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Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

Ame vilões, não anti-heróis pt. 1


(essa postagem não tem nada a ver com o MF DOOM)

Não tem nada de errado em se afeiçoar por alguns vilões da ficção, realmente alguns são dotados de carisma e essenciais para a história, diria mais: bons vilões podem ter heróis ruins, mas os bons heróis nunca tem vilões ruins!

Se afeiçoar, ou ter um carinho pelo personagem nem sempre significa concordar, gostar de fato ou se espelhar no individuo. 

Aí mora o problema. Quando certos personagens que são criados com a intenção de serem ácido ou críticos a determinado, ou até serem os mais genuínos filhos da puta possíveis, mas acabam sofrendo o efeito contrário, ou seja, tratados como heróis, vangloriados ou até geram uma identificação nas pessoas. 


Antes de mais nada, 2 disclaimers:

1) Isso é um mero artigo de opinião baseado em experiencia anedótica, NÃO É um estudo de caso! E nem pretendo chegar a alguma conclusão de fato aqui. Pense por si mesmo e faça suas próprias críticas, aliás de preferencia discorde de mim.
2) O texto será dividido em duas partes.

Narrativamente, o herói é o ideal, apesar de um pouco atrapalhado as vezes, mas ele está sempre no ideal, fazendo o correto e apresentando os valores que a obra quer. Ou seja, a pessoa que vai resolver a história e solucionar o problema da trama sempre vai trazer consigo os valores (morais mesmo) que a obra quer repassar, como amizade, humildade, sacrifício, tolerância e sentimentos bons. 

Aliás nos contos, mitos ou lendas da antiguidade aquele que é o herói é o ideal, no sentido de ideia mesmo, de um povo, cultura ou religião. Ele é um simbolísmo de algo desejado por aquela comunidade.

Não é incomum que também os heróis sejam amigos do poder (polícia e o governo), eu trato bem melhor disso quando discuto o Homem Animal, recomendo leitura. E quando o herói não está no poder, ele está em busca dele, e sempre apresenta as motivações morais certas, ainda que não sejam as motivações normativas daquele universo ficcional, porque na narrativa aquele que o herói não está aliado carrega a moralidade ruim, e sempre atribuíndo características ruins e motivações para que não se faça alianças. Pra clarificar: Os guerrilheiros intergaláticos (jedis) de Star Wars, eles estão fodendo o governo, e o governo é filho da puta e opressor, então eles tem a motivação moral certa para serem heróis.

Em outras palavras, a história sempre se adequa ao herói, de modo que sua presença ali seja justificada, e não só isso, ele é um agente modificador dentro da ficção criada, o herói vai ser aquele que resolve a realidade. Tendo um caminho de mão dupla, a história é adequada para o protagonista e o protagonista é adequado a história, carregando na sua bagagem todos os princípios necessários para comunicar as intenções do autor. (ainda que meio inconscientes).

Tem a questão de sempre estarem atuando de improsivo, mas ainda assim sempre prontos e quando perdem dão o troco depois. O herói não tem respiro, tá sempre salvando alguma coisa de última hora. 

Dá também pra falar do herói como ideal até na questão de aparência, alguém trincadão, de rostinho bonito, pense consigo quantas figuras monstruosas são vilões das tramas. Isso seria assunto de outra postagem. 

Menciono o Peter do Sam Raimi ficando bombado depois que levou aquela picada gostosa.

O herói é esteticamente ideal, moralmente ideal e narrativamente ideal também, já que toda história tem que se adequar para sua existência. Falei disso quando fiz análise do Batman vampirão, recomendo leitura. 

(É óbvio que apenas descrevi aspectos generalistas, essas convenções são quebradas e questionadas o tempo inteiro. Se você lembrou de alguma exceção, ela apenas confirma a regra.)

E os vilões? O vilão é o invasor da história, díficilmente está adequado com a média dos outros personagens, sendo um nível abaixo (ou cima, se o vilão for uma bigtech). Os vilões também tendem a ser destemidos, sem escrúpulos, sádicos e cruéis. Suas motivações nunca são muito claras e ainda quando ele explica seus planos é sempre motivado por coisas mesquinhas, como dominação mundial, ego, dinheiro ou qualquer coisa que, para os padrões morais da obra, são supérfluos. Um grande vilão clássico: Goldenfinger do 007, ele só quer roubar a maior reserva de ouro do mundo, nada além disso.

Além de terem traços detestavéis, como traidores, trapaceadores, infiéis, passionais (SIM, o discurso iluminista tendo a valorizar escolhas "mais racionais" do que pessoas impulsivas) e quase nenhum dos seus atos não justificados, sempre são injustiças, por mais que tenham razão, ou um fundo de razão, não conseguem organizar um pensamento racional e buscar real solução dos problemas. Em outras palavras, os vilões são incapazes de solucionar, nem trazer a mensagem necessária que a obra quer. Pelo seus traços morais tortuosos. O melhor exemplo disso é o Magneto, que apesar de estar certo na estúpida maioria dos casos, nunca apresenta uma solução de fato (apesar de eu considerar o Magneto mais denso do que heroi x vilao, ja falei daqui).

Esse papo de ideais, beleza superior, solução final, enquanto os vilões são feios, deformados e imorais me lembra uma certa ideologia e uma teoria de um barbudinho inglês muito famoso. 


