Pesquisar este blog

Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

O que é tropicalismo/tropicália?

 


Resumidamente: Tropicalismo é um movimento artístico, portanto também cultural e político. Abrange das artes plásticas até a música, tem um quê de psicodelia dos anos 60, mas a principal característica é um apelo a brasilidade, ou como gosto de definir, um ode a confusão/bagunça. Vamos chegaremos lá. 

Caso-você-não-tenha-reparado esse blog é tropicalista, o autor (yo) se amarra numa MPB e psicodelia, principalmente nos tropicalistas mesmo, Gal, Gil, Caetano... Aliás o nome deste blog é uma referência a música Marginalia II  portanto, pelo menos de ouvido, eu posso explicar que raios é isso pra você.


Primeiro, contexto musical dos anos 60.

Anos 60 foi o ano de fundação da música brasileira, mas calma, é claro que existiam artistas brasileiros de enorme sucesso antes dessa data, mas a questão é: O que conhecemos como música nacional se fundou/consolidou nos anos 60, ponto final, sem dúvidas em relação a isso. Óbvio que houveram outros movimentos mais importantes antes e depois, mas eu preciso puxar sardinha pro meu lado.

Essa fundação, se deu a ferro e fogo, num caldeirão caótico (principalmente político, golpes e pá) e como todo caos, foi-se criando coisas. Basicamente a música nacional passou a década dos hippies completamente faccionada, entre dois grandes grupos que disputavam o público, MPB contra a Jovem Guarda e outros movimentos comendo de beirada, como a bossa nova, o forró (que não tem nada a ver com isso), o Soul Brasileiro nascendo no finalzinho da década e a tropicália, enquanto música, pois enquanto movimento gráfico já existia. Embolou? Vamos devagar: 

Jovem Guarda

Respectivamente: Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos

 Sei quase nada sobre Jovem Guarda, mas vamos lá:
A Jovem Guarda é uma mistura do rockabilly (sim, tipo Elvis ele mesmo) dos Estados Unidos com o fenômeno das bandas mobs britânicas (tipo o Beatles, dá pra notar pelo corte horrroso), umas pitadas de rock surfista e algumas músicas italianas aleatórias, o ritmo foi bastante popular entre a juventude e era sinônimo de rebeldia, transgressão e mini saias, a famosa juventude transviada que o Luiz Melodia fala também leva o nome de Iê Iê Iê (yeah-yeah-yeah). Falando em nome, o movimento ganhou esse nome devido ao programa de televisão do mesmo nome apresentado pela TV Record nas tardes de domingo. Apesar do Roberto e Erasmo Carlos serem os mais famosos e com suas composições o substrato central mesmo da Jovem Guarda era abrasileirar (ou apenas traduzir literalmente) músicas gringas, haviam bastantes bandas focadas especificamente nisto, traduzir os sucessos de discos estrangeiros ou até achados que ninguém tinha ouvido antes.
Por serem muito americaninhos(até as bandas serem em inglês) sempre fora muito esnobada pela crítica e pelo setor "mais cultural", por se tratar de "música de alienado" ou esse tipo de visão que ser feliz é crime inafiançável ou fazer música simples é sinônimo de música inferior, em comparação a MPB, que entrou em declínio pós jovem guarda, das músicas de protestos e toda carga política, a Jovem Guarda só estava preocupada em manter seus cortes ridículos, levar a gata pro cinema e manter a sua fama de mal. Realmente não dá pra esperar muita carga política de bandas que só estão tocando sucessos gringos, talvez essa omissão política tenha beneficiado alguns, Roberto que o diga. Mas ser bobo não tem nada de errado também. 

Vale ressaltar que também surgiu um rápido efeito na moda também, popularizando as camisas Agostinho Carrara, calças boca-de-sino e minis saias no Brasil. Mais sobre o efeito da Jovem Guarda eu recomendo duas músicas do Jackson do Pandeiro, Iê Iê Iê no Cariri e Mãe Maria e Coroné Antônio Bento, que tem outro nome inicialmente, confiram na minha postagem do Tim Maia!

Apesar de nunca ter sido muito valorizada em quesitos artísticos (comercial é outra história) o setor produziu diversos clássicos, como Banho de Lua, Celly Campello, que é uma música italiana, A Praça, SIM a música da Praça é Nossa é do Ronnie Von, o banger Foi Assim da Wanderléa e os bazilhões de sucessos do Roberto e Erasmo Carlos, pergunta pra sua mãe/vó que elas vão te fazer a lista.

Ainda vale citar outros artistas, The Silver Jets (BANDA DO REGINALDO ROSSI), Os Cincos JotasOs Incríveis que tem a versão original daquela única música dos Engenheiros do Havaí (piada tá), Renato e Seus Blues Caps,  Leno e Lilian que tem a versão original de Devolva-Me, Vanusa e etc.

