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Bem-vindes a Marginália 3

Quadrinhos, música brasileira e outras coisas a mais. É somente requentar e usar! Made in Brasil

O Passo do Lui (1984)


Informações legais:
21 de setembro de 1984
10 músicas, 34 minutos
Odeon;
Rock Nacional, Ska, Pop Rock, New Wave.

Aqui vai uma curiosidade: Nenhuma das bandas consideradas do "rock nacional" realmente são de rock, talvez vai, o chatíssimo do Lobão, mas demais artistas tipo Lulu Santos, Kid Abelha, Blitz oy Legião Urbana na verdade são bandas de subgêneros que não possuíam capilaridade no Brasil para serem chamados pelo nome, chegando aqui como rock, quando são um pouco mais. A exemplo de New Wave (todo rock nacional dos anos 80 é só new wave) e post-punk purinho no caso do Legião Urbana. Era o que imperava no mercado fonográfico dos anos 80. É tipo o primeiro album do Capital Inicial, se fosse lançado na Inglaterra seria um álbum gótico, mas no Brasil se chama genericamente de rock. 


É o caso de Os Paralamas do Sucesso, que nesse álbum traz o puro suco do ska inglês, mas... squem?!

Ska é um ritmo música jamaicano que surgiu naquele caldeirão de ritmos na primeira metade dos anos 60 e a difusão de álbuns estrangeiros na Jamaica, nessa toada que surgiu o rocksteady e o ska, com a imigração de jamaicanos para a Inglaterra e a integração desses atores na classe trabalhadora, sua cultura se difundiu pelos setores mais populares da terra da extinta rainha. Os dois principais nomes do ska jamaicano são o Desmond Dekker e o Laurel Aitken. 

A primeira fase se deu com a fundação da Trojan Records (1968) por lá criou-se toda uma cultura de ska e rocksteady no Reino Unido, não demorando muito para formar seu primeiro público alvo, derivado da cultura mod, os hard mods, ou mobs que viriam a ser os skinheads com suas calças jeans baratas, coturnos, suspensórios, mal encarados e cabeças raspadas. Em atenção ao álbum de ska de 1970 do Symarip Skinhead Moonstomp, onde músicos negros estavam fazendo som para pessoas brancas (em sua maioria).


A características mais identificáveis do ska é uma guitarra batendo no contra tempo, metais (trompetes e trombones), muito parecido com o reggae, mas com um ritmo bem mais rápido e uma abordagem mais "alegre" assim por dizer, sem ligações religiosas* e menções ao rastafari. Regado claro com muita cerveja e mosh pit a vontade. 

*Rastafari não é bem uma religião, foi para fins explicativos. 

Já a segunda fase do ska, essa que influenciou em muito a música brasileira e furou a bolha underground, é conhecida como ska 2-tone, devido a gravadora 2-tone que mantém muito das características do ska, mas com toda uma estética nova, como ternos na estética rudeboy (estética jamaicana que imitava mafiosos hollywoodianosdos anos 40), quadriculados pretos e brancos e dois vocalistas. Existem 4 álbuns mega influentes e essenciais para entender o gênero, lançados entre 1979-1980.


- The Specials (1979)
- Too Much Pressure do The Selecter (1979) que é genuinamente uns dos melhores álbuns de todos os tempos. 
- Ska'n'b do Bad Manners (1980) 
- One Step and Beyond do Madness (1980) 

Bandas como Madness já faziam um som bem diferente do ska 2tone do The Specials e Selecter, trazendo aquilo que ficaria conhecido na indústria como New Wave, que é praticamente todo rock nacional dos anos 80, bandas como The Police e Fine Young Cannibals solidificam o new wave e muito influenciam em nossas terrinhas. Esse intermédio entre ska e new wave fica mais evidente em The Beat. e MUITO em Our House do Madness

Mas bem, a segunda onda do ska não durou muito comercialmente, morrendo junto com o punk inglês (punk clássico, o hardcore e Oi! existem até hoje). Meio que quando ele chegou aos discos, foi seu momento fim. The Specials mesmo nunca mais gravou outro álbum além do debut. 

O movimento foi estragado pela aura podre da Margaret Thatcher, que satanás tenha bem guardada, tinha acabado de ser eleita em decorrência de uma tensão política insana que vigorou por todos anos 70, ou a perda de espaço mesmo para novos generos musicais que estavam pipocando (como o próprio new wave e a onda post-punk e as bandas góticas tipo The Cure). 3 fundadores do The Specials fundaram uma banda de new wave chamada Fun Boy Three, abandonando o ska. 

No finalzinho dos anos 70 houve um movimento deliberado do National Front para invadir grupos de skinheads e punk, por isso hoje termos skinheads nazistas e a péssima fama que os carecas mais gente boas da europa ganharam. A cena virou palco de sobrevivência da classe contra ideários nazistas. Mas isso é papo para outra postagem.

Resumindo o que importa: #1 a segunda geração de ska (2-tone) foi muito influente na música brasileira e compõe o rol de influencia de músicos dos anos 80. #2 Skinhead não fecha com fascistas, só tem uns cuzão que estão desavisados. 

Que volta para falar de Os Paralamas do Sucesso, que eu vou chamar de Paralamas ao decorrer do texto para economizar teclado. 

