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Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

E se o Batman fosse vampiro? Batman - Trilogia de Sangue de Doug Monch & Kelley Jones (1991)


Amadurecer é perceber que Piada Mortal não é nem de longe a melhor história do Batman. 

Resenha com alguns spoilers!

Não é polêmico para ninguém dizer que as histórias do Batman tem um histórico de roteiros fracos, principalmente nos quadrinhos. Meio que Batman sempre vende muito, e os fãs notórios do morcegão estão mais atento a perfomance/maneirismos do que de fato o emaranhado de tramas. Só pegar as histórias que são elencadas como 5 melhores, parecem ligar apenas para o fator de vendas porque tem cada uma, melhor deixar baixo.

Tem outro fator, dos anos 90 pra cá (na verdade Batman pós-Frank Miller) ele entrou numas aventuras estranhas, cada vez mais violento e mais solitário, como diz o geek médio "BATMAN BOM É O QUE MATA!!!" esse senso comum está muito atrelado ao sucesso comercial que o revival do morcego teve nos anos 90, por conta dos inúmeros jogos, filmes, animação e obviamente: quadrinhos. 

Particularmente, não gosto dessa pegada dita como séria/adulta/meio emo do Batman. 

Nesse contexto CAVERNOSO (se me permitem o trocadilho) é que nasce a trilogia de sangue, na ideia de repaginar o herói, que era muito mais brincadeira do que traumas. Se vocês foram lembrar das histórias dos anos 50-70.

Batman o Bravo e o Audaz #85 do Neal Adams e Dennis O'Neil

E a cada novo trabalho noventista, com sucesso ou não, cada quadrinista tentava dar a sua interpretação do Batman, ou apenas imitar o Frank Miller copiosamente (cof cof Longo Dia das Bruxas) o que Monch e Jones trazem de novo para o Batman? Iremos descobrir agora. 

1. Desenhos
Primeiramente, como rito do Marginália 3, observos a questão gráfica: Kelley Jones é um quadrinista bastante famoso por essa HQ em específico, seu traço é sujo, tenebroso e tem um carater meio de monstruosidade, brincando bastante com proporções e forma do corpo. Definindo muito bem seria algo GROTESCO,  consegue tirar uma expressividade e movimento, casando muito bem com a proposta que conta com muitas cenas de porrada seca, saltos entre prédios e planagens de capa.

A sequência de ações mescla o estilo mais cinemátográfico (como closes de rosto e cenas SPLASH!) com algo mais próprio dos quadrinhos (como contar duas narrativas na mesma página) sabendo oscilar muito bem entre momentos de mais corridos e momentos mais dramáticos. Ou seja, não se demora nas cenas de ação, nem passa voando nas cenas de drama. O layout é bem conservador com poucas quebras de "barra branca" nem inventa layouts tortos, tudo retinho e segmentado.

Tudo isso só pra abrir um bueiro

Tudo é muito exagerado, emocional, pesado. Aquele quêzinho de novela mexicana com temática gótica. Nesse tema, há bastante ornamentos tipo as das gárgulas, a presença de muitas cenas no esgosto e arquitetura que me lembra de relance a versão do Tim Burton do Batman, MAS não fizeram o erro de pintar ele de preto. Por falar em cores elas entregam uma mistura sombria sem ser escura, rola uns constrantes, uma presença muito forte de roxo e umas estilísticas que deixam a coloração "suja", mais ou menos é um tom pastel invertido, no lugar de ser leve e desaturado, utiliza a saturação para entregar algo mais denso. PORÉM, sem nada que precise apertar os olhos para ver. 
Se ficou confuso, só pensar em qualquer álbum do The Cure, é nessa pegada. Apesar de muitas cores, é bastante sombrio.

Achei Chuva Rubra muito melhor elaborada no quesito artístico, já a segunda parte da trilogia que é Tempestade de Sangue a coloração e traços deixa muitíssimo a desejar... Pelo menos no scan que li.

Refaço minha colocação, talvez por um prazo mais apertado a questão técnica, em anatomias e formas cai em queda livre. Atrapalhando na intepretação de algumas cenas, mas... Quando é pra valer mesmo, as cenas chave, não deixam a desejar em nada. Kelley Jones pelo menos não falhou na hora errada.

Mesmo com a presença de cores fortes como amarelo, a composição continua sombria em Tempestade de Sangue. 

