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Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

⛧SATANISMO, ENTRE PÂNICO E REALIDADE⛧

Jinx Dawnson, vocalista da banda Coven

Epa epa epa, calma aí! Essa postagem é uma continuação da postagem anterior, então vai uma conferida!

Prefácio: Essa postagem se propõe a ser uma investigação da ligação do rock'n'roll com o satanismo/satã/simbologias satânicas, o pânico moral em cima do rock, um breve resumo do verdadeiro satanismo e uma explicação mais densa do que "FOI O BLACK SABBATH!!!" apesar da banda inglesa ter contribuido muito para o universo da música, e de antemão já falo: eles estão longes de serem os pioneiros. Chegamos na parte 2, onde vou desenvolver sobre a criação do imagético diabólico e a recriação do imaginário de satã.

PERGUNTA VÁLIDA: Se o rock não tem uma associação natural com o satanismo, porque roqueiros popularizaram a famosa "mão de chifrinho"? E todas aquelas músicas sobre o diabo? Descobriremos hoje, aqui e agora.

Ronnie James Dio que também popularizou o gesto

⛧Criação de um imaginário macabro na cultura
#1 Os populares quadrinhos de terror


MA-CA-BRO, essa é a palavra central para entender a associação de satã com o rock, partindo para o dicionário de Oxford, aquele que fornece aparece no google se define de uma maneira:

macabro
adjetivo
1.
relativo à morte ou aos mortos.
que tem a morte como tema; que versa sobre a morte e assuntos afins.
"uma comédia m."
que anuncia ou evoca a ideia de morte ou de mortos; fúnebre, tétrico.
"a decoração m. das capelas de ossos"
que inclui a representação da Morte.
"as danças m. dos claustros medievais"
2.
que desperta o horror; hediondo, horrendo.
"as fotos m. das valas comuns nos campos de concentração nazistas"
3.
ligado a sentimentos relacionados com a morte, a dor; sinistro.
"ter uma personalidade algo m."
4.
substantivo masculino
qualidade ou caráter do que é macabro; macabrismo.
"o m. nas artes"


E havia uma produção de arte macabra nos países que foram principais na popularização do rock, no caso EUA e Reino Unido por via quadrinhos, no caso dos Estragos Unidos da América termos o famoso gibi de terror Tales from the Crypt, ou em bom portugues: Contos da Cripta que virou adaptação pra TV lá nos anos 90 e sensação no Brasil, galera dos 30-40 anos vai se lembrar dessa.

Falando dos quadrinhos, HQs policiais e de terror eram as mais populares entre os leitores, incluindo crianças, esse pagode de fazer bichinho assustador teve início com a primeira edição da Eerie Comics em 1947, onde tinhamos uma moça gostosa com um belo par de coxas amarrada com um tipo de Ghoul(carniçal) indo em sua direção.¹
Apesar que uma das primeiras histórias, naquela loucura de heróis da selva foi a Fantomah, uma mulher com rosto de caveira, mas outro contexto. Eerie Comics que foi a primeira mesmo.


Mas a que teve sucesso mesmo foi a revista Contos da Cripta, uma revista bi-mensal publicado pela EC comics, entre 1950 até 1954², quando rolou a autocensura dos quadrinhos, muito em causa do sucesso da editora (e macarthismo). A censura de fato aconteceu na Austrália e foi debatida em vários países.

Por exemplo na Escócia, no lá pro mês de setembro de 1954³, centenas de crianças armadas com ripas de madeira invadiram o cemitério de Glasglow na procura de um vampiro gigante com dentes de ferro. O quadrinho Conto das Cripta foi apontada por ser responsável dessa barbaridade. 

E bem que essa era a vibe dos quadrinhos, zumbis, vampiros, monstros gigantes, insetos, cenas sugestivas e gráficas de assassinato, mansões assombradas e outras coisas fofas presentes. Perdurou por 27 edições até ser derrubada pela autocensura. Foi um movimento deliberado das editoras de heróis para derrubar a grande e popular EC Comics.⁴

Também vale mencionar as publicações britânicas que surgem nos anos 60 que foram publicados pela Marvel que continha elementos de terror, porém mais focados em ficção cientifica, como: Sinister Tales (alias dela que surgiu o homem de ferro), Suspense. Outra que vale mencionar é Out Of This World desenhada também pelo Steve Ditko e publicado pela Charlton Comics Group.

