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Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

Quando o verde encontrou a verdinha. O Incrível Hulk #231 (Roger Stern, Sal Buscema e Mike Esposito)


É OFICIAL: Apertaram a braba.

Como já trouxe aqui para nosso querido blogzinho, essa era do Hulk do final dos 70 foram uma verdadeira maluquice, o personagem deixou de ter aquela dinâmica do médico e o monstro pra virar só um monstro verde gigante que representa uma AMEAÇA REAL para os Estados Unidos, onde tipo uns 80% é o Hulk vageando por aí, batendo em polícia, batendo no exército e eventualmente lutando contra um vingador. Essa não é diferente.

Hulk não é um herói mais, Hulk não tem evolução pessoal, sua vida virou um grande ciclo vicioso de raiva descontrolada e medo, em uma frase: A vida de Hulk não tem um rumo mais. Esse caráter melancólico dá uma liberdade de roteiro de colocar o verdão em qualquer situação que se possa imaginar, ele nem precisa salvar o dia, o roteiro é bem mais livre e por isso termos tantas histórias diferentes aqui.

Eu vi essa história em um reels do instagram, eu tive que checar do que se tratava, aqui é material investigativo também!

Qualé a da vez? Tudo começa de madrugada quando um hiponga é expulso de um bar de caipiras no interior da California.

beber fiado é foda mesmo


Para sua enorme sorte, simplesmente o Hulk, que é um exímio vagabundo nato, estava andando pela região e confundiu o tiozão caipira que estava com uma jaqueta preta com um soldado, fato que o deixou puto de raiva e desceu a mão nele. Assim os outros rapazes do bar saíram correndo.

o hiponga, Fred Sloan, de cara fez amizade com o Hulk e teve a brilhante ideia de levar ele pra casa, só que esqueceu de avisar pra sua esposa/namorada, de manhã o susto não foi pouco. Essa cena é incrivelmente cômica da mulher desesperada enquanto o Hulk estava na paz dele comendo um feijaozinho.




Pra variar, a paz do nosso herói em decadencia dura pouco, já que a dona resolve chamar a polícia, mas quem entra em desespero é o hiponga do Fred Sloan, porque ele sai mó desesperado, mesmo tendo A PORRA DO HULK com ele, será que alguns polícia seriam capaz de parar o Hulk? Quem já leu os quadrinhos sabe que jamais, aí que tá.

Fica de subtexto que esse hiponga já tá fichado ou tem culpa no cartório, se baseando na máxima da vida que quem não deve, não teme ou não treme. Assim ele mete o pé em sua van velha em caminho a Beverly Hills.


"já estive em blitz piores, eu consigo passar nessa" Existe cenário pior?

Vale registar que o nosso amigão do verde teve a ideia genial de só colocar um chápeu panamá e um poncho para esconder uma criatura do TAMANHO do Hulk, OBVIAMENTE NÃO DÁ CERTO, o Hulk se estressa assim que vê os homens e porra, destrói a porra toda, viatura, os mike, as armas, não sobra nada. Esse ponto do Hulk ter uma raiva irracional de homens de farda é um aspecto interessante.

ACAB. 
A história acaba com a fuga dos dois e continua no issue #230 do Capitão América (ou no caso tipo #231-B do Hulk...), que tem todo uma história paralela do Steve Rodgers em Alcatraz procurando por seu companheiro, o Falcão.

Depois da apresentação desse prólogo, os recém amigos estão correndo em alta velocidade nas estradas da California enquanto o nosso amigo Fred parece ser muito nervoso.... Por algum motivo... Para relaxar e espairecer das ideia, ele decide acender um cigarrinho de artista, e a lombra foi tão pesada que só a fumaça foi suficiente para o Hulk relaxar e voltar a ser o Bruce Banner!

Na moralzinha? O Hulk se relaxar por ficar chapado é o melhor plot dos quadrinhos que já vi, como que ninguém nunca pensou nisso antes?

Curioso como o Hulk é tratado nos quadrinhos como a maior ameaça a segurança nacional, um caso sem solução que envolve até os vingadores em muitas histórias (ele até luta contra o Capitão América nessa), mas tudo poderia ser resolvido com... Uma erva natural. Como o Bruce Banner é pouca coisa mais fraco do que o Hulk, são parados novamente, o Bruce foi reconhecido pelos policiais que não hesitou em atirar nos dois, dando cabo na vida do nosso querido maconheiro.