Belíssima composição de cores

Vou cornetar o Kelley Jones, tem o seu estilo, que ok, é mais grotesco, umas "erradas" ou "exagero" são toleráveis, mas tem umas cagadas de anatomia que não dá... Principalmente esse close supersexy na Selina Kyle, que tinha acabado de sofrer um ataque que poderia ser interpretado como tentativa de estupro... Enfim, eis a cena:

"ainn que delisiã, cair num rio de noitinhaaa"

Queria eu cair no lago PODRE de Gotham e sair pleníssima assim. Quer dizer, nem tanto... do que jeito que tá torta no primeiro quadro. O segundo quadro está até aceitável, de qualquer jeito a sexualização bizonha de qualquer personagem feminina é um problema crônico, nem dá pra falar em erro exclusivo aqui. Forçando a barra, a mulher-gato sempre teve um componete sexy, MAS DEPOIS DE SER ATACADA NÃO DÁ PORRA!

Outra coisa que o Jones peca muito são as partículas de sangue, além de mal desenhadas, na coloração fica parecendo calda de chocolate, aquelas de sorvete mesmo. 

Help me a help you

Lembrando sempre de culpar o patrão, existe apenas a remota possibilidade dos editores da DC colocarem aquele prazo no talo, o que dificulta a criação artística. Mesmo assim não carece de boas ideias, talvez se Kelley Jones se entregasse mais e confiasse no próprio estilo poderia sair algumas coisas interessantes, por mais que abstratas em alguns momentos.
No geral, é um trabalho na média do que os quadrinhos entregam, tendo alguns momentos de absolute cinema e outros de Rob Liefeld. Não irá estragar sua experiência com a obra, aliás o bom roteiro e a história envolve te faz ignorar algumas questões. Pois então iremos falar do bonito:

2. Roteiro

Essa vai para aqueles fiscais de fidelidade que fica em cima de qualquer adaptação que mude a menor coisa possível dos quadrinhos, o Batman do Doug Monch não é um garoto de oito anos que não cresceu, nem um investigador perfeito, ele é um completo lunático que se acha moralmente superior aos determinados "vilões" só porque ele não mata. Não matava, nessa ele mata. Então o Batman aqui está mais para PM do que Sherlock Homes. Aliás, Monch quebra algumas "premissas" básicas de qualquer história do Batman, em outros termos é o seguinte: No imaginário nerd geral há uma imagem do Batman, há uma imagem do Homem Aranha, há uma imagem dos X-Men que são um ponto de convergência das histórias mais lidas, na verdade um tipo de "sumário" do que aquele personagem é. Nem sempre, em verdade, representam de fato o "espírito" do personagem, o que importa é que ele existe.
No caso do Batman (por ser um personagem de muitas mãos em cima e muito antigo) é um pouco mais díficil de definir, mais ou menos seria um ricaço traumatizado que faz vigilância numa cidade muito caótica, e é um herói "sem poderes"* que trabalha mais de investigador na maioria das vezes.

*Apesar da premissa do Batman é não ter superpoderes ele notoriamente faz atividade que são muito além do que qualquer ser humano, e isso está presente em qualquer mídia do herói, então... Eu mesmo nem considero muito isso aí.

Vamos partir do princípio: O primeiro título trilogia, Chuva Rubra se passa em um mundo alternativo, onde a data não é específicada e nem nada sobre o Batman é apresentado, salve engano os seus pais sequer são mencionados. A história é direta: vampiros estão atacando Gotham City e há todo um arco, que envolve alguns delírios do Bruce (nada novo) sobre a investigação do que porra está acontecendo, um procesos ceticismo inicial e uma completa desilusão sobre o futuro de Gotham, essa parte é mais comum ao Batman. 

Todo o resto da premissa é totalmente corrompida do arquétipo que se é atribuído ao Batman, algo que ajuda o Monch a criar e elaborar o que bem entender, mas ainda assim, apresenta umas das mais autênticas histórias para se entender o morcegão, mas chegamos lá depois... 

O Batman não parece muito motivado em descobrir que porra está acontecendo, o sentimento é desespero, até porque abrange coisas até sobrenaturais que não é da compreensão humana, então se vê obrigado a precisar da ajuda de uma terceira pessoa que passa informações sobre a mitologia dos vampiros, Ariane:

Nessa parte, é tudo do normal convencionado sobre Vampiros dos anos 90, termos vampiros e caçadores de vampiros (que são vampiros), além de um debate se os vampiros são naturalmente ruins ou não. Sol, estaca no coração, visual de rave. Nada a acrescentar em relação a isso.

