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Bem-vindes a Marginália 3

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ATÉ O GOVERNO DE WAKANDA NÃO PRESTA, FAZ O T - A Fúria do Pantera (Jungle Action, #6 à #18, Don McGregor, 1973)

Até nos quadrinhos o T'Challa é meio cuzão vai, muito difícil gostar do personagem. Mais difícil ainda é defender Wakanda, mas aí estaria eu me adiantando no assunto dessa resenha. 

Do que A Fúria do Pantera se trata? É mais ou menos a primeira história do Pantera Negra fora do Vingadores, não sendo uma história de criação, mas meio que definiu em todas as outras mídias quem seria o Rei T'Challa e o que seria o Pantera Negra. Dizer que é A MELHOR HISTÓRIA do Pantera Negra é um rótulo pesado, todavia, com toda certeza é o melhor tratamento que a Marvel já deu ao personagem, que sempre foi um herói da linha B da editora, apesar de Vingador. 

Antes de falar da resenha em si, vale uma contextualização, senta que lá vem a história. Em dois pontos:

- o PANTERA NEGRA foi criado ANTES do Partido dos Panteras Negras lá na Califórnia.

Como vocês devem saber, o Pantera Negra foi criado para uma história Quarteto Fantástico (#52 Julho de 66), na era Stan Lee e Jack Kirby, o Stan Lee e o Jack Kirby  falaram que pensou no personagem por sentir falta de heróis negros nos quadrinhos, que o mesmo seria amigos de pessoas negras, percebeu a existência de um público negro e conhecia excelentes artistas negros. Então criou o Pantera Negra sem qualquer pretensão política ou aceno aos "direitos civis", isso faz bem mais sentido se olharmos para a primeira história dele, tá mais pra um Doutor Destino negro do que outra coisa... Ele surge como um desconfiado líder e depois se alia ao quarteto para executar sua vingança contra o Garra.


T'Challa me lembra também o Mansa Musa, que talvez tenha sido o homem mais rico de todos os tempos. 

Depois de seu debut, T'Challa se muda para Nova York, fazendo umas aparições breves em histórias do Capitão América e depois sendo membro dos Vingadores. 

Fica só de trivia: a HQ do Pantera Negra foi lançada em julho de 66, o partido dos Panteras Negras  foi fundado em Oakland foi fundado em outubro de 66. Assim podemos deduzir que a Marvel não tinha pretensões políticas de lutar a favor dos direitos civis das pessoas negras, nem uma homenagem ao partido como já vi vinculado em alguns sites. APESAR QUE: Ter um herói negro no meio da tensão racial dos Estados Unidos é muito significativo e por que não considerar um movimento arriscado?

Está mais para uma oportuna coincidência. A pretensão não política da Marvel ficou escrachada quando o Pantera Negra apareceu no Quarteto Fantástico #119 e disse que deveria ser chamado de Black Leopard pelo nome pantera ter conotação política nos EUA (está no texto abaixo), graças aos deuses essa palhaçada não vingou e o personagem "voltou" a ser Pantera na HQ seguinte dos Vingadores.

que migué!
- Jungle Action e a era de prata.

Jungle Action é uma revistinha lá da Atlas Comics, selo da Marvel que publicava essas histórias bizarras a lá Tarzan de pessoas brancas, quer dizer, colonizadores enfrentando os desafios do continente africano*, foi numa dessas lá nos anos 50 que a Marvel teve seu primeiro herói negro, Waku o Princípe Bantu, saindo pela revista Jungle Tales. Nem preciso me alongar muito de quanto quase racistas essas histórias soam, além de serem estupidamente datadas.
*Isso realmente tem o nome, é justamente Tarzanesque, tem INÚMERAS histórias sobre pessoas brancas sendo grandes líderes em África. Eram mais comum nos anos 30. 


A revista Jungle Action passou muito longe do sucesso de venda ou de público, apesar de continuarem a ser republicadas. Revisando as publicações da empresa, Don McGregor apontou como essas histórias da Jungle Action eram cringe, de pessoas brancas como protagonistas em histórias sobre a África, assim a Marvel deu a ele a revista em suas mãos, unindo a vontade de dar uma história solo para o Pantera Negra (lembrando que ele é dos Vingadores) com uma certa renovação de um título tão datado. Assim o Don McGregor assumiu a Jungle Action escrevendo do #6 até o #24, em dois arcos. 