#2 A queda da era de ouro de hollywood e criação do cinema-B

Hoje em dia tem uma categoria de filmes chamado de trash que são filmes de baixo orçamento superapelativos que geralmente contam alguma coisa relacionada ao terror, essa prática cultural de filmes baratos/filmes de terror baratos era comum na cultura cinéfila mundial até o comecinho dos anos 30, porém o complô das cinco maiores produtoras de cinema dos EUA deu uma freiada brusca nesses filmes mais violentos e politizados com a aprovação do Código Hayes que proibiam qualquer mensagem de cunho mais sexual ou violento. Esses filmes lançados entre 1928-1932 (ano de criação do Código Hayes) são conhecidos como cinema precode, sendo bastante popular nos Estados Unidos pós crise de 29.
Os filmes dessa época falavam de aborto, relacionamento de pessoas do mesmo sexo, divórcio e outras práticas consideradas libertinas pra época, a exemplo dos belíssimos closes de perna que 42th Street (1932) tinha, adoro esse filme, é belíssimo. 

Com a proibição de filmes com assuntos polêmicos deu início a "era de ouro de hollywood", porém essa hollywood dos anos 30-40 era uma sacanagem, porque basicamente viviam apenas em um cartel de 5 estúdios apenas, enquanto 3 estúdios "menores" (não independentes) batalhavam para parecer em suas salas de cinema.

Qual era o esquema de hollywood? As produtoras eram donas de cinemas, então só exibiam seus próprios filmes ou na boa vontade os filmes pertencentes daquele cartel organizado entre as 5, o que matava a chance da audiência americana ter contato com outros estúdios menores ou o cinema internacional. Essa gracinha teve fim em 1948, quando uma decisão da SUPREMA CORTE DOS ESTADOS UNIDOS obrigou a Paramount vender os seus cinemas, o que representou uma grandissíma chance de estúdios menores, ou estrangeiros, aparecerem nas telas. Com isso, aquela era de ouro de filmes caríssimos, filmes polidos e despolitizados teve fim.

(Com a decisão da Suprema Corte de no fenômeno conhecido como Paramount Decree, quem quiser pesquisar sobre)

Assim... Chegamos nos anos 50 e a ascensão meteórica de filmes baratos, formuleicos, melodramáticos, clichés e outras coisas que fazem uma bela trashzeira. Os temas contavam com conteúdos apelativos sexuais, histórias de ficção cientifica, de invasão extraterrestre e claro... Obras de terror... E toda aquela temática que volta a tona no halloween, muitas fantasias genéricas são oriundas desses filmes dos anos 50 e alguns raros do anos 30 (como Frankstein de 1931).

Olavo de Carvalho 2 (1959)


De certa forma, dando continuidade ao imagético macabro iniciado nos quadrinhos. Que também como nos quadrinhos, era bastantes popular no público mais jovem nos famosos drive-ins, onde você poderia assistir um filme dentro do carro ou praticar coisas mais interessantes, se é que vocês me entendem.

Vou deixar aqui essas listas para quem tiver interessante em ver alguns desses filmes, por exemplo eu vi o Monstro da Lagoa Negra ano passado, é divertidíssimo demais. IMBD com filmes de terror; BFI com filmes de ficção cientifica.

⛧Caldeirão cultural em evidência. Assim a criação do verdadeiro satanismo
Um termo que utilizo para uma época é caldeirão cultural, ou seja uma sopa daquela cultura com várias referências cruzadas que vai esquentando vai fervendo e quando você isola os ingredientes da sopa, todos irão ter o mesmo sabor.

Ou quando parece que todo mundo naquele tempo-histórico parece ter a mesma ideia, cabe a gente quando noticia esse fenomeno tentar desvender de onde vem essa ideia mãe, que geralmente está associado a questões materiais, já que ninguém nunca estará a frente de seu tempo, atrasado talvez.