Eu arriscaria dizer, que essa é uma das versões menos inteligentes do Batman, não que ele seja burro, mas a história em momento algum retira dele alguma sacada genial ou solução de um grande mistério, até porque como mencionei, o mistério aqui é impossível do homem compreender, são questões quase mágicas... VAMPIROS!

O Batman desmonstra fraqueza por lidar com algo totalmente sobrenatural, afinal estamos falando do Drácula, que está "colonizando" Gotham City, no primeiro quebra pau entre os dois Batman sai de uma situação quase morte, assim como inúmeras histórias pós-Frank Miller, ele toma um coro e sai todo quebrado... Precisando de uma transfusão de sangue para continuar a viver... Justamente de uma caçadora, e aí que a história da trilogia começa de fato! Dá pra falar em termos filosóficos que a transfusão de sangue de um vampiro para o Bruce Wayne é a decretação da morte do Bruce, que inclusive tem uma das melhores representações visuais dele que já vi:


O término de Chuva Rubra decreta a morte do Bruce Wayne para a transformação completa dele no Batman, nesse caso em sentido literal. Olha o significado tá fácil, o "man" de Batman se foi, ao passo que ele vira uma criatura de fato. Isso fica muito claro quando ele decide detonar a batcaverna que estava virando um antro de vampiros, a Mansão Wayne tradicional casa de uma família e certa forma única coisa símbolica que seus pais deixaram de herança (além dos bilhões* de dólares).

*Só por curiosidade, Bruce Wayne não é mencionado como bilionários, mas "apenas" multimilionário nessa HQ

Como havia dito, a motivação inicial do Batman não era a clássica vingança, era mais um senso de urgência batendo na bunda pelo alto números de vítimas do que parecia um serial killer, lidar com bestas de outro mundo e ainda um sentimento de impotência, porque dessa vez seus inimigos não eram apenas alguém com doutorado que tinha ficado maluco, mas VAMPIROS serem imortais, dificultando a vida do (de ofício) morcegão. O tema Batman broxa, quer dizer, impotente dá pra decretar que é a marca registrada de suas histórias mais sombrias, em algumas ele é só mais um expectador do que sujeito ativo do processo (exemplo: Batman O Messias) mais ou menos igual ao cliché do superman fia da puta.

Essa quebra de paradigma estabelecido é sutil, Batman passa a se mover por vingança contra o Drácula quando Tanya (só uma gostosa vampira-caçadora que aparece exclusivamente para MORRER) morre nas mão do vilão, e agora o Batman (também quase-vampiro) precisa enfrentar o líder do covil.

As apostas feitas são conservadoras, estabelecendo e retirando seus próprios "conceitos novos" da história, seu trunfo principal é a condunção e construção do ambiente gótico que é muito bem feito, apesar de totalmente diferente daquela Gotham de prédios comerciais enormes, aqui termos ruas estreitas e casas menores. Inclusive depois da explosão passam a morar em um tipo de apartamento. 

Ou seja, mesmo com o Monch corrompendo a premissa do personagem, o seu movimento não é tão disruptivo assim, porque acerta na personalidade do Batman mesmo em contextos diferentes voltando a aquele velho Batman que todos nós conhecemos (mais ou menos). Pense em um movimento de pesca, por mais longe que a isca vá, ela sempre retorna ao pescador.

Sem nenhuma grande surpresa, Batman consegue matar o Drácula num sangrento duelo fechando em três capítulos a primeira parte da trilogia.

Só que a paz está longe de pairar sobre Gotham, porque os problemas só estavam por começar...

Batman bestializado, mas ainda Batman!

Ninguém sentiu a estranheza de nenhum dos personagens clássicos do Batman não terem sido mencionados aqui? Porque nenhum de seus vilões está presente em Chuva Rubra, os escritores do Batman sempre acham um jeito de encaixar o enorme leque de vilões nas histórias não é? O começo da segunda parte não é diferente, na verdade aparece todos o que gera aquele panteão desnecessário que nem vale a pena mencionar.

Para gozo de todos os nerdolas que adoram o Snyder, esse Batman mata! Em Tempestade de Sangue Batman, que se declarou como morto, no maior modo animal possível, decide sair matando vampiros a rodo, seguindo o legado de Tanya.

