Pesquisar este blog

Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

Gal Costa - Aquarela do Brasil (1980)

Informações legais:

1 de janeiro de 1980

MPB, 'Samba de exaltação' e retrogosto de bossa nova

12 músicas, 37 minutos

℗ 1980 Universal Music Ltda

Mas PUTA merda, que saudades da Gal Costa, eu ainda não superei a sua partida, essa baiana está fazendo muita falta na minha vida.

Que o outro plano a tenha muito bem guardada

Eu nem vou falar muito sobre a Gal Costa porque é capaz de começar a chorar, Gal Costa pode ser muito bem apresentada por ela mesma. Uma das vozes mais lindas da nossa música popular, tropicalista, eterna. Nesse álbum, em mais de suas aventuras de retratação do Brasil canta Ary Barroso, e é a proposta, um mini songbook de composições do Ary Barroso.
A capa diz em letras garrafais AQUARELA DO BRASIL, parece um álbum que pelo menos envolve Ary Barroso, o álbum é a Gal Costa cantando Ary Barroso, relação de expectativa e realidade ajustada, correto? Errado. Essa peça surpreende de forma positiva, te pegando de sobre salto com sua qualidade.

Uma cantora já famosa e prestigiada cantando um compositor famoso e prestigiado, é fórmula para aqueles álbuns chatos/protocolares/não merecem sua atenção, é como Zé Ramalho canta Luiz Gonzaga (2010), por mais que goste do Zé, por mais que goste do Gonzagão não tem NADA de especial, é tipo de CD que alguém compra na americanas e dá de "presente" de "amigo" secreto. Nem tudo que parece é. esse disco pode te surpreender.


É complicado, você compra um kit de toalhas e ganha um CD da Americanas, lamentável.

A começar da capa, Ary Barroso sempre deu vibe pra mim daqueles grandes salões e grandes festas dos anos 20/30, o álbum acerta bastante nessas notas e capa deixa isso muito evidente, uma capa bem colorida, toda verdinha e amarelo, bem brilhante, bem viçosa, que remete a grandes bailes de gala e toda aquela pompa de detalhes que a época tinha. Sabe aquelas pinturas da Lempicka, art déco, aquela sutileza chamativa pelo detalhe das cores e também um grande apelo a paisagem urbana...

Les Jeunes filles, Tamara de Lempicka - 1930

O detalhe do álbum está no sutil dourado do lado direito no busto da Gal e aquela geringonça na cabeça, acho que o (eu não faço ideia do nome de maquiagem, talvez fale errado) contorno preto dos olhos deu um bom contraste com a pele brilhante, quase dourado, casando com os cabelos negros e volumosos, também o seu batom vermelhão característico, isso não poderia faltar. Enquanto as mulheres de Lempicka tinha uma certa inexpressividade, o toque de brasilidade da capa trás um sorriso honesto, não é rasgado, é um sorriso art déco, Gal Costa toma bastante espaço na capa, ela é a estrela principal, harmonizada com esse ar de Ary e uma combinação de cores que exala Brasil, um Brasil idealizado... Essa capa é um luxo só!

E assim que se dá play você é vítima de uma nota aguda de metal a queima roupa, uma bateira marcante e uma guitarrinha safadinha na miúda, assim começa a primeira faixa do álbum É Um Luxo Só, toda instrumentação abaixa os córneos para Gal Costa cantar, como Gal está bem aqui, é até chato de elogiar. Eu não sei elogiar a Gal Maria da Graça Penna Burgos Costa, é isso. Nessa música em especial vale ressaltar o belo solo de sax e a quebradinha de ritmo na parte do "cai pra lá, cai pra cá" uma maestria. A música fala das "mulatas", dos sambas, do Brasil caricato que o Ary Barroso ajudou a criar. (Em relação as mulatas, cabe uma postagem só em relação a isso, estou propositalmente ignorando a questão)

Passamos dos sambas, do requebrados para um bolero água com açúcar de Já Era Tempo, que tem o baixo como principal maestro, conduzido toda orquestração e como tá apetitoso esse baixo do Moacyr Albuquerque aqui, sabe aquele pratinho de comida que bate em todos os cantinhos do seu paladar? O baixo é um instrumento muito pouco valorizado, a música seria muito mais chata sem as suas notas graves. Todo álbum é altamente recomendado num aparelho de som potente, pra sentir cada vibração. 

Vou pular Camisa Amarela propositalmente para falar de umas das melhores interpretações que já ouvi, sem nenhum tipo de exagero, Na Baixa do Sapateiro, versão Gal Costa, 1980 é uma das melhores músicas que eu tive o prazer de ouvir nessa vida, eu estou me arrepiando só de escutar ela novamente para escrever sobre, mesmo sendo a música que vira-e-mexe estou ouvindo, nessa versão principalmente. Na Baixa do Sapateiro é uns dos vários clássicos do Ary Barroso, tem várias interpretações, mas essa se supera pela introdução que apresenta, a afinação da Gal Costa e toda instrumentação é algo que ultrapassa a perfeição e te leva para lugares além da compreensão humana. Sendo apenas capaz de deduzir alguns dos inúmeros sentimentos que a música pode te passar, aliás, essa música é um sentimento novo, uma experiência sensorial nova. 

Como eu sou feliz de poder ouvir música, como essa forma de expressão humana é abençoada por algo maior do que eu, esse tipo de música é exatamente o que me motiva a descobrir mais e mais gêneros e cantores. A música te leva para uma Bahia, idealizada, que é um tipo de retratação mais comum na época que os baianos dominavam a MPB (Novos Baianos, Caetano, Gal, Betânia, Gil, Tom Zé, Dorival Caymmi, João Gilberto etc etc etc) e me faz ter saudades de mais músicas do tipo. A saudade é um sentimento nosso, que não é uma perda, nem uma falta, é uma... Certa alegria do momento, de uma coisa que você ainda tem em mãos, é saudade! É uma peça infungível na música Brasileira, que me faz sentir algo bastante nosso.

Folhas Mortas é uma música bem 'Gal Costeana', em ritmo e letra, é o tipo de canção que fez ela ser quem é pós tropicalismo, apesar que a tropicália nunca sai do estilo de quem participou, falando em tropicalista, na canção seguinte vem a voz de Caetano, na música "Tabuleiro da Baiana" que é uma das minhas favoritas do Ary Barroso, Caetano Veloso também cantou a mesma música no álbum Brasil do João Gilberto e os outros dois restantes dos doces bárbaros, três anos antes dessa gravação. São versões bem diferentes, é engraçado compará-las, mal parece a mesma canção.

Jogada Pelo Mundo, numa pegada bossa nova, dedo do Menescal, não poderia ter pessoa melhor; partimos desse soft samba para um samba mais "classicão" em Inquietação, Menescal mandando bem em ambas as interpretações. 

E aqui abro um parágrafo para falar de Tu, mas não és sobre tu nobre leitor, é sobre a nona canção do álbum, numa pegada mais bolerada, sambinha canção, não promete muito, apesar que de longe você escuta uma guitarra fraseando meio fora da pegada de toda música, parecida estar esquentando para algo maior, apenas em uma segunda ouvida você, tu, percebe que as frases soltas de guitarra estavam amaciando a canção para um excelente solo de guitarra no preciso minuto 2:18. Esse solo invade a música e toma para si, como é um solo gostoso, uma sensualidade, uma beleza, uma experiência quase sexual eu diria, de um prazer, que eu diria que o guitarrista tava bem disposto nesse dia, esse solo é o tesão gravado em forma de som, ele capta o movimento do ímpeto, não o do gozar, mas do querer, o prazer no desejo.