O maconheiro não ficou para ver o natal.
Essa história em específico do Hulk me fez pensar no quanto as forças de segurança (polícia e exército) são ineficazes ou até que ponto estão em busca de realmente resolver o problema, porque veja como em inúmeras histórias o Hulk é colocado contra o exército, mas nada irrita mais o monstrengo verde do que armas de fogo e homens de farda, por que a estratégia não muda? Até que ponto o Hulk, quando calmo e só andarilho, é uma verdadeira ameaça para o bem estar das coisas? Isso pode valer para a ideia genérica de criminalidade ou a questão específica de drogas, só que a resposta para o conflito da guerra as drogas é um pouco mais evidente a questão racial envolvida e as ferramentas de controle de populações racializadas.
Políticas conservadoras sempre aumentam o orçamento e promessas de mais repressão sobre o pretexto de evitar o mal maior, mas parecem não consegui dimensionar o quanto o remédio está agravando a doença, é exatamente o caso do Hulk, quanto mais ele enfrenta homens armados mais ele se enfurece, mais se isola e fica cada vez mais díficil, o que resulta no envio de mais homens armados e o ciclo vai se alimentando (pensando essa fase Sal Buscema do Hulk em específico).
Ninguém quer acabar como o Hulk porque sem ele não haveria uma razão de tanto investimento em bases militares ou em armas de guerra, mais polícia nas ruas e outros meios de "combate" do Estado.
Não que o Hulk não seja um problema, mas será que a estratégia adotada para lidar com ele é eficaz até que ponto? Ainda bem que tudo se trata de uma história em quadrinhos, imagina viver em um mundo desses, ai ai...
Tentando fazer uma associação forçada que eu não consegui desenvolver, as vezes parece que o Bruce Banner parece ser um viciado crônico, em um estado de descontrole que o tempo todo está tentando ser ajudado por amigos, no caso os vingadores. Mas aí é filosofia de boteco demais.

Viajei? Não sei

Voltando para história, fica óbvio que o Bruce Banner vai pra Alcatraz por algum motivo e lá se encontra com o Capitão América, sai a maior porradaria dele com o primeiro vingador e o resto... Ah o resto você tem que ler o capítulo #232 pra saber né amigão, sabe como é as histórias em quadrinhos.

Só digo que o issue #231b acaba assim:


Assim, no fringir dos ovos verdes e irritados:

Fried Egg GIFs | Tenor


Todos os problemas do nosso grande amigo Hulk poderia ser resolvido se ele bolasse um para esquecer dos problema. Como dizia Planet Hemp, uma erva natural não pode te prejudicar.



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Política anda junto com diversão e "spoiler" não estraga história. The Clone Wars (1ª temporada) - Cartoon Network, 2009


Foda que esse negócio tá perto de fazer 20 anos já

É impossível ser indiferente a clássicos da cultura pop, não no sentido de gostar ou não, mas de desconhecer. Todo mundo conhece Star Wars, seja quem ainda chama de Guerra nas Estrelas, quem teve a decepção com os episódios I, II e III ou quem foi amaldiçoado com a nova-mas-nem-tanto trilogia da Disney, que acabou por enterrar de vez qualquer boa reputação da aclamada franquia de sucesso. 

Não se deixem enganar pelas produções mais recentes da era Disney, Star Wars tem material bom sim. São muitas mídias (jogos, filmes, HQs, séries, animações, estampas feias da sessão nerd da C&A) então dá pra cravar que ninguém é verdadeiramente hater, apenas gosta de uma parcela ou outra do fenomeno Star Wars, no meu caso eu sou bem desinteressado da saga Skywalker, mas gosto muito das histórias "Prequels"/era da Guerra dos Clones e todo seu background político por trás, apesar dos filmes serem sofridos. Que só não são totalmente maculados por causa da existência dessa animação da Cartoon Network que salvou todo o trabalho produzido em Ameaça Fantasma, Ataque dos Clones e Vingança do Sith (especialmente nesse aqui). Na verdade nem lembro se eram tão ruins assim, porque eu dormi nos três.