Pontuando que o McGregor não vinha de uma tradição de história de heróis, apesar de trabalhar com quadrinhos a bastante tempo, só que escrevendo histórias de terror (alias, leiam a última postagem!) essa informação é crucial para a análise lá na frente. Pantera Negra foi mais ou menos eu primeiro grande trabalho nos heróis. 

O primeiro arco é A Fúria do Pantera, que vou resenhar aqui e outro é o T'Challa lascando o pau em cima da Ku Klu Klan, nem preciso falar como isso é POLÊMICO PRA CARALHO, que já com o baixíssimo números de vendas, decidiu cancelar o título. Mesmo vendendo pouco, as histórias do McGregor eram populares entre o círculo universitário e bem recebido pela crítica.

Acredite se quiser, isso é uma HQ oficial da Marvel

O arco do Pantera Negra contra a KKK ficou em aberto e o Pantera Negra só voltou a ser publicado no solo lá pra 77, quando a editora excluiu tudo que o McGregor tinha escrito e começou do zero com a revista Black Panther feita pelo Jack Kirby, nela que sim termos a história de criação do T'Challa e blablabla.

Mesmo com um relativo "fracasso" nas vendas e consequente cancelamento da revista, A Fúria do Pantera Negra, Don McGregor ajudou a consolidar um tipo de publicação que viria a ser moda nos tempos atuais, as famosas Graphic Novels, que a altura de 1973 eram bastante incomum, são por volta de 250 páginas de uma história continua, enquanto as sagas mais populares dos anos na época mal passavam de 4 edições, a título de exemplo: A chegada de Galactus é bem curtinha, ja A Fúria do Pantera Negra tem 13!

Não atoa, é de Don McGregor uma das 'pioneiras' graphic novel conteporaneas, Sabre de 1978, também nessa pegada de blaxploitation.

Sabre by Don McGregor | Goodreads

(Ah porra, vai que alguém não conhece o tal do blaxploitation. Uma definição rápida: filmes baratos com temáticas do cinema-B, muitos focados mais em cenas de ação, dos anos 70 onde toda a produção era quase totalmente negra, com bastante funk e soul music nas trilhas sonoras. Filmes notavéis: Shaft, Sweet Sweetback's Baadasssss Song, Black Ceasar, um pouco de Super Sly pela trilha sonora e os filmes de terror como Blacula, Abby que é uma paródia de Exorcista e entre outros). 

Apresentado esse caldeirão cultural que pariu o quadrinho, vamos a sua resenha, aprecie sem moderação alguma.

****Resenha com eventuais spoilers!****

A Fúria da Pantera tem um roteiro frenético, diferencial e bem alternativo para os padrões de sua época, a tão famosa 'Era de Bronze'. E era de bronze de uma forma resumida foi um repensar heróis na década de 70, suas implicações políticas ou éticas no mundo real, mesmo sendo retratados como personagens ficticios/fantasiosos, mas agora suas ações/omissões refletiam no mundo real e nem sempre os mocinhos saiam vencedores. NÃO É SOBRE HERÓIS REALISTAS, é mais sobre uma certa noção de alienação que muitos heróis vivem. 
O melhor ou no caso pior exemplo seria quando o Homem Aranha matou Gwen Stacy por pura molecagem.

Junho de 1973, isso botou alguns pra chorar.


Vale lembrar daquela famosa história do Denis O'Neal que é o Laterna Verde e Arqueiro Verde rodando pelos Estados Unidos e vendo os problemas daquela nação, tendo até um arco do parceiro do Arqueiro Verde ser usuário de heroína, que é usualmente definida como "criadora" da era de bronze. 

 O maior E MELHOR exemplo da Era de Bronze: Os X-Men do Chris Claremont, lá de 1975 até para toda eternidade. 