A influência do Paralamas é evidente: A música britânica, especialmente o power trio (banda com três pessoas apenas, igual ao Paralamas) The Police, em seu álbum de estreia, Cinema Mudo apresenta uma sonoridade identica a banda britanica, isso fica muito claro em faixa título que é bastante similar com músicas tipo Do Do Do Da Da Da e assim como The Police, já no primeiro já aparecia uma coisinha ou outra com influencia jamaicana. The Police é tão próximo da música brasileira que parece uma banda de rock nacional.

Muita gente pode pensar que comparar com outra banda ou outro cantor é uma forma de diminuir o artista, mas muito pelo contrário, todo mundo bebe de alguma fonte e tem suas inspirações, linkar esse tipo de coisa é para fins explicativo e para situar o leitor do tipo de som que estamos falando. 

Se bem que a altura do Cinema Mudo, eles nem eram tão bons assim. O primeiro álbum é meio verde ainda, vendeu quase nada.

Assim, Herbet Vianna e uma turma decide dar repensar e abraçar a sonoridade do ska de uma vez por toda, O Passo do Lui não é só um álbum de ska, como uns dos melhores exemplares que termos a disposição. Chegaremos lá.

E o que O Passo do Lui tem a nos oferecer?
Foto preto e branca, passinho conhecido como skank, que retrata o mencionado amigo brasiliense Lui, que era muito fã de ska, ou ainda é se não morreu. Uma colagem simples, com a foto em transversal, uma fonte blocada e o nome do álbum vazado ao fundo. É muito díficil achar essa imagem em alta qualidade na internet, mas meio que combina com a estética dela, é tipo ver aqueles jogos de futebol dos anos 90 com a imagem toda esticada e saturada em VHS. Faz parte.

Além da imagem de centro com preto e branco se tem um branco ao fundo bem presente, o que deve deixar a capa do vinil bem bonita. No canto superior a direita tem a banda, bem discreta e do outro lado tem outra imagem do Lui. Não acho tão bonita, mas comunica algo bem formal e divertido ao mesmo tempo, pelas cores do roxo e azul e essa fonte sem serifa bem blocada e compacta.

Fontes sem serifa e grossas geralmente tem uma conotação empresarial, algo formal, bem business. Mas também remetem a tipografia de revistas, algo de anúncio, algumas bandas usam desse tipo de fonte como sua logo. Ou em albuns específicos.
 
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/2/2e/PiLFirstIssue.jpg
Public Image - First Issue (1978)

Não é a escolha de design que mais salta aos olhos, mas é um contraste interessante. Me agradou a tipografia utilizada. 

Funciona melhor no vinil do que nas mídias digitais. Lembrando que o álbum é pensado pro vinil. 

bonito hein
Bonito e raro, porque a maioria dos vinils não saíram com esse encarte do meio devido a um erro de impressão. 
Fica de informação que essa capa foi projetada pelo cartunista Ricardo Leite, que também trabalhou como designer.

Talvez alguém que não fosse familiar com o ska, estaria pensando que o Lui do álbum estava imitando o Chaves. 

https://blog.kellychristi.com.br/wp-content/uploads/2023/11/Zas-Zas-Chaves.gif
Parece demais.
 
Agora chegamos na parte que importa, vamos falar da música? Como esse álbum é curtinho e eu gostei de todas as músicas, vou falar uma por uma

Assim que você aperta o play é surpreendido por uma enlouquecedora de bateria no começo de Óculos que é seguido por um instrumento bastante tropical, algo que seria mais ou menos um xilofone ou um tambor de aço, bem utilizado em países como Trindad e Tobago, a bateria do João Barone aqui tá uma delícia, bem seca, dando seguimento a música e sem viradas desnecessárias, eu gosto bastante do snare (ou CAIXA em português) aqui.O baixo do Bi Ribeiro aparecendo menos, seguindo só de acompanhamento e a característica guitarra nesse efeito meio vago que é a marca registrada do Paralamas (também do Police, mas é outra história), Herbet Vianna também na voz e composição, formando o power trio mais conhecido do Brasil.

A música em si varia entre um pop rock nos refrões e um quase ska no versos, cantando sobre um menino que não tem tanta segurança com seu aparencia quando usa óculos. É um bom tema de abertura.

Meu Erro
- dispensa comentários falar como Meu Erro é um musicão da porra. Eu sei cantar essa música de cor e salteado. É em Meu Erro que Paralamas faz o seu nome a apresenta suas credenciais no mundo da música. Pelo o baixo estralando, bem mais presentes, excelentes condução da bateria e o vocal meloso e apaixonado do Hebert Vianna, que não tem um vozeirão de te pular da cadeira, mas aquela voz que toca no fundo do coração, até quando a voz dele "falha" no refrão reforça mais sua interpretação do que algo negativo. Pense numa música sofrida... Essa guitarra de Wah-wah e um sintetizador que dá o tempero final.

Tirem essa ideia da cabeça de vocês que só uma voz potente e tecnicamente impressionante que é capaz de emocionar, quem nunca sentiu nada ouvindo Meu Erro tá ouvindo bem errado.