Nunca pensei que iria falar de Star Wars nesse blog, será que The Clone Wars é bom assim mesmo?


Inicialmente, seria injusto comparar a animação com os filmes da trilogia prequel por alguns motivos muito simples:
#1 os filmes sairam antes, então quem produziu a animação estava ciente do que não deu certo;
#2 O modelo de 22 episódios de 20 minutos dá uma liberdade maior, mais desenvolvimento e planejamento do que 3 filmes blockbusters e afins. Por incrível que pareça, não é nem por questão de minutagem, já que a primeira temporada tem praticamente a mesma minutagem da trilogia. É questão de formato. 

Se tratando de mídas diferentes, com propostas e abordagens diferentes, sequer cabendo comparação.

De maneira que The Clone Wars tem méritos próprios, ao invés de serem só melhores que os filmes (o que não é díficil). E aqui eu paro a zoação com os citados filmes, a internet já cuidou bem desse assunto. 

***Podem conter eventuais spoilers da primeira temporada****

Quais são as valências do projeto? Acredito que a principal seja um trabalho de maturidade de ter uma ciência das complexidades dos temas que estão sendo expostos, no caso uma GUERRA, e uma guerra cria naturais entreves éticos, políticos e psicológicos em seus envolvidos. Não são todos que tem uma pegada mais séria, alguns só investem em porradaria desenfreada e muito raio laser pipocando. A gente do episódio piloto com o Yoda descendo a mão em dróides. 

Já outros, que eu considero os mais fraquinhos, apostam numa comédia pastelona com o Jar Jar Binks e sua personalidade atrapalhada, apesar dele ter uma relevância, mesmo que mínima, na história aqui. E nenhum dos dois ou três tipos de episódios aparecem na mesma história, cada episódio em um jeito próprio, evitando histórias paralelas que tenham função anti climax. Com a rara exceção dos droides que são cômicos em todos os episódios, mas os mais sérios e com temas sensíveis não tem a presença dos cabeças de latinha. 

Esse meio termo entre o clima dos episódios faz com que The Clone Wars nem seja uma novela de guerra chatíssima tipo Brothers in Arms e nem um desenho de criança tipo Max Steel, ai que saudades de ver Max Steel. Assim os dois públicos podem assistir juntos e cada um deles se sair por sastifeito.

A série é boa por tratar de assuntos políticos mais sérios? Sim, mas não somente por isso. Talvez more o maior mérito em conseguir fazer isso mesmo sem perder a carinha de desenho infantil da Cartoon Network, que sempre é bem vindo e vez em quando. A título de comparação, é menos sérios do que Samurai Jack (excelente desenho).

Produções de criança não pode ser sinonimo de coisa ruim e cheio de estimulo visual!

Jack Black nao aguenta mais 

O episódio mais diversão/pipoca talvez seja o piloto, onde o Yoda vai em um planeta para convecer meu lider a se aliar a república, todavia os separatistas já estavam na região, assim eles fecham um duelo e quem sair vivo, terá apoio do rei em questão. Não tem nenhum aspecto político debatido ali, só 10 minutos do Yoda macetando o exército Droide.


Por sua vez, o episódio mais cabeça e, na minha opinião entra em uma das melhores histórias de Star Wars, é o Trespass (ep. 15), onde a ordem Jedi vai investigar um lua (Orto Plutonia) que teve uma base de clones destruída, chegando lá eles descobrem que o responsável pelo o ataque não foram os Separatistas, mas sim um povo (Talz) local que não estava "catalogado" na lista de povos dos quais a república é aliada, ou seja, uma nação sem reconhecimento oficial, um povo desconhecido, que é todo caracterizado como indigenas. O presidente (Chi Cho) do sistema Pantora quer simplesmente exterminar aquela raça dali por considerar eles animais e manter dono daquele território.

Tudo que narrei aqui não é informação subentendida, esse é o texto do episódio. O Chi Cho fala verbalmente que os Talz não passam de animais, mesmo sendo um povo muito antigo da região com língua e cultura própria. Desse episódio podemos extrair uma verdadeira aula de imperialismo, racismo e auto afirmação e independência dos povos. Por isso considero uma das melhores histórias de todo universo (que ja consumi) de Star Wars, porque essa série é sobre isso, luta e resistência dos povos contra o imperalismo. 