Pegando de exemplo a postagem anterior: Se você isola o Little Richard e o Elvis, apesar de serem diferentes, possuem aquele sabor de rock dos anos 50 porque eles participaram do mesmo movimento. O caldeirão cultural com blues-rock e com música caipiria nos estados do Sul.

A imagética macabra/monstros gigantes pode ser percebida em algumas obras.
 
Os primeiros filmes do Gojira (Godzilla) saíram também, sendo um sucesso absoluto e apesar de um filme japonês, ele tem todas as características do cinema-B (baixo orçamento), mesmo eu considerando que é um pouquinho mais denso do que os filmes estadunidenses do período.

Foda que não sei se douram demais a pílula do Gojira ou é realmente um filme cabeça. Sei lá, um boneco gigante pisando em Tóquio e as vezes é só isso mesmo. 

Gojira, 1954

Falando de terras brasileiras, pô! Teve o primeiro filme do Zé do Caixão! A Meia Noite Eu Levarei a Tua Alma (1964) que é um filme bem macabro e bem extrato do caldeirão cultural dos anos 50.

A meia noite eu levarei a tua alma, 1964

Termos também a criação dos zumbis de fato pelo George Romero, que apesar de não ser um filme-B (minha opinião) está incluso nessa estética de terror.

Night of Living Dead (1964)
Um filmaço.

Pra não me alongar nessas obras que sintetizam o período, para mim a melhor é um desenho infantil... Scooby Doo! Que se você for parar para analisar é um grupo de jovens hippies indo atrás dessas lendas macabras muito comuns no cinema B, vampiros, monstros marinhos, robôs, fantasmas e em cenário como casas mal assombradas e cemitérios. Já tinha parado pra pensar nisso? É uma obra macabra, porém infantil ao mesmo tempo. O que até não mora contradição, já que a maioria do público eram justamente os jovens. 

Scooby-Doo, Where Are You! (1969)

E é dentro desse caldeirão cultural que outros tipos de mídias também começaram a brotar, como livros de ficção científica e a música que chega um pouco mais tarde. Ou bem mais tarde, já que a música gótica é pra para os anos 70 pro comecinho dos anos 80. 

Chegamos assim numa teoria, possa ser que a geração do rock que veio a produzir música nos anos 70 e 80 tenha vivido uma infância consumindo esse tipo de produção trash, decidindo apenas por levar esse imaginário dark para seu sons. É o caso das bandas Black Sabbath, Misfits, The Cramps ou Kiss, que usava aquelas pinturas de rosto.

Por mencionar o Misfits, o "mascote" da banda é um personagem dos anos 40, precisamente veio de um seriado de televisão de 1946, o Crimson Ghost (fantasma carmesim).

reconhece esse nobre senhor?



E tudo isso foi por mera reprodução da estética, sem nenhuma ligação comprovada com atividades religiosas alternativas, alguns até erão cristãos.

A título de exemplo, Tom Araya, vocalista da banda de Trash Metal Slayer é cristão, inclusive fez a primeira comunhão e mesmo assim tem letras "super satânicas" em seus albuns. Revelou isso em entrevista para o jornal New Times (tradução livre):

New Times: Há algum tempo corre um boato que você é um cristão nascido de novo.

Araya: (risada maniaca) Primeiro, eu só nasci uma vez (ri mais). Quando você usa o termo "nascido de novo" é porque achou algo que você perdeu, certo? Eu não perdi nada. Eu nasci e cresci católico, então está no meu sangue. Não vou para a igreja... Eu nasci e cresci católico, a qual é a extensão da minha religião. Meus pais fizeram um pedido, que fizesse minha primeira comunhão.

New Times: Você fez a primeira comunhão?!

Araya: Acredite se quiser, eu fiz minha primeira comunhão. Eu não sou ateu; acredito em Deus. Mas minha religião acaba aí. Tenho meu próprio sistema de crença e isso é tão forte que me permite fazer o que faço. Eu não tenho que me preocupar em ir pro inferno por causa do Slayer, sabe? Todo mundo tem suas crenças pessoais e acredita na vida de alguma forma"

Tanto quanto irônico ele dizer que não está preocupado se vai pro inferno quando fez Hell Awaits (1985).


Porque é tudo questão de entretenimento mesmo, é só pra ser macabro.

