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Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

Zito Righi e seu conjunto - Alucinolândia (1969)



Informações alucinadas 

1969
12 músicas, 30 minutos
Samba rock, Jazz, MPB wannabe, tem seu valor psicodelico 
Hot


Porra lá vem esse blog com disco de hiponga, sim, vamos lá:

Me escutem dessa vez, samba-rock psicodélico, vale a pena escutar. É um saladão de samba-rock com jazz, além de, claro, ter muito tempero de psicodelia e ser uma éspice de rito de passagem entre a música dos anos 60 e dos anos 70. Nesse álbum termos muitos elementos identificáveis de várias épocas, vamos nessa resenha decantar uma a uma.
Antes de mais nada, quem é Zito Righi? Não faço a menor ideia, toda biografia que achei não passava de um paragráfo, mas é um saxfonista tenor, líder de orquestra (dá as rédeas nesse disco), e tem nome de batimo Isidorio Righi, segundo seu próprio filho:

Achei essa informação comentada no blog "Esses Incríveis Músicos e Seus Maravilhosos Instrumentos" que Deus ou algo maior abençõe todos esses blogs obscuros de música, incluindo este que vós fala. 
Álbuns psicodélicos eram moda na segunda metade dos anos 60, até o Ronnie Von tem um (ainda vou fazer resenha), a estética do movimento hippie foi rápidamente, por ironia do destino, absorvida pela cultura, então meio que a contra cultura virou cultura de fato, isso aconteceu tanto em aspectos gráficos (como as fontes) e estilísticos, como a utilização de órgão agudo nas músicas e as guitarras elétricas que tanto pelejaram de entrar em nosso país. No Brasil, termos todo o tropicalismo que também impactou, a julgar a estética desse blog. 
Sobre o samba-rock é díficil dar uma definição precisa, mas eu gosto de definir como o "ritmo brasileiro que foi enxotado do mercado pela galera do disco" basicamente é a turma do suíngue, da batida, do boogie woogie antes dos ritmos estadunidenses se popularizar no Brasil, como a música de discoteca, funk e soul, tem como principal preominente o Trio Mocotó, algumas pessoas colocam o Jorge Ben Jor no balalaio, mas eu particulamente discordo. No mas, esse álbum é um ótimo exemplar para enteder o fenômeno do samba-rock, e vamos começar por sua capa.

A capa é terrível, eu diria até sem utilizar de palavras duras que é um pouco feia, tenta representar uma alucinação, mas tem cara de "badtrip" como a galera da droga fala, os olhos esbugalhados, gentilmente segurado por mãos queimadas, ou com aparência de cremação mesmo em um esquema de cores bem harmônico pra ser considerado psicodélico, como se conceita, acho que "arco iríco"? Tem as cores do arco íris, a capa me trasmite uma tensão, duvido que tenha sido a intenção dos artistas... Apesar de considerar ela feia, coitada, foi que me chamou atenção assim que a vi, foi amor a primeira vista, tem carinha de psicodélico eu fico daquele jeito, amor a primeira vista.

Assim que você desce o play tem uma introdução bastante cordial dizendo "a vida não vai tão mal, agora vejam que legal. Zito Righi e sua banda vindo de Alucionlânia para nos levarmos em um voo 'alucionológibom' nas delícias do seu som" e aí começa bem em um samba rock, pela presença do piano, uma matraca, apitos e a formação rítimica das palavras, a divisão dos versos, o pegada mastigadinha que o samba rock como característica, uma coisa interessante que rodeia toda obra é a voz da vocalista do conjunto, aquele vozeirão dos cantoras de rádio que foram extintas nos anos 60, um álbum "contra cultural" é interesse a combinação, a forma de cantar meio declamatória me lembra Gilberto Gil em Parque Industrial no famossíssimo álbum lá de 68, cansativamente mencionado nesse blog, também o mesmo em Marginália II no Frevo Rasgado.