Uma obra pouco consciente politicamente poderia apenas fazer um ep inteiro de luta no gelo e matança de "selvagens". No lugar de um extermínio maquiado de diversão termina com uma imagem belíssima de paz e reconhecimento dos Talz como uns dos povos independentes da República. 

Não precisa ser muito letrado em política pra saber do que esse episódio está falando...

Outros episódios que abordam tensões políticas é todo o arco do planeta Ryloth (ep. 19, 20 e 21) que vive uma ditadura de um arrombadinho com micropoder.  E um interessante episódio que debate questões éticas tradições milenares mesmo em questões extremas, que é o episódio 14 e o povo Lurmen que simplesmente se recusa a lutar em qualquer condição de seja. 

A maturidade mora também em como a República não ganha todos os confrontos necessariamente e nem estão travando uma guerra do bem contra o mal, é apenas a República vs Seperatistas, não um heroizinho salvando o universo mais uma vez, até porque uns dos protagonistas que está "salvando o dia" é o Anakin, e todo sabe o que aconteceu.  Por exemplo termos jedis mortos em cena por pura burrice, em uns dos melhores episódios da temporada. (ep. 10)

Como é bom ver o Anakin com personalidade, aqui ele já demonstra um avidez, uma falta de paciência, modo truculento e outras ações que destoam bastante dos demais jedis, seus defeitos são aquilo que o fazem excelente, curiosamente. Anakin e Ashoka são os personagens com o mental mais explorado ao longo da temporada, Ashoka por ainda ser bem inexperiente, afoita e sem confiança ainda; por sua vez o seu mestre Anakin leva tudo para um lado bem mais passional e inrresponsável das coisas, como sua ligação emocional com o R2D2 (ep. 6).

Fica uma dúvida se saber como as coisas vão terminar (jedis genocidados, queda do império) dá uma sensação desmotivação de prosseguir a história, mas muito pelo contrário disso. Já pode ter um desfecho esperado, a história pode se concentrar em situações microcósmicas que não envolvam diretamente a "história" principal de Star Wars, Clone Wars acaba lidando mais por histórias situacionais do que universais, focando em coisas "menores" enquanto a guerra clônica acontece. 

Oferecendo a pespectiva da guerra fora da lente dos personagens principais, aqui não termos como o Obi-Wan e Anakin enxergam o conflito, mas sim de um povo tão pequeno e pacato como Lurmen são afetados por ela. De maneira que tão pouco importa o resultado daquela cadeia de eventos, mas sim de como bem construída ela é.

Nem todo evento precisa ter dimensões de "salvar o universo todinho" pra ser interessantes, micro-conflitos ou também questões mais intimistas também retratam os impactos de uma guerra. 

Mesmo sabendo que nenhum daqueles personagens irão morrer, a série ainda consegue oferecer suspensar de roer as unhas, episódios como o ep que o Anakin quase morre e o arco da gripe azul (ep. 17 e 18). Os roteristas brincam até demais com essa "imortalidade" dos personagens colocando eles em situações mais absurds possíveis. 

De personagens em um geral destaco o General Griveous que é o meu favorito e a Senadora Padmé que me surpreendeu em não ser uma princesa em apuros esperando que alguém a salvasse. Dos demais, mesmo com um tempo de tela bem inferior ao habitual para protagonistas, conseguem estar melhores desenvolvimento. Também com ótimas aparições de personagens novos. 

Do lado Separatista liderado pelo Conde Doku (ou Denku no Brasil por questões de quinta série), me agrada como o "lado negro da força" não é mencionado, de novo, afastando o manequismo de luta do bem contra o mal, apesar dos Siths serem mais crueis e desleais, a república é mostrada como omissa. No fim, apesar da República ser a melhor opção, não fica muito claro até que ponto eles são de confiança ou seguros no que estão executando.

Isso só é possível porque The Clone Wars oferece uma nova visão da Guerra Clônica e mesmo sem foco integral em suas personagens principais, entrega uma obra que não perde o espírito que Star Wars tem, ou costumava ter. 