Ouvindo de novo, não lembrava de ser tão curto, a sensação que ele te traz na primeira ouvida é tão boa, que parece que durou cinco minutos. Depois disso termos duas músicas para fechar o tempo mínimo de um álbum e aí vem, a grande música que dá nome ao álbum, a magnus opus do Ary Barroso, a música mais brasileira para os habitantes fora do Brasil: Aquarela do Brasil.

Muita gente acaba torcendo o nariz para Aquarela do Brasil, pelo o "tom patriótico" e por causa daquela animação da Disney, que nos remete a aproximação do Brasil com os Estados Unidos nos anos 40, daí então formos do pior ao intragável eu sei, além de citar coisas tipo "mulato" e etc, parece só mais uma canção 'racistassa' dos anos 30 que devemos jogar fora, porque é reacionária, mas não, não é bem por esse caminho. 

"Gayest musical" kkkkkkk

   

Alguns fatos sobre Aquarela do Brasil: Na sua versão original ela foi cantada ERRADA, porque contém algumas palavras difíceis, o cantor Francisco Alves canta "mulato lizoneiro" ao invés de inzoneiro, também canta "morena sestrosa de olhar indiscreto" ao invés de indiferente. A música foi relativamente criticada na época por ser difícil, contando com palavras bizarras como "merencória", eu não faço ideia do que seja, sinceramente, nem nunca fiz questão de pesquisar porque gosto de acreditar que o Ary Barroso inventou essas palavras.
Tem até quem acredite que Aquarela do Brasil foi a mando do governo Vargas, muito pelo contrário, a música quase foi censurada pela ditadura varguista por causa dos versos "terra de samba e pandeiro", esse bagulho de samba não pegava muito bem na época não, até porque "madame diz que a raça não melhora/que a vida por causa do samba"  (Haroldo Barbosa e Janet Almeida, há muito tempo atrás).
Sim, essa ideia de país 'mulato' e coisa e tal pode entrar numa lógica de democracia racial, que não poderia ser chamado de democracia racial porque esse pensamento de materializou pós governo Vargas. É bom equilibrar, vem complexo de vira-lata e "somos todos a mesma raça" (tá aí um papo que merece uma postagem só pra ela também hein)

Para-terminar, a música Aquarela do Brasil merece uma chance sua, vale uma análise mais aprofundada,  ouvi-la vai ajudar a compreender uma música que poderia ser muito bem nosso hino nacional, a versão da Gal Costa, é com folga, uma das melhores já feita, não atoa, leva o nome do álbum nas costas.

Aquarela do Brasil, 1980, Gal Costa não vai aparecer nas listas, nem é lembrado como obras-primas, apesar disso, é uma verdadeira joia rara bem escondida na vasta obra da cantora baiana, no meio de tanta coisa e clássico que a MPB tem a oferecer. A obra é convidativa, aconchegante e prazerosa, talvez não te salte aos olhos de primeira, mas passando pela segunda vez, é um amor a segunda vista. 

Melhores músicas: Tabuleiro da Baiana, Tu, Aquarela do Brasil, Na Baixa do Sapateiro.
Músicas puláveis: Faceira e Novo Amor, justamente as que não citei.
Recomendo para quem gosta de: MPB, Bossa Nova, Gal Costa (claro).    

Leia mais...

Mamilos são polêmicos! Novos X-Men (#114 a #154) Grant Morrison e Frank Quitely

 

Neste blog apreciamos o bom trabalho e contribuições do Grant Morrison!

Já que citei bastante essa fase dos X-Men na minha última resenha, nada mais justo do que fazer uma resenha desta também. Os Novos X-Men é uma obra que divide opiniões entre os fãs do mutunas, alguns acham ruim, outros acham uma bomba. Brincadeira a parte, a obra é bastante importante o suficiente para não ser chamada de ruim, todavia é não-bem-feita o suficiente para ser chamado de boa, ou obra prima, ou o padrão de qualidade Morrison.

Qualquer veredito que consiga resumir numa única frase está incorreto, apenas. Tem relativamente um tempo que li, mas ainda lembro de algumas coisas, então vai ser só uma opinião geral, não uma análise minuciosa como a anterior 

confira minha resenha dos Surpreendentes X-Men 

Resumidamente: New X-Men
Edições: #114 até #154
Criadores: Grant Morrison e Frank Quitely
Editora: Marvel 
Ano: 2001
Acha fácil? Sim.

AVISO: A resenha pode conter spoilers da obra, não vou ficar contando pedaço por pedaço, mas preciso falar de alguns momentos chaves, fique avisade  


Arte, muitas mãos pra pouco carinho.

A Marvel poderia ser processada por propaganda enganosa (artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor), porque geralmente a HQ é apresentada como fosse do Morrison e do Quitely, só que o Quitely dá um quit e praticamente não desenha nada da série, esse talvez seja o ponto mais fraco, a inconsistência visual, o que não é por se só um problema, mas tem algumas edições que parecem que foram feitas nas coxas, sabe? De maneira açodada. Sobre a arte do Quitely em si, no que ele desenhou, eu acho que ele tem trabalhos melhores.

#138, todo mundo com cara de ex-BBB (harmonização facial)

O Quitely tem esse 'problema' que a gringa chama de same face syndrome algo que no português pode ser chamado de "síndrome do mesmo rosto" quando todos os personagem tem a mesma cara, essa carinha grande é o traço mais memorável do estilo do Frank Quitely, nada de absurdo, só algo engraçado que é relativamente comum aos quadrinistas. As cores são um pouco desaturadas, uma escolha bem mais soft com bastante preto/cinza, dando um ar mais corporativo aos mutantes, no lugar dos velhos trajes de super-herói, um ar mais padronizado, menos a Emma Frost, e aí, eu PRECISO comentar a capa mais polêmica dos X-Men
Edição 116
Essa BIZARRICE, que é capa da edição 116, eu não gosto nem de lembrar. Uma das coisas mais desgostosas já feita.
Olhando agora o Torax dela forma um X né? A ideia foi até boa.

E onde mora o ponto fraco na questão gráfica dos Novos X-Men? A instabilidade, porque o Frank Quitely teve que se ausentar bastante, eu diria até que ele é o quadrinista que menos desenha em toda saga, ocorrendo até uma mudança abrupta de visual dos mutantes 

 
#139 e #138

Por exemplo, quando acaba o arco do Kid Omega, o Logan está com cabelos longos e aquela barbinha de Marcus Fenix (Gears of War) nas mãos do Quitely, na edição seguinte onde quem assume é o Phil Jiminez, o Logan está TOTALMENTE diferente, e não há qualquer lapso temporal entre elas. É estranhíssimo, mas o Logan tá longe de ser o principal aqui, nada que vá atrapalhar a experiência, só um estranhamento. Grant Morrison assina todas as edições no roteiro, e os outros artistas fora o Quitely, assinam o Igor Kordey, Phil Jiminez (uns dos meus favoritos), Ethan Van Sciver, John Paul Leon (RIP) e Chris Bachalo numa edição específica, alguns deles já costumam trabalhar com o Morrison. Devo ter esquecido de alguém.

Não quero ficar tacando hate, ou chamando de ruim trabalho alheio, talvez tenham sido coisas como prazos em cima da hora, ambiente editorial horrível (Novos X-Men) sofreu bastante com isso, mas coitado, tudo que o Igor Kordey bota a mão nessa saga é sofrido de ler, porque assim: Não é muito comum leitores de gibi darem tanta atenção para o imagem, falando assim até parece uma frescura, mas pra mim, eu valorizo bastante a questão gráfica porque um quadrinho mal escrito e bem desenhado dá pra ler tranquilamente, agora um quadrinho mal desenhado e bem escrito não dá um desanimo? 