Meu erro trata de um relacionamento que não deu muito certo numa maneira bem jovial, que parece ser um casal no primeiro amor, ao mesmo tempo que é inexperiente, é bem maduro que acompanha uma real evolução do Hebert enquanto compositor, lembrando que Os Paralamas do Sucesso começou como uma banda satírica e tentou tocar sério por ver potencial em seu trabalho.

Uma música de temática um pouco triste, porém alto astral, bem chiclete de ficar na sua mente a semana toda, um verdadeiro hit/clássico que não pode faltar em qualquer lista decente sobre música nacional. 

Fui Eu - todas as músicas do Passo do Lui tem um climão de praia, cerveja barata, areia nos pés e aquele calorzão do Rio de Janeiro. Fui Eu essa é a que tem mais. Tem bastante groove e dá vontade de dar mandando o passinho do chaves (skank), bastante animada e o refrão me lembra as músicas do Lulu Santos, tanto pelo arpejo tanto pela letra que diz "Vai ver que a confusão fui eu que fiz". Um lick bem interessante de baixo na ponte, bastante notas fantasmas de acompanhamento que dá a característica batida pecurssiva. uma JÓIA ESCONDIDA no meio do álbum

Romance Ideal - baladinha romântica mega 80tentista, abandonando por hora o clima de festa do ska, mas ainda bem alto astral. Belíssima aplicação dos efeitos de guitarra do Vianna e o trabalho pornográfico de bateria do Barone que porra, vou parar de mencionar para evitar a repitação.

Aqui fica mais evidente quanto o Hebert Vianna dá uma falhada na voz as notas mais agudas, porém disfarça isso deixando uma raspadinha que fica muito estilo. Na partes de "Se eu queria enlouquecer esse é o romance ideal" dá uma tremidinha que agrega, agrega bastante. A letra fala mais uma vez sobre culpa ou gaslight, o caratér dúbio de interpretação que algumas músicas de romance trazem é uma valoração enorme para os complicados tipos de relacionamento que termos por aí.

Falando de erro de novo, eu acho que o Hebert aprontou alguma coisa e se insipirou pra fazer música.

Ska - na moral, se o Madness tivesse colocado essa música em One Step and Beyond ninguém iria perceber, musicão da porra que começa com metais (me pareceu um sax ou trompete), ritmo frenético que é puro suco do ska 2tone inglês, uma pedrada sem tamanho. Talvez a minha favorita. A Globo estragou um pouco porque é tema da novela Cara e Coragem então tocava muito na TV recentemente.

Mensagem de Amor
- outro new wave muito qualquer coisa sobre qualquer amor na vida. Sabe quando o horoscopo acerta direitinho como vai ser seu dia? Talvez seja porque ele não especificou que você vai dar uma topada no cantinho da cama com o pé. Apesar da letra ser bem pouca coisa, a melodia é bem interessante e o som tá decente. Bem mais puxada para o rock algo mais tristonho que desacelera o álbum depois da faixa ska.

Me Liga - Essa é aquela música que o Lobão jura que o Hebert plagiou dele? HAHAHAHHA ele sempre foi muito mala, tenha fé. Vamos lá explicar a treta. Lobão e Paralamas tem uma certa rivalidade comercial, que é bastante comum no mundo da música, mas o Lobão tem uma treta unilateral que ele jura de pé junto que o Hebert Vianna está roubando as ideias dele, entre as conspirações malucas é de Me Chama que também de 84 com essa faixa, Me Chama foi lançada alguns meses antes (único sucesso da carreira do Lobão). Lobão também já admitiu mudar o jeito de cantar para se distanciar do Hebert Vianna e entre outras acusações daquele cabeça de vento cabeludo.

Bem, assim como Me Chama, Me Liga é uma balada romântica e só. Um ponto de composição do Hebert é o uso o tempo inteiro de contratações/justaposição que fica mais evidentes aqui, como em:
"O nosso jogo não tem regras nem juiz/Você não sabe quantos planos eu já fiz/Tudo que eu tinha pra perder eu já perdi/O seu exército invadindo o meu país" que me parece mais uma paixão avassaladora e coisas do tipo. Essas montagem de cenários contraditórios é comum em demais letras, mas aqui bem mais bonito e funciona melhor.

Assaltaram a Gramática
- única música não composta pelo Hebert Vianna, de composição do Wally Salomão e com participação de Lulu Santos, sou muito fã do Lulu, mas essa música parece coisa que professor de português passa na sala do sexto ano e ninguém entende nada, não só pela letra com menção metalinguistica a língua portuguesa, mas o som. Ficou meio executiva. Eh. Excelente participação do Lulu Santos que acerta tudo que faz nessa vida, lindo maravilhoso.

Não que seja uma música ruim, é mais anti-climax. 

Menino e Menina - não é uma música da Damares, apenas uma versão reduzida de Eduardo e Mônica de um casal que não tem nada a ver. Tirando que os mesmos estão na faixa de idade parecida. Do som, elementos caribenhos delicosos aqui, de novo aquele instrumento misterioso de Óculos, uma guitarra bem mascadinha e umas viradas de bateria que me lembram o Axé baiano, bandas tipo Chiclete com Banana (que estavam no início da carreira).