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O Passo do Lui (1984)


Informações legais:
21 de setembro de 1984
10 músicas, 34 minutos
Odeon;
Rock Nacional, Ska, Pop Rock, New Wave.

Aqui vai uma curiosidade: Nenhuma das bandas consideradas do "rock nacional" realmente são de rock, talvez vai, o chatíssimo do Lobão, mas demais artistas tipo Lulu Santos, Kid Abelha, Blitz oy Legião Urbana na verdade são bandas de subgêneros que não possuíam capilaridade no Brasil para serem chamados pelo nome, chegando aqui como rock, quando são um pouco mais. A exemplo de New Wave (todo rock nacional dos anos 80 é só new wave) e post-punk purinho no caso do Legião Urbana. Era o que imperava no mercado fonográfico dos anos 80. É tipo o primeiro album do Capital Inicial, se fosse lançado na Inglaterra seria um álbum gótico, mas no Brasil se chama genericamente de rock. 


É o caso de Os Paralamas do Sucesso, que nesse álbum traz o puro suco do ska inglês, mas... squem?!

Ska é um ritmo música jamaicano que surgiu naquele caldeirão de ritmos na primeira metade dos anos 60 e a difusão de álbuns estrangeiros na Jamaica, nessa toada que surgiu o rocksteady e o ska, com a imigração de jamaicanos para a Inglaterra e a integração desses atores na classe trabalhadora, sua cultura se difundiu pelos setores mais populares da terra da extinta rainha. Os dois principais nomes do ska jamaicano são o Desmond Dekker e o Laurel Aitken. 

A primeira fase se deu com a fundação da Trojan Records (1968) por lá criou-se toda uma cultura de ska e rocksteady no Reino Unido, não demorando muito para formar seu primeiro público alvo, derivado da cultura mod, os hard mods, ou mobs que viriam a ser os skinheads com suas calças jeans baratas, coturnos, suspensórios, mal encarados e cabeças raspadas. Em atenção ao álbum de ska de 1970 do Symarip Skinhead Moonstomp, onde músicos negros estavam fazendo som para pessoas brancas (em sua maioria).


A características mais identificáveis do ska é uma guitarra batendo no contra tempo, metais (trompetes e trombones), muito parecido com o reggae, mas com um ritmo bem mais rápido e uma abordagem mais "alegre" assim por dizer, sem ligações religiosas* e menções ao rastafari. Regado claro com muita cerveja e mosh pit a vontade. 

*Rastafari não é bem uma religião, foi para fins explicativos. 

Já a segunda fase do ska, essa que influenciou em muito a música brasileira e furou a bolha underground, é conhecida como ska 2-tone, devido a gravadora 2-tone que mantém muito das características do ska, mas com toda uma estética nova, como ternos na estética rudeboy (estética jamaicana que imitava mafiosos hollywoodianosdos anos 40), quadriculados pretos e brancos e dois vocalistas. Existem 4 álbuns mega influentes e essenciais para entender o gênero, lançados entre 1979-1980.


- The Specials (1979)
- Too Much Pressure do The Selecter (1979) que é genuinamente uns dos melhores álbuns de todos os tempos. 
- Ska'n'b do Bad Manners (1980) 
- One Step and Beyond do Madness (1980) 

Bandas como Madness já faziam um som bem diferente do ska 2tone do The Specials e Selecter, trazendo aquilo que ficaria conhecido na indústria como New Wave, que é praticamente todo rock nacional dos anos 80, bandas como The Police e Fine Young Cannibals solidificam o new wave e muito influenciam em nossas terrinhas. Esse intermédio entre ska e new wave fica mais evidente em The Beat. e MUITO em Our House do Madness

Mas bem, a segunda onda do ska não durou muito comercialmente, morrendo junto com o punk inglês (punk clássico, o hardcore e Oi! existem até hoje). Meio que quando ele chegou aos discos, foi seu momento fim. The Specials mesmo nunca mais gravou outro álbum além do debut. 