#129
E respeito o trabalho e estilo do Kordey, só não me agradou nessa saga em específico. Parando de pisar em ovos, as cores, os ângulos, o traço meio grosseiro, as texturas principalmente as cores, nossa...
#119, Wolverine Trump



#119
Mas ok, sendo justo com o Kordey, vou culpar os possíveis prazos insanos que foram dado a ele, tanto que nas edições do arco relativo ao Phantomex, tá decente. (Sendo justo, o scan que eu tive acesso tava meio crocante, aquela imagem gostosa quase jpeg.)

Esse tipo de comparação só acontece pela instabilidade da saga, vários artistas botando a mão. Há edições que são belíssimas, em especial a #127 que é um pouco desconexa com o resto da história, continua sendo linda, assinada pelo Jonh Paul Leon, uma maravilha mesmo, tanto o roteiro, tanto a arte, é o quadrinho de toda a saga, 

#127
Aliás o Leon manda MUITO nas poucas edições que pegam aqui, é traço lindo. Grande perda pros quadrinhos a morte do John Paul Leon.
#131, olha a gaia aí minha gente


Outro arco que é um aesthetically pleasing  é o Ataque do Arma Extra (#142 a #145) que beiram a perfeição, é lindo, o traço é lindo, as sequências de ação são recheadas, os ângulos, a utilização de imagens vazadas como a sequência de abertura no cabaré, as cores, tudo isso feito pelo Chris Bachalo, e vou deixar algumas imagens desse arco: 



Os demais artistas fazem um feijão com arroz, apesar que o Ethan Van Sciver, mesmo não sendo o desenhista original, pegou muito bem qual é a vibe dos Novos X-Men, eu diria até que executou melhor do que o próprio Frank Quitely, porque pelo menos ele aparece mais.
Ethan Van Sciver, #133, essa edição é terrível (o roteiro*)


Phil Jiminez, #140


*rola um white-savior muito sem noção, do professor Xavier salvando um avião de um perigoso terrorista paquistanês, além do terrorista ser retratado da forma mais estereotipada possível. Esse ataque ao avião não acrescenta em porra nenhuma.

Em relação aos trajes, realmente eles estão mais para uniformes, pique de empresa mesmo, um pretinho e amarelo básico, e todos mais padronizados, em relação ao design dos personagem fica difícil de falar porque cada artista desenhou de um jeito, só ver o Wolverine como mostrei a cima, todavia o fera tá bem diferente dos anteriores, mais bestial fisicamente e SEM AQUELAS PONTINHAS no cabelo, penteado pra trás, na maioria das edições se fosse para eleger o melhor design  de personagem (tirando pelo novos !!) eu colocaria o Fera em primeiro lugar: 

Hank McCoy no shape, #140 

Depois de toda essa exposição, dá pra classificar graficamente os Novos X-Men como bom ou ruim? De forma nenhuma, apenas instável. 

Roteiro caótico

Grant Morrison é o papo de boteco materializado, aquela ideia viajada, aqueles conceitos bem longe do ponto e que bom! É o seu maior triunfo, até bacana ter no meio dos quadrinhos sempre aquele que sai da mesmice (e consegue colocar na prática claro), talvez tenha sido chamado pra isso, mas... Aqui ele peca pelo excesso.

Como dizem: "é melhor pecar pelo excesso do que pela omissão" se mostra verdade aqui, com muito 'poréns'.

É inegável que Grant Morrison traz consigo vários conceitos foderosos para o universo Marvel neste seu trabalho de despedida. Partido do básico, Morrison encarou a mutação de uma forma bastante diferente aqui, com uns poderes "esquisitos" (tipo em um moleque é um PEIDO vivo; a Martha que é um cérebro, coitada, um que não tem pele é só uma geleia, a mina de areia que some, na saga, não é poder) e nem sempre muito funcionais, a exemplo do mutante inicial que só tem uns 3 rostos e nada além do que isso - aliás morre de cara não durou nem a primeira edição. Claro que os mutantes "não-funcionais" são secundários, mas nem por isso deixam de ser bem desenvolvidos, o melhor exemplar é Barnell Bohusk, apelidado na maldade de bico, trata-se de um mutante que é só um pássaro humanoide (que nem voa direito), um tipo de pet do Morrison que acompanha a história dos Novos X-Men do começo ao fim. Com todas suas contradições e questões internas, é o tipo de mutante que vira-e-mexe aparecem nas listas dos "mutantes mais bizarros", quem faz esse tipo de coisa não entendeu a mensagem dos quadrinhos, sinceramente. 
Sacanagem com meu mano Bico...

Gosto muito do bico, ele é um mutante com a cara dos X-Men (adolescentes com problemas). Podemos dizer que os mutantes aqui tem menos "passibilidade" numa sociedade de humanos, é bem diferente dos X-Men saradões dos anos 90. 


Jim Lee e seus pôsteres de academia


Na lista de inovações positivas tem o conceito de 'segunda mutação' que é bastante interessante e abre um leque enorme de possibilidades, a que chegou pra ficar é a transformação da Emma Frost em diamante, uma blindagem de diamante que tá presente em toda obra dos mutantes depois dos Novos X-Men. Falando em Emma, tem todo arco da relação extraconjungal do Scott com ela, eu não sei se isso é anterior, mas aqui é bem aprofundado e mostra a diferença da Emma Frost dos demais X-Men, não possui ética nenhuma enquanto sensitiva (usar os poderes para ter um caso é algo que possa ultrapassar a ética mutante, mas é interessante).

Antes que eu me esqueça, na minha opinião de leitor a ideia mais fora da casinha que o Morrison trouxe consigo FOI QUE A ARMA X NÃO É X DE GENE X, MAS SIM DE X DE 10, ALGARISMO ROMANO, fazendo uma extraordinária costura que vai do Capitão América, Nuke (da Queda de Muddrock) até o Wolverine, na verdade até o Phantomex (e além), que dos personagens novos é uns dos meus favoritos. Então assim, foi uma inversão total de conceito apenas observando a grafia da palavra, isso é pensar além do objeto, muito além.

Devem ter mais coisas, isso é o que se salva do caldeirão de ideias dos Novos X-Men, e aí moram os problemas, os quadrinhos foram utilizados como um laboratório da cuca do Grant Morrison, que traz elementos que são muito bem utilizados fora da saga, mas na saga é um completo desastre. 

É tipo os cientistas do século 19 e 20 utilizando Raio X pela primeira vez, comendo elementos da tabela periódica para saber as propriedades, Freud tratando pacientes com cocaína e todas as coisas fofas que prática científica fazia antigamente, hoje são de bom uso e úteis, mas na época foi um completo desastre também.
 
"Um pequeno preço a se pagar pela salvação."


O que pega é tudo é jogado ao mesmo tempo, os 'SENTINELAS NATURAIS' da Cassandra Nova e um genocídio de 16 milhões de mutantes em Genosha, os U-Men, o Kid Omega e não-sei-que, não-sei-o-que, não-sei-o-que, são elementos que sozinhos tem potencial o suficiente para desenvolver uma saga INTEIRA, mas JUNTOS não funcionam, porque fica um ideia boa em cima de outra ideia, e acaba que nenhuma ideia se desenvolve de fato, como dizem os populares, "nem o mel e nem a cabaça".

Se bem que qualquer um desses conceitos se tornariam inúteis com a vinda da Dinastia M né!? Mas custava nada trazer :(

Eu fui tapeado pelo carequinha da massa, jurava que a história seria sobre os U-Men, que seria algo do caralho de bom, uma empresa privada que mutila mutantes para criar mutações artificiais, esse é o conceito inclusive do jogo X-Men Destiny (2011) e funciona bem demais, então obrigado Grant Morrison por ter trazido esse conceito, apesar de eu ainda estar magoado de você não ter utilizado ele a fundo na sua saga!