Foi um momento de distanciamento do público infantil (que já estava presente desde da década passada) para uma conversação para um público mais universitário, ainda é bonequinho colorido e fantasias, mas tem umas paradas sérias de subtexto por ali, ou quando não está explicito na tela. Porra a Kitty Pryde já meteu um N-word ao vivo em Deus Ama e o Homem Mata. 

bem hard R como dizem os gringos

Quais seriam as implicações políticas do Pantera Negra? Ele é um rei, e o pior: um rei que abandonou seu reino pra ficar brincando de Vingador em Nova Iorque, é justamente disso que o quadrinho se trata, na ausência de T'Challa, Wakanda vira um caos político que teve início com um princípio de revolta iniciado por Erik Killmonger o grande vilão da saga.

Por falar nele, antes de mais nada precisamos falar do belo visual que essa HQ tem.


Killmonger está com Mullet, sem camisa, botas brancas de paquita e cinto com espinhos que ele usa para atacar seus adversários, meio glam-rock, já o T'Challa está com um visual bem clean, todo negro e sem nenhum adorno relevante.

Os traços dessa HQ ficaram por Rich Buckler e Gil Kane inicialmente e da edição #10 até o final está com o Billy Graham, o creme de la creme desses quadrinhos é o Billy Graham, seus ângulos diferentes e enquadramentos belíssimos.

A HQ é bastante colorida, fazendo jus ao clima tropical, mesmo nas cenas internas ou noturnas há bastantes cores, bem marvel-way me lembrando as melhores do Jack Kirby, cores saturadas e marcantes. Mesmo sendo uma HQ dos anos 70, pelo menos pra mim ela tem uma vibe forte 60tista, com momentos que beiram a pura nóia psicodélica, sou suspeito para falar porque gosto muito dessa estética.

chapou o coco

Por mencionar cores, a pele negra nesse quadrinho está no tom PERFEITO. Um erro muito comum em quadrinhos é fazer pessoas negras todas pretas ou um tom meio cinza, as cores ficam bastante ruins ou até quando o traço destaca demais os lábios, pintando lábios vermelhos com a pele escura, o que infelizmente remete as caricaturas blackfaces. Mesmo com os lábios carnudos e proeminentes que nós pessoas negras termos, dá pra representar isso sem parecer racista.


Podem comparar com a própria versão do Kirby que desenhou o T'Challa completamente CINZA. Esse sucesso representativo pode se dar graças ao Billy Graham, que é negro, e também foi o responsável por desenhar o Luke Cage, outro personagem negro bastante importante para a Marvel a história dos quadrinhos. 

Billy Graham. LENDA.

Mesmo com a criação do visual da HQ e do Pantera ter sido feita por outros quadrinistas, é o Billy Graham que faz dela uma obra prima, seus visuais são incríveis. Uma coisa marcante em seu estilo são os ângulos utilizados. Quase sempre desenha o Pantera quase sempre de costas para a "tela" dando esse tom sempre de predador ou pronto para o bote, é um ângulo peculiar.


Vira e mexe acontece alguns erros de proporção dos membros, mas dá espaço para uma licença poética de atribuir uma forma mais expressionista ao seu traço, que sempre é muito bem vindo nas sequências de ação, por correr o risco de parecerem bonecos do Max Steel de tão duros ficam em página quando são desenhados tão perfeitinhos anatomicamente, algumas HQs do Batman são assim. 

A importância dada a cor do céu é outro ponto interessante, ele fica rosa, vermelho, laranja, amarelo. Além da utilização de contrastes e sombras. Quadros pequenos com closes de rostos e outros fatores bem melodramáticos.

 Um defeito desse quadrinho é a composição em alguns momentos. Não me agradou.

Primeiro que tem texto escrito demais, talvez foi um ímpeto do Don McGregor de fazer algo literário demais, então tem toneladas de texto em tela, se aproveitando de casa espaço da página, talvez ler na mídia física não fique tão cansativo, mas na mídia digital é complicado. Conta com pouquíssima splash pages ou sequencias sem texto nenhum, apesar que aquelas sequências sem blocos de texto ou onomatopeias são as mais marcantes.

Está mais para um manerismo consciente do que um erro conceitual. Não advogo para o dizer que não deveria ser assim, porém, a escolha adotada não me agrada muito. 