O movimento foi estragado pela aura podre da Margaret Thatcher, que satanás tenha bem guardada, tinha acabado de ser eleita em decorrência de uma tensão política insana que vigorou por todos anos 70, ou a perda de espaço mesmo para novos generos musicais que estavam pipocando (como o próprio new wave e a onda post-punk e as bandas góticas tipo The Cure). 3 fundadores do The Specials fundaram uma banda de new wave chamada Fun Boy Three, abandonando o ska. 

No finalzinho dos anos 70 houve um movimento deliberado do National Front para invadir grupos de skinheads e punk, por isso hoje termos skinheads nazistas e a péssima fama que os carecas mais gente boas da europa ganharam. A cena virou palco de sobrevivência da classe contra ideários nazistas. Mas isso é papo para outra postagem.

Resumindo o que importa: #1 a segunda geração de ska (2-tone) foi muito influente na música brasileira e compõe o rol de influencia de músicos dos anos 80. #2 Skinhead não fecha com fascistas, só tem uns cuzão que estão desavisados. 

Que volta para falar de Os Paralamas do Sucesso, que eu vou chamar de Paralamas ao decorrer do texto para economizar teclado. 

A influência do Paralamas é evidente: A música britânica, especialmente o power trio (banda com três pessoas apenas, igual ao Paralamas) The Police, em seu álbum de estreia, Cinema Mudo apresenta uma sonoridade identica a banda britanica, isso fica muito claro em faixa título que é bastante similar com músicas tipo Do Do Do Da Da Da e assim como The Police, já no primeiro já aparecia uma coisinha ou outra com influencia jamaicana. The Police é tão próximo da música brasileira que parece uma banda de rock nacional.

Muita gente pode pensar que comparar com outra banda ou outro cantor é uma forma de diminuir o artista, mas muito pelo contrário, todo mundo bebe de alguma fonte e tem suas inspirações, linkar esse tipo de coisa é para fins explicativo e para situar o leitor do tipo de som que estamos falando. 

Se bem que a altura do Cinema Mudo, eles nem eram tão bons assim. O primeiro álbum é meio verde ainda, vendeu quase nada.

Assim, Herbet Vianna e uma turma decide dar repensar e abraçar a sonoridade do ska de uma vez por toda, O Passo do Lui não é só um álbum de ska, como uns dos melhores exemplares que termos a disposição. Chegaremos lá.

E o que O Passo do Lui tem a nos oferecer?
Foto preto e branca, passinho conhecido como skank, que retrata o mencionado amigo brasiliense Lui, que era muito fã de ska, ou ainda é se não morreu. Uma colagem simples, com a foto em transversal, uma fonte blocada e o nome do álbum vazado ao fundo. É muito díficil achar essa imagem em alta qualidade na internet, mas meio que combina com a estética dela, é tipo ver aqueles jogos de futebol dos anos 90 com a imagem toda esticada e saturada em VHS. Faz parte.

Além da imagem de centro com preto e branco se tem um branco ao fundo bem presente, o que deve deixar a capa do vinil bem bonita. No canto superior a direita tem a banda, bem discreta e do outro lado tem outra imagem do Lui. Não acho tão bonita, mas comunica algo bem formal e divertido ao mesmo tempo, pelas cores do roxo e azul e essa fonte sem serifa bem blocada e compacta.

Fontes sem serifa e grossas geralmente tem uma conotação empresarial, algo formal, bem business. Mas também remetem a tipografia de revistas, algo de anúncio, algumas bandas usam desse tipo de fonte como sua logo. Ou em albuns específicos.
 
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/2/2e/PiLFirstIssue.jpg
Public Image - First Issue (1978)

Não é a escolha de design que mais salta aos olhos, mas é um contraste interessante. Me agradou a tipografia utilizada. 

Funciona melhor no vinil do que nas mídias digitais. Lembrando que o álbum é pensado pro vinil. 

bonito hein
Bonito e raro, porque a maioria dos vinils não saíram com esse encarte do meio devido a um erro de impressão. 
Fica de informação que essa capa foi projetada pelo cartunista Ricardo Leite, que também trabalhou como designer.

Talvez alguém que não fosse familiar com o ska, estaria pensando que o Lui do álbum estava imitando o Chaves. 

https://blog.kellychristi.com.br/wp-content/uploads/2023/11/Zas-Zas-Chaves.gif
Parece demais.
 
