mundo mais confuso, não pode haver culturas superiores ou inferiores, sendo cada canto trazendo o que se tem de melhor de fato, não enfiado goela abaixo como melhor.
Pra mim, era isso que Gordurinha e Almira estavam querendo nos alertar, em 1958, com o advento das mídias sociais (apesar disso ser em um blog) a sua mensagem e legado se fazem mais importante ainda.
*Johnny Alf já estava todo jazzístico nessa época, mas seu álbum foi lançado apenas em 61, vamos considerar que nem Jackson, nem Gordurinha conheciam Johnny Alf.
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