Por isso fica meio difícil de analise uma trilha narrativa de roteiro, já que as coisas só acontecem em micro arcos, são batidas no liquidificador e a gororoba que resta é o quadrinho. Em relação as escolhas, os X-Men são construídos praticamente do zero, sem o Magneto, olha só, que escolha narrativa arriscada para uma história dos mutantes, é como uma história do Batman sem o Coringa, ou uma história do Homem Aranha onde ele não é pobre ou não perde uma figura paterna importante na vida dele (coisa que nem faz sentido falando assim, imagine se já fizeram isso heinnn), Jean Grey aparece como líder nata dos X-Men enquanto o Cyclops é só um homem em crise conjugal porque não está recebendo chamego de sua amada, caindo nos braços psíquicos da amante, no finalzinho bem na raspa termos Wolverine curioso atrás do seu passado e o que termos de desenvolvimento de relações é bom, mas não aparece tanto, pelos motivos que coloquei acima. 

Ah, e o Professor Xavier deixa de ser cadeirante na maioria do quadrinho, apenas um fato.

Sendo justo, o único personagem que tem meio começo e fim é o Phantomex, Arma Treze (eu acho) um superladrão com sotaque francês, um baita personagem, carismático, habilidoso e rendeu belas sequências de ação, tá aí algo que seria adaptado pro cinema sem muita dificuldade, mas dificilmente algum estúdio colocaria em tela, não é tão popular. Vou procurar mais histórias em que ele aparece. 

Então Grant Morrison genuinamente na boa intenção, decide iniciar os X-Men com elementos que ele próprio coloca, viajando nas próprias ideias, se afastando ao máximo de qualquer coisa anterior, exceto elementos fulcrais como a fênix, que sim, Jean Grey morre de novo, a Fênix aparece de novo porque Morrison não conseguiu sustentar a sua aposta e tira o Magneto da bunda, terminando assim a saga, tendo um final brochante e a retcon mais REVOLTANTE que já presenciei. Queria poder eu escrever o quanto fiquei puto da forma que o Magneto apareceu. 

nunca te perdoarei sir Grant Morrison.

Calma, eu vou explicar, é criado uns dos personagem mais carismáticos e inovadores dos mutantes, o Xorn, que não tem nenhuma habilidade ofensiva, é apenas um curandeiro chinês, o personagem é excelente, suas passagens são incríveis, era o meu favorito, sendo honesto.Do nada, do nadinha mesmo é revelado que esse tempo inteiro, dele sendo o melhor personagem dos Novos X-Men, era o Magneto na mutuca, algo que não faz sentido e só prejudicou uma série que não era tão ruim assim, foi tudo pro espaço nessa escolha.

"Veja como eles massacraram meu garoto"

Meu mano Xorn, você não será esquecido. 

E veja bem, talvez a escolha tenha sido editorial, ninguém sabe o que rolou nos bastidores, mas a real mesmo é que o Magneto estava funcionando muito enquanto um mártir, alguém que era pôster de parede, era camisa, era bordão, do que vivo. Simples assim. O Magneto não foi esquecido da história, ele só não estava vivo e nem precisava, pelo visto não tiveram uma ideia melhor e tomaram o caminho mais preguiçoso possível, o personagem de história de heroizinho é um nazista (sim, o Magneto é apresentado como um NAZISTA mesmo) que vira ditador e ai minha nossa, alguém pare esse fascista. Caminho preguiçoso. Final horrível, a Fênix aparece e acaba com tudo, igual sabe o que? X-Men 3. 

"De novo não, esse filme de novo nãooo"
(Apesar que o final da saga é muito melhor do que X-Men 3.) 

Enfim, sobre as questões politicas, é interessante um tempero por cima de uma ideia de cultura mutante e o surgimento de uma figura populista rebelde o Kid Ômega, que destruiu o instituto Xavier pela terceira vez só nessa saga, pelo menos na minha contagem. Mesmo sendo um conceito interessante infelizmente durou só 4 edições, assim tudo que é bom nessa HQ, dura pouco.
As escolhas tomadas são ruins, não todas, mas muita delas. 

Em linha gerais, Os Novos X-Men do Grant Morrison e Frank Quitely (quando aparece) é um clássico. Poderia ter sido muito mais do que foi, mas o status de clássico ninguém tira, sofre com excesso de boas ideias que são aproveitadas depois, mas a sua obra em si é sofrido de terminar, porque Magneto nazista foi posto de uma forma tão preguiçosa que me fez querer as outras 40 edições de volta.

Não é um clássico pela sua qualidade, mas por sua importância para história do gênero, tanto quadrinhos como X-Men.

Na verdade, depois de todo anteposto, até difícil de definir se essa obra é boa ou ruim. Ela não pode ser chamada de ruim porque é mega importante para história dos mutantes e tem ideias incríveis que contribuíram muito para os quadrinhos; Porém, é uma obra bagunçada, sem coesão interna em alguns pontos e tem o pior final possível, de todos os cenários, esse era o pesadelo do pessimista.

Magneto nazista velho, como pode, acabaram com meu xodó pra isso?   

A questão é nem se você deveria ler ou não, você vai ler um dia sim, isso se for realmente fã dos X-Men e poder formar a sua própria opinião negativa sobre. Apesar das falhas, os Novos X-Men não podem ser ignorados, com todas as suas nuances a obra ainda vale a pena conhecer (até porque não há opção em relação a isso)

Pós-créditos: duas imagens que não achei contexto para colocar no texto

O Fera me agrada bastante nesse quadrinhos 

O Fera se declara gay após tomar um fora de uma jornalista famosa, só um detalhe curioso que não deveria ser passado batido. 




  
Leia mais...

Os Surpreendentes X-Men fase Joss Whedon e John Cassaday (#1-24)

 

Muitos sites ninchados de quadrinhos atribuem a essa fase dos X-Men como a melhor da história 'recente' (quase vinte anos atrás né). Será que é fato?
Pois bem, a li, deixo minha humilde opinião sobre

Resumidamente

Nome original: Astonishing X-Men
Edições: #1 até a #24 e a Giant Size
Criadores: Joss Whedon e John Cassaday 
Editora: Marvel
Ano: 2004
Acha fácil? Sim. 
!Não é recomendada para iniciantes!

Em meados dos anos 2000 os mutantes passaram por uma reforma completa, diria até quase uma revolução, após andar em más águas (coisa bastante comum pra Marvel, convenhamos) os mutantes se perderam, praticamente os X-Men se tornou um grupo paramilitar mutante, uma milícia, isso em tempos dos anos 90, mais cedo ou mais tarde iria vir uma HQs que chacoalhasse o marasmo, e ela veio, com os Novos X-Men (#114 até #156) do carequinha escocês favorito da galera, Grant Morrison, e Frank Quitely (inicialmente).
Confira minha resenha do Novos X-Men

E daí? Daí que essa fase pós-Morisson ficou conhecida como ReLoad, uma reciclagem dos X-Men, numa perspectiva mais 'heroica' novamente, para retomar tempos mais simples. -Saiu muita bomba nessa época, minha nossa - É importante ter essa informação em mente ao ler, para saber a proposta do autor. O que o autor se propôs? Nesse caso, um mero gibi de herói. 

AVISO: A resenha pode conter spoilers da obra, não vou ficar contando pedaço por pedaço, mas preciso falar de alguns momentos chaves, fique avisade  


Essa 'saga' não é recomendada para pessoas que nunca leram NADA dos mutantes, você pode até entender os texto e fazer interpretação, é uma obra fácil, mas ela não foi escrita para você. Apesar que nenhum sentinela nerd vai te bater caso você pegue pra ler como primeira HQ dos mutantes, eu acho. 