Agora chegamos na parte que importa, vamos falar da música? Como esse álbum é curtinho e eu gostei de todas as músicas, vou falar uma por uma

Assim que você aperta o play é surpreendido por uma enlouquecedora de bateria no começo de Óculos que é seguido por um instrumento bastante tropical, algo que seria mais ou menos um xilofone ou um tambor de aço, bem utilizado em países como Trindad e Tobago, a bateria do João Barone aqui tá uma delícia, bem seca, dando seguimento a música e sem viradas desnecessárias, eu gosto bastante do snare (ou CAIXA em português) aqui.O baixo do Bi Ribeiro aparecendo menos, seguindo só de acompanhamento e a característica guitarra nesse efeito meio vago que é a marca registrada do Paralamas (também do Police, mas é outra história), Herbet Vianna também na voz e composição, formando o power trio mais conhecido do Brasil.

A música em si varia entre um pop rock nos refrões e um quase ska no versos, cantando sobre um menino que não tem tanta segurança com seu aparencia quando usa óculos. É um bom tema de abertura.

Meu Erro
- dispensa comentários falar como Meu Erro é um musicão da porra. Eu sei cantar essa música de cor e salteado. É em Meu Erro que Paralamas faz o seu nome a apresenta suas credenciais no mundo da música. Pelo o baixo estralando, bem mais presentes, excelentes condução da bateria e o vocal meloso e apaixonado do Hebert Vianna, que não tem um vozeirão de te pular da cadeira, mas aquela voz que toca no fundo do coração, até quando a voz dele "falha" no refrão reforça mais sua interpretação do que algo negativo. Pense numa música sofrida... Essa guitarra de Wah-wah e um sintetizador que dá o tempero final.

Tirem essa ideia da cabeça de vocês que só uma voz potente e tecnicamente impressionante que é capaz de emocionar, quem nunca sentiu nada ouvindo Meu Erro tá ouvindo bem errado.

Meu erro trata de um relacionamento que não deu muito certo numa maneira bem jovial, que parece ser um casal no primeiro amor, ao mesmo tempo que é inexperiente, é bem maduro que acompanha uma real evolução do Hebert enquanto compositor, lembrando que Os Paralamas do Sucesso começou como uma banda satírica e tentou tocar sério por ver potencial em seu trabalho.

Uma música de temática um pouco triste, porém alto astral, bem chiclete de ficar na sua mente a semana toda, um verdadeiro hit/clássico que não pode faltar em qualquer lista decente sobre música nacional. 

Fui Eu - todas as músicas do Passo do Lui tem um climão de praia, cerveja barata, areia nos pés e aquele calorzão do Rio de Janeiro. Fui Eu essa é a que tem mais. Tem bastante groove e dá vontade de dar mandando o passinho do chaves (skank), bastante animada e o refrão me lembra as músicas do Lulu Santos, tanto pelo arpejo tanto pela letra que diz "Vai ver que a confusão fui eu que fiz". Um lick bem interessante de baixo na ponte, bastante notas fantasmas de acompanhamento que dá a característica batida pecurssiva. uma JÓIA ESCONDIDA no meio do álbum

Romance Ideal - baladinha romântica mega 80tentista, abandonando por hora o clima de festa do ska, mas ainda bem alto astral. Belíssima aplicação dos efeitos de guitarra do Vianna e o trabalho pornográfico de bateria do Barone que porra, vou parar de mencionar para evitar a repitação.

Aqui fica mais evidente quanto o Hebert Vianna dá uma falhada na voz as notas mais agudas, porém disfarça isso deixando uma raspadinha que fica muito estilo. Na partes de "Se eu queria enlouquecer esse é o romance ideal" dá uma tremidinha que agrega, agrega bastante. A letra fala mais uma vez sobre culpa ou gaslight, o caratér dúbio de interpretação que algumas músicas de romance trazem é uma valoração enorme para os complicados tipos de relacionamento que termos por aí.

Falando de erro de novo, eu acho que o Hebert aprontou alguma coisa e se insipirou pra fazer música.