Pelo excesso de texto escrito, o texto desenhado as vezes fica espremido ou desprezado, fazendo parecer que o mais importante é que tem escrito, tudo é excessivamente descritivo, como as inúmeras vezes que está escrito qual é a lesão do T'Challa, feridas com pus, braço em carne viva e essas coisas. Tudo isso tem uma explicação, tanto o McGregor tanto o Graham são quadrinistas que passaram toda a carreira trabalhando com contos de terror, e aí mora o diferencial da HQ, é uma produção de herói feita por artistas de terror (daquelas revistas que menciono no meu último post, leia aqui), o que causa um certo estranhamento bom e um baita adicional para a estilística do herói.

Apesar de conter elementos narrativos de estéticos das histórias de terror, está mais para algo de aventura de fato. Mas com aquela narração detalhada que mencionei, em certos pontos A Fúria da Pantera vira um livro com ilustrações. O que o torna cansativo de ler em uma única sentada, apesar do ritmo frenético, suas 200 páginas são equivalente de ler um livro de 200 páginas de uma vez só, impossível.

Em duas ou três boas sentadas você consegue terminar o quadrinho, vai de seu ritmo de leitura.

Mas dois poréns, a época onde saia uma revistinha a cada 2 meses, o pace de leitura deveria ser muito melhor, o fator de ter a disposição da mídia é um fator relevante também, óbvio que um quadrinho de 1973 não foi pensado para ler no computador.

Dito isso sobre a composição, fecho o tópico com a página mais linda de todas.




E a história? 

A coesão textual e a capacidade de amarrar umas 12 histórias é algo impressionante, a ideia do McGregor foi de passar o tempo da história ao mesmo tempo da publicação, ou seja, o gap da primeira edição para a última é de 1 ano, exatamente o tempo levado para conclusão da publicação, com o passar do tempo, as coisas se resolvem na história. Como personagens mudarem de ideia, fazerem as pazes entre si e o tédio de prisioneiros por exemplo.

É uma sacada inteligente que deve ter dinamizado para a meia dúzia de pessoas que comparam os quadrinhos originais, é algo semelhante que acontece com Watchmen (essa ideia de passagem de tempo) é curioso porque Watchmen tem aquele reloginho e "watch" também é uma possível tradução pra relógio de pulso.

Bem, a história começa quando T'Challa chega de volta para Wakanda devido cruel ataque em uma pequena vila de suas terras, esse ataque foi realizado pelo conhecido "Terror Negro" ou Erik Killmonger que parece ter articulado um levante/revolta/pura maldade no tempo que o T'Challa passou ausente. Se bem que inteções do Erik nunca são reveladas até o final do quadrinho, me parece que a história se preocupa mais em desmontrar o lado do Pantera Negra.

Aqui o Pantera Negra está vivendo o clássico arco de herói da Marvel, um fodido. Que apesar de rei, é uma figura muito impopular no próprio país ou na cúpula do seu governo, ouvindo severas críticas de seu subordinados diretos, no caso Taku e principalmente o W'Kabi que é chefe das "forças armadas". Em português claro, T'Challa é um rei que abandonou seu próprio país pra lutar junto aos Vingadores, não teria fácil em sua volta, ainda mais na condição de um princípio de guerra acontecendo.

Ele é um rei, mas não goza de nada, só vive embaixo de muita pressão e sombra do seu pai, o T'Chaka, que foi o grande responsável por transformar Wakanda no que ela é hoje.

Outro agravante interessante é a "rainha" (que não é tratada assim em nenhum momento no quadrinho) de Wakanda, a Monica Lynne, cantora de Jazz Nova Iorquina e parceira romântica de T'Challa que está muito incomodada em morar em Wakanda, porque a todo momento era é tratada como inferior por ser estrangeira, por mais que seja negra como todo mundo ali.

T'Challa no começo da história só apanha pra caralho, é um herói muito físico e conta com bastante cenas de ação, além de parecer alguém inseguro, descontente e frustado com a situação que se encontra. Vive um dilema entre ser o rei de Wakanda ou ficar brincando de heróizinho por aí, não conseguindo equilibrar sua vida pessoal com os deveres de um líder. Isso fica muito evidente quando ele nem consegue dar a devida atenção para Monica e nem consegue governar direito, muito indeciso e sem pouca confiança nas suas ações. Em outras palavras, é um grande homem imaturo.