Bem que eu poderia fechar a postagem aqui, MAS CALMA AÍ.

O satanismo é real e também existem bandas que são verdadeiramente ocultistas. De uma maneira podemos atribuir que quem trouxe o diabo de fato pro rock foi a banda Coven (NÃO O BLACK SABBATH).

⛧Coven - Witchcraft Destroys Minds & Reaps souls (1969)

Em meio da psicodelia hiponga que já estava nos seus útlimos dias (e melhores álbuns) em 69, sai em fevereiro daquele ano um álbum de rock-blues com referência lendas urbanas, bruxaria e outros temas superfofos e confortavéis. Muito apoiado pelas linhas pesada de baixo do OZ OSBOURNE e a potência vocal da Jinx Dawnson. O álbum ainda conta um uma encenação de uma missa satânica na última faixa. Eu ouvi esse álbum mês passado, quando sobrar um espacinho faço uma resenha completa.

Bem, pelo título e temática pouco receptivo, foi esculhambado pela crítica e acabou caindo no esquecimento, a banda nunca alcançou o reconhecimento ou sucesso comercial de fato. Dá pra considerar uma joia escondida?

De qualquer maneira, definitivamente foi a primeira banda de rock a ser abertamente satanista (na verdades prática ocultistas LHP), fazendo valer todos os rumores ouvidos pelos rockeiros dos anos 50.

A Jinx que a responsável pela famosa "mão de chifrinho" é de família tradicional oculista, ela sempre participou dos rituais e cultos desde de criança, sobre a famosa mão, firma que nada tem a ver com o diabo. Em entrevista para portal português⁵:
"É um símbolo de bom acolhimento, de boas-vindas. Eu não o inventei, apenas o aprendi, mas foram os Coven que o começaram a usar na música", disse à agência Lusa Jinx Dawson.

Explicou que o símbolo "é ancestral, está cá há centenas de anos" e que contactou com ele, a primeira vez, ainda criança, quando acompanhou o avô e as irmãs deste a um ritual de LHP (sigla anglo-saxónica para Left Hand Path, o Caminho da Mão Esquerda ou o Caminho do Mal, uma tradição esotérica do mundo ocidental relacionada com a magia negra), numa cela na cave da mansão onde cresceu, em Indianápolis, na região centro-oeste dos EUA.

"Alguém apareceu à porta, fez isso [o sinal dos chifres] e deixou-nos entrar. E eu, que já tinha idade suficiente, perguntei o que era aquele sinal e responderam que significava que éramos seus semelhantes e que podíamos entrar, era um sinal de que éramos bem-vindos à cerimónia esotérica", disse Jinx Dawson.

Pra pior, o álbum não foi muito bem recebido pelo seus familiares citando que se arrependeu de ter gravado.

Foi o que bastou, argumenta a vocalista, para que outras bandas - que não nomeou - seguirem "o exemplo e a liderança" dos Coven, tendo chamado a si o uso e alguns a autoria do símbolo, algo que lhe desagradou.

"Não o fizeram bem e nem sequer sabiam o que significava. Não gostei, na altura, mas depois considerei que esta era a minha missão de vida, reintroduzi-lo e mostrá-lo às pessoas, não pensei era que fosse tanta gente, pensei que fosse uma coisa subterrânea, mas agora é omnipresente, está por todo o lado, é impressionante", frisou.

"O que é que eu fiz? Estraguei tudo, as minhas tias estão de certeza muito zangadas comigo", brincou a vocalista.

Mas bandas como Coven não desfaz a teoria de mera representação de filmes de terror, a maioria dos grupos de rock (especialmente o mainstream) não possuem qualquer ligação com práticas ocultistas. 
Há uma burburinho que o Black Sabbath teria copiado a banda, inclusive a faixa título do álbum da Coven é justamente Black Sabbath.

Mas tudo não passa de acusações sem muito fundamentos, apesar da coincidência dos nomes, o que inclui Ozzy e Os Osbourne, por dois motivos: Ozzy é um apelido de infância e o Black Sabbath foi fundado um anos antes do album, então... Enfim.