Pois bem, pois bem, vamos começando do começo: A obra é dividida em quatro arcos "Superdotados", "Perigoso", "Destroçados" e "Incontrolável", de ritmo relativamente rápido, levando em consideração a quantidade de enredo que é apresentada, mas diria que dá pra acabar em dois ou três dias, depende da forma que você lê. A história não é densa, mas é cumprida, então é bom ler com vontade.
 
Antes de chegar no sumo, vamos falando da parte que muitos consideram superficial, visual. Eu não conhecia o trabalho do Cassaday, mas depois de terminar esse quadrinho virei fã completamente. Um traço com uma pegada mais """realista""" mantendo o que os Novos X-Men trouxeram. Quando eu falo realista é a utilização de elementos mais figurativos, coisas que você reconhece facilmente e são existentes na nossa realidade, objetos reconhecíveis e o mínimo de respeito a anatomia humana e proporções, apesar que sim, ainda tem um bicho azul peludo de óculos, e não precisa ser "realista", porque realismo não é uma qualidade, é uma forma optativa de se desenhar ou questão de traço. Para ilustrar o que quero dizer, tenham uma pessoa em mente quando cito "realismo", Neal Adams

Não é realismo, TEM UM LOBISEM E UM CARA VESTIDO DE MORCEGO

Então deve ter algum nome melhor para expressar o que quero dizer, mas acredito que com o Neal Adams possa ter ficado claro. 

Só a efeito comparativos, um bom parâmetro é o nível de sexualização de personagens femininas, algo que geralmente passa do ponto. Utilizando de exemplo a Emma Frost

Art Adams (pior cenário pqp) vs John Cassaday

Então, só de não ter feito a Emma Frost como uma personagem de contos eróticos, mas ainda sim respeitando a sensualidade esperada da personagem, ganhou bastante ponto comigo. Aliás ela ainda parece uma patricinha dos anos 2000 siliconada, mas não é algo feito para... Fins escusos. 


Ainda sobre o visual, o apelo mais heroico os trajes voltaram no famosão azul/preto e amarelo, cores vivas, mas não saturadas, tem um quê de... Wallpaper do Windows XP, saca? Todas as cores se destacam, mas nenhuma de sobrepõe a outra, exceto nos momentos que se faz necessário, algo vivido.
O quadrinho não apresenta nenhum grande plano com aqueles cenários gigantescos, que não decepcionam quando precisam aparecer, distribuição de layouts grandes, com personagens bastante grandes em tela, Cassaday tem esse dom de ostentar personagens enormes no quadros, porque eles costumam ser bastante expressivos. Layouts bem maiores nas cenas de combate físico e tem muita lutinha nisso aqui. 
lindo lindo lindo lindo lindo lindo

Para terminar a parte visual da coisa, os trajes são convencionais, tirando pelo Fera, que apostou num modelito um pouco ousado, o design do Fera em si tá perfeito, um autentico gatinho mau humorado 

 Se fosse eleger o melhor traje: Wolverine

Wolverine sofre nas HQs, mas aqui tá fino

Enredo
Joss Whedon é um mago do entretenimento, não foi escolhido pela Marvel para ser o diretor de Vingadores e assim cravar o MCU em nossas vidas (infelizmente?) para sempre, ou talvez até a próxima década mesmo. Séries, quadrinhos e o escambau, o homem fez de tudo, menos comercial da Old Spice. Assim como Cassaday é sóbrio e dosado nos traços, por outro lado Whedon dosa no fã service e na inovação. Por uma obra com apelo ao heroísmo a HQ está recheadas de referências a era Chris Claremont (segunda gênese), algumas indiretas e outras bastante diretas como memórias das personagens, a citar o 'redesenho' da Luta do Scott com a Ororo. A sequência de abertura da Kitty Pryde (agora uma mulher adulta) também

Do que se trata a final? Bem, extermínios dos mutantes (porra de novoo nãaao), mas dessa vez, Whedon fez bem ao tratar desse assunto como algo SECUNDÁRIO, não principal. É quase impossível fazer uma história dos X-Men sem mencionar isso, mas sempre trazer isso como enredo principal fica meio maçante. 
Os mutantes decidem voltar a cena, mas dessa vez como heróis (isso é dito ipsi litteris) ao mesmo tempo que uma geneticista famosa descobre a cura do gene X, ao mesmo que um Alien chamado Ord está fazendo um sequestro em algum prédio importante. Tudo isso é contado ao mesmo tempo apenas no primeiro e segundo issue, o roteiro é leve, tem quebra gelo, o Ord, que sempre é derrotado da forma mais galhofa, mas de um nível Dicky Vigarista mesmo, corrida maluca das ideias, se mostrando, de fato, essa pegada de história de herói. 

Mesmo os X-Men se apresentando como heróis, tem momento que eles agem como mutantes apenas, sendo hostilizados pela SHIELD, então fica aquela: será que os heróis são apenas os amigos do governo?

Ord quer acabar com os mutantes porque um deles irá destruir o seu planeta, (aliás esse é o fio principal que guia toda saga) nesse ponto as três histórias paralelas que citei se conectam numa maestria sensacional, seja trabalhando com eventos previsíveis ou totalmente inesperado Whedon conduz muito bem toda a trama contando três ou quatro histórias ao mesmo tempo que vão se conectar, é quase página sim e página não dos eventos narrados. A conexão é boa até naquilo que é relativamente previsível (como Ord e a doutora) e até nas coisas totalmente inesperadas, COMO O SCOTT SUMMERS SACANDO UMA PISTOLA E ATIRANDO NO CLUBE DO INFERNO


"Minha intenção é ruim, esvazia o lugar/Eu tô em cima, eu tô afim um. dois, pra atirar"

Tudo isso em um ritmo frenético, numa história recheada de lutinhas, lutas entre os próprios X-Men inclusive. As sequências de ação não são gratuitas, apesar da HQ ser feita para isso. Como o Wolverine e Cyclops, Wolverine e Fera, Wolverine, Wolverine e Wolverine, que luta, apanha e bate bastante nessa série.

Todo arco da sala de perigo é só luta também, acabei esquecendo de mencionar

Com os dois primeiros issues você entende muito bem a proposta da HQ, é coisa de heroizinho, bom, desempenha de forma incrível esse papel, colocando o sarrafo mais pra baixo, você passa a esperar menos da obra, só que é surpreendido com a imersão da teia de relacionamentos dos X-Men, como as suas angustias, culpa e principalmente medos. E isso não é subtexto ou interpretação, mesmo de forma tímida, a obra se dedicada as esses sentimentos, tudo que Whedon quer dizer nessa obra ele diz de forma legível e clara. A exemplo do Fera questionando a possibilidade perder os poderes ao ir atrás da cura, o dilema moral envolvendo a destruição do Grimamundo e até uma passagem rápida de um mutante que tirou a própria vida depois de perder os poderes, bad.

Tudo que seria considerado DEFEITO em outros gibis de herói, vira uma qualidade na mão do Whedon, o motivo para isso é bastante simples, é bem escrito porra, quando é bem escrito, até clichê se torna algo aceitável, fã service também. Quando reclamamos desse tipo de coisa, não é a mera coisa pela coisa, mas pela escolha de tomar caminhos mais fáceis e preguiçosos para mascarar a falta de comprometimento com a obra, e é nessa tomada de decisão narrativas que vermos o quão é bem escrito, não há escolhas preguiçosas aqui.
Vou fazer um paralelo, assim como em X-Men: O Confronto Final 3 (2006) se tem o lance da cura mutante efetuada por uma empresa privada, é exatamente o mesmo lance, até na questão de um X-Men 'ir atrás da cura', mas por que X-Men 3 é uma das piores coisas que vi nessa vida e Os Surpreendentes X-Men não? É tudo questão de como é escrito, se for bem feito, é bem feito, independente dos elementos utilizados, mesmo sendo clichês, pode sim ser bom.

