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Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

Jorge Ben Jor - Homo Sapiens (1995)

 

Informações legais: 
1 de Janeiro de 1995
10 Músicas, 47 minutos
MPB, Discoteca (?), Pop anos 90, funk à gosto
℗ 1995 SONY MUSIC ENTERTAINMENT (BRASIL) I.C.L.

Jorge Ben Jor é uma figura uníssona na música popular brasileira, este homem é praticamente um gênero musical próprio em vida, na verdade, isso não é tão difícil de acontecer. Um artista único não é, necessariamente bom, ou inspirador, ou etc, mas no caso de Jorge é mais do que inspirador, é a história viva 'suingando' pela nossa música. Assim chegamos nesse álbum, o primeiro álbum do Jorge Ben Jor junto a SONY e seu vigésimo nono álbum na carreira aos 56 anos, não é mais um menino, nem um novato, chega já consolidado e conhecido pelo o seu estilo marcante e amplamente acariciado e adorado por a gente (referenciando Amante Amado aqui).

Anos 90, muitos artistas deram uma repaginada no seu estilo, devido a "chegada" de novos instrumentos e novas formas de se fazer música, na verdade elementos da música não mainstream chegaram nas mãos das grandes produtoras, tal qual a popularização dos DJ. Todo fenômeno do rap que deixou fazer música "mais fácil" (ou com mais instrumentos para se brincar), nos anos 90 também termos a consolidação do eurodance e do house, ambos ritmos vindo dos anos 80 que tiveram a sua maturação completa na década seguinte, isso vale pro rap também de uma forma ou outra. Só a título de exemplo cito Lulu Santos, que se desgarrou da imagem de boyzinho rockstar para se consagrar uma grande figura pop, lançando aqueles álbuns maravilhosos dos anos 90, como Assim Caminha a Humanidade e Eu e Memê, Memê e Eu, também lançado pela SONY inclusive. Sou muito fã do Lulu, essa fase noventista é muito boa... Citando outro artista, dessa vez internacional termos o Prince, que também se descolou daquela imagem de jovem, chegando até a trocar de nome, por questões e mais questões.

Então ao chegar em Homo Sapiens, esqueça tudo que conhece sobre Jorge Ben e entenda o contexto de artistas experimentando coisas novas (falando assim até parece droga), em ritmos novos e uma forma nova de fazer música, efeito da grande indústria fonográfica descobrindo elementos que surgiram vinte anos antes (DJ's, sintetizadores, discoteca, samples e outros elementos), mais anos 90 do que isso, só a Tiazinha dançando seminua em plena TV aberta. 
Quem é saudosista desse tempo é canalha ou desinformado

Só a título de curiosidade, esse álbum foi produzido pelo Pena Schmidt, que também produziu os principais álbuns do Ultraje a Rigor e alguns do Titãs, como Cabeça de Dinossauro. 

Aí quanto lero lero cheguei até na Tiazinha. Vamos ao álbum, começando pela sua capa.
Ternos uma coloração vibrantes contendo apenas duas cores, azul claro e uma cor que chamo de 'roso' que é uma mistura entre roxo e rosa, que não fica claro se é nem um nem outro, somado ao Jorge Ben Jor, num sorriso safadinho e seus famosos óculos que viraram marca registrada em algum momento de sua carreira, talvez nos anos 90 mesmo. No reflexo o seu nome e seu álbum numa fonte sem serifa bastante grossa que me lembra a STENCIL (do word mesmo), essa capa me dá uma vibe de rave/balada da época, como se o Jorge Ben tivesse numa, tem esse ar noturno, esse ar de festa, mais ou menos condizente com o que o álbum trás. Sendo bem específico, talvez esteja até errado, olhando pra capa eu lembro da cena inicial do filme Blade (1998), onde a nós é apresentado o personagem, apesar de ser tons diferentes, me trás uma verossimilhança.

Créditos: Long Line - Facebook

Agora tenha a imagem mental do Jorge Ben Jor caçando uns vampiros na noite, é isso. Gosto da capa, é bem bonita. Fico feliz por quem comprou a versão física do álbum, talvez tenha atraído uma galera pela capa, julgando o livro pela capa, termos um bom projeto aqui.

Então você aperta o famosinho botãozinho do play as primeiras notas é uma batida muito forte, eu acho que é um snare (não manjo muito de percussão) junto ao um som mais agudo de sinos, algo que remete a natalino, natal, Jesus, ANJOS, e aqui estamos na música Ave Anjos Angeli, que é só o Jorge Ben lançando um flow brabo com um monte de nonsense característico dele. Muito de suas músicas são meio que codificadas, como W Brasil, Cosa Nostra, Galileu... Da Galiléia e o álbum inteiro da Tábua de Esmeralda né, algumas ninguém se importa muito em decifrar, é o caso dessa e tem outras nesse estilo no álbum também. Eu falei flow que é geralmente associado ao rap, porque ele canta um pouco diferente aqui, por estar tocando um tipo de música com pegada mais no funk (dos anos 70), então em alguns momentos seus versos parecem com a forma que o Gerson King Combo cantava, algo interesse que consegui pontuar.

Em relação a letra, ainda é um álbum do Jorge Ben Jor, então tem alguns fatores comuns a suas oturas obras. Suas letras geralmente são um nonsense, um fato histórico muito aleatório, esoterismos religiosos/leis herméticas/alquimia/magia mesmo, mulheres/estar apaixonado ou futebol. Eu dividi as 10 faixas desse álbum em grupo e vou continuar essa análise em grupo, já que as temáticas são parecidas. Até fiz um infográfico no BrModelo para ilustrar (quem trabalha com modelagem de dados não fique com raiva de mim) Em vermelho as músicas sobre mulher/amor, azul nonsense e verde fato histórico específico.

Vou começar do vermelho, assim que termina Ave Anjos Angeli, termos a bem humorada música Gostosa, que narra, com detalhes, um relacionamento a distância, que na época ainda era por telefone. Essa é a melhor música do álbum, foi a que virou "hit" e ganhou até um vídeo clipe que é hilário de assistir, tá aí outra coisa bem Jorge Ben, bom humor, o que não diminui o seu trabalho, é apenas um toque de comédia que deixa o clima mais leve. Os analistas de cultura dão muito pouco valor as obras engraçadinhas, parece que rir de algo tira a sua qualidade, algo que não faz o menor sentido, muito pelo contrário, por que eu gostaria de uma obra que me faz chorar? Bem, Gostosa tem um ritmo bem gostoso se me permitem outro uso da palavra, uma letra bem chiclete que vai morar na sua cabeça por alguns dias, impossível não ouvir sem cantar junto.

Outro musicão desse álbum, essa é a minha favorita junto a Café e Rabo Preso é Gertrudes Bon Hausen, essa tem uma diferenciação técnica, pelo menos nos meus ouvidos, o ritmo dela é em 6/4 no lugar do convencional 4/4, de novo com o famoso instrumento de percussão torando aqui, e com é bom ouvir ele, apesar que assim, nas músicas do Jorge Ben o instrumento que mais se destaca é a sua guitarra, nesse álbum ficou faltando um riff, um ritmo, uma batida de violão que fosse marcante, mas aquela coisa, os terríveis anos 90. Ainda falando de Gertrudes Bon Hausen o ritmo não é lento, mas a pegada é, aquela coisa arrastada, melosa do bardo (Jorge Ben) abrindo seu coração, a letra é a tão boa que talvez te faça passar vergonha tentando imitar os sons agudos que a sua voz chega.


Não se assuste, estou trazendo a capa do Salve Simpatia (1979) que tem Ive Brussel para falar das mulheres belgas, lembrando de uns dos seus maiores hits, Ive Brussel é sobre uma mulher belga que ficou com ele durante uma turnê em Bruxelas. Ele deve ter alguma relacionado (fantasia talvez) a isso porque em Musas de Bruxelas ele fala de mulheres belgas em genérico e em grupo como "elas querem me ver feliz, elas querem em ver brilhar" com a mesma batida de Gertrudes Bon Haussen, só que com um pianinho/harpa/algo de corda meio bêbado no meio do som, balançando entre a música.

Indo de um polo Benjístico a outro, no campo do nonsense/esoterismos. As vezes o Jorge Ben Jor é partidário a aquela famosa frase do Michael Scott (The Office), algo por volta da melhor temporada da série, também conhecida como quinta temporada.

Fonte: Torre de vigilância

Fazer músicas "sem sentido" é relativamente um artifício comum no mundo das composições, eu vejo como uma forma de quebrar um bloqueio criativo, as vezes fica só algo muito pseudo intelectual e chato, as vezes funciona, no caso do Jorge Ben, funciona MUITO, Rabo Preso é só uma música com pegada de funk 'recitando' ditados populares, com algumas frases aleatórias no meio, é uma boa música, rendeu clipe e talvez seja a segunda mais conhecida do álbum. Em termos rítmicos, é um funk bem clássico, tipo Ohio Players (com direito a metais), que pelo menos a guitarra aparece e se faz mais presente, ainda não é/não parece ser o Jorge Ben tocando, que nesse álbum é só cantor mesmo, ao que parece.
Quando eu digo frases aleatórias peço que me levem ao pé da letra, uma que estou pensando até agora é "Aquele pizzaria recebeu uma encomenda de 300 pizzas" ou o próprio refrão que é "olha o rabo, olha o rabão". Além de um momento aleatório que ele chama uma loirassa de gata, muito hornyposting e pouca música Seu Ben Jor!

I Love Little Black Joe's Band, essa música tem uma batida bem interessante, que deve ser sample de alguma coisa, é um pisadinho de maracatu, que deve ser influência do grupo Nação Zumbi que lançou da Lama aos Caos um ano antes. O ritmo tem uma encorpada melhor, já o Jorge Ben Jor achei meio preguiçoso nessa letra, a melodia é bem genérica, não atoa, eu tive que reescutar a música pra lembrar dela. O mesmo vale para Ubirani Ubiraci, eu parei 47 minutos do dia EXCLUSIVAMENTE para ouvir o álbum, e não lembro dessa música. Sem problemas em relação a isso, nem toda obra precisa ser marcante ou mudar a sua vida. Inclusive acredito que você não irá lembrar dessa postagem até o final do seu dia.

Deixei a minha favorita nessa ouvida por último, já adianto que a minha favorita é Gertrudes Bon Hausen, mas a canção Café que não a conhecia até escutar o álbum inteiro. Então eu tenho a minha favorita, mas por descobri Café, essa foi a minha favorita da experiência. Mais uma vez termos uma guitarrinha funk e o clássico snare pesadão ao fundo, dessa vez o funk tá mais pra James Brown, mas sem acentuação na terceira. Jorge Ben Jor canta "meu amor, meu amor me faz um cafezinho" com tanta paixão que desafia qualquer estômago vítima de gastrite a tomar uma caneca do "preto que virou ouro nas terras do Salgueiro". A letra é como fosse uma apresentação escolar sobre café, só que com alunos sem vergonha de falar ou o professor precisar dar um esporro na turma deixando todo mundo sem graça, menos o Pedro Henrique, que vai ficar fazendo caretas para o outros alunos do fundão.

Eu pressinto que talvez role uma auto referência quando ele cita que a planta veio da Etiópia, a mãe dele é Etíope, então, vai que, é muito difícil procurar algum significado quando a música fala figurativamente de café, apenas. 

Em um apanhado geral, eu tenho a impressão que Jorge Ben Jor só tinha escrito umas três ou quatro no máximo, daí a SONY resolveu dilatar essas 4 composições em 10, em 47 minutos. Dá pra sentir onde é dedo do artista onde é dedo da produtora, por isso, em um apanho geral, o álbum carece de criatividade, apesar do seu conceito ser bom e funciona. Explico, tacar Jorge Ben em um estúdio e adornar com todos esses adereços dos anos 90 é uma ideia boa o conceito criado é bom, mas ele não vai muito além disso. O álbum te entrega tudo que tem a oferecer nas suas duas primeiras músicas, sendo Gostosa o carro chefe do conjunto, que rendeu um clipe hilário, recomendo que vejam AGORA.


Contudo, entretanto, todavia (como dizia meu professor nas aulas de conjunções adversativas) uma hora apresentado todo seu potencial, você tem 40 minutos restantes da mesma coisa. Algumas letras são engraçadas, alguns suingues engatam, mas não é nada muito forte. E aí termos que entender que é um cantor passado do auge, depois desse álbum de estúdio só lançou mais dois e hoje é um simpático senhorzinho de 85 anos. 

No quesito entretenimento, pode te garantir com algumas músicas, como álbum, como conceito, não embala muito. 

Homo Sapiens te ensina que nem tudo precisa ser extraordinário, ouviu, sentiu, toca a vida pra frente que tá tudo certo. 

Vira e mexe tô sempre ouvindo Gertrudes Bon Hausen.

No frigir dos ovos, melhores músicas: Gostosa, Café, Gertrudes Bon Hausen
Músicas pulavéis: Maria Luiza, Homo, Ubirani Ubiraci.

Informações chatas: 

Tracklist: 

1 Ave Anjos Angeli 4:33
2 Gostosa 4:41
3 Maria Luiza 3:55
4 Rabo Preso 4:36
5 Gertrudes Bonhausen 5:55
6 Homo 4:47
7 Musas De Bruxelas 3:45
8 Little Back Joe's Band 5:36
9 Ubirani Ubiraci 4:57
10 Café 3:49

Produzido pelo Pena Schmidt. Não achei mais informações técnicas. 

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