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Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

Por que sagas não funcionam no cinema?


sei não, família...

Caso você tenha a sorte de não estar no mundo nerd, saiu recentemente a grande notícia que chacoalhou os óculos fundo de garrafa. Robert Downey Jr, que foi o rosto do homem de ferro por 10 anos, será o novo Doutor Destino. 

Isso trouxe muitas opiniões conflitantes, já exsitem teorias de pé que na verdade o Tony Stark será de fato o Doutor Destino ou aquele simbolismo do Peter Parker tendo que enfrentar alguém que seria sua figura paterna. Há aqueles que estão apenas p da vida com o MCU/sem acreditar. Eu estou na classe do "O QUE? Ahh puta que pariu...". Muito em causa pela sensação de esgotamento dos filmes da Marvel, ou a sensação geral de "já deu".

Disclaimer: minha opinião não é sobre os filmes da Marvel em si, por dois fatores: não acompanhei o hype de Vingadores por questões economicas e por questão de interesse mesmo. Nunca fui muito com a cara desse jeito marvel de produzir filmes, apesar de ter visto alguns esporadicamente, em outros termos é mais sentimento do que fatos & lógica & análise criteriosa

Disclaimer 2: não é um texto pra dizer  TÁ TUDO ERRADO, ACABOU JÁ ERA.

Pessoalmente, a escolha do ponto de vista do marketing é quase-inteligente, até porque muito provavelmente esse filme passaria batido para o público geral. Aquele pique: Mais um filme, vingadores de novoooo, uma renovação do multi-ultra-premium-verso que não rolou pós Endgame (fases 4 e 5), a observar o fracasso que foi Doutor Estranho 2, aliás todos os filmes depois do grande fim do universo marvel deram errado. Mas caso tenha pensado apenas do ponto de vista do hype é uma péssima notícia para o filme, uma vez que o estúdio parece não se garantir pelo seus próprios meios, necessitando das manchetes da mídia para se sustentar. Ou seja, no lugar de mostrar projeto, demonstra fraqueza, conservadorismo, pouca inovação e outros tópicos que apontam em direção ao MCU.

Enfim, isso é problema para os executivos da empresa. Alô Kevão, leia nosso blog!

Apesar do Robert Downey Jr ser um bom ator tem um problemão relacionado a ele, ele em si. Porque o Robert representa algo muito grande para o Homem de Ferro, muito além do Hugh Jackman para o Wolverine, Tobey Maguire para o Homem Aranha porque esses dois citados já eram personagens populares, sendo eles apenas mais uma boa representação daquele personagem para o cinema. De certa forma, outros atores de filmes de herói "devem ser gratos" pela oportunidade de representar aquele herói nas telonas, mas no caso do Homem de Ferro O PERSONAGEM que deve "essa gratidão" ao Robert Downey Jr e os produtores do primeiro filme da nossa lata de almodega favorita.

O motivo é bem simples, Tony Stark tava muito longe de ser um personagem popular, conhecido ou querido, depois do filme ele foi totalmente reformulado nos quadrinhos e nas animações, essa reformalução tem um rosto: Robert Downey Jr. Atualmente é IMPOSSÍVEL de não ligar o Homem de Ferro a ele, ele é o rosto do personagem. Assim como o Samuel Jackson mudou o rosto do Nick Fury.

Ele é o rosto, voz, corpo, aura do Tony Stark para a nossa geração atual, e é essa geração atual que fez o "debut" para o grande público de um personagem que era totalmente linha B ou C da Marvel. Algo parecido acontece quando progressivamente o Flash deixa de ser o líder da Liga da Justiça para o Superman tomar lugar. Vocês conseguem conceber o Flash liderando a Liga? Não né, mas ele era o grande herói da DC lá na era de prata, o Superman ganhou mais protagonismo posteriomente, acredito que os filmes dos anos 70 tenham ajudado nisso. 