O Passo do Lui - Na última música do álbum mais uma de ska puro. Puro quanto aquela cerveja preta da Guiness e pub ingleses. É uma música instrumental para fechar o álbum que te deixa com gostinho de quero mais. De novos metais aparecendo, gritos no meio do estudio e demais coisas bem características.

No fringir do passinho...


Um álbum de 10 músicas que gerou 7 singles e 250 mil cópias não tem outro nome a não ser clássico geracional, um álbum que deve ter apresentado o ska para muita gente. Canções cativantes, energia jovial e um bom senso de maturidade para tratar de relacionamentos espinhosos. Será que o Hebert Vianna errou? Em fazer o Passo do Lui com Bi Ribeiro e o João Barone com certeza que não errou, e seja lá que você tenha feito, eu te perdoo. 

Álbum marcante por seu alto astral, energia, músicas de letras simples e curtinhas, ritmos caribenhos, uma bateria espectacular e uma guitarra que muito marcou a geração do rock racional dos anos 80. 

Informações chatas:
Composição, Guitarra e voz - Hebert Vianna
Baixo - Bi Ribeiro
Bateria - João Barone
Saxophone – Leo Gandelman

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ATÉ O GOVERNO DE WAKANDA NÃO PRESTA, FAZ O T - A Fúria do Pantera (Jungle Action, #6 à #18, Don McGregor, 1973)

Até nos quadrinhos o T'Challa é meio cuzão vai, muito difícil gostar do personagem. Mais difícil ainda é defender Wakanda, mas aí estaria eu me adiantando no assunto dessa resenha. 

Do que A Fúria do Pantera se trata? É mais ou menos a primeira história do Pantera Negra fora do Vingadores, não sendo uma história de criação, mas meio que definiu em todas as outras mídias quem seria o Rei T'Challa e o que seria o Pantera Negra. Dizer que é A MELHOR HISTÓRIA do Pantera Negra é um rótulo pesado, todavia, com toda certeza é o melhor tratamento que a Marvel já deu ao personagem, que sempre foi um herói da linha B da editora, apesar de Vingador. 

Antes de falar da resenha em si, vale uma contextualização, senta que lá vem a história. Em dois pontos:

- o PANTERA NEGRA foi criado ANTES do Partido dos Panteras Negras lá na Califórnia.

Como vocês devem saber, o Pantera Negra foi criado para uma história Quarteto Fantástico (#52 Julho de 66), na era Stan Lee e Jack Kirby, o Stan Lee e o Jack Kirby  falaram que pensou no personagem por sentir falta de heróis negros nos quadrinhos, que o mesmo seria amigos de pessoas negras, percebeu a existência de um público negro e conhecia excelentes artistas negros. Então criou o Pantera Negra sem qualquer pretensão política ou aceno aos "direitos civis", isso faz bem mais sentido se olharmos para a primeira história dele, tá mais pra um Doutor Destino negro do que outra coisa... Ele surge como um desconfiado líder e depois se alia ao quarteto para executar sua vingança contra o Garra.


T'Challa me lembra também o Mansa Musa, que talvez tenha sido o homem mais rico de todos os tempos. 

Depois de seu debut, T'Challa se muda para Nova York, fazendo umas aparições breves em histórias do Capitão América e depois sendo membro dos Vingadores. 

Fica só de trivia: a HQ do Pantera Negra foi lançada em julho de 66, o partido dos Panteras Negras  foi fundado em Oakland foi fundado em outubro de 66. Assim podemos deduzir que a Marvel não tinha pretensões políticas de lutar a favor dos direitos civis das pessoas negras, nem uma homenagem ao partido como já vi vinculado em alguns sites. APESAR QUE: Ter um herói negro no meio da tensão racial dos Estados Unidos é muito significativo e por que não considerar um movimento arriscado?

Está mais para uma oportuna coincidência. A pretensão não política da Marvel ficou escrachada quando o Pantera Negra apareceu no Quarteto Fantástico #119 e disse que deveria ser chamado de Black Leopard pelo nome pantera ter conotação política nos EUA (está no texto abaixo), graças aos deuses essa palhaçada não vingou e o personagem "voltou" a ser Pantera na HQ seguinte dos Vingadores.

que migué!
- Jungle Action e a era de prata.

Jungle Action é uma revistinha lá da Atlas Comics, selo da Marvel que publicava essas histórias bizarras a lá Tarzan de pessoas brancas, quer dizer, colonizadores enfrentando os desafios do continente africano*, foi numa dessas lá nos anos 50 que a Marvel teve seu primeiro herói negro, Waku o Princípe Bantu, saindo pela revista Jungle Tales. Nem preciso me alongar muito de quanto quase racistas essas histórias soam, além de serem estupidamente datadas.
*Isso realmente tem o nome, é justamente Tarzanesque, tem INÚMERAS histórias sobre pessoas brancas sendo grandes líderes em África. Eram mais comum nos anos 30. 


A revista Jungle Action passou muito longe do sucesso de venda ou de público, apesar de continuarem a ser republicadas. Revisando as publicações da empresa, Don McGregor apontou como essas histórias da Jungle Action eram cringe, de pessoas brancas como protagonistas em histórias sobre a África, assim a Marvel deu a ele a revista em suas mãos, unindo a vontade de dar uma história solo para o Pantera Negra (lembrando que ele é dos Vingadores) com uma certa renovação de um título tão datado. Assim o Don McGregor assumiu a Jungle Action escrevendo do #6 até o #24, em dois arcos. 