Wakanda é um país muito tradicionalista e até reacionário em alguns pontos, marcados por uma profunda desiguldade, onde Wakanda Central, que é o palácio real e seus arredores são marcados por tecnologia de ponta, enquanto o resto do país é ainda formado por pequenas vilas desprovida de qualquer "avançado" trazido pela exploração do vibrananium, que é um metal fíticio do qual a região é rica. Esses contrastes de um corte real mega tecnológica com o resto do país vivendo em casinhas de taipa é explorada desde de sua primeira aparição. Aqui é mais sutil, mesmo gerando comentários sociais interessantes. Como a passagem de uma nativa de Wakanda quando é espetada com seringa de vitaminas.

Aí vai uma coisa curiosa demonstrada nesse quadrinhos e outros supervenientes, a Pantera Negra é mais do que um cargo real, é um cargo religioso também, as vestes da pantera tem toda uma simbologia religiosa e Wakanda é um país que cultura aquele animal, tendo o seu rei, no caso o T'Challa a maior figura política e espiritual. Porém, não sabemos até que ponto esse culto é algo natural, porque tem uma sacada genial que o Don McGregor trouxe foi que nem todos os habitantes de Wakanda cultuam a Pantera Negra, porque existem uma parcela (talvez a maioria) que seja devota do Grande Macaco Branco, que até chega a lutar com T'Challa, o que dá a entender que talvez Wakanda seja um império expansionista dentro de África, se prevalecendo da sua tecnologia. Uma evidente força muito maior do que pequenos outros povos da região.

Aliás esses Macacos Gigantes são uns dos vilões da história, tem essa simbologia de luta espiritual ou seja lá o que o Don McGregor estava pensando.
ALERTA DE MACACO

Assim se desenrola a história, cada capítulo tem um inimigo diferente ou os inimigos são juntados em dois issues, dos mais variados a grande maioria são bem genérico pra falar a verdade, contam com Venneno (ou Venomm do inglês) que foi um garoto que teve o rosto derretido no ensino médio e por algum motivo virou imune a cobras, Malícia uma mulher capanga do Erik Killmonger e algumas valências macabras, como o Pantera Negra enfrentando o Barão Cadaver com seu exército de zumbis. De novo, o tanto o Don McGregor tanto o Billy Graham utilizando de sua expertise de histórias de terror utilizando dos mesmos personagens, mas não tem nenhum elemento de terror, exceto a estética do personagem, que é um mero vilão físico que vai sair na mão com o Pantera Negra.


Ainda passa por rinocentores, jacarés, macacos gigantes e até dinosauros onde eu achei uma viajada do caralho, mas rola essa certa jornada fantástica de heróis. É uma certa sacanagem atribuir as cenas de lutinha como ponto fraco, considerando o background do autor, até porque o puro suco do quadrinho são os momentos de política ou as subtramas presentes.

Uma coisa rara aqui presente é que cada morte em tela conta alguma coisa, tem consequências reais como abalo emocional dos personagens, entraves políticos, conspirações e etc. Não me lembro de uma mídia de herói dar tanta atenção para morte de personagens secundários, nenhum personagem principal morre, pórem, a morte personagens secundários da história afetam diretamente os personagens principais. Como a prisão de Monica Lynne, sim, a mulher do T'Challa é PRESA pela aristocracia de Wakanda, isso é o nível de não poder que ele se encontra. Além de evidentes traumas que acompanham até a história final, como a viúva que viu seu marido morrer nas mãos do Barão Macabro.

Todo capítulo conta com pelo menos duas histórias paralelas que não se cruzam necesariamente, isso significa que personagens secundários tem um nível de desenvolvimento muito incomum para histórias em quadrinhos, algo que geralmente é mais presente em... Novelas! Olha só. Além da cadeia de personagens focada em relacionamento interpessoais, como é comum em novelas, todo o nível de dramaticidade e cenas exageradas fazem jus ao gênero.

Um ponto que me chocou bastante foi uma cena de violência doméstica na frente dos filhos do casal, é o tempero diferencial de A Furia da Pantera. 
pesado

Como pico dá pra mencionar a saga de lutas épicas no meio da neve lá pro finalzinho e uma melancólica cena de guerra entre a guarda de Wakanda e os capangas do Killmonger. As três últimas são bem fraquinhas.

Já que mencionei os pontos positivos, acho muito bom ter uma obra de personagem negro que não seja sobre racismo ou temas paralelos como violência policial, é algo de herói como qualquer outro, a diferença é que se passa em África tropical e TODOS os personagens são negros, com a exceção do Venneno. Óbvio que abordar questões raciais é muito importante, mas pessoas negras também precisam se divertir de vez em quando. Só consumir conteúdo sobre violência pode afetar a saúde mental.

Outro ponto que acho interessante de abordar em Pantera Negra é o quanto ele pertence a uma aristocracia africana, T'Challa DEVE ser o tipo de pessoa que geralmente torcemos contra, é um monarca aristocrata (e BASTANTE reacionário no filme), é um toque precisamos de personagens negros que não sejam meros avatares de identidade, que não representem sempre o jovem da periferia e etc etc, garantir uma personalidade própria a pessoas que também são negras é passo da verdadeira representativdade. Tratar uma pessoa negra como pessoa, antes de enfiar o rótulo de "negra" no personagem.

Os heróis brancos tem espaço para debater seus dramas pessoais, por que os heróis negros só tem espaço para falar sobre racismo? 

Menciono isso porque produções negras geralmente focam em histórias de superação de pessoas vindo da pobreza, ou lidando com o preconceito por estar em um lugar estranho, mas cara, o T'Challa tem tudo que quer na vida, ele é um dos homens mais ricos do mundo e é um REI. Ou seja, tem bastante personalidade, tensões políticas e conflitos internos, ao invés de ser um mero representante vazio de um grupo que é marginalizado.

Não que obras declaradamente políticas são ruins, mas quando tem grandes empresas por trás e os autores estão de rabo preso para evitar maiores polêmicas, nem sempre dá muito certo, é o caso do filme. Só ver como eles tentam criar um Killmonger como vilão cinza, mas não tem muito sucesso. 

Precisamos primeiramente de mais pessoas negras por trás das produções. Do relativo ao personagem sempre serão bem vindas pessoas negras ruins, vilões, heróis, secundários, trapaceiros, honestos, sofridos, alegres e todo tipo de emoção humana possível, até as não ainda descritas. Toda representação com personalidade que inclua pessoas negras é sempre muito bem vindo.

E o Killmonger em si? Ele mal aparece, suas motivações não são reveladas fazendo dele um perfeito vilão diabólico, o mal pelo mal. Não fica muito claro se o objetivo dele é tomar o poder ou só derrubar o Pantera Negra, mas talvez ele sirva apenas de espalho maligno do T'Challa, que morre de medo de agir como o Killmonger sem perceber, alguém que coloca os próprios interesses acima de qualquer coisa.

Mas na boa, com o tanto de material bom apresentado, o Killmonger é o de menos. De certa forma, até quando o Killmonger se difencia do T'Challa? Suas motivações?

Toda a HQ é focada no amdurecimento do personagem principal, que o faz sozinho. Há informações que o editorial da Marvel teria colocado pressão no Don McGregor para ele incluir algum vingador na história, mas o mesmo recusou e fez questão que ele resolvesse todos os problemas sozinho. Apanha, assim como todo herói da Marvel, tem o universo destroçado, sangra, passa por tragédias pessoais, chora e grita, assim como todo herói da Marvel. Ao final, vê Wakanda destruída por Killmonger, mas em um golpe de sorte derrota o vilão no final.

Tendo a chance de construir seu próprio legado, dessa vez com seus próprios méritos ao invés de ser mero herdeiro de alguém fodástico no passado. 

Novelesco, inovador, sentimental, diferente. A Fúria da Pantera é um clássico dos quadrinhos que não pode ficar fora de nenhuma lista. Ao menos que você tenha a infelicidade de ser DCzete.

Fica muito evidente o quanto esse quadrinho foi influenciador do filme de 2018, mas olha aí, tem tanta coisa ruim nesse filme que só conseguiria falar por vídeo, quem sabe. Quando tiver tempo eu gravo alguma coisa.


Até a próxima empreitada! Fui!


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