Ah então não pode um ator trabalhar em dois heróis?? Claro que pode!
Como o Chris tava gostoso bem nesse filme

Atores que já fizeram outros heróis podem ser cotados para novos heróis, o próprio Chris Evan já foi o Torcha Humana e o Capitão América, Ryan Renolds foi o Hal Jordan naquele filme TENEBROSO do Lanterna verde e agora é o Deadpool. Nada é proibitivo quando falamos de criação, tudo é permitido, mas nem tudo funciona... Por essa relação de ROSTO DO PERSONAGEM que o Robert tem com o Homem de Ferro vai ficar esse ar de coisa esquisita. E isso é um dos motivos que sagas não funcionam no cinema. 

Em linhas gerais, é um movimento bem conservador retornar a prata da casa, tira a esperança a sensação de renovação de quadros que Endgame trouxe e não tem nenhum prognósticos de boas notícias (especialmente com a volta dos irmãos Russo), PORÉM eu torço para que dê certo. Sempre. Precisamos de renovação se quisermos que nossos homenzinhos de collant continuem sendo relevantes para a mídia. Por mais que haja um esgotamento de heróis, seus fãs ainda existem e são carentes de obras boas. 

Há forte indícios os últimos pregos do caixão.

(Se fosse um ator Romani ou de qualquer país ali da meiuca-européia daria muito mais riqueza ao personagem, não dá pra aceitar um Doutor Destino com sotaque americano.) VEREMOS!

Mas na moral, já deu filme de herói né? Estamos a quase 30 anos nesse batido, são MUITOS FILMES, só da Marvel Studio acredito que esteja na casa do 40, em um nível de roteiro que sempre foi questionável, mas agora estão pagando a conta de oferecer péssimas condições de trabalhos para os envolvidos, ou seja: A produção também está piorando, e isso era o que mantinha a Marvel. Não que os efeitos não melhoraram, eles estão piorando. E não é só a Marvel que se vê em maus lençóis, a Warner-DC nem se fala, no auge era ruim, agora não presta mesmo.

Filmes que herói não tem mais nada a produzir é o fim de todo um gênero, algo que destaca muito isso é quando as obras começam a se autoreferenciar demais (o último filme do Flash, o novo filme do Deadpool), que é indicativo que não estão produzindo coisas novas, então precisa ficar resgatando o que já deu certo no passado, movimentos artísticos se auto-ingerem antes de acabar.
 
Também a acensão de contra-heróis, estou falando da popularidade que The Boys teve desde de seu lançamento, um movimento que já aconteceu nos quadrinhos no começo da invasão britânica lá em 1980s. Esses heróis mais "realistas" ou violento ou abordando de forma clara e cristalina temas políticos sensíveis. Quando surge um novo modo de proudução/reprodução artística é um sinal que o anterior já está nas últimas, tudo que é neoalguma coisa é gerido com crise, neo é sinonimo de crise, novo é sinonimo de crise.

Apesar que pra mim essa onda de herói realista ninguém aguenta mais, é a crise da contracrise também.

Com esse coliseu caindo em nossas frentes, já começam a surgir algumas explicações. Cabendo ressaltar que só teremos a resposta devida quando existir afastamento histórico o suficiente para uma análise mais completa de todo o panorama. Uma delas é: Continuações/Saga e aí eu vou ter que concordar com o senso comum, continuação não funciona no cinema. 

Nos quadrinhos uma saga pode durar anos quase infinitos, é uma forma de produção bem mais barata que filmes, tem menos pessoas envolvidas, são bem mais rápido de serem produzidos e dificilmente vão conseguir passar a sensação envelhecimento, porque traços não envelhecem, enquanto atores ficam velhos, a tecnologia do cinema se atualiza mais rápido e filmes sequenciados com o lapso de 10 e 15 anos sempre irão nos lembrar de quanto envelhecemos. 

Filmes envelhecem muito rápido, é muito díficil de fazer um trabalho continuado. Duro de Matar é um exemplo, são 5 filmes com um lapso temporal de 25 anos. Sagas de ação no geral, os heróis não são tão diferentes.