Pontuando que o McGregor não vinha de uma tradição de história de heróis, apesar de trabalhar com quadrinhos a bastante tempo, só que escrevendo histórias de terror (alias, leiam a última postagem!) essa informação é crucial para a análise lá na frente. Pantera Negra foi mais ou menos eu primeiro grande trabalho nos heróis. 

O primeiro arco é A Fúria do Pantera, que vou resenhar aqui e outro é o T'Challa lascando o pau em cima da Ku Klu Klan, nem preciso falar como isso é POLÊMICO PRA CARALHO, que já com o baixíssimo números de vendas, decidiu cancelar o título. Mesmo vendendo pouco, as histórias do McGregor eram populares entre o círculo universitário e bem recebido pela crítica.

Acredite se quiser, isso é uma HQ oficial da Marvel

O arco do Pantera Negra contra a KKK ficou em aberto e o Pantera Negra só voltou a ser publicado no solo lá pra 77, quando a editora excluiu tudo que o McGregor tinha escrito e começou do zero com a revista Black Panther feita pelo Jack Kirby, nela que sim termos a história de criação do T'Challa e blablabla.

Mesmo com um relativo "fracasso" nas vendas e consequente cancelamento da revista, A Fúria do Pantera Negra, Don McGregor ajudou a consolidar um tipo de publicação que viria a ser moda nos tempos atuais, as famosas Graphic Novels, que a altura de 1973 eram bastante incomum, são por volta de 250 páginas de uma história continua, enquanto as sagas mais populares dos anos na época mal passavam de 4 edições, a título de exemplo: A chegada de Galactus é bem curtinha, ja A Fúria do Pantera Negra tem 13!

Não atoa, é de Don McGregor uma das 'pioneiras' graphic novel conteporaneas, Sabre de 1978, também nessa pegada de blaxploitation.

Sabre by Don McGregor | Goodreads

(Ah porra, vai que alguém não conhece o tal do blaxploitation. Uma definição rápida: filmes baratos com temáticas do cinema-B, muitos focados mais em cenas de ação, dos anos 70 onde toda a produção era quase totalmente negra, com bastante funk e soul music nas trilhas sonoras. Filmes notavéis: Shaft, Sweet Sweetback's Baadasssss Song, Black Ceasar, um pouco de Super Sly pela trilha sonora e os filmes de terror como Blacula, Abby que é uma paródia de Exorcista e entre outros). 

Apresentado esse caldeirão cultural que pariu o quadrinho, vamos a sua resenha, aprecie sem moderação alguma.

****Resenha com eventuais spoilers!****

A Fúria da Pantera tem um roteiro frenético, diferencial e bem alternativo para os padrões de sua época, a tão famosa 'Era de Bronze'. E era de bronze de uma forma resumida foi um repensar heróis na década de 70, suas implicações políticas ou éticas no mundo real, mesmo sendo retratados como personagens ficticios/fantasiosos, mas agora suas ações/omissões refletiam no mundo real e nem sempre os mocinhos saiam vencedores. NÃO É SOBRE HERÓIS REALISTAS, é mais sobre uma certa noção de alienação que muitos heróis vivem. 
O melhor ou no caso pior exemplo seria quando o Homem Aranha matou Gwen Stacy por pura molecagem.

Junho de 1973, isso botou alguns pra chorar.


Vale lembrar daquela famosa história do Denis O'Neal que é o Laterna Verde e Arqueiro Verde rodando pelos Estados Unidos e vendo os problemas daquela nação, tendo até um arco do parceiro do Arqueiro Verde ser usuário de heroína, que é usualmente definida como "criadora" da era de bronze. 

 O maior E MELHOR exemplo da Era de Bronze: Os X-Men do Chris Claremont, lá de 1975 até para toda eternidade. 

Foi um momento de distanciamento do público infantil (que já estava presente desde da década passada) para uma conversação para um público mais universitário, ainda é bonequinho colorido e fantasias, mas tem umas paradas sérias de subtexto por ali, ou quando não está explicito na tela. Porra a Kitty Pryde já meteu um N-word ao vivo em Deus Ama e o Homem Mata. 

bem hard R como dizem os gringos

Quais seriam as implicações políticas do Pantera Negra? Ele é um rei, e o pior: um rei que abandonou seu reino pra ficar brincando de Vingador em Nova Iorque, é justamente disso que o quadrinho se trata, na ausência de T'Challa, Wakanda vira um caos político que teve início com um princípio de revolta iniciado por Erik Killmonger o grande vilão da saga.

Por falar nele, antes de mais nada precisamos falar do belo visual que essa HQ tem.


Killmonger está com Mullet, sem camisa, botas brancas de paquita e cinto com espinhos que ele usa para atacar seus adversários, meio glam-rock, já o T'Challa está com um visual bem clean, todo negro e sem nenhum adorno relevante.

Os traços dessa HQ ficaram por Rich Buckler e Gil Kane inicialmente e da edição #10 até o final está com o Billy Graham, o creme de la creme desses quadrinhos é o Billy Graham, seus ângulos diferentes e enquadramentos belíssimos.