Se eu falar o que eu penso desse filme vou ser preso

 E como é ruim X-Men 3, até a utilização do elemento da cura mutante, naquele final TERRÍVEL, inescrupuloso, esse filme é um atentado a constituição federal e a carta de direitos humanos da ONU

"De novo não, X-Men 3 nãããão"
Vou parar de falar desse filme porque tá me dando memórias muito ruins

Voltando, 
Para-não-dizer-que-falei-das-falhas o terceiro arco envolvendo a "volta" do clube do inferno é meio meme, ainda que no final é tipo foda-se e não tem nenhuma ligação, ou pelo menos aquela boa ligação com o quatro arco, é tipo um gato, um armengue. Cassandra Nova "de volta", Shawn, alguém parecido com o mentalista e uma mina que nem aparece direito, a desculpa dada foi no rolê foi a teoria que o Ash estava sonhando o tempo inteiro, mas considerando os poderes da Emma Frost, é relativamente aceitável, mas não é na pegada de qualidade dos outros arcos. Nem posso reclamar desse terceiro arco porque é o mais divertido de todos, só porradaria e patacoadas, tem excelentes sequências de ação e seu valor.
Vou reclamar de fan service, o lockheed aparece pra nada, ele pisca na história, aparece e some. Piscou mais rápido do que o cristal da realidade na saga da fênix.     

É marcada por esses episódios de "aposta controlada", Whedon toma o risco, desenvolve rapidamente dentro do risco e volta pra zona de conforto. Para exemplificar, o Cyclops perde os poderes você SABE que ele não vai terminar o quadrinho sem eles, mas essa previsibilidade não atrapalha a imersão, e todo o arco sem os raios do Scott são bastante interessantes, é algo ousado, que vai voltar pro normal na tranquilidade.
Também ousa em aspectos mais radicais, como a não aparição da fênix (o caminho mais preguiçoso de todos, como em um filme aí já citado) e não a aparição, o renascimento ou o Deus ex-machina do Magneto, dois caminhos muito preguiçosos que não são tomados.
Aliás, o Professor Xavier também não é um dos personagens presentes, é interessante a dinâmica do instituto Xavier sem o Xavier.
Como disse, é uma HQ confortável, não vai te provocar no bom ou mal sentido, mas definitivamente, não é qualquer uma.

De personagem novos: Tem a Agente Brand, todo o rolê do Grimamundo, Perigo e Kavita (eu acho) 
A qualidade mora na coesão dos elementos apresentados, tudo é bem ligadinho, bem é redondinho, foi algo planejado o sintoma disso é Cassaday seguir até o fim, e o planejamento deu frutos.

De frutos, nem vou comentar o final porque ainda estou processando ele, a Giant Size que termina a saga é de tirar o folego. 

É uma obra para agradar quem gosta do gênero (agradar quem odeia é difícil né), no sentido de bater certinhos nos elementos que dá satisfação para um leitor gibi, especialmente Marvel, mesmo soando como algo genérico, a obra tem personalidade, tem muito valor e é um verdadeiro clássico. Os Surpreendentes X-Men é o tipo de clássico que deve ser referenciado no futuro, ou no presente mesmo. 

Os Surpreendentes X-Men fase Joss Whedon e John Cassaday, tem aquele heroísmo da era de prata, personagens da era de bronze com uma dinâmica de distribuição de roteiro da nossa era atual, o melhor dos mundos, não por qualquer ideia genial ou um epifania quadrinística, sim por sua dosagem, sobriedade e uma certa paciência em fechar seus eventos. 

Ela é perfeita, não por ser algo fora da casinha, mas por arrumar a casinha, botar uma varanda e um quintal florido, a perfeição perante o ordinário, sem nada de SURREAL, apenas surpreendente rs. Uma obra prima, um clássico, um capítulo que não dá pra ignorar na história dos X-Men, é a melhor história dos mutantes desde dos anos 2000, em todas as plataformas até agora. O que será das 40 edições que os surpreendentes X-Men ainda tem? Não sei, ainda vou ler, mas o sarrafo subiu bastante.

Em resumo: uma HQ sóbria, leve, divertida acima de tudo e inesquecível.
Leia mais...

Lista: Gilberto Gil tem os melhores feats

 

Gilberto Gil e teu grande feat da vida

Gilberto Passos Gil Moreira é alguém que dispensa apresentações, tropicalista, ex-ministro e um autêntico monumento da MPB, essa autarquia na nossa música também tem alguns álbuns colaborativos interessantes
OBS: para fins da lista de não ficar infinita, vamos ocultar alguns álbuns ao vivo com o Caetano Veloso, porque é capaz do Caetano aparecer mais do que o Gil aqui, incluindo aquele show deles com a Ivete Sangalo 

#1 Não poderia abrir com outro álbum, Tropicália ou Panis Et Circensis (1968)


Tem muito a ser dito sobre esse disco, que eu julgo ser o maior da música popular brasileira, o melhor talvez. Não sei se deu pra perceber né, o escritor do blog é tropicalista, então... kk
Mais do que essencial, Tropicalia ou Panis et Circensis deveria ser OBRIGAÇÃO legal de todo brasileiro.
Ainda vou dedicar uma postagem só para esse álbum 
Informações legais: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé e Gal Costa, ainda contando com o maestro Rogério Duprat, e os poetas Torquato Neto e Capinam 

#2 Gil Jorge Oxum Xangô (1975) - Jorge Ben Jor e Gilberto Gil 



Esse álbum duplo é imoral, imoraaaaal, absurdo, uma verdadeira bomba atômica figurativa na música brasileira, alguém na Philips teve a ideia de fundir Gilberto Gil e Jorge Ben e saiu um espetáculo, verdadeiras feras, bichos do mato soltos na floresta sedentos por sangue, destruindo por completo o estúdio, esse ep é radioativo da tamanha qualidade e suingue que possui, ainda não tive a oportunidade de ouvir inteiro, mas está na minha lista. A gravação mais curta tem 6:01 (Morre o Burro, Fica o Homem), - exceto pela faixa de conclusão. Vocais, instrumentos, a combinação dos dois artistas mais criativos da nossa MPB num disco de uma hora e dezessete minutos. 
Também conta com a melhor versão de Taj Mahal, com quatorze minutos inteiros, a mais linda história de ouvir que até hoje já ouvi contar. 
Ambos cantores em um ápice artístico, esse álbum é um verdadeiro gozo pra quem é amante da música.

#3 Doces Bárbaros (1976) - Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Betânia e Gilberto Gil


O Brasileiro não tem dimensão, não por negligência, apenas por estar habituado com isso, que existe um álbum que conta com: Maria Betânia, Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil, em um delicioso vinil em nome dos Doces Bárbaros, tem comemoração aos 10 anos de carreira individuais de cada um. Sinergia pura, ressalto aqui a versão de Esotérico desse álbum cantada em dueto pela Gal e Betânia, sublime, a melhor já registrada. 
Doces Bárbaros reunidos é algo de dimensão que a gringaiada jamais conseguirá repetir 



#4 Refestança (1977) - Rita Lee e Gilberto Gil



Mais um show ao vivo gravado e mais um reencontro entre tropicalistas uma energia pura que a tropicália pode oferecer, o disco apresenta umas regravações interessantes como a de Odara, uma música que me agrada bastante 

#5 Antologia Samba Choro (1978) - Germano Martins e Gilberto Gil 

Eu não faço ideia do que seja isso, mas existe. 