Em um aspecto geral, a Jovem Guarda não sobreviveu ao tempo foi completamente gentrificado, diria até que o gênero de brega é o filho não assumido desses tempos, até pelas vestimentas, pelo ritmo, e pela mania de traduzir músicas gringas, só uma suposição, o Reginaldo Rossi. Realmente foi um mero sonho de verão. 

Nota do editor: Não tem nada mais hipster atualmente do que ouvir jovem guarda, apesar disso tem uns álbuns interessantes que eu vou trazer pro blog ainda, incluindo o álbum psicodélico do RONNIE VON, eu preciso ouvir isso completo. 

A Jovem Guarda trouxe a guitarra elétrica pro Brasil, e isso tem tudo a ver com o próximo seguinte

A MPB

Marcha Brasileira Contra as Guitarras Elétricas, 1967

Sim, os músicos Brasileiros em 1967 organizou uma marcha contra as guitarras elétricas, que de certa forma refletia um ode contra a influência dos Estados Unidos no nosso país, mas de uma forma totalmente tortuosa. Lembra que eu falei que a música brasileira foi forjada a ferro e fogo? Pois bem, não foi mera força de expressão, os músicos da MPB travavam embates comerciais e de audiência contra a turma do IêIêIê. Quer se sentir como um jovem dentro da Marcha? Escuta minha playlist pô!
Sobre a marcha contra as guitarras elétricas, eu deixo essa entrevista do Caetano que se negou a participar, e ficou no hotel junto a Nara Leão observando de cima. Gil aceitou participar porque gostava da Elis na época. (é sério)

A Música Popular Brasileira foi um movimento dos anos 60, que tem esse nome justamente pelos festivais televisionados, os grandes festivais de Música Popular Brasileira, que começou em 1965 e não perdurou muito depois do AI-5, com a censura fica difícil de fazer música, ainda mais com as famosas músicas protesto.
Bastante ligado a esquerda, o setor artístico da MPB tinham diversas músicas que denunciavam/escancaravam a situação de tensão política por golpe de 64, tal como Roda a Vida (que ao contrário é Viva a Dor) do Chico Buarque, o famoso show Opinão da Nara Leão que você pode conferir melhor no meu post sobre ela e Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, Geraldo Vandré. Nesses tempos também houve uma valoração de elementos brasileiros.
A Elis Regina e Jair Rodrigues também tinham seu programa de TV, O Fino da Bossa, que competia de audiência com a Jovem Guarda, pode ser melhor visto aqui. Aliás quando o programa Jovem Guarda surgiu a MPB entrou em completo declínio, o que justifica de alguma maneira A Marcha contra as guitarras. 
A rivalidade era tipo West Coast vs East Coast (2pac vs Biggie), só que não teve nenhuma diss (exceto pelo Luiz Gonzaga) ou alguns dos dois lados levou bala. 
Nota editorial: Tupac passou vergonha em Hit 'Em Up, que muitos consideram a melhor diss da história, mas muito pelo contrário, a própria resposta do Mobb Deep é melhor que Hit 'Em Up, afinal eles foram citados de graça e acabaram respondendo a altura, mas isso é papo pra outra postagem.Hit 'Em Up é cringe, como dizem os jovens (transviados talvez).

É difícil delimitar um padrão rítmico na MPB, já que compreende vários artistas, que vai do samba de morro até um baião maranhense (João do Vale), então para fins de delimitação dá pra colocar como esses ritmos "tipicamente brasileiros", músicas autorais e uma forte presença do violão. Guitarra é coisa de alienado. 
Os cantores da MPB vocês conhecem bem, Chico Buarque, Elis Regina, Nara Leão Geraldo Vandré, Edu Lobo, Simonal de certa forma e o demais, que estão na playlist que indiquei.

Fora isso, vale citar apenas para fins de nota. Os artistas do norte, o forró também estava em alta na Guanabara, mas o forró não tem nada a ver com isso. E a Bossa Nova, a essa época, estava fazendo sucesso em Nova Iorque, lugar a qual ela pertence de fato. Fora os músicos remanescentes dos tempos das serestas, boleros e samba-canção, famosos cantores de rádio que não tinham evaporados, apenas não eram mais os queridinhes da indústria fonográfica.

Agora sim, Tropicália 
Começou em 1967 e terminou pouco tempo depois, em 68, pois os artistas foram exilados, a trupe se dispersou e o regime num modo geral ficou mais violento, com a promulgação do AI-5. Óbvio que alguns elementos existiram depois disso, mas estou delimitando a tropicália, enquanto música, os seguintes artistas: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé e o maestro Rogério Duprat. Incluindo algumas composições dos Poetas José Carlos Capinam, Torquato Neto e Rogério Duarte. Não vou querer bater carteira musical, mas não existe tropicália fora desse quadrado que delimitei.
Os músicos tropicalistas adaptaram peças de teatro, poemas, cordéis, populares e até arte gráfica, com a adaptação do quadro Lindonéia do Rubens Gerchmann em música, que é justamente a discreta participação no tão famoso álbum, já chegaremos nele.