A HQ é bastante colorida, fazendo jus ao clima tropical, mesmo nas cenas internas ou noturnas há bastantes cores, bem marvel-way me lembrando as melhores do Jack Kirby, cores saturadas e marcantes. Mesmo sendo uma HQ dos anos 70, pelo menos pra mim ela tem uma vibe forte 60tista, com momentos que beiram a pura nóia psicodélica, sou suspeito para falar porque gosto muito dessa estética.

chapou o coco

Por mencionar cores, a pele negra nesse quadrinho está no tom PERFEITO. Um erro muito comum em quadrinhos é fazer pessoas negras todas pretas ou um tom meio cinza, as cores ficam bastante ruins ou até quando o traço destaca demais os lábios, pintando lábios vermelhos com a pele escura, o que infelizmente remete as caricaturas blackfaces. Mesmo com os lábios carnudos e proeminentes que nós pessoas negras termos, dá pra representar isso sem parecer racista.


Podem comparar com a própria versão do Kirby que desenhou o T'Challa completamente CINZA. Esse sucesso representativo pode se dar graças ao Billy Graham, que é negro, e também foi o responsável por desenhar o Luke Cage, outro personagem negro bastante importante para a Marvel a história dos quadrinhos. 

Billy Graham. LENDA.

Mesmo com a criação do visual da HQ e do Pantera ter sido feita por outros quadrinistas, é o Billy Graham que faz dela uma obra prima, seus visuais são incríveis. Uma coisa marcante em seu estilo são os ângulos utilizados. Quase sempre desenha o Pantera quase sempre de costas para a "tela" dando esse tom sempre de predador ou pronto para o bote, é um ângulo peculiar.


Vira e mexe acontece alguns erros de proporção dos membros, mas dá espaço para uma licença poética de atribuir uma forma mais expressionista ao seu traço, que sempre é muito bem vindo nas sequências de ação, por correr o risco de parecerem bonecos do Max Steel de tão duros ficam em página quando são desenhados tão perfeitinhos anatomicamente, algumas HQs do Batman são assim. 

A importância dada a cor do céu é outro ponto interessante, ele fica rosa, vermelho, laranja, amarelo. Além da utilização de contrastes e sombras. Quadros pequenos com closes de rostos e outros fatores bem melodramáticos.

 Um defeito desse quadrinho é a composição em alguns momentos. Não me agradou.

Primeiro que tem texto escrito demais, talvez foi um ímpeto do Don McGregor de fazer algo literário demais, então tem toneladas de texto em tela, se aproveitando de casa espaço da página, talvez ler na mídia física não fique tão cansativo, mas na mídia digital é complicado. Conta com pouquíssima splash pages ou sequencias sem texto nenhum, apesar que aquelas sequências sem blocos de texto ou onomatopeias são as mais marcantes.

Está mais para um manerismo consciente do que um erro conceitual. Não advogo para o dizer que não deveria ser assim, porém, a escolha adotada não me agrada muito. 

Pelo excesso de texto escrito, o texto desenhado as vezes fica espremido ou desprezado, fazendo parecer que o mais importante é que tem escrito, tudo é excessivamente descritivo, como as inúmeras vezes que está escrito qual é a lesão do T'Challa, feridas com pus, braço em carne viva e essas coisas. Tudo isso tem uma explicação, tanto o McGregor tanto o Graham são quadrinistas que passaram toda a carreira trabalhando com contos de terror, e aí mora o diferencial da HQ, é uma produção de herói feita por artistas de terror (daquelas revistas que menciono no meu último post, leia aqui), o que causa um certo estranhamento bom e um baita adicional para a estilística do herói.

Apesar de conter elementos narrativos de estéticos das histórias de terror, está mais para algo de aventura de fato. Mas com aquela narração detalhada que mencionei, em certos pontos A Fúria da Pantera vira um livro com ilustrações. O que o torna cansativo de ler em uma única sentada, apesar do ritmo frenético, suas 200 páginas são equivalente de ler um livro de 200 páginas de uma vez só, impossível.

Em duas ou três boas sentadas você consegue terminar o quadrinho, vai de seu ritmo de leitura.

Mas dois poréns, a época onde saia uma revistinha a cada 2 meses, o pace de leitura deveria ser muito melhor, o fator de ter a disposição da mídia é um fator relevante também, óbvio que um quadrinho de 1973 não foi pensado para ler no computador.

Dito isso sobre a composição, fecho o tópico com a página mais linda de todas.




E a história? 

A coesão textual e a capacidade de amarrar umas 12 histórias é algo impressionante, a ideia do McGregor foi de passar o tempo da história ao mesmo tempo da publicação, ou seja, o gap da primeira edição para a última é de 1 ano, exatamente o tempo levado para conclusão da publicação, com o passar do tempo, as coisas se resolvem na história. Como personagens mudarem de ideia, fazerem as pazes entre si e o tédio de prisioneiros por exemplo.

É uma sacada inteligente que deve ter dinamizado para a meia dúzia de pessoas que comparam os quadrinhos originais, é algo semelhante que acontece com Watchmen (essa ideia de passagem de tempo) é curioso porque Watchmen tem aquele reloginho e "watch" também é uma possível tradução pra relógio de pulso.