A música seguinte é uma de protesto, meio pacifista das ideias não tanto apelativa politicamente, não tem um clima "governo filho da puta" (o que era plenamente razoável)  e mais "parem de brigar por favor, somos todos irmãos em cristo", o que não faz dela uma música de protesto, na verdade, mas uma de desabafo? A música de protesto só tem esse nome na época específica que foi produzida, então formalmente, é uma música de protesto, por mais que seu contéudo não seja revoltoso. Ela representa já a tensão que foram os anos de chumbo, tem algo ali no meio, mas não dá pra falar o que é direito, é o famoso "O que será que me dá, que me bole por dentro, será me dá" que o Chico Buarque escreve, engraçado essas músicas não mais de protesto como era no comecinho da MPB, mas a sensação de cansaço que já aparece aqui, em 69.

As músicas em inglês são jazzes, um tenor belíssimo, um hard bop clássico que não deixa fica muito pra trás dos clássicos saxofonistas tenores, com o Coltrane, Cannoball Adderley, Albert Ayler e essa turma boa do hard bop foi uma continuação do bebop lá pro finalzinho dos anos 50, especificamente em 1959, quando saíram 4 grandes álbuns de jazz que mudariam a histórica música, assim como a Bossa Nova surgiu nesse período o estilo é uma resposta a música antiga de jazz, trazendo essa carinha mais conhecida que termos hoje do gênero. Sabe esse jazz "sujo", noturno, pegada Taxi Driver do Scorsese? Hard bop. E sinceramente, se Once in a While tivesse no meio de um álbum do Miles Davis com essa execução do Righi, ninguém sequer notaria a diferença, um ótimo exemplar de jazz aqui.

Logo após, em Birimbau, a pegada vai um pouco mais pra MPB em geral, como era costumeiro a época, com o pézinho no tropicalismo, mas nada de tropicalista, afinal, a altura desse campeonato, o tropicalismo já tinha morrido, expliquei melhor aqui.

Também tem algumas faixas que são na pegada mais "Jovem Guarda" aqui, isso se dá pelo dedo do Roberval que era do show business dessa galera do iê-iê-iê, como Bye Bye, Adeus Amor e Sou Feliz Aqui, que tá entre a jovem guarda e o samba rock, mas nada que seja calça boca de sino demais.

Outro ponto de se ressaltar é de quão bom são as músicas de jazz aqui, onde há jazz há os irmãos Gershwin, nesse álbum é Love is Here to Stay, porém num ritmo desjazzustado, com a carinha mais brasileira, combinação polêmica, eu prefiro a versão da Ella Fitzgerald, porém comparar com ela é uma tremenda sacanagem, não é mesmo?
Por mim, o álbum acaba rápido com Hert, outra música gringa, e saí com aquela sensação de "mas já??", pois é tem um cumprimento ideal de um álbum, 12 músicas em 30 minutos, sucinto, sóbrio, bem apresentado. Me parece mais uma escolha editorial do que escolha própria dos artistas, todavia entrega muito bem um elemento da música psicodélica, a mistura, tem vários elementos aqui e todos estão bem coesos, uma verdadeira salada. Eu colocaria um pouco mais de jazz

Recomendo, principalmente as músicas de jazz e samba rock (metade do trabalho) 

Quebrou totalmente minhas expectativas, não esperava ouvir samba rock em um álbum com essa capa,
parece música psicodélica feita por gente que nunca usou psicotrópicos ou é bissexual. 

Informações chatas:
01.  Poema Rítmico do Malandro (Sônia Santos)
02. Somos Todos Irmãos (Roberval)
03. Once in a While (Green, Edwuares)
04.  Birimbau (Roberval)
05.  Primeira Conjugação (Wagner Santos)
06.  Bye Bye (Carlos Imperial)
07.  Love is here to Stay (George Gershwin & Ira Gershwin)
08.  Isn't a Dream (Zito Righi & Sônia Santos)
09.  Sou Feliz Aqui (Ruy P. Pereira)
10. 1 Adeus Amor (Roberval)
11.  Alvorada (Luís Freire & Maurício Einhorn)
12.  Hert (Richard Adler & Jerry Ross)
Pistons: Ubiratan e Barcelos, 
Trombone: Othon, 
Sax-Barítono: Renato, 
Órgão: Alberto, 
Contrabaixo: Paulinho, 
Bateria: Fernando, 
Ritmista: Nilo, 
Guitarra: Jorginho, 
Crooners: Verinha, Sônia Santos e Carlinhos, 
Saxofone: Zito Righi.

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