Pokas ideias mermo

Ué? Onde vai parar aquele dilema moral do Batman não matar para não se equiparar aos seus inimigos? Na cabeça dele, ele ainda está presente da seguinte forma: apesar de ele matar, ele não é um vampiro convencional porque não se alimenta de sangue, sendo um vampiro puro santo anjo do senhor.

Isso sintetiza muito a ideia de Batman na minha opinião, porque aquele clássico meme "Batman não mata, mas manda pra UTI" é a mais pura verdade. Se for colocar numa pespectiva que está presente em inúmeras histórias, Bruce Wayne é mais um problema para Gotham do que uma solução, mas as vezes é encarado como um mal necessário por estar colaborando do lado certo da história, nesse caso o HONESTÍSSIMO Comissário Gordon, ou seja... Batman é mais ou menos um PM ou um esquadrão da morte grupo tático operacional como o BOPE, que apesar de exagerar algumas vezes, continuam certos independente de qualquer coisa. Até porque é o vigilante cruel ou um palhaço colocando veneno no reservatório da cidade, mas até que ponto o Coringa é realmente pior do que o Batman?

Vamos racionar, mesmo o Batman não ""matando""* ele não ajuda em nada na diminuição da violência da cidade, já que seu serviço de vigilância truculenta só instaura o caos e medo nas ruas, sentimentos que não são nem um pouco almejados. Exceto pelos governantes, que tem muito a ganhar com o medo geral instaurado na cidade. Onde quero chegar com esse pensamento é: matando ou não, as meras razões morais do Batman não justificam seus atos tenebrosos e o Monch consegue deixar esse fator presente até de uma forma irônica, quando em determinado momento o Batman diz que "Não toma sangue" e um personagem que me esqueci o nome diz "mas derrama bastante".

*Minha gente, estamos em 2024, dizer que o Batman não mata é uma piada né? Até nas histórias infantis ele dá uns porradão que ia derrubar qualquer cristão mais firme na fé, além de outras que o batmóvel atira de metralhadora, joga bomba, taca bazookada ou ele anda de TANQUE. Eu diria melhor que o Batman não executa a sangue frio suas vítimas, isso é verdade, mas matar... Tem uma rapaziada que foi conhecer o Maradona mais cedo... 

E esse do Doug Monch não é motivado por trauma, vingança nem nada (seria uma pretensa moralidade mais comum que nem vale o debate), em Tempestade de Sangue é uma pura força maligna que voa pela cidade com sede de sangue, por mais que negue isso. 
A sede de sangue não tem sentido apenas figurado, o Batman passou toda história apenas se alimentando por um plasma que é um simulacro de sangue, aos poucos vai ficando cada demais mais fraco ao ponto dele não se sastifazer mais.



 Isso serve como alegoria para o Batman convencional, ele tem pulsão por violência, ele tem o genuíno desejo de matar, mas não o faz por amarras morais baratas, que passam longe de justificar sair de vigilante pela madrugada (OBVIAMENTE isso vai depender do autor que estar escrevendo o herói) e ainda, toda narrativa as vezes apresentada justifica sua própria existência, como apresentar poderes corruptos que não conseguem controlar Gotham. Basicamente, as histórias do Batman giram ao seu redor, não só o roteiro, mas como todo universo conspira ao seu favor (ou contra ele). Podemos falar de um Batcentrismo?

'Defeito' que não está presente nessa segunda parte, Batman é um MANÍACO que precisa ser controlado, ele só não tomou o lugar do Drácula como se tornou alguém PIOR do que o outro vampirão.

Resumindo a ópera, matando ou não matando, o Batman continua o mesmo, Doug Monch consegue sintentizar muito bem os debates presentes no personagem mesmo o corrompendo por completo,

Bem, por falar em moralidade, só existe um personagem capaz de tirar o Morcegão com Daddy Issues dos eixos, o Príncipe do Crime! O Coringa!

Cortando caminho, o Coringa tá sensacional aqui. É o único personagem comum do Batman bem introduzindo na história. Seu plano é assumir a legião de vampiros desamparados pelo Drácula, que estão sendo vítima do HOLOCAUSTO feito pelo Batman para tomar a cidade. Tomar na verdade o submundo do crime, porque ele transforma todos os maiores chefões da máfia em vampiros também, fazendo uma isca pro Batman. 

Enquanto o morcego aluncionado mata a rodo, Coringa ia tomando conta de tudo. Ou o plano do Coringa era matar o Batman mesmo, nunca se sabem as intenções peversas dele...