Outro tipo de vilão é o puramente diabólico, eles não tem motivação, nem objetivos, só praticam o mal desenfreadamente porque podem e porque querem, sem razões para isso. Além do próprio diabo, um Coringa BEM FEITO é o exemplo de vilão diabólico pra mim. Ele não tem história de fundo, sem traumas, sem nada que motive ele a fazer o que faz, apenas o puro agente do caos - sim, existens algumas histórias de origem do Coringa, mas elas não agregam tanto ao personagem na minha opinião, o ar de mistério sobre o princípe do crime é melhor. Esses vilões passam mais a sensação de invasores, como um objeto de perturbação da ordem, só pensar como existe a porra de um palhaço raquítico de 1,96 metros de terno roxo rindo o tempo inteiro. Esse elemento do riso do Coringa é bem diabólico, ele não tem motivo e sempre envolve um mistério por trás, exceto as histórias que tentam justificar que na minha opinião nem são boas. (cof cof Joker 2019 e Piada Mortal)
(É óbvio que apenas descrevi aspectos generalistas, essas convenções são quebradas e questionadas o tempo inteiro. Se você lembrou de alguma exceção, ela apenas confirma a regra.)

Nesse tópico de perturbação, acaba por criar vilões queers, como já conhecido o fenomeno queer coded villains da disney, porra Ursula é cópia da Divine, uma das drag queens mais famosas na história, porque os antagonistas são tão descolocados do universo que fazem parte ao ponto de também estarem fora do ideal de gênero também! E essa é minha primeira hipótese de porque amamos vilões:

Com o passar dos anos, os valores sociais mudam. Aquilo que era imoral a pouco tempo passar a ter mais aceitação, pelo menos para determinado grupo. É o caso dos vilões da disney, eram feitos para representar aquilo de "pior", só que o pior é a gente e sempre nos simpatizamos com os nossos. Da mesma forma que os heróis são feitos mais dentro de um padrão para agradar a maioria do público e cativar o carisma dos expectadores, não atoa, existem tantos policiais que são heróis, principalmente na DC. O bias do autor nem sempre vai prevalecer por todo sempre, e é até engraçado imaginar como determinados vilões que são caricaturas para serem maus acabam revelando bastante carisma ou até começa-se a questionar se ele é tão ruim assim...

Segunda teoria, esse é um pouco mais óbvio: vilões aparecem muito menos do que heróis, então é de se criar uma certa expectativa do que aquele sujeito vai planejar, até porque na maioria das histórias o antagonista só aparece nos momentos cruciais, porque não tem construção de personagem, então os heróis que estão pelo processo de descoberta do que irão fazer há vários momentos de "encheção de linguiça", oscilando mais, naturalmente. É até uma questão lógica, se determinado personagem aparece menos na trama, ele tende a ter menos pontos baixos, até por aparecer sempre em climax, grande batalha final ou momentos cruciais da trama. Não atoa o Darth Vader é uns dos personagens mais aclamados da ficção, se o Luke fica pegando a Princesa Leia, o homem só aparece para tacar a porrada em geral, com aquela trilha sonora épica.

se você reconhece esse meme...

Terceira teoria: alguns vilões são simpáticos por serem falhos, mais humanos. É até um pouco contraditório falar que os piores personagens são os mais humanos. Segue a linha do pensamento. Enquanto aquele escolhido da narrativa tem tudo o que quer, o vilão tende a ser isolado, falho, odiado injustamente em alguns casos e apenas toma algumas escolhas erradas, o que é plenamente plausível, oras, ninguém é perfeito. Tem bastante obra consciente disso, principalmente as infantis as quais se dedicam a explicar o "passado do vilão" e daí todo mundo passa a entender o seu lado, apesar de não deixar de cumprir o papel de vilão que expliquei acima.

Assim, eles experiementam emoções humanas reais (inveja, frustação, ódio, desilusão), ao invés das ideações virtuais que os heróis passam (triunfos, glórias, orgulhos). Os sentimetnos dos vilões são reais, palpáveis, enquanto o herói vive de utopia. 

Por último e menos importante, estética. Pelo que apresentei que os vilões precisam ser esteticamente desalinhados você tem a produção de figuras mais interessantes do que homens bombados de collant, de uma certa maneira há mais liberdade criativa para se pensar no visual dos vilões e tudo é sempre exagerado, fica uma beleza. Nunca teríamos heróis como o Doutor Destino, Duende Verde, Thanos, Juggernaut, Darkseid, Dr Frio sei lá o homem calendário... AQUELE BONECO DO BATMAN!

acredito que o nome dele é Scarface

Visualmente, na maioria dos casos (minha opinião) eles são mais interessantes do que os velhos e batidos collants, que também adoro, não sejam por isso. 

Assim, acredito que dá pra finalizar por dizer que um fascínio por vilões da ficção é um movimento plenamente razoável, algumas obras se utilizam disso, principalmente novelas, onde a grande vilã má sempre precisa de muito mais carisma e personalidade do que a coitadinha da personagem principal. Quem não gosta de Raquel, Carminha, Nazaré, Odette Roitman e dentre outras? Os antagonistas são ponto cruciais na história. 

Pacificado esse ponto, há um grande problema quando o personagem não está bem colocado narrativamente entre um herói e um vilão, fazendo que ganhe a popularidade errada, é um fenomeno totalmente diferente, será que a culpa são dos autores ou da audiência? Saberemos na próxima postagem, então fique de olho no Marginália 3!

Aguardemos cenas do próximo capítulo...




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