#6 Brasil (1981) - João Gilberto, Caetano Veloso, Maria Betânia e Gilberto Gil

Os Doces Bárbaros sem a estridente voz de Gal mas com a sutileza e elegância de João Gilberto, álbum produzido pelo próprio. O quarteto baiano apresenta com uma orquestração digna de um filme da disney, algo mágico/fantasioso, algumas músicas bastante terra brasilis precisamente 6 músicas, lp econômico, mas de grande qualidade, talvez essa seja a síntese do João Gilberto.
Sempre me pego ouvindo desse álbum a versão de Tabuleiro da Baiana e a Aquarela do Brasil. Uma coisa linda, dotado de beleza. 

#7 Gil e Milton (2000) - Milton Nascimento e Gilberto Gil 


não parece aquele retrato de família?

Gilberto Gil disse em um canção que se quisesse falar com Deus bastava desligar a luz e ficar a sós, bem, por enquanto Gil não está em contato com o divino, mas teve a oportunidade de fazer um álbum com a autêntica voz de Deus, Milton Nascimento.. A obra tem tempero de blockbuster, grande orquestração, duas estrelas consolidadas, mas toda essa pompa dá um ar de "institucional demais", pra mim, é coisa minha, não é um álbum que eu gosto muito não. 
Enfim, o álbum conta com regravações de Dora, Maria, Xica da Silva e um feat com Sandy&Junior em Duas Safonas 

#8 Trilha Sonora de Um Trem Para Estrelas (1987) - Cazuza e Gilberto Gil


 Trilha composta para um filme do Carlos Diegues, conta com o meteórico Cazuza e Gil, um filme que honestamente não conhecia, será que é aqueles casos de trilha fodástica e filme mais ou menos?(como Under the Cherry Moon) algo a se investigar, talvez eu veja o filme e traga opiniões depois.

Falando em trilha sonora, Gil também participou das trilhas de Brasil Anos 2000, Copabacana Mon Amour, Z: 300 anos de Zumbi e Quilombo

E aí? Conheciam as obras citadas? 

Leia mais...

Lista: 9 versões totalmente inesperadas de músicas famosas

essa postagem não foi aprovada pelo Prince

Disclaimer: Para ouvir as músicas, basta clicar no nome de cada uma delas
 
#1: Prince - Creep,
Para quem não acredita em destino, atração universal e coisas assim, o que explica Prince fazer um cover de Radiohead? Trata-se de uma performance no festival Coachella em 2008, mais uma sensacional de suas performances ao vivo, talvez eu faça um lista só disso.
O melhor dessa história toda é que quando vivo, o Prince mandou retirar todas as gravações dessa versão MARAVILHOSA, por motivos de sabe-lá-Deus, a versão é tão boa que os autores originais autorizaram a reprodução de volta no youtube é sabido que Prince odiava a internet e coisas do tipo, não atoa era bastante difícil de achar seu trabalho nas interwebs, incluindo Spotify que ficou vazio por muito tempo.

#2 Igor Kannario - Força Estranha
De Prince para o nosso querido príncipe do gueto cantando um clássico da MPB, óbvio que foi uma música bastante regravada, mas na versão swinguera, definitivamente é uma coisa que não se vê todos os dias.

#3 Daniela Mercury - Prelúdio e fuga em dó menor, BWV 847
Aliás, para continuar em ritmo do carnaval da Bahia, Bach, sim, o compositor barroco Johann Sebastian Bach sendo tocado em um trio elétrico, é um misto se sensações que me faz ter inveja de quem estava presente lá. 

#4 Só Pra Contrariar - Astronauta de Mármore (Starman)
Tecnicamente seria um cover de Nenhum de Nós, mas é sabido que Starman é uma música do David Bowie, então sendo a melodia sendo composta por ele, termos Só Pra Contrariar tocando David Bowie, e na moral? A versão é muito boa, diferente da próxima música na lista...

#5 Um crime contra a humanidade, crime de guerra e 15 sanções imposta pelas nações unidas
Estou falando da versão do Sambô de Sunday Blood Sunday é relativamente conhecida pelo meme e digo mais, eu acho isso motivo suficiente para a Irlanda declarar guerra ao Brasil. 

#6 Anderson Porto - Tempo Perdido 
Para ser honesto, essa música foi o que levou a fazer essa lista, é incrível, Anderson Porto, conhecido por suas músicas de paredão, cantando a banda queridinha dos circuitos xovens alternativos com 1 mês de violão, Legião urbana! Nota: esses ad-libs do Anderson são muito bom "EITA" UaahhhHOOOW" 
só lembrando que foi a Calcinha Preta que primeiro trouxe tempo perdido pro forró, mas vindo da Calcinha Preta, não podemos considerar inesperado 

#7 Nelson Gonçalves - Ainda é Cedo
Sim, a grande voz dos boleros dos anos 50 cantando Legião Urbana, aliás música que dá nome do álbum onde Nelson Gonçalves canta hits da juventude como Meu Erro do Paralamas do Sucesso e Como Uma Onda com o próprio Lulu Santos. 
Foi uns dos seus últimos álbuns, já que ele morreu 1 ano depois de seu lançamento, com 78 anos 

#8 Zezo - Kriptônia
Grande música do Zé Ramalho na voz do Zezo Potiguar, o príncipe dos teclados 

#9 Xand Avião - Menina Veneno
Pra começo de conversa Xand é muito maior na música do que o Ritchie, então o Ritchie tem muito a agradecer por essa versão, mais do que inesperada é como ela funciona no ritmo de forró!


Leia mais...

Zé Rodrix E A Agência De Mágicos - Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber (1974)


capa do álbum

Informações rápidas 3 de março de 1974
MBP, "Rock rural",notas psicodélicas (a capa que o diga) 12 músicas, 38 minutos
℗ 1974 EMI Records Brasil Ltda Tem nos (na maioria) serviços de streamings: sim!

"É uma orquestra de metais com eletricidade/E é uma banda de rock com facilidade"

Com um azulzinho claro e um amarelo definitivamente foi uma capa pintada a mão, e esse ar de "artesanal" que ela trás é bastante chamativa, na linha do "tom amador" um desenho do Zé parecendo uma divindade hindu, eu apostaria no Ganesha, mas acredito que não há divindade hindu especifica para música, ou melhor, o rock rural, apresentando seis braços tocando diversos instrumentos, ostentando um belo black com uma áurea laranja em volta, uma sunguinha e uma cara, mas uma cara de chapado a capa não é presunçosa, não é a capa mais bela da música nacional, mas com toda certeza está longe de ser esquecível, memorável sem ser clássica nas artes gráficas. 

Ganhesa, divindade de alguma coisa no Hindu 

Vamos combinar, a mitologia hindu, pelo menos em sua parte gráfica é psicodelia pura, amontoado de cores, braços e figuras coloridas deve ter deixado os hipongas da época fascinados, por isso não surpreende a escolha dessa estética para a capa e é bastante harmoniosa com a proposta do álbum.
Fato que me lembra as citações do Grant Morrison em Os Invisíveis (HQ de 1994) da banda Kula Shaker, banda de britpop que tem várias referências a esses misticismos hindu.


Mais o que é um rock rural ora bolas? - disse o leitor
Assim como tudo nessa vida, tudo fora do eixo Rio-São Paulo é regional, com o rock não é diferente, o rock rural pode ser definido como bandas de rock mineiras dos anos 70, a alcunha ficou de fato depois da música Casa no Campo (Eu quero uma casa no campo/Onde eu possa compor muitos rocks rurais/E tenha somente a certeza/Dos amigos do peito e nada mais) de Tavito com o próprio Zé Rodrix.
Em termos musicais, a distribuição dos elementos utilizados é diferente dos demais, não é nem a bagunça proposital tropicalista, nem um rock americanizado da turma do iê iê iê, um ritmo único, mas não com propensão de brasileiro, é apenas um mero rock rural, e nada mais do que isso. São basicamente as músicas de Tavito, Zé Rodrix e Sá & Guarabyra a santíssima trindade (com quatro pessoas) do Rock Rural.
E esse álbum é essencial para entender o gênero.
yep, as palavras chaves como vocês podem ver é psicodelia, rock, mas não é um rock gringo hiponga (nada contra, eu curto algumas bandas) é um rock rural.