EU NÃO PRECISO MENCIONAR COMO BLACK SABBATH (1970) INFLUENCIOU TODOS OS RITMOS EXISTENTES, Metal, Heavy Metal, Black Metal, Doom Metal e afins. 

Mesmo não sendo a banda "pioneira" (mito de criação é uma idiotice) definitivamente para o imaginário comum ela sempre foi a grande primeira banda satânica e a principal referência. Por motivos óbvios cara esse álbum é um tesão de música.

⛧Quem são os satanistas e o que querem afinal? 

Anton LaVey, criador do satanismo

O "satanismo moderno" ou satanismo ateísta é o que termos de mais atualizada teoria sobre. Filosofia fundada por Anton LaVey em 1966 na Califórnia rompia com as tradições ocultistas de denominações "satanistas" (que na verdade era de religiões neo pagãs como Wicca) e claro, fazendo um ataque frontal aos ideários cristãos vigentes.

Atualmente a Black House (casa negra) sede da Church of Satan é presidida pelo Magnus Peter H. Gilmore e moveu da velha casa em São Francisco para Nova York, é dele um texto resumido sobre o que é satanismo (tradução livre):
Satanismo não é adoração ao diabo. Isso choca quem não explorou nossa filosofia e são concepções erradas de estranhos tem contra a Igreja de Satã. Nosso fundador Anton Szandor LaVey deixa isso claro desde do começo. Ao passar dos anos, individuos com a necessidade de serem abraçados por uma dividade disseram que Dr. LaVey passou de alguma forma a acreditar em um Satã literal. Se nos estudarmos sua obra, é bem claro que ele nunca mudou de ideia sobre isso, a crença do diabo jamais aconteceu no "círculo interno" de práticas da Igreja do Satã.⁶⁶⁶

A filosofia satânica é um mix da filosofia de Nietzsche com o individualismo objetivista de Ayn Rand, sempre foi um grupo inofensivo de ateus militante, porém sempre muito midiáticos, Anton LaVey era um verdadeiro showman! Que soube sempre muito bem atuar nas brechas morais oferecidas pelos conservadores religosos. Acredito que ele também seja responsável por unificar as simbologias associadas a satanás, como a cruz invertida, Baphomet, a bandeira de baphomet, cruz de são pedro, mulheres nuas em culto, bodes, caveiras e etc.

Ele foi um ícone das subcelebridades, mas não ficou apenas nos holofortes. Produziu muita teoria filosófica, sendo sua magnus opus a Bíblia Satânica de 1967, eu acho.

Quer um equivalente midático brasileiro? LaVey foi tipo o Inri Cristo deles, tipo que figura folclórica da televisão que você assistia em programas do sábado de tarde.


https://lh4.googleusercontent.com/proxy/U4DWbdnRt0LUS-FZHD47WBHhXB1YuMHHMo8rdzIO5P86y4fegdPS2TP1u-8qvUN8lnjg98mLgtxy1mwph18QXvSZOippNyAJmKWBjGsk3PUbgKbjHQ52Ow2Jt3wJ0i7JElpQVvST4bOF08g3

Mas tudo isso, assim como as letras do Slayer, não passa de larp, de fato apenas encenação para chamar atenção para a filosofia pregada de fato pela igreja. E o LaVey sabia MUITO trabalhar com mídia.
Baseando-se em seu repertório circense e ocultista prévio, ele começou a ministrar "seminário mágicos da meia noite" em sua casa (Black House, São Francisco). Isso provou popular o suficiente para fundar a Church of Satan (igreja de satã) em 1966. A base para seus rituais eram rituais nazistas gravados em videos top-secret que ele viu quando era adolescente. A showmanzisse (*acabei de inventar essa palavra) do LaVey levou a significante cobertura midiática de eventos como primeiro casamento satânico, primeiro funeral satânico, adorações com uma mulher nua no altar e uma aparição cameo como diabo no filme Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968). LaVey fez uma amizade muito próxima com Sammy Davis Jr e teve um caso com Jayne Mansfield, duas celebridades membras da Church of Satan. Em seu auge, ele revindicou centenas de milhares de membros. LaVey morreu em 1997. 