Bem, a história começa quando T'Challa chega de volta para Wakanda devido cruel ataque em uma pequena vila de suas terras, esse ataque foi realizado pelo conhecido "Terror Negro" ou Erik Killmonger que parece ter articulado um levante/revolta/pura maldade no tempo que o T'Challa passou ausente. Se bem que inteções do Erik nunca são reveladas até o final do quadrinho, me parece que a história se preocupa mais em desmontrar o lado do Pantera Negra.

Aqui o Pantera Negra está vivendo o clássico arco de herói da Marvel, um fodido. Que apesar de rei, é uma figura muito impopular no próprio país ou na cúpula do seu governo, ouvindo severas críticas de seu subordinados diretos, no caso Taku e principalmente o W'Kabi que é chefe das "forças armadas". Em português claro, T'Challa é um rei que abandonou seu próprio país pra lutar junto aos Vingadores, não teria fácil em sua volta, ainda mais na condição de um princípio de guerra acontecendo.

Ele é um rei, mas não goza de nada, só vive embaixo de muita pressão e sombra do seu pai, o T'Chaka, que foi o grande responsável por transformar Wakanda no que ela é hoje.

Outro agravante interessante é a "rainha" (que não é tratada assim em nenhum momento no quadrinho) de Wakanda, a Monica Lynne, cantora de Jazz Nova Iorquina e parceira romântica de T'Challa que está muito incomodada em morar em Wakanda, porque a todo momento era é tratada como inferior por ser estrangeira, por mais que seja negra como todo mundo ali.

T'Challa no começo da história só apanha pra caralho, é um herói muito físico e conta com bastante cenas de ação, além de parecer alguém inseguro, descontente e frustado com a situação que se encontra. Vive um dilema entre ser o rei de Wakanda ou ficar brincando de heróizinho por aí, não conseguindo equilibrar sua vida pessoal com os deveres de um líder. Isso fica muito evidente quando ele nem consegue dar a devida atenção para Monica e nem consegue governar direito, muito indeciso e sem pouca confiança nas suas ações. Em outras palavras, é um grande homem imaturo.




Wakanda é um país muito tradicionalista e até reacionário em alguns pontos, marcados por uma profunda desiguldade, onde Wakanda Central, que é o palácio real e seus arredores são marcados por tecnologia de ponta, enquanto o resto do país é ainda formado por pequenas vilas desprovida de qualquer "avançado" trazido pela exploração do vibrananium, que é um metal fíticio do qual a região é rica. Esses contrastes de um corte real mega tecnológica com o resto do país vivendo em casinhas de taipa é explorada desde de sua primeira aparição. Aqui é mais sutil, mesmo gerando comentários sociais interessantes. Como a passagem de uma nativa de Wakanda quando é espetada com seringa de vitaminas.

Aí vai uma coisa curiosa demonstrada nesse quadrinhos e outros supervenientes, a Pantera Negra é mais do que um cargo real, é um cargo religioso também, as vestes da pantera tem toda uma simbologia religiosa e Wakanda é um país que cultura aquele animal, tendo o seu rei, no caso o T'Challa a maior figura política e espiritual. Porém, não sabemos até que ponto esse culto é algo natural, porque tem uma sacada genial que o Don McGregor trouxe foi que nem todos os habitantes de Wakanda cultuam a Pantera Negra, porque existem uma parcela (talvez a maioria) que seja devota do Grande Macaco Branco, que até chega a lutar com T'Challa, o que dá a entender que talvez Wakanda seja um império expansionista dentro de África, se prevalecendo da sua tecnologia. Uma evidente força muito maior do que pequenos outros povos da região.

Aliás esses Macacos Gigantes são uns dos vilões da história, tem essa simbologia de luta espiritual ou seja lá o que o Don McGregor estava pensando.
ALERTA DE MACACO

Assim se desenrola a história, cada capítulo tem um inimigo diferente ou os inimigos são juntados em dois issues, dos mais variados a grande maioria são bem genérico pra falar a verdade, contam com Venneno (ou Venomm do inglês) que foi um garoto que teve o rosto derretido no ensino médio e por algum motivo virou imune a cobras, Malícia uma mulher capanga do Erik Killmonger e algumas valências macabras, como o Pantera Negra enfrentando o Barão Cadaver com seu exército de zumbis. De novo, o tanto o Don McGregor tanto o Billy Graham utilizando de sua expertise de histórias de terror utilizando dos mesmos personagens, mas não tem nenhum elemento de terror, exceto a estética do personagem, que é um mero vilão físico que vai sair na mão com o Pantera Negra.


Ainda passa por rinocentores, jacarés, macacos gigantes e até dinosauros onde eu achei uma viajada do caralho, mas rola essa certa jornada fantástica de heróis. É uma certa sacanagem atribuir as cenas de lutinha como ponto fraco, considerando o background do autor, até porque o puro suco do quadrinho são os momentos de política ou as subtramas presentes.