Ska - na moral, se o Madness tivesse colocado essa música em One Step and Beyond ninguém iria perceber, musicão da porra que começa com metais (me pareceu um sax ou trompete), ritmo frenético que é puro suco do ska 2tone inglês, uma pedrada sem tamanho. Talvez a minha favorita. A Globo estragou um pouco porque é tema da novela Cara e Coragem então tocava muito na TV recentemente.

Mensagem de Amor
- outro new wave muito qualquer coisa sobre qualquer amor na vida. Sabe quando o horoscopo acerta direitinho como vai ser seu dia? Talvez seja porque ele não especificou que você vai dar uma topada no cantinho da cama com o pé. Apesar da letra ser bem pouca coisa, a melodia é bem interessante e o som tá decente. Bem mais puxada para o rock algo mais tristonho que desacelera o álbum depois da faixa ska.

Me Liga - Essa é aquela música que o Lobão jura que o Hebert plagiou dele? HAHAHAHHA ele sempre foi muito mala, tenha fé. Vamos lá explicar a treta. Lobão e Paralamas tem uma certa rivalidade comercial, que é bastante comum no mundo da música, mas o Lobão tem uma treta unilateral que ele jura de pé junto que o Hebert Vianna está roubando as ideias dele, entre as conspirações malucas é de Me Chama que também de 84 com essa faixa, Me Chama foi lançada alguns meses antes (único sucesso da carreira do Lobão). Lobão também já admitiu mudar o jeito de cantar para se distanciar do Hebert Vianna e entre outras acusações daquele cabeça de vento cabeludo.

Bem, assim como Me Chama, Me Liga é uma balada romântica e só. Um ponto de composição do Hebert é o uso o tempo inteiro de contratações/justaposição que fica mais evidentes aqui, como em:
"O nosso jogo não tem regras nem juiz/Você não sabe quantos planos eu já fiz/Tudo que eu tinha pra perder eu já perdi/O seu exército invadindo o meu país" que me parece mais uma paixão avassaladora e coisas do tipo. Essas montagem de cenários contraditórios é comum em demais letras, mas aqui bem mais bonito e funciona melhor.

Assaltaram a Gramática
- única música não composta pelo Hebert Vianna, de composição do Wally Salomão e com participação de Lulu Santos, sou muito fã do Lulu, mas essa música parece coisa que professor de português passa na sala do sexto ano e ninguém entende nada, não só pela letra com menção metalinguistica a língua portuguesa, mas o som. Ficou meio executiva. Eh. Excelente participação do Lulu Santos que acerta tudo que faz nessa vida, lindo maravilhoso.

Não que seja uma música ruim, é mais anti-climax. 

Menino e Menina - não é uma música da Damares, apenas uma versão reduzida de Eduardo e Mônica de um casal que não tem nada a ver. Tirando que os mesmos estão na faixa de idade parecida. Do som, elementos caribenhos delicosos aqui, de novo aquele instrumento misterioso de Óculos, uma guitarra bem mascadinha e umas viradas de bateria que me lembram o Axé baiano, bandas tipo Chiclete com Banana (que estavam no início da carreira).

O Passo do Lui - Na última música do álbum mais uma de ska puro. Puro quanto aquela cerveja preta da Guiness e pub ingleses. É uma música instrumental para fechar o álbum que te deixa com gostinho de quero mais. De novos metais aparecendo, gritos no meio do estudio e demais coisas bem características.

No fringir do passinho...


Um álbum de 10 músicas que gerou 7 singles e 250 mil cópias não tem outro nome a não ser clássico geracional, um álbum que deve ter apresentado o ska para muita gente. Canções cativantes, energia jovial e um bom senso de maturidade para tratar de relacionamentos espinhosos. Será que o Hebert Vianna errou? Em fazer o Passo do Lui com Bi Ribeiro e o João Barone com certeza que não errou, e seja lá que você tenha feito, eu te perdoo. 

Álbum marcante por seu alto astral, energia, músicas de letras simples e curtinhas, ritmos caribenhos, uma bateria espectacular e uma guitarra que muito marcou a geração do rock racional dos anos 80. 

Informações chatas:
Composição, Guitarra e voz - Hebert Vianna
Baixo - Bi Ribeiro
Bateria - João Barone
Saxophone – Leo Gandelman

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