Não vamos tratar em aspectos místicos apenas né, em questões materiais, são muitos trabalhadores envolvidos, muitas mão por cima quando se envolve uma saga, muitas pessoas batendo cabeça e no caso do MCU os diretores/roteristas estão de mão atadas para desenvolver suas ideias, pela obrigação de interconectar aquele filme em específico em outros 15 e mais duas séries que ninguém assistiu.

Então o mega elogiado planejamento do universo cinematográfico da Marvel no fim apenas minou qualquer trabalho de fato que resultasse em renovação em caso de eventual saturação do gênero, ou seja, cada filmezinho daquela lista que vai até 2030 (rodava muito essa imagem na internet) já está preconcebido, tudo feito naquele filme é meramente protocolar, não há espaço para mudança de rumos ou novos ares. É como tudo foi pensado em 2015 por exemplo, mas não vivemos mais em 2015, o público não é mais o mesmo, ele tá mais velho, ele outras exigências e antes mesmo do filme sair, já tem aquele cheirinho de morfo ou uma rejeição. 

A Marvel é ciente do envelhecimento rápido dos filmes, então aumentou a produtividade lançando mais filmes por ano, o resultado é uma piora descomunal das relações de trabalho. Ou seja, filmes piores e cada mais vez mais esquecíveis. Cada vez com menos personalidade e mais dependentes de multifatores. 

O que é diferente de seguir uma receita de bolo para criar um personagem (como era feito antes), os filmes atuais usam flarelos de bolos prontos, misturando tantas coisas que no final não tem sabor nenhum, algo grave para uma produção pop! Que até pode ser formulaica, mas precisa ser sabor, identidade e reconhecimento fácil.

Já nos quadrinhos você pode lançar 50 hqs no espaço de 2 anos, mantendo sempre 1) a mesma estética 2) continuado no mesmo movimento atual 3) Memória viva de quem são os personagens. É óbvio que nem toda saga de HQ funciona, mas é muito mais fácil de dar certo, quando bem planejadas.

Partindo para os mangás, tem coisa que tá rolando desde dos anos 90.

Essa coisa de vários títulos misturados em uma história só é exclusivo de quadrinhos, saga como a do infinito e Guerra Civil SÓ FUNCIONA em quadrinhos, pela LINGUAGEM dos quadrinhos e seu modo mais rápido de produção e distribuição bancas de jornais a fora. 

Multiverso só funciona em quadrinho, no cinema é quase impossível ter um exito de fato. 

Veja os filmes da fase 4, quais deles sequer são lembrados? A pior coisa para uma obra pop é ser esquecida pelo tempo.


Eu aposto dois jumentos no pix que você sequer lembrava do filme da Viuva Negra

Desmontrado o problema a longo prazo, porque cada vez termos mais filmes e cada vez mais conexões e menos espaço de criação, paulatinamente ficam mais meramente protocolares. Quanto mais mãos no fouet é mais díficil de bater a massa de bolo, não é mesmo?

O MCU atualmente são várias mãos tentando bater uma massa de bolo com o Kevin Feige enfiando o dedo na bunda de todo mundo.

Não podemos ignorar outras questões como uma suposta decadência geral do cinema mainstream, que são questões extra-heróis, que se dão por outras causas, tampouco tenho qualificação para apontar.

No frigir dos ovos...

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A Marvel já sugou até a último teta dos vingadores, e ainda virão mais dois ou três filmes. Com isso tem falhado em garantir aquilo que foi fundamental para o sucesso no passado, um rosto.


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UMA MENSAGEM DE DESESPERANÇA✦ Kamen Rider Black Vol. 3 (1987, Shotaro Ishinomori)


"que porra tá acontecendo" 

                                                     ***Resenha com spoilers*****

Antes de mais nada, vou ressaltar uma coisa, pelos caminhos que esse mangá tomou eu não vou conseguir fazer aquela análise capitulo a capitulo que estava fazendo. Acredito que esse texto seja mais curto (não vai). 