Uma coisa rara aqui presente é que cada morte em tela conta alguma coisa, tem consequências reais como abalo emocional dos personagens, entraves políticos, conspirações e etc. Não me lembro de uma mídia de herói dar tanta atenção para morte de personagens secundários, nenhum personagem principal morre, pórem, a morte personagens secundários da história afetam diretamente os personagens principais. Como a prisão de Monica Lynne, sim, a mulher do T'Challa é PRESA pela aristocracia de Wakanda, isso é o nível de não poder que ele se encontra. Além de evidentes traumas que acompanham até a história final, como a viúva que viu seu marido morrer nas mãos do Barão Macabro.

Todo capítulo conta com pelo menos duas histórias paralelas que não se cruzam necesariamente, isso significa que personagens secundários tem um nível de desenvolvimento muito incomum para histórias em quadrinhos, algo que geralmente é mais presente em... Novelas! Olha só. Além da cadeia de personagens focada em relacionamento interpessoais, como é comum em novelas, todo o nível de dramaticidade e cenas exageradas fazem jus ao gênero.

Um ponto que me chocou bastante foi uma cena de violência doméstica na frente dos filhos do casal, é o tempero diferencial de A Furia da Pantera. 
pesado

Como pico dá pra mencionar a saga de lutas épicas no meio da neve lá pro finalzinho e uma melancólica cena de guerra entre a guarda de Wakanda e os capangas do Killmonger. As três últimas são bem fraquinhas.

Já que mencionei os pontos positivos, acho muito bom ter uma obra de personagem negro que não seja sobre racismo ou temas paralelos como violência policial, é algo de herói como qualquer outro, a diferença é que se passa em África tropical e TODOS os personagens são negros, com a exceção do Venneno. Óbvio que abordar questões raciais é muito importante, mas pessoas negras também precisam se divertir de vez em quando. Só consumir conteúdo sobre violência pode afetar a saúde mental.

Outro ponto que acho interessante de abordar em Pantera Negra é o quanto ele pertence a uma aristocracia africana, T'Challa DEVE ser o tipo de pessoa que geralmente torcemos contra, é um monarca aristocrata (e BASTANTE reacionário no filme), é um toque precisamos de personagens negros que não sejam meros avatares de identidade, que não representem sempre o jovem da periferia e etc etc, garantir uma personalidade própria a pessoas que também são negras é passo da verdadeira representativdade. Tratar uma pessoa negra como pessoa, antes de enfiar o rótulo de "negra" no personagem.

Os heróis brancos tem espaço para debater seus dramas pessoais, por que os heróis negros só tem espaço para falar sobre racismo? 

Menciono isso porque produções negras geralmente focam em histórias de superação de pessoas vindo da pobreza, ou lidando com o preconceito por estar em um lugar estranho, mas cara, o T'Challa tem tudo que quer na vida, ele é um dos homens mais ricos do mundo e é um REI. Ou seja, tem bastante personalidade, tensões políticas e conflitos internos, ao invés de ser um mero representante vazio de um grupo que é marginalizado.

Não que obras declaradamente políticas são ruins, mas quando tem grandes empresas por trás e os autores estão de rabo preso para evitar maiores polêmicas, nem sempre dá muito certo, é o caso do filme. Só ver como eles tentam criar um Killmonger como vilão cinza, mas não tem muito sucesso. 

Precisamos primeiramente de mais pessoas negras por trás das produções. Do relativo ao personagem sempre serão bem vindas pessoas negras ruins, vilões, heróis, secundários, trapaceiros, honestos, sofridos, alegres e todo tipo de emoção humana possível, até as não ainda descritas. Toda representação com personalidade que inclua pessoas negras é sempre muito bem vindo.

E o Killmonger em si? Ele mal aparece, suas motivações não são reveladas fazendo dele um perfeito vilão diabólico, o mal pelo mal. Não fica muito claro se o objetivo dele é tomar o poder ou só derrubar o Pantera Negra, mas talvez ele sirva apenas de espalho maligno do T'Challa, que morre de medo de agir como o Killmonger sem perceber, alguém que coloca os próprios interesses acima de qualquer coisa.

Mas na boa, com o tanto de material bom apresentado, o Killmonger é o de menos. De certa forma, até quando o Killmonger se difencia do T'Challa? Suas motivações?

Toda a HQ é focada no amdurecimento do personagem principal, que o faz sozinho. Há informações que o editorial da Marvel teria colocado pressão no Don McGregor para ele incluir algum vingador na história, mas o mesmo recusou e fez questão que ele resolvesse todos os problemas sozinho. Apanha, assim como todo herói da Marvel, tem o universo destroçado, sangra, passa por tragédias pessoais, chora e grita, assim como todo herói da Marvel. Ao final, vê Wakanda destruída por Killmonger, mas em um golpe de sorte derrota o vilão no final.

Tendo a chance de construir seu próprio legado, dessa vez com seus próprios méritos ao invés de ser mero herdeiro de alguém fodástico no passado. 

Novelesco, inovador, sentimental, diferente. A Fúria da Pantera é um clássico dos quadrinhos que não pode ficar fora de nenhuma lista. Ao menos que você tenha a infelicidade de ser DCzete.

Fica muito evidente o quanto esse quadrinho foi influenciador do filme de 2018, mas olha aí, tem tanta coisa ruim nesse filme que só conseguiria falar por vídeo, quem sabe. Quando tiver tempo eu gravo alguma coisa.


Até a próxima empreitada! Fui!


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