Não posso me alongar muito sobre a parte gráfica por falta de perícia, mas termos Hélio Otitica que batizou o movimento como um todo e Cláudio Tozzi, que também está próximo de uma pop art. A arte do Hélio está na barra a esquerda do meu blog, "Seja Marginal, Seja Herói" e Cláudio Tozzi é o fundo do meu blog, com "Che Guevara, vivo ou morto". É período bastante interessante de conhecer... 

Voltando pra músicas, como podemos observar, a tropicália é uma bagunça, mas tudo faz sentido. Pense em um circo, termos diversas atrações, lançamento de espada, palhaços, globo da morte, acrobacias e tudo isso faz sentido quando juntos, Tropicália é a parte circense da música brasileira, tanto pela estética colorida, tanto pela "bagunça". Não atoa, Tropicália ou Panis Et Circensis.


Esse é simplesmente o melhor álbum nacional de todos os tempos.
Eu sou apaixonado nesse disco, vou tentar ser técnico. 
Desse álbum termos um trabalho colaborativo de todas as pessoas que mencionei, afinal, aí estão todes na capa. Então vamos destrinchar alguns elementos (ISSO NÃO É UMA RESENHA, QUE AINDA VOU FAZER)
Primeiro uma clara referência a Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, Gil nunca negou a influência que tinha do Beatles, aliás Gil e Caetano são os "cabeças" do movimento em termos musicais. São dois cantores que cresceram no ninho da MPB e música de protesto, porra Podres Poderes do Caetano, mó musicão de protesto meeeeeermo. Aliás foram ambos que deram entrada oficialmente na Tropicália com a apresentações em pleno Festival de Música Brasileira de Domingo no Parque (Gil) e Alegria, Alegria (Caetano e Os Mutantes) Se termos Gil e Caetano como cabeças, termos uma banda de rock como "braços", os Mutantes, que realmente utilizavam guitarra elétrica e tudo, em teoria seria uma banda de jovem guarda (apesar que essa afirmação não tem muito sentido).

Então podemos dizer que: A tropicália não uniu a grande rivalidade da música brasileira, mas sim BAGUNÇOU os conceitos e os pensamento quadradinho que se tinha sobre a música, rompendo até comercialmente também, já que fizeram bastante sucesso, chegando até a ter também o seu programa de TV, O Divino Maravilhoso. Isso somado aos jogos de palavras do Tom Zé, e a divina, maravilhosa, dona do meu coração voz da Gal Costa, não tenho mais linhas nesse blog pra falar da Gal.

Portanto, o famosíssimo álbum de 68 sintetiza todos os participantes num projeto só, PORÉM, todes tiveram respectivos álbum individuais, Sendo em ordem Cronológica, todos homônimos, e de estreia:  

Caetano Veloso janeiro 1968 (gravado em 67)

Gilberto Gil Maio 1968, também conhecido como Frevo Rasgado

Os Mutantes junho 1968
esse álbum é MUITO bom, muito mesmo

Rogério Duprat e Os Mutantes - A banda Tropicalista do Duprat (não sei o mês, 1968)

Tom Zé 1968, as vezes chamado de Grande Liquidão, porque realmente parece o nome do álbum
a capa mais linda, dos citados

e fechando a tropicália, Gal Costa maio 1969 (foi gravado em 68)


Também tem um álbum psicodélico/experimental da Gal e Duprat justamente com esse nome, de 69, mas essa é uma peça rara da nossa música, que precisamos ouvir com carinho em outro momento. Honestamente tenho MEDO desse álbum, parece muito maluco. As vezes também é chamado de Cinema olímpia. 

Em termos artísticos, mesmo cada ume tendo a sua própria identidade, é marcante uma música orquestral, mas uma orquestra hippie, e sim, hippies podem ser um equivalente comparativo para entender um pouco do movimento. O caso você não goste desse tom mais épico, o álbum com mais cara de banda de garagem é o do Tom Zé os demais trabalham muito com o que é apresentado no Tropicalia ou Panis Et Circensis. Se quiser poupar tempo, escute só o principal, aliás é o mais importante. 

Pelo anteposto, podemos colocar que Tropicália (em termos musicais) foi um movimento que rompeu com as barreiras comerciais entre os gêneros rivalizados da época, existindo de 67 até 68.

Eu prometo ainda fazer resenha de cada um dos álbuns citados, mas isso vai sendo aos poucos. Viva a marginália! Viva a pilantragem! Viva a música nacional!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A mais lida: