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Dinastia M: Inverter para entender.

Legião Sapiens


Se-alguém-tinha-dúvidas do conteúdo político dos quadrinhos do X-Men a Dinastia M está aí para provar que esses elementos sempre estiveram presentes. 

Antes de mais nada, Dinastia M é uma imensa saga dos quadrinhos Marvel que compila mais de 50 issues, é a última grande saga antes do MCU chegar e varrer o resto de dignidade que os homenzinhos coloridos de collant tinham perante a cultura popular (falando assim nem parece que digo cultura pop). Ok, talvez não seja a maior saga antes do MCU, mas eu irei puxar sardinha pro meu lado, então sim, Dinastia M é a maior saga de todos os tempos, e quem discordar é DCzete. 

Pois bem, importante delimitar que esse post não é uma resenha, li apenas 1/5 da história, é um comentário da sua abordagem inicial das histórias que vou indicar ao final de tudo.
**Tem spoilers, foi lançado em 2006, mas custa nada avisar**

Na prequel da Dinastia M termos uma história da revista Excalibur (Excalibur #11 Chris Claremont e Adam Lopresti) sobre uma luta dos atuais X-Men contra o um golpe que está acontecendo na Zambia, através de mecenários enviados pela Rainha Branca, Courtney Ross. Não confundam com a Emma Frost, que é uma poderosa banqueira em Londres. Enquanto isso, Professor Xavier e o derrotado Magneto (eventos dos Novos X-Men, confira a resenha aqui) reconstruindo o que sobrou de Genhosa e o professor Xavier tentando recuperar a sanidade da Wanda (FILHA DO MAGNETO PRA QUEM NÃO SABE) que sofreu um colapso nervoso e deu uma péia nos novos vingadores. Aliás toda Dinastia M é sobre o colapso da Feiticeira Escalarte, foi nisso que Doutor Estranho 2 se baseou, só que o filme é uma porcaria! Nem deveria ter sido mencionado. Esse blog deve ser o único canal de mídia que lembra de Doutor Estranho 2, Marvel e suas produções esquecíveis. 

Como diria o carecão roxo:

Pois bem, só para fechar o arco, o grupo mecenário é derrotado, a Zambia vence sua "guerra civil" e recebe apoio para financiamento para reconstrução do país justamente da... Rainha Branca. Esse mini arco mostra bem a pegada do que estaria por vir.
 Ah sim, Wanda perdeu as estribeira, os heróis mais famosos da Big Apple se reunem para definir seu futuro, por insistência dos Vingadores, votam por deixar a Feiticeira Viva, ao desembarcarem em Genosha para uma conversa diplomática e avaliar a situação mental dela, plim plim. Um clarão surge. Com seus poderes descontrolados, Wanda bagunça a realidade e o universo senciente, tudo estava de cabeça pra baixo, agora os mutantes estão no poder. Em um reinado do Magneto e sua família como um todo. Depois de um clarão branco, tudo está mudado.


O que acontece nesse universo "paralelo"? Os mutantes vencem a guerra genética e asseguram a dominância do planeta terra em um reinado do Magneto, sim, dessa vez, o Magneto não é fascista, e os mutantes (aqueles com o gene X, o homo superior) estão no poder, sendo os dominados da vez os Sapiens (homo sapiens) e nisso que mora o barato dessa história, pra mim. Por um motivo simples, não é só um superman filho da puta sendo ditador genericamente (alô Injustice), mostra uma hegemonia verdadeira. Também não tem essa proposta de mostrar 'heróis realistas' (alô The Boys).

Sim, hegemonia completa tendo dominância ecônomica, cultural, religiosa e etc etc, é tanto a classe dominante, tanto a dirigente daquela sociedade, nesse "mundo ideal", Peter Parker, por exemplo, é um bilionário, casado com Gwen Stacy, e que raspa sua cabeça, por algum motivo.(?)

aliás, o Tio Ben é vivo nessa história

Se nas histórias originais o pobre do homem aranha tem dois empregos e é renegado por geral, aqui ele é uma lenda viva na cidade. As pessoas não adoram os heróis/mutantes por eles serem heróis ou mutantes, mas sim pela grande personalidade deles, um fato interno, isso se dá porque com a dominância total dos mutantes, o normal, esperado, é ser mutante, e uma vez que todes são mutantes, você avalia aqueles quadros que são os melhores, assim como os piores ainda existem, ser mutuna não tem nada de especial. Tá complicado de compreender? 

Vou puxar uma aspas do Gramsci para entender o raciocínio:
“uma classe é dominante em dois modos, isto é, é ‘dirigente’ e ‘dominante’. É dirigente das classes aliadas, é dominante das classes adversárias. Portanto, uma classe desde antes de chegar ao poder pode ser ‘dirigente’ (e deve sê-lo): quando está no poder torna-se dominante, mas continua sendo também ‘dirigente'."

Portanto, invertendo a situação, conseguimos entender como funciona a política de X-Men, aqui os mutantes correm soltos pelas ruas, voando, rastejando, o notíciario só se fala da fofoca dos mundo mutantes, com bastante êxito Dinastia M consegue demonstrar os processo de dominação e opressão que acontecem nessa sociedade ficcional, claro. (Ainda bem que é uma ficção, e não algo baseado no modelo de sociedade que vivemos.) E os humanos? Vivem lutando contra, sem muito sucesso a dominação mutante, mas não todos, apenas uma população mais marginalizada, pois a maior concentração de Sapiens é o pobre bairro cozinha do inferno em Manhattan, aquele mesmo que o Demolidor mora e faz a festa. Muitos teem relacionamentos com mutantes, outros chegam a trabalhar juntos em empregos menores, como políciais. Existem até grupos de resistência, terroristas mesmo. 
Ou seja, uma vez no poder, eles ditam tudo aquilo é da reprodução social, cultura, política e até psicologia, a psiquê social.

A pergunta que fica, "quanto poder! essa dominação é uma ditadura totalitária?' Não, as coisas acontecem em sua normalidade, os sentinelas até existem para perseguir alguns humanos, mas em aspecto gerais podemos dizer que o modo o qual se aconteceu essa dominação não fez precisa a extinção dos sapiens, toda segragação ocorre em plena normalidade moral, legal e ética. Até porque a moral, legalidade e eticidade é definida pela classe dominante, mas mesmos os valores esperados por eles mesmos não são rompidos. Os mutantes e os humanos estão segregados "naturalmente" ou seja, cada um ocupa o espaço o qual é devido, não se fazendo nescessário, um super plano de extermínio da raça humana. 

 Assim como, inclusive acontece na maioria das história dos mutantes, pelo menos aquelas que o Senador Kelly não aparece. Ou seja, por mais que vivemos em uma dita "democracia" (por mais que em Dinastia M seja uma monarquia) ainda há quem esteja passando por uma ditadura, toda democracia cheia de liberdades é ditadura para outras pessoas, especialmente aquelas idesejadas pelo grupo dominante/dirigente.

Essa 'direção' é tão aparente que quando o quadrinho vai mostrar o cenário do rap, termos um mutante lançando palavras de ordem e o famoso conscious rap (rap consciente) para uma platéia de humanos, mesmo sendo mutante. Um comentário bastante ácido sobre o mercado do rap. Achei uma passagem interessante também. Meio ácida, interpretem como quiser. 


Tudo é lindo e belo, exceto na Austrália. Lugar onde ainda existe o status quo mutante, porém o Estado da Austrália é completamente nazificado. Sim, com referências beeeeeem saltitantes aos olhos. Estamos na Austrália porque o Bruce Banner, em busca de misérios segundos de paz em sua alma acaba indo atrás de uma população aborígene (nativos australianos), em mesma aldeia que está sendo invadida por uma espécie de Gestapo Australiana. 

Tá nem óbvio isso aqui

Um ponto de contradição interessante é que esssa gestapo é formada justamente por HUMANOS (brancos), SAPIENS mesmo que estão assassinando seus próprios "parceiros de gene", todavia, toda essa perseguição, até genética mesmo, não é novidade para os povos aborígenes, que eram perseguidos tanto sob domínio Sapien por serem nativos (racializados) e agora são perseguidos por serem humanos. Em uma das falas o tipo de cacique do lugar relembra um episódio cruel da sociedade Australiana, a Geração Roubada. 



Essa parte não é ficcional, foi uma política do governo Australiano para o extermínio da população nativa do local, isso é genocídio no mais e simples sentido que a palavra pode ter.

 Óbviamente eles (australianos) possuem a anuência do Magneto, não que ele apoie, mas... Aquela coisa, a existência de um estado genocida de SAPIENS não é uma ameaça para o status quo MUTANTE, muito pelo contrário. Ou seja, existe uma dominação que funciona tanto em uma "democracia" tanto em uma ditadura descarada. 

Em modos gerais, ainda estou lendo a Dinastia M, achei os temas muito mais aprofundados do que a maioria das histórias que colocam heróis no poder. Voltarei com mais informações. 

informações chatíssimas, as HQ lidas
Excalibur #11 a 14 (Chris Claremont e Aaron Lopresti)
Dinastia M #1 e #3 (Brian Michael Bendis e Oliver Copel)
Homem Aranha Dinastia M #1 (Mark Waid, Tom Peyer e Salvador Larroca)
Quarteto Fantástco Dinastia M #1 (John Layman e Scol Eaton)
Hulk Dinastia M #1 (Peter David e Jorge Lucas)
Homem de Ferro Dinastia M #1 (Greg Pak e Pat Lee) 
Mutopia X #1 (Davide Hine e Lan Mendina)



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