Nesse meio termo Selina Kyle é atacada numa cena rídicula por um tipo de lobisomem, virando um tipo meio lobo-meio gato, mas a história é tão foda-se para essa parte mitológica que eu faço questão de pular. A função da mulher-gato-lobisomem é fornecer closes de bunda e morrer lá perto do final.

Também vão aparecendo para ser mortos outros vilões do Batman, como o Espantalho, Pinguim, Crocodilo e o Charada? É o velho problema de colocar os vilões só como um adesivo na página sem profundidade nenhuma. 

De qualquer forma, a sede do Batman vai aumentando a cada página, seu desespero vai ficando mais evidente, ele está doidinho por uma mordida no cangote de alguém. Com isso aos poucos vai se apegando a mulher-gato em um verdadeiro affair (fica tão gritante que ela vai morrer também). Todo esse arco, apesar de alguns tropeços é muito bom de acompanhar e a história continua sendo, apesar de contextos diferentes, bastante fiel a personalidade e a ideia de Batman e universo Batman. 

Porque o Coringa é a única pessoa a tirar o Batman do sério, a ele quebrar seus próprios dilemas morais baratos que acredita tanto. Aqui não é diferente, pra variar, perde seu segundo par romântico e chegar a chorar! Coisa que poucas vezes vi nos quadrinhos... (não leio tanto Batman pra ratificar essa informação). 

Fazendo que o Batman chegue ao seu limite psicológico, igual ao fim de Piada Mortal, mas como essa HQ é melhor escrita do aquela-lá, não tem um final ruim. Finalmente consegue pegar o Coringa e o final apesar de previsível, surpreende por sua construção. Morde o pescoço do Coringa e toma seu sangue...
ISSO é uma verdadeira cena clássica

PECADO é a palavra, Batman não consegue conviver com o sentimento de culpa, da mesma forma que não lidou bem com seu desejo reprimido (falando assim até parece que comeu a bunda do Coringa).Percebendo que toda sua luta foi em vão, vampiros ainda existem, o crime ainda está a solta e pior, talvez ele mesmo fosse o responsável direto por toda bárbarie.

Ao final de tudo, pede que Alfred enfie uma estaca no seu peito, terminando trágicamente o segundo arco da história.

E aí na terceira parte (Bruma Escarlate), que é dividida em dois volumes começa tão mal, mas tão mal que nem vale a pena terminar de ler, sinceramente. Em termos: Alfred se vê desesperado com o aumento da malandragem em Gotham e decide reviver o Batman, caindo no problema do Batcentrismo que defini mais cedo. Sinceramente? Monch e Jones parecem jogarem tudo de diferente construíram nas outras duas partes. Um pouco dessa decadência já começa em Tempestade de Sangue e se perde totalmente depois. Então vou sumariamente ignorar a terceira parte.


Resumo da ópera:
Como comecei o texto, o Batman tem um pesado histórico de histórias mal escritas. Nem a Triloga de Sangue conseguiu escapar.

De qualquer maneira, vamos falar de seus valores: Retirar o personagem principal do seu próprio passado e localidade não é fácil, aliás deslocar o mesmo personagem de todo o contexto que justifica a sua existência, Doug Monch consegue trazer um imenso desconforto para o Batman, ao ponto dele está totalmente deslocado em sua própria HQ que leva seu nome. AINDA ASSIM consegue extrair a nata de sua personalidade e uns dos debates presente se ele deveria ser mais carinhoso ou não com os capangas do Pinguim.
Não carece essa HQ, em seu pontos altos, de personalidade. A estética gótica é muito bem acertada na medida, mesmo que o Kelley Jones não seja uns dos melhores, entrega um projeto nos limites de sua técnicas, sólido.
O projeto se perde, tanto na estética, tanto no enredo quando abandona a si mesmo em suas pretensões inicias. No final de tudo, Batman deixa o Doug Monch deslocado.

Vale a pena ler? Acredito que sim.
E passem bem longe de Bruma Escarlate. 







Leia mais...

Pabllo Vittar - Batidão Tropical Vol. 2 (2024)

 


Informações quentes: 
9 de Abril de 2024
14 músicas, 34 minutos
Forró, Brega, Tecnobrega, Melody, Piseiro a peste e o caraio tudo 
Sony Brasil

Se recuperando de uma tal Noitada que virou flop busca inspiração na sua raízes (de certa forma uma zona de conforto) Pabllo Vittar continua o projeto Batidão Tropical três anos depois do primeiro título e na boa, estamos em abril e já é o melhor álbum do ano. 