E por que Satã? Dentro da filosofia de LaVey, que bebe do objetivismo de Ayn Rand, o diabo seria uma certa representação desse homem heroico autocentrado que define sua própria felicidade, própria moral e proposito de vida, dando os ombros para o mundo, assim como um Atlas que deixa o mundo cair. O homem como um fim em si mesmo, sua filosofia ainda casa muito bem o satanismo de LaVey por considerar o cristianismo um "atraso" para a razão humana, esta que sempre deve ser adorada a todo custo.

Sabe, eu não quero citar Ayn Rand no meu blog, então vou deixar essa entrevista para a Playboy onde a bela moça explica sua própria filosofia.

Da mesma forma que Lilith foi resgatada pelo movimento feminista como um símbolo de independência ou resistência ao machismo de Adão, Lúcifer/Satanás foi repensado como um símbolo de revolta egóica, onde preferiu ser rei do inferno do que vassalo do céus, liderando uma revolta contra deus e afins. Ou seja, reposicionando Satanás da figura do corruptor para alguém libertino, criador da própria moral e dono do próprio destino. Por isso, utilizado como símbolo da filosofia da LaVey.

A parte relativa ao Nietzsche acredito que dispensa explicações, é o além-do-homem, acima do bem do mal, etc etc.

Assim, podemos chegar a conclusão que apesar do imagético macabro tão pouco significavam alguma. Como o LaVey sempre menciona: satanismo demanda estudo, não adoração. Falando do LaVey em si, ele considerava o diabo mais um mascote do que uma entidade de fato.

⛧BÔNUS:
O caldeirão cultural resquentado, pânico satanista dos anos 80-90.


Tudo tem início, ou germina com as obras que citei, tanto Anton LaVey e sua super exposição midiática e o filme Bebê de Rosemary, que é baseado num romance de mesmo nome. Em outras palavras, talvez o Bebê de Rosemary deu rosto e imagem a todos os medos mais bizonhos que a tradição cristã fundamentalista tinha sobre "cultos satânicos", fazendo que o escritor da obra original tenha meio que se "arrependido" do feito (tradução livre).
Os efeitos de Bebê de Rosemary preocuparam até Ira Levin, autor da obra. Em uma reedição do livro em 2003, ele escreveu que "O sucesso de Bebê de Rosemary inspirou exorcistas e presságios e etc. Duas gerações de jovens cresceram até a idade adulta vendo descrições de satã como uma coisa real. Eis o que me preocupo agora: Se eu não tivesse pensado na ideia daquele suspense quase 40 anos atrás,  teria tantos fundamentalistas religosos hoje?" Levin foi atacado com cartas de cristãos raivosos de todo o país. Histórias de como alguém escapou de um cenário parecido com Bebê de Rosemary ficaram populares depois do filme.⁸
 
A título de exemplo, em 1972 surgiu a primeira grande história de sucesso desse "satanismo-pop", o livro The Satan Seller contava várias histórias de pessoas fugidas de cultos satanistas que se converteram evangélicas e teve a verdade revelada pela graça de cristo.

Ainda assim, para fins "antropologicos" o Satanic Panic (pânico satanista) teve um começo de fato depois do lançamento de outro livro chamado Michelle Remembers (1980) escrito pelo psiquiatra Lawrance Pazder e sua paciente Michelle Smith, que foi a faísca-bomba de todo aquele vazamento de gás que acontecia desde dos anos 60 (tradução livre).
O catalisador inicial do pânico foi o lançamento do livro Michelle Remembers em 1980. Michelle Remembers foi o arquétipico do que ficaria conhecido como Satanic Ritual Abuse (SRA) ou simplesmente "abuso ritualistico". O livro, escrito pelo psiquiaatra Lawrence Padzer, narra seu trabalho com uma mulher chamada "Michelle Smith". Durante seu tratamento, Smith começou a revelar uma alegada "memórias reprimidas" de sua infância nos anos 50. Essas "memórias" são de abusos horriveis como ver crianças sendo jogadas em fogueiras e sacrificada para Satã. Seu tratamento incluiu batizar ela na fé católica. A fábula contada por Padzer não está dissoante com histórias parecidas com o Satan Seller do Mike Warnke, mas dessa vez tinha a autoridade de um profissional psiquiatra por trás.