Falando do álbum finalmente:

A obra começa com um delicioso riff de guitarra da primeira música que dá nome ao álbum, junto a uma bela mistura de instrumentos, elemento que nos fora dada pela tropicália, a 'orquestração' na música popular foi uns dos maiores presentes que o tropicalismo nos deu, nesse álbum não é diferente, junto ao riffzinho já chegam os metais e bem assim segue a tônica até a última música. Em um álbum, a coisa mais importante é o feeling, neste caso o feeling é daquilo que o rock rural nos trás, algo sutilmente provocativo, jovial e a valorização de alguns elementos do campo, um rompimento com a vida corporativa e cinza que as grandes metrópoles tem daí vem a fonte da psicodelia, essa provocação, essa instigação de "por que você é tão cinza?"  

Talvez por falta de conhecimento meu, mas em relação as músicas variam entre rocks "clássicos" com sutis notas de psicodélico (tipo um órgão e piano) ou baladas (músicas de ritmo indefinido), algumas possuem um belo storytelling que se fosse na gringa, seria chamado de música folk, como a título de exemplo "A Volta do Filho Pródigo"; "Roupa Prateada", "a Roupa Nova do Rei", "Muro da Vergonha".

Em relação a provocação é bem nos limites do que a MBP podia fazer na época, toda tensão política causada pela Ditadura Militar, que caramba, não deveria ser um país muito agradável. Muitas músicas tem um tom profético de "vocês vão ver", "vai acontecer", "algo mais mudar" ou transcrevendo Muro da Vergonha Só vai ter mais um planeta girando envolta do Sol/E a gente dentro dele, isso claro em suingue que só a música brasileira pode produzir.

Zé Rodrix abusa do recurso do refrão repetindo no final da música, algo que implica uma mensagem talvez. As músicas falam de sujeitos não nominados, tipo "você"; "todo mundo";"a gente vai"; "nós" é algo interessante porque é algo perfeito contrário daquelas obras intimistas onde conhecemos os sentimentos melhores escondidos do artista, ou pelo menos, a fabricação desses sentimentos. Esse álbum fala para a geral, expressa sentimento gerais, é um coração aberto e compartilhado que todes estavam sentindo na época, seja de fato a população geral ou esse extrato jovem específico do rock rural, aqui Zé Rodrix consegue fazer a identificação do indivíduo a partir do todo, e não do todo a partir do indivíduo como é o álbum Alucinação (1976) de vocês-sabem-quem, aquele rapaz latino americano sem dinheiro no banco e com uma canção do rádio onde um compositor baiano lhe dizia vocês-sabem-o-que

Esse senso de coletividade que gera identificação (ou deve ter gerado) fica bem explícito em "Noite de Sábado"; "Rock Para Futuras Gerações" E que se a guerra tá batendo lá fora/E a velha bomba vai pintar qualquer hora/A gente ainda tem um refúgio seguro no rock and roll.

O Rock and Roll, não só nesse álbum, mas muito presente na música brasileira dos anos 70 é realmente mostrado como esse lugar de refúgio, esse tal de roque enrow como diz a saudosa Rita Lee já foi um campo melhor utilizado, um lugar de refúgio não pelo seu conforto, mas pela capacidade de provocar, de causar e de chacoalhar os ossos e a mente. Por um rock mais corruptivo e menos confortável. 

Pequena nota de rodapé, mais um artista que possivelmente batendo na bossa nova E é nessas horas que eu canto/Um velho samba-canção/Estragado por pessoas que o ouviram da maneira errada o nome da música é Cadeira Vazia nº2, sendo Cadeira Vazia uma música do Lupicínio Rodrigues, uns dos maiores nomes do samba canção, se não, o maior! A bossa nova também tinha essa mania de readaptar os sambas canções (especificamente o João Gilberto que ficava ressuscitando música dos anos 40).


Outra nota de rodapé é que a penúltima música se chama "Não Perca o Final", e, de fato a última música é a melhor do álbum, mas aí eu não vou comentar ela porque quero que você escute

Para terminar, em questões instrumentais não há nenhuma performance individual que saia dessa levada do álbum, nenhum grande solo ou algum instrumento que se destaquem, a banda faz o seu papel e o faz muito bem, tudo bem encaixadinho e orquestrado com maestria (literalmente), padrão de qualidade dos anos 70, os metais me soam muito parecido com os do Gerson King Combo em seu autointitulado de 1977.

Em aspectos gerais, o álbum é divertido, provocativo, agitado mas sem aquela rebeldia-irritação punk que quer destruir 'as coisa', soa muito bem em um final de semana, uma música leve, pra se ouvir em caixa de som ou fones de ouvidos (eu o ouvi duas vezes, preferi na caixinha mesmo)

E talvez aí more o maior ponto alto dessa obra, a sua última música, tal qual um grande música, seu final é epopeico, sintetizando muitíssimo bem o feeling geral, A Roupa Nova do Rei é algo que para a alegria e leveza do álbum para te fazer pensar um pouco. Um álbum alegre, porém tenso, jovial, porém maduro ao tratar de temas políticos, no limiar do que poderia ser passado pelos censores.  
Promete pouco, entrega mais do que parecia dar, clássico do ROCK RURAL, álbum essencial para entender esse rock mineiro e o rock nacional dos anos 70 como um todo.
Músicas puláveis: Muito Triste, Circuito Universitário.

Melhores músicas: A Roupa Nova do Rei, Muro da Vergonha, A volta Do Filho Pródigo, Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber, Roupa Prateada 

Recomendo para quem gosta de: MPB, Rock psicodélico, Rock dos anos 70, Clube da Esquina.

  • Informações Chatas:
    Lista de faixas

  • Quem Sabe Sabe Quem Não Sabe Não Precisa Saber 2:43
  • Muito Triste 3:44
  • Compota De Cereja 1:55
  • Roupa Prateada 3:24
  • A Volta Do Filho Pródigo 3:07
  • Muro Da Vergonha 3:10
  • Circuito Universitário 3:59
  • Noite De Sábado 3:07
  • Um Rock P'ras Futuras Gerações 2:12
  • Cadeira Vazia Nº2 3:21
  • Os Bons Velhos Tempos (Estão De Volta Outra Vez) 3:33
  • Não Perca O Final 2:45
  • A Roupa Nova Do Rei 0:48

  • Ficha técnica
    Arranjo por
     – Zé Rodrix (faixas: A, B1 to B5, B6b)
  • Arranjo – Waldyr Arouca De Barros (faixas: B6a)
  • Backing Vocals – FrancinetteLizzie BravoMalu BalonaMárcio LottRoberto Corrêa (2)Ronaldo Corrêa*
  • Baixo – José Rosallis
  • Maestro – Waldyr Arouca De Barros
  • Dirigido por (Musical) – Maestro Gaya
  • Bateria – Gustavo Schroeter
  • Flauta, Sax Tenor – Aurélio Marcos
  • Guitarra – Paulinho De Castro
  • Orgão, Mandolin – Elias Mizrahi
  • Diretor De Produção – Milton Miranda
  • Remix – Nivaldo Duarte
  • Sax Tenor, Sax Baritone – José Albino Pestana
  • Sax Tenor , Flauta – Nivaldo OrnellasUratha
  • Trompete – Nilton R. Da SilvaWaldyr Arouca De Barros
  • Compositores – Maxine (11) (faixas: B1), Sá & Guarabyra (faixas: B4), Tavito (faixas: A5, B2), Zé Rodrix.
Leia mais...

A mais lida: