Foda que esse negócio tá perto de fazer 20 anos já |
É impossível ser indiferente a clássicos da cultura pop, não no sentido de gostar ou não, mas de desconhecer. Todo mundo conhece Star Wars, seja quem ainda chama de Guerra nas Estrelas, quem teve a decepção com os episódios I, II e III ou quem foi amaldiçoado com a nova-mas-nem-tanto trilogia da Disney, que acabou por enterrar de vez qualquer boa reputação da aclamada franquia de sucesso.
Não se deixem enganar pelas produções mais recentes da era Disney, Star Wars tem material bom sim. São muitas mídias (jogos, filmes, HQs, séries, animações, estampas feias da sessão nerd da C&A) então dá pra cravar que ninguém é verdadeiramente hater, apenas gosta de uma parcela ou outra do fenomeno Star Wars, no meu caso eu sou bem desinteressado da saga Skywalker, mas gosto muito das histórias "Prequels"/era da Guerra dos Clones e todo seu background político por trás, apesar dos filmes serem sofridos. Que só não são totalmente maculados por causa da existência dessa animação da Cartoon Network que salvou todo o trabalho produzido em Ameaça Fantasma, Ataque dos Clones e Vingança do Sith (especialmente nesse aqui). Na verdade nem lembro se eram tão ruins assim, porque eu dormi nos três.
Nunca pensei que iria falar de Star Wars nesse blog, será que The Clone Wars é bom assim mesmo?
***Podem conter eventuais spoilers da primeira temporada****
Quais são as valências do projeto? Acredito que a principal seja um trabalho de maturidade de ter uma ciência das complexidades dos temas que estão sendo expostos, no caso uma GUERRA, e uma guerra cria naturais entreves éticos, políticos e psicológicos em seus envolvidos. Não são todos que tem uma pegada mais séria, alguns só investem em porradaria desenfreada e muito raio laser pipocando. A gente do episódio piloto com o Yoda descendo a mão em dróides.
Já outros, que eu considero os mais fraquinhos, apostam numa comédia pastelona com o Jar Jar Binks e sua personalidade atrapalhada, apesar dele ter uma relevância, mesmo que mínima, na história aqui. E nenhum dos dois ou três tipos de episódios aparecem na mesma história, cada episódio em um jeito próprio, evitando histórias paralelas que tenham função anti climax. Com a rara exceção dos droides que são cômicos em todos os episódios, mas os mais sérios e com temas sensíveis não tem a presença dos cabeças de latinha.
Esse meio termo entre o clima dos episódios faz com que The Clone Wars nem seja uma novela de guerra chatíssima tipo Brothers in Arms e nem um desenho de criança tipo Max Steel, ai que saudades de ver Max Steel. Assim os dois públicos podem assistir juntos e cada um deles se sair por sastifeito.
A série é boa por tratar de assuntos políticos mais sérios? Sim, mas não somente por isso. Talvez more o maior mérito em conseguir fazer isso mesmo sem perder a carinha de desenho infantil da Cartoon Network, que sempre é bem vindo e vez em quando. A título de comparação, é menos sérios do que Samurai Jack (excelente desenho).
Produções de criança não pode ser sinonimo de coisa ruim e cheio de estimulo visual!
Jack Black nao aguenta mais |
O episódio mais diversão/pipoca talvez seja o piloto, onde o Yoda vai em um planeta para convecer meu lider a se aliar a república, todavia os separatistas já estavam na região, assim eles fecham um duelo e quem sair vivo, terá apoio do rei em questão. Não tem nenhum aspecto político debatido ali, só 10 minutos do Yoda macetando o exército Droide.
Por sua vez, o episódio mais cabeça e, na minha opinião entra em uma das melhores histórias de Star Wars, é o Trespass (ep. 15), onde a ordem Jedi vai investigar um lua (Orto Plutonia) que teve uma base de clones destruída, chegando lá eles descobrem que o responsável pelo o ataque não foram os Separatistas, mas sim um povo (Talz) local que não estava "catalogado" na lista de povos dos quais a república é aliada, ou seja, uma nação sem reconhecimento oficial, um povo desconhecido, que é todo caracterizado como indigenas. O presidente (Chi Cho) do sistema Pantora quer simplesmente exterminar aquela raça dali por considerar eles animais e manter dono daquele território.
Tudo que narrei aqui não é informação subentendida, esse é o texto do episódio. O Chi Cho fala verbalmente que os Talz não passam de animais, mesmo sendo um povo muito antigo da região com língua e cultura própria. Desse episódio podemos extrair uma verdadeira aula de imperialismo, racismo e auto afirmação e independência dos povos. Por isso considero uma das melhores histórias de todo universo (que ja consumi) de Star Wars, porque essa série é sobre isso, luta e resistência dos povos contra o imperalismo.
Uma obra pouco consciente politicamente poderia apenas fazer um ep inteiro de luta no gelo e matança de "selvagens". No lugar de um extermínio maquiado de diversão termina com uma imagem belíssima de paz e reconhecimento dos Talz como uns dos povos independentes da República.
Não precisa ser muito letrado em política pra saber do que esse episódio está falando... |
Outros episódios que abordam tensões políticas é todo o arco do planeta Ryloth (ep. 19, 20 e 21) que vive uma ditadura de um arrombadinho com micropoder. E um interessante episódio que debate questões éticas tradições milenares mesmo em questões extremas, que é o episódio 14 e o povo Lurmen que simplesmente se recusa a lutar em qualquer condição de seja.
A maturidade mora também em como a República não ganha todos os confrontos necessariamente e nem estão travando uma guerra do bem contra o mal, é apenas a República vs Seperatistas, não um heroizinho salvando o universo mais uma vez, até porque uns dos protagonistas que está "salvando o dia" é o Anakin, e todo sabe o que aconteceu. Por exemplo termos jedis mortos em cena por pura burrice, em uns dos melhores episódios da temporada. (ep. 10)
Como é bom ver o Anakin com personalidade, aqui ele já demonstra um avidez, uma falta de paciência, modo truculento e outras ações que destoam bastante dos demais jedis, seus defeitos são aquilo que o fazem excelente, curiosamente. Anakin e Ashoka são os personagens com o mental mais explorado ao longo da temporada, Ashoka por ainda ser bem inexperiente, afoita e sem confiança ainda; por sua vez o seu mestre Anakin leva tudo para um lado bem mais passional e inrresponsável das coisas, como sua ligação emocional com o R2D2 (ep. 6).
Fica uma dúvida se saber como as coisas vão terminar (jedis genocidados, queda do império) dá uma sensação desmotivação de prosseguir a história, mas muito pelo contrário disso. Já pode ter um desfecho esperado, a história pode se concentrar em situações microcósmicas que não envolvam diretamente a "história" principal de Star Wars, Clone Wars acaba lidando mais por histórias situacionais do que universais, focando em coisas "menores" enquanto a guerra clônica acontece.
Oferecendo a pespectiva da guerra fora da lente dos personagens principais, aqui não termos como o Obi-Wan e Anakin enxergam o conflito, mas sim de um povo tão pequeno e pacato como Lurmen são afetados por ela. De maneira que tão pouco importa o resultado daquela cadeia de eventos, mas sim de como bem construída ela é.
Nem todo evento precisa ter dimensões de "salvar o universo todinho" pra ser interessantes, micro-conflitos ou também questões mais intimistas também retratam os impactos de uma guerra.
Mesmo sabendo que nenhum daqueles personagens irão morrer, a série ainda consegue oferecer suspensar de roer as unhas, episódios como o ep que o Anakin quase morre e o arco da gripe azul (ep. 17 e 18). Os roteristas brincam até demais com essa "imortalidade" dos personagens colocando eles em situações mais absurds possíveis.
De personagens em um geral destaco o General Griveous que é o meu favorito e a Senadora Padmé que me surpreendeu em não ser uma princesa em apuros esperando que alguém a salvasse. Dos demais, mesmo com um tempo de tela bem inferior ao habitual para protagonistas, conseguem estar melhores desenvolvimento. Também com ótimas aparições de personagens novos.
Do lado Separatista liderado pelo Conde Doku (ou Denku no Brasil por questões de quinta série), me agrada como o "lado negro da força" não é mencionado, de novo, afastando o manequismo de luta do bem contra o mal, apesar dos Siths serem mais crueis e desleais, a república é mostrada como omissa. No fim, apesar da República ser a melhor opção, não fica muito claro até que ponto eles são de confiança ou seguros no que estão executando.
Isso só é possível porque The Clone Wars oferece uma nova visão da Guerra Clônica e mesmo sem foco integral em suas personagens principais, entrega uma obra que não perde o espírito que Star Wars tem, ou costumava ter.
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