Ressalto que porra nenhuma de próximo daquilo que Michelle Smith relatou foi comprovado, mesmo com toda repercussão do caso e muitas pessoas interessadas. 
 
O efeito prático foi a inflamação ou exposição mídiatica de crimes sexuais e um policiamento maior sobre as mídias, como as famosas paranoias de procurar mensagens ocultas em obras. São paranóias que todo brasileiro já conheceu, como as famosas músicas ao contrário ou imagens ao contrário que revelariam alguma imagem escondida. A Xuxa não sofreu com isso atoa, o cristianismo neopenteconstal brasileiro é de tradição 100% estadunidense.

Jorge on X: "COCACOLA AO CONTRÁRIO É ALÔ DIABO SIM POIS UMA MARCA AMERICANA  ÓBVIO QUE FEZ SEU LOGOTIPO PENSANDO NO AO CONTRÁRIO DOS BRASILEIROS  https://t.co/vr581BCTZ5" / X
olá, não sei seu nome, mas voce já viu essa imagem.

A tese de mestrado The Devil Is in The Details: An Analysis of the Satanic Panic  do James R. Lewis para a universidade de Memphis é a melhor sobre o assunto, depois de toda minha semana inteira de pesquisa, não achei fonte melhor para entender todo o contexto.

É muito por evidente que, também não por coincidencia, bandas de rock dos anos 80 nadaram de braçada em cima desse satanismo pop que estourou nos anos 80, não atoa, a maioria das bandas de metal (como Slayer) surgem nesse período de algazarra da mídia.

⛧CONCLUSÃO DA PESQUISA.
Desde quando era um bebezinho caipira, o rock foi demonizado pela sociedade mais conservadora da época, um processo que já virou natural de associação da música da juventude ser relacionada a prática pecaminosas como consumo de drogas e sexo, ou fornicação, já que é fora do casamento (ironia). 

Cortado pelo viés racial de associação das pessoas negras a essas atividades, colocando em um papel de corruptor da juventude branca. Mas o paradigma muda quando a cultura de massa passa a incorporar de fato elementos macabros cada vez mais populares, fato que só foi possível depois da queda cartel de cinemas, após decisão da Suprema Corte dos EUA.

Com a simpatia geral do público nesse tipo de obras (espíritos, zumbis, vampiros e demônios, casas mal assombradas e afins) deu popularidades para algumas leituras ocultistas realizadas por Anton LaVey ao ponto dele ganhar espaço mídiatico e fundar sua própria religião, o satanismo. Ao passo que livros mais ousados como Bebê de Rosemary fossem escritos e chegassem nas telonas. Também por outro lado bandas como Coven e Black Sabbath mencionam práticas macabras de fato. 

Mas o caldo entorna mesmo quando pipoca o frenesi anti-satanismo dos anos 80, muito graças a relatos similares ao filme/livro Bebê de Rosemary, circulando entre meios cristãos enquanto as bandas de rock do período também dobram a aposta, ao fazerem menções mais explícitas ao inferno e afins.

Em outras palavras, uma decisão do STF estadunidense gerou todo esse efeito borboleta.

The History Book Club - SUPREME COURT OF THE U.S.: #13 - CHIEF JUSTICE  FREDERICK M. VINSON Showing 1-14 of 14
Composição da corte que derrubou a Paramout



⛧Fontes
ps: estudos sobre cultura (no caso cinema e hq) tem pouquissima produção a disposição, minhas fontes na primeira parte do texto são sites bem banais e até wikipedia (infelizmente) então nem linkei os sites. Mai é tudo verdade, pode confiar
¹ Tales From the Crypt Wiki
² Idem
³ Folklore scotland
⁴ 5 MITOS repetidos sobre a campanha anti-quadrinhos, Quadrinhos na Sarjeta: Youtube
⁵ https://www.antenalivre.pt/
⁶⁶⁶ www.churchofsatan.com
⁷ Diabolical Authority:Anton LaVey,TheSatanicBible and the Satanist "Tradition" James R. Lewis
⁸ The Devil Is in The Details: An Analysis of the Satanic Panic, Travis James Brooks 
⁹ Idem

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