Pouco antes de falar do álbum eu preciso dizer que sou fã, muita fã, da Pabllo por um valor que prezo muito nos artistas que escuto: conseguir trabalhar em qualquer ritmo/gênero. Assim como o Prince, que é bastante próximo ao funk no começo da carreira e depois consegue cantar qualquer coisa, Pabllo Vittar tem essa qualidade parecida, ela se sai muito bem em qualquer coisa que se proponha a fazer, não é um indicativo de ser "melhor ou pior" (vamos parar de pensar tudo em ranking) apenas uma característica que me agrada bastante, então tenho mais facilidade em digerir tal projeto. Mesmo em zona 'habitual' entrega e ousa a apresentar determinada coisas, mas vamos com calma. 

Antes de mais nada, em nossa ritualística padrão, havemos de falar da capa primeiro. Com menos cores do que o primeiro título, mas mantendo o mesmo calor tropical presente, tonalidades quentes, uma paleta de cores bem discreta comparada a discografia da drag fontes bem blocadas e tímidas em vermelho com um "tropical" cursivo com um degradê entre o amarelo e o vermelho, bem ""anos 80"" o que nos indica um apelo a nostalgia, fato que pode ser observado com o "selo" de volume 2 no finalzinho do nome do álbum. 
Essa fonte cursiva misturada com texto blocado bem centralizado em cima do CD é um clássico das bandas de forró do período, isso denuncia a intenção de nossa querida Pabllo ao apresentar essa capa. A inspiração é mais "forrólesca" do que brega nesse caso.

Como em algumas que mostrarei embaixo: 

Clássico.

Pabllo bebe bastante dessa banda, falo depois

A capa da Magníficos também tá presente o degradêzinho, existe outros milhares de discos com mistura de fontes e cara, peak of design, termos que admitir. 

Resumidamente, a capa apresenta o mesmo calor do primeiro batidão tropical, mas dá alguns indicativos bem claros e consegue "atualizar" a estética do forró do finalzinho dos anos 90 comecinho dos anos 2000 sem parodiar nenhuma banda e ao mesmo tempo sem fazer algo genérico e sem personalidade, tem personalidade e tem apelo a saudade ao mesmo tempo.

Saindo inclusive em uma espécime de "revival" de algumas músicas consideradas retrô, fenômeno conhecido como báu pelas bandas antigas e contando com regravações ou até ressucitação de estilos praticamente mortos, como as músicas de vaquejadas (tipo Kara Véia) que voltaram a ganhar popularidade com Tarcísio do Acordeon, João Gomes e outros cantores que bebem dessa fonte. 

Esse último parágrafo resume tudo que eu tinha pra falar desse álbum, então é uma bela de uma capa que transfere precisamente o que o album precisa. Então assim que arrochamos o dedo no play vem...

Uma bela guitarrada de Pra Te Esquecer uma música do Calypso Algumas coisas presentes nessa música vão se estender ao resto do projeto, termos a clássica batida desse brega-pop (tipo Calypso**) com uma bateria bastante presentes, instrumentos de sopro, aquele guitarra mastigadinha com harmonias curtas e estrofes pequenas, o riff dos instrumentos de sopro são bem chicletinhos e precisamente todos os elementos da música da época.
** Eu NÃO SABIA que essa música era da Banda Calypso, descobri revisando o texto, então mesmo sem saber que era uma música regravada, ela me passou a impressão da música do período. Puxa vida... 

Não entendo NADA de brega paraense, mas aos meus ouvidos seria algo entre o "pico" do gênero, que é no período metade dos anos 2000 até o estourar dos anos 2010 (ou seja uns 2005-2012), só que com um porém, um polimento melhor na sonoridade até porque Pabllo tem muito mais recursos de produção hoje em 2024 do que essas bandas da época. Também um elemento bastante interessante na forma de cantar, não tenho outras palavras a não ser mencionar que ela "canta gemendo" (por mais hilário que pareça, não tem termo técnico para isso) o que também é beeeeem comum para as bandas do período, ao que me parece, um pouco abaixo do seu tom habitual que se aproxima melhor da voz da Joelma. 

Depois vem Idiota (música inédita talvez?) um tipo de forró atual (estilo Mari Fernandez, Fabinho Testado), um piseirinho bem básico sobre sentar em ex, nada diferente do gênero. Te falar, não que o arranjo do Mataderos tenha ficado ruim, mas se fosse uma seresta ou na pegada mais arrocha mesmo, acredito que ia dar um caldo muito mais palatável (pra mim) do que essa pegada de piseiro. Vou esperar sair a versão do Unha Pintada (cantor de arrocha daqui de Sergipe) para dar uma opinião melhor. 

Agora, Pede Pra Eu Ficar que é uma versão "traduzida"(na verdade brasileira mesmo) de uma música da Roxette (essa aqui) a senhora Pabllo Vittar entregou TUDO, foi o primeiro single lançado lá pra dois meses atrás e eu fiquei sem acreditar. A primeira coisa que veio a minha mente foi "caralho ela imitou aquela bandas de forró antigo" daí ela lança um álbum com estética de forró(e brega) antigo, isso é tudo que preciso dizer.

Ao traduzir uma música de tiozinho dos anos 80 Pabllo desmontra suas credenciais e entende perfeitamente o tipo de público que quer antigir com o projeto, é uma demonstração perfeita da estética que está visando sem precisar parodiar ou fazer uma caricatura de uma banda determinada, com o aportuguesamento fica evidente que é uma pessoa que ENTENDE claramente do assunto e tem propriedade para brincar com o gênero. 

Essa música poderia ter sido lançada, sem mudar uma vírgula da letra, pela banda Noda de Caju, Baby Som, Forrozão Tropykalia ou até Calcinha Preta ou seja, é a perfeita continuação do trabalho artístico feito no perído, uma continuação, um prosseguimento do legado de um gênero tão popular em nosso nordeste, é um passo a frente, sem pretensão alguma. 

Esse é erro muito comum de representação da cultura nordestina mídias a fora, inclusive em algumas feitos por alguns nordestinos (não vou querer mencionar aquele álbum tosco da Juliette). Na verdade uma série de erros, o primeiro é a caricatura, puxar só cacto, sertão, seca e chapéu de couro, não que esses elementos não façam parte da cultura nordestina, mas eles são mais efetivos para compor um personagem do Zorra Total do que um reconhecimento do nordestino nessas figuras. O outro elemento que se peca bastante é a paródia, a quase imitação de algo que já fez sucesso por aqui e daí fica algo meio tosco, forçado e pouco convincente, que na minha opinião entra o filme Bacurau (2019) um tipo de paródia de cidade pequena, que não me pegou legal. Continua sendo um filme decente. Alias tem bilhões de cidades fictícias na mídia tipo Bacurau. 

Longe de mim julgar produções que tentem reproduzir determinado período histórico (nesse caso o forró dos anos 2000) ou culturas como um todo, aliás uma tão complexa e rica como a nordestina até porque são NOVE estados, é um trabalho díficil, onde muitos se trupicam, mas quem consegue exercer com precisão sempre se destaca e ganha reconhecimento, do mesmo vale para a série Cangaço Novo, que tem uma resenha aqui nesse blog. 

Já que mencionei a obra, ela tem as mesmas valorações que Pede Pra Eu Ficar, faz o simples que dá certo, e as vezes a simplificidade consegue abarcar todo contexto cultural necessário e toda carga precisa para entender alguns temas, é o caso da música aqui, uma simples versão brasileira que só quem nasceu no nordeste ou viveu aqui no período sabe reconhecer a beleza e os objetivos da música. Acerta em cheio e puta que pariu QUE SAUDADES de músicas gringas traduzidas, melhores do que as originais, diga-se de passagem. 

Todo o exposto sobre o nordeste que apresentei aqui, se faz presente no brega que a Pabllo Vittar trouxe no álbum, mas estes tenho pouquíssimo repertório para falar, pois não entendo nada da cena mesmo assim a apresentação é agradável e conssoante com o resto do álbum não havendo uma divisão clara entre "momento brega" e "momento forró", ambos sempre se relacionaram bastante, havendo pontos de intercessão entre eles, esse álbum é um deles. 

Rubi que é originalmente da Banda Djavú. E cara, alguém desavisado pode achar que a música é original tá? Muito bem encaixada e muito bem regravada em comparação a original, não deve em nada o arranjo tecnobrega feito. Aliás só pesquisando hoje eu descobri que a Djavú é uma banda baiana, fica a informação.