Em português claro, o volume 3 de Black Kamen Rider é mais conceitual/contemplativo, visualmente logo nas primeiras histórias termos planos belíssimos com imagens poucos conclusivas, algo que remete a um delírio ou alucinação. Separei alguns quadros que expressam forte esse sentimento.
Já abre daquele jeito, olha que bonitão:


Meu favorito

Também MUITAS explosões e raios, bastante tokusatsu



Uma questão gráfica interessante, mesmo utilizando de elementos "bregas" nas histórias de ação no geral (muitos efeitos, explosões, piruetas, raios, lasers e etc) o Shotaro Ishinomori consegue levar algo galhofa a  um filme do Denis Villeneuve (diretor de Duna, A Chegada e Blader Runner 2049), eu não estou dizendo que os filmes do Villeneuve são "superiores"*, apenas contemplativos, filmes cabeças em linguagem popular, mesmo sendo hollywoodiano. Enquanto o gênero de filmes/séries tokusatsu são mais baratinhos e tem uma fanbase que curte a breguice mesmo, eu bem incluso.

Veja uma explosão aleatória em Jaspion comparada com um painel de Kamen Rider Black, possuem os mesmos elementos conceituais, mas uma estética totalmente diferente. Algo que é até meio enfadonho, vira escabroso no traço do Ishinomori.

*Deixando claro, Duna não é melhor do que Jaspion, apenas possuem estilos diferentes, épocas diferentes, públicos diferentes e não sentam na mesma mesa, sequer são dignos de comparação. Eu trouxe o Villeneuve para a conversa porque a comunidade nerd/cinéfila só consegue reconhecer beleza/conceito quando o filme é chato, ou mega pretencioso, hollywoodiano enquanto enfia rasgando na goela uma porrada de rótulos em outras produções (geralmente não-americanas). Se o filme não for de determinado diretor ou estúdio aí ele nem merece ser analisado, é filme 'comercial bem qualquer-coisa', se o filme não aparece em listas ou tem recebem notas altas nos sites de cinema, tá completamente fora do radar da contemplação, é como se contemplar/pensar/saltar os olhos não pudesse andar junto com a diversão. Você não precisa se "emburrecer" para se divertir com algo. Toda obra, por mais só enterterimento que seja, terá algo a ser pensado sobre. Mesmo que forma metalinguistica. 

Ou seja, vamos receber aquilo que a obra tem a nos dizer, ao invés de analisar apenas o rótulo que aparece na descrição na amazon, Kamen Rider Black é um tokusatsu sim! Com receitinha de tokusatsu sim! E consegue entregar um conteúdo bastante recheado, no caso do capítulo 3 uma HQ quase abstrata. Do mesmo vale do contrário, você pode se divertir com coisas chatas. (as vezes)



Pooooois bem, por falar de em receitinha de bolo, o começo das primeiras histórias é bem parecido com as anteriores, seguindo aquele padrão de #1 situação estável #2 suge um rumor ou lenda de algum bicho bem bizarro #3 o bicho aparece fazendo uma gracinha e é ESTRAÇALHADO pelo nosso Kamen Rider Black. Vai nessa até a quinta história, mais ou menos. 

Tudo segue nessa pegada, destacando o primeiro que não tem pau mandado da gorgom, apenas um proto-romance-semi-incestuoso entre Kotaro e sua irmã mais nova, como eles são irmãos de criação apenas, nem rola tanto problema assim, a maior questão que cerca é como Kotaro pode se relacionar com quem se seu lado selvagem está cada dia mais aflorado? Díficil achar um amor em nossas vidas quando você é um ciborgue neonazista, digo, apenas horrores além da vã compreensão humana.

Também cabe destacar que o começo não é lento, porque vai adcionando aos poucos elementos de suspense, os pesadelos do Kotaro, que começam com imagens que não dizem muita coisa, como ser perseguido pelo Flamengo.

 

Daqui rola uma inteligência do Shotaro Ishinomori, que ao revelar o maior suspense da saga, o paradeiro do Nobuhiko, ele dá início a um novo que, se estivesse presente na história desde do começo, ficaria cansativo. Assim como o mistério confuso de onde estava o irmão de Kotaro já estava começando a ficar. E que mistério é esse? Kotaro tem visões em forma de pesadelo com um grupo aborigene (australianos) que vieram 30 anos do futuro para avisar um seguinte: o Rei Demônio está governando o planeta, e você será o nosso salvador. 

Sim, tem rolê de viagem do tempo, mas falerei disso mais tarde. 

Nobuhiko FINALMENTE aparece, mas está longe de ser um alívio. Durante toda história não sabemos se o Nobuhiko conseguiu escapar ou é um enviado da Gorgom para convencer o Kotaro a voltar a organização, pra piorar, nas visões/pesadelos que ocorrem a todo momento com o Kotaro aparece um "rei demônio" ou seja, a Gorgom ganhou! Sim, na história a organização malvadona consegue chegar a seu objetivo, será que foi Nobuhiko que concluiu o plano? Ele sabe que é um Ciborgue? Ele se transforma em grilo também? Sim, se transforma. Mas as outras perguntas não serão respondidas. 

E finalmente termos agora dois Kamen Riders, tradição ao longo das séries em todos o Kamen Rider há pelo menos dois, e a história dessa tradição é no mínimo curiosa.

.・。.・゜✭・.・✫・゜・。.Momento história.・。.・゜✭・.・✫・゜・。.


O mangá original, lá dos anos 70 foi publicado junto a série de TV, assim como o Kamen Rider Black também, acontece que o dublê/interprete do Kamen Rider sofreu um acidente quase fatal de moto, fazendo que o protagonista numero um (Takeshi Hongo) não pudesse mais ir ao ar, ele durou o episódio piloto até o 13, então surgiu um novo personagen Hayato Ichimonji, com um novo ator e uma nova história que durou até a história 53, quando o ator de Takeshi Hongo estava hábil para voltar as telinhas, assim o Kamen Rider 2 some e volta lá no finalzinho da série pra lutar ao lado contra a Shocker (nome da organização vilã no Kamen Rider original). Portanto desde então, toda história do Kamen Rider há pelo menos dois deles.

kamen_rider_1_2
Hayato e Hongo

.・。.・゜✭・.・✫・゜・。.Fim do momento história.・。.・゜✭・.・✫・゜・。.

 

A relação entre os dois fica meio merda, Kotaro desconfia bastante do irmão, por outro lado Nobuhiko não aparece tanto para mostrar suas intenções, permanecendo aquele novelão onde a gente fica tentando, rezando, DESESPERADO para o protagonista conheça quem verdadeiramente é a grande vilã. É sério, tem até aquelas encaradas bem novelas da globo pra camera...

ele não é de confiança

Os caminhos que a história levam foram uma grande surpresa pra mim, esperava mais ver de Nobuhiko vs Kotaro, que é uma luta que a todo momento parece que vai estourar, mas não acontece. Motivos? Kotaro tá procurando a base Gorgom a todo custo, e a história viaja MUITO em seus conceitos.

Vamos lá, eu tinha elogiado na resenha passada a apresentação de elementos sobrenaturais para a trama, até porque essa coisa meio "ah é tudo cientista da gorgom" não cola sempre, as produções de heróis parecem ter vergonhas as vezes de falar na palavra mágia, é um receio até justificado, já que a fantasia é muito associado a produções infantis e ninguém quer ser criança ou associado a coisa de criança, então sempre tem aquele vernizinho de adultice, para atrair públicos mais sérios. Mas na boa, se a história fala que os Gorgom são bruxos e o Kotaro passou por um feitiço, eu super comparia tranquilo.

Não deixa de ser uma maldição.

O aspecto sobrenatural volta aparecer aqui, tanto na questão dessas visões aborigenes que assombram o Kotaro tanto na luta contra a DEUSA SHIVA, que tem TUDO A VER com a história que é a deusa da reconstrução e destruição (vice-versa), que é exatamente o plano da organização malígna Gorgom, extirpar a raça humana da terra para a ascensão de uma raça superior. Ela aparece fazendo umas graças, até fora do humor do mangá no geral e pra mim é a melhor personagem.

 

Também garantiu a minha página favorita em todos capítulos pra mim, olha que bonito, é logo depois que Shiva aparece:

belíssimo

Antes de eu comentar o grande final, gostaria de comentar sobre a Gorgom, essa organização não aparece durante toda história. Os capítulos finais focam na caçada por sua base/quartel general, porém não se acha, o máximo que termos são algumas instalações randomicas espalhadas pelo mundo, mas o rosto do grande vilão da história não aparece, só é mencionado. Na série tem um tipo de conselho Gorgom todo engraçadinho, esperava ver suas versões no mangá, mas em nenhum momento aparece.

Isso só dá caldo nessa sopa de desespero que o Kotaro está passando, porque é um moleque de pouco mais 18 anos completos, lutando contra uma coisa que não faz a menor ideia de sua dimensão. Que porra é a Gorgom? Não sabemos. A suspeita é que ela está instalada no Nepal, que é justamente essa luta contra Shiva, mas não dá.

É impossível derrotar um inimigo que você não enxerga, o resultado não poderia ser diferente, a Gorgom venceu. Depois da luta contra Shiva, a linha do tempo vira uma bagunça, Kotaro fica oscilando entre passado e futuro e futurão, o futuro mais longe é onde ele se encontra com o grupo aborigena 30 anos na frente, onde é descrito que ocorreu uma guerra nuclear e quase toda vida humana da terra é estirpada. Onde vive apenas um reinado do Rei Demonio, o grande imperador Gorgom.

Se tu ligou os pontos deve estar pensando que ele é ninguém menos que Nobuhiko, o irmão maléfico do Kotaro hein? Mas não! É O PRÓPRIO KOTARO, fazendo um puta plot twist na história! Então já é ventilado no começo que perdemos, a luta do presente do Kotaro é sem fundamento, a Gorgom irá vencer e ele será o pivô de tudo isso. E a grande luta com seu irmão? Talvez ela tenha acontecendo talvez não, para o último terço, a história oscila entre episódios separados e apesar de acabar o mangá, não nos oferece nenhuma conclusão do que de fato aconteceu.

E mais uma vez esse elemento do "salvador" ser na verdade o vilão, no caso isso é um tema muito presente na história, aquele que se é esperado ser o salvador, na verdade está para destruir o lugar. Como no exemplo específico, Kotaro tinha sido anunciado pelos videntes como salvador, mas ele mesmo era o grande vilão da história. É um subtexto bastante interessante de se observar.

O desespero é o grande elemento de terror presente aqui.

Não atoa, esse é o grande final, no meio da picotagem da linha do tempo, Kotaro aparece em cima de um navio afundado gritando aos ventos "O QUE ESTÁ ACONTECENDO??" e então o mangá acaba. Em um desglorioso fim.

No fringir dos ovos

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Kamen Rider Black não é uma história de ação de aventura com sangue para parecer mais madura, é algo genuinamente terrível, escabroso e com momentos de tensão máxima. Mesmo sem perder elementos essenciais para um Tokusatsu, daí vai ficar naquela se é um tokusatsu de terror ou um terror com elementos de tokusatsu, acredito que tenha valência para as duas interpretações.

A maioria das obras de terror trabalham com o medo, mas esse não é o único sentimento desgostoso no catalogo de emoções humanas, em Kamen Rider Black nada vai te assustar, mas o aflição de acompanhar os acontecimentos... Não é brinquedo não.

Não dá pra ignorar o comentário político presentes, um grupo que quer exterminar a vida humana na terra para império de uma raça superior é nazifascista, não precisa ser tão inteligente para retirar essa interpretação, que está presente desde do primeiro título em 71. Também umas conversas com temáticas relativas ao cyberpunk, uma desconfiança de uma elite corrupta, grandes coorporações e em menor grau os limites do que é a vida humana e daquilo que é uma máquina, ou até onde as máquinas são capazes de ter vida.

Pensa, um desaventurado que consegue vira um grilo gigante é hábil a ser chamado de humano? Díficil dizer, do mesmo valem para os outros monstros.

Mais do que altamente recomendado é um clássico, seja pelo seriado de televisão ou mangá, essa obra precisa estar na sua lista. Especialmente para quem é interessado na cultura japonesa.


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