Também na sequência termos São Amores que é originalmente do Forró Miúdo e que arranjo gostinho, a voz da Pabllo em seu belo tom habitual se encaixa muito bem no tema, uma boa escolha pro repertório. 

Achando pouco, a bonita decide regravar uns dos MAIORES HINOS da nossa música nacional, Me Usa, apenas. Cara, essa música me extraiu emoções que... Nossa, é algo inesperado; fantástico, pra não falar dizer magnífico e fazer trocadilho com a música. Bem, a versão da Pabllo não deve em nada em relação com a música original e é tão boa quanto, dá pra notar naturalidade de quem cresceu ouvindo esse tipo de música e hoje tem oportunidade de regravar. 

Vem uma regravação de uma música da Gaby Amarantos (uma música do Roxette de novo) junto com a própria Gaby, ok.

Só tenho a dizer que Pabllo Vittar gravou junto com Taty Girl, pra quem não conhece é uma verdadeira lenda viva do Forró eletronico/romantico chame como quiser, uns dos maiores nomes e cantou inúmeros sucessos, seja em carreira solo seja no Solteirões do Forró ou Forró Real, sou fã pra caralho, não esperava ouvir as duas juntas. Sem palavras totalmente me pegou com as calças arriadas. 

Nos finalmentes termos, nas Ondas do Rádio da Banda Companhia do Calypso que é a única música com o ritmo levemente diferente da original, mais 'piseirada'. Depois com Ai Ai Ai Mega Princípe da Banda Batidão que tem uma pegada muito diferente, se destoa bastante do resto da estilística do álbum.  Realmente é uma pegada muito diferente e pra fechar o caixão, Não Desligue o Telefone da Banda Djavu que tem uma pegada um pouco mais techno do que brega, mas é um mero detalhe, não me agradou bastante. 

Caixão e vela preta, está acabado Batidão Tropical Volume 2 

Resumidamente o álbum é uma coletânia de raízes da maranhense Pabllo Vittar com uma excelente música original no meio, ou mais de uma, não se Idiota é original ou não. Arranjos bastantes respeitosos sem um clima de homenagem que o EP recente pro Luiz Melodia tem. Estando mais na real regravação do que uma efeitiva homenagem. 

Tem um clima de na real apreciação, de celebração da cultura popular, que geralmente é escanteiada por ser "música meme" e tem pouca valoração artística no público geral. Eu digo com isso porque bandas como a Banda Djavu viralizam por serem 'engraçadas' ou enfadonhas, mas não no sentido leve da coisa e sim como algo que fosse de baixa qualidade, entendem? As vezes destacam só o amadorismo os poucos recursos e com isso acabam, mesmo viralizando a obra, a diminuindo de sua importancia na cultura brasileira.  
Ou seja, o povo acaba tendo uma vergonha de si mesmo ou vezes nem leva a sério, ainda assim há muitos que sentem saudades desse tempo e nessa saudades, não uma nostalgia barata, que se apoia todo o projeto. 
A nostalgia pode levar a um sentimento reacionário bastante comum de achar que tudo antigamente era melhor, mas na verdade você não sente falta da Banda Djavú, você sente falta das condições econômicas da época, idade mais jovens, das festas e uma vida com menos responsabilidades.

Saudoso, respeitoso e música popular levado a sério, é um belo extrato da marginal mercadológica brasileira, comendo igual a mingau quente, pelas beiradas. É um passo da frente ao invés de um olhar pra trás, um sopro de alívio e certeza que a nossa cultura continua viva. A cultura do forró é um gigante gesto de indepência cultural dos grandes artista e mídia do "eixo" (RJ/SP) que PRECISA ser tão levada a sério quanto. 

Mesmo com uma carga cultura fortíssima, o álbum funciona até para quem não entende de cara as referencias, por exemplo eu não conhecia nenhuma das músicas bregas regravadas, mas ainda sim ele funciona por completo, por casar muito bem os elementos de (tecno)brega e forró, é um ode a cultura e um ode ao amor. 

Por mais que pareça estar mais próxima e uma aparente zona de conforto, ousa na escolha de algumas músicas, percorrendo caminhos menos óbvios, o que garante PERSONALIDADE ao projeto ao invés de recorrer a escolhas preguiçosas. 

Esse álbum é um belíssimo convite ao norte do país para quem desconhece e um excelente passo adiante da nossa riquíssima cultura. Uma veradeira maniçoba, com gosto forte, convicta em si mesma e sem a menor preocupação de desagradar quem ache